CAPÍTULO 15

ESTRATÉGIA

O cheiro forte de remédios e ervas invadiu as narinas de Taya, que escondeu o seu nariz sub a gola de sua roupa. A sua frente, Will se aproximou do balcão de madeira avermelhada, onde o vendedor conversava com outra pessoa coberta por um capuz negro.

—Não! Lamento mas eu não tenho mais ervas mutantes. Acho que deve haver em outras lojas, mas aqui nós não vendemos. – disse o vendedor para o encapuzado, que mexeu a cabeça positivamente, aceitando o fato de eles não venderem a erva laranja.

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Decepcionado, o comprador, escondido sub sua capa, se virou, e passando ao lado deles, atravessou a porta e saiu da loja.

Will se aproximou do balcão. O vendedor possuía cabelos cor-de-areia e olhos castanhos. Sua pele era meio morena e ele era baixo. Abaixo de seus olhos, olheiras marcavam o seu rosto, mostrando o cansaço do homem por ter acordado cedo.

—Bom dia Will! Posso ajudá-lo? – perguntou ele, que observara também a presença de Taya e Isaac, mas os ignorou.

—Bom dia Luresen! Queremos um remédio, alguma erva medicinal! – respondeu Will.

—Chá ou pomada?

—Os dois.

Luresen se levantou do balcão, e passando por um espaço no canto dele, foi em direção a uma estante de madeira cheia de ervas e plantas como várias outras que se dispunham dentro da loja, também lotada de plantas, sementes, remédios, ervas e outras coisas. O vendedor puxou de um dos nichos da estante um fecho de plantas pequenas e esverdeadas. Depois foi até outra estante também de madeira e pegou outro fecho de plantas, mas secas.

Aproximando-se deles novamente, passou pelo espaço no canto do balcão, e retornando ao seu local, entregou os dois fechos para Will.

—Isso custa seis moedas de prata. – Will arregalou os olhos quando escutou o preço dito por Luresen, que pareceu se divertir com o susto do cliente. Ele se virou, e pegando uma bolsa cheia de moedas, retirou exatamente as que correspondiam ao preço e entregou-as à Luresen, que recolheu o dinheiro e o guardou em algum lugar no balcão que eles não podiam ver de frente para ele.

—Obrigado, e voltem sempre! Não se esqueça: com as verdes, faça pomada, e com as secas, faça chá! – disse o vendedor, mantendo o seu rosto cansado e emburrado pelo sono. Eles assentiram e saíram da loja.

No lado de fora, a cidade acordava aos poucos. Várias pessoas abriam as portas e janelas de suas humildes casas de madeiras marcadas pelo tempo e pelos eventos naturais, como chuvas, vento, raios solares e outros. Cachorros e gatos andavam pela cidade a procura de comida e água. Estavam em maioria magros e machucados. Até os ossos podiam ser vistos sub suas peles.

Um grupo de pessoas entrava na cidade, entre eles estavam homens, mulheres, idosos e crianças. Eles passaram pelo portão e seguiam pela rua por onde Will, Isaac e Taya estavam.

Os três seguiram pelo portão no largo muro que acabou formando um pequeno túnel. Depois dele, a paisagem mudou e os campos e plantações tomaram conta da visão deles. Eles seguiram pela estrada principal e acabaram virando em direção a uma casa simples de madeira a direita. Era a casa de Amigo.

Ao chegar à porta, abriram-na e adentraram a moradia. Deram logo de cara com Luke dormindo em cima do banco de madeira comprido. Ele logo acordou ao ouvir o barulho da porta se fechando. Abriu os olhos e se mexeu lentamente.

Os três seguiram pela sala e chegaram a cozinha, que não seguia o padrão da casa, pois era feita de pedras cinzentas e grandes. Na entrada dela havia um arco de pedras, e Amigo estava lá dentro preparando alguma coisa com frutas e legumes em cima de uma mesa de madeira amarronzada, assentado em uma cadeira de três pernas médias e sem encosto, também feita de madeira.

—Preciso de algum pote com água para fazer o chá de Luke! – disse Taya, ajeitando um tucho de cabelo desobediente que estava caído em frente dos seus olhos.

Amigo se levantou, e ligeiramente pegou uma vasilha em uma pequena pilha de outras louças no canto da parede. Ele foi até Taya e entregou o objeto, apontando para um balde cheio de água.

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—Há uma vela em cima do forno. Pegue-a e a use para pôr fogo na lenha do fogão. – instruiu Amigo e Taya assentiu, fazendo como ele mandou. Colocou algumas das ervas secas na vasilha e começou a preparar o chá.

—Eu necessito de algo a fim ser usado para amassar as ervas esverdeadas e fazer a pomada para as feridas de Luke. – Isaac disse.

Amigo se levantou e da mesma montanha de louças, no prato do topo, pegou um pequeno martelo, feito para isso. Ele era todo de madeira e parecia bem resistente. Isaac pegou-o, e se acomodando em uma cadeira como a de Amigo em um canto da mesa, começou a socar e a amassar as ervas.

Com um gemido, Luke se pôs sentado. No chão, ao canto do banco, o jovem pôde observar um papel grande enrolado. Ele estendeu a mão e pegou-o, desamarrando-o.

Aquele era o mapa de Andryleen, o mapa que levou os três até ali. Luke viu o tamanho do continente, que não era tão grande. Ao sul, o reino de Hangária Mindória era composto por doze províncias. Ele observou o quão pequeno era a província de In-Hurelen, onde eles estavam no momento. Ao lado, a Província Mutante era exatamente o contrário. Ela era enorme. A capital ficava ao norte do reino, e tudo era marcado por nomes escritos em uma caligrafia muito bonita.

O mapa pictórico mostrava ao norte do continente o reino de Tarínter, marcado pelas mais diversas formas da natureza. Era tão extenso quanto o de Hangária, mas apresentava mais florestas e rios do que o reino deles. Os dois reinos eram separados por um rio, o rio Tempestade Eterna, onde nuvens cheias provocavam uma tempestade que nunca se acabava e puxava as águas com muita força. O espaço entre este rio e o mar era ocupado por uma muralha extremamente extensa. Aquilo era um problema, pois como eles atravessariam a muralha e os seus portões, se milhares de guardas provavelmente ali se aglomeravam para prender qualquer mutante que por ali passasse?

—Gente, temos um problema! – disse Luke. Os outros largaram o que estavam fazendo e se aproximaram dele, chegando à sala.

—O que foi? – indagou Taya, expressando a dúvida de todos ali. Luke apontou para o mapa e mostrou a enorme muralha.

—Como vamos chegar ao Pico Talyn, se ele fica no reino de Tarínter que se encontra no norte, e a única forma de chegar até ele é passando pela muralha do nosso reino, que deve estar sendo vigiada por uma multidão de soldados?

Taya observou o mapa com mais atenção. Seus olhos esverdeados admiraram os desenhos que enfeitavam o papel. Ela reparou que o que Luke dissera era verdade.

—Há três formas de chegarmos ao Pico Talyn: passando pelo rio Tempestade Eterna, navegando pelo mar, ou passando por um dos portões da muralha de Hangária Mindória! – observou ela.

—Acho que de todas as formas, a mais segura seria passar pelos portões, mas com certeza há uma multidão de soldados prendendo qualquer mutante que queira o fazer. – Luke novamente disse o problema.

—Então, aí está! Não passem pelos portões! – Amigo se intrometeu. – Ainda há outras duas formas de chegar à Tarínter. Basta escolher: rio Tempestade Eterna ou o mar.

—O rio Tempestade Eterna arrasta qualquer um e provavelmente morreríamos em apenas alguns minutos. – observou Isaac, deslizando os seus olhos por sobre o desenho do enorme rio, onde se encontrava uma figura de uma nuvem enorme soltando raios para representar o quão perigoso era o local. – Acho que a única forma de chegar ao norte seria pelo mar, mas temos que ter dinheiro para pagar algum navio...

—Sem falar que deve haver navios cheios de guardas preparados para pegar qualquer mutante que passar por ali, tal como em terra. – interrompeu Will.

—Nadando, talvez! – pensou Taya.

—Talvez isso fosse uma opção, mas a distância é significativamente grande e vocês não vão aguentar chegar até lá só pela força dos seus braços. – avisou Amigo.

—E se eu passasse todos voando! Pego um e passo-o voando por sobre a muralha. Depois volto e pego o outro, fazendo o mesmo! – Luke deu a ideia.

—Você vai aguentar o peso de nós dois? – indagou Taya, pensativa na ideia.

—Talvez, e vale a pena o esforço de carregar vocês. È melhor do que morrer ou ser preso!

—Se até lá você estiver pronto e sua asa estiver boa, então isso dará certo! – disse Amigo, animando-os. – Mas você deve voar bem alto, e manter a pessoa bem presa a você para que não caia.

Luke balançou a cabeça positivamente.

—Acho melhor fazer isso mais perto da região costeira, pois ao leste ficará mais perto da capital que deve ter ainda mais guardas! – Will recomendou. Os três assentiram. – Então, acho melhor voltarmos ao que estávamos fazendo.

Antes que todos voltassem para a cozinha, deixando Luke só na sala, o jovem disse:

—Amigo, por acaso você não escutou gritos?

—Não! – respondeu o homem, balançando a cabeça e direcionando o seu olhar para ele.

—Gritos? Como assim gritos? – Taya achou aquilo estranho.

—Eram gritos distantes, como se viessem de uma pessoa que estava longe, mas dava para ouvir que ela estava desesperada! – respondeu ele. Todos ficaram com uma expressão meio assustada.

—Talvez algum trabalhador rural se machucou, ou algum camponês se feriu! – disse Amigo, tentando desvendar o que teria originado os misteriosos gritos. Ele estava meio assustado com aquilo.

—Não! Era como se os gritos fossem de mulher.

—Talvez fosse uma camponesa ferida! – sugeriu Taya.

—Isso! Talvez fosse isso. – disse Luke, voltando a deitar-se. – Achei até que poderia ser coisa da minha cabeça pela batida ou pela perda de sangue.

—Também pode ser! – disse Taya. Ela se afastou e voltou para a cozinha junto com os outros.

O dia se seguiu tranquilo. Os curativos de Luke foram trocados e a pomada foi usada na ferida. Ele também tomou o chá amarelado de gosto extremamente ruim.

Amigo providenciou almoço, café e até jantar. Ele era um homem tranquilo e simpático, e ofereceu um quarto de visitas para os três jovens descansarem.

—Mas e Will? Onde vai dormir? – indagou Taya.

—Eu posso dormir lá embaixo, no banco de madeira da sala!

Concordando com isso, os três jovens foram para o quarto simples, onde três camas confortáveis se dispunham, prontas para serem usadas. Os jovens se acomodaram nelas, e se enrolando nos lençóis oferecidos por Amigo, puseram-se a dormir.

Isaac foi o primeiro a sentir o sono lhe tomar. Taya demorou um pouco mais, porém, admirando a lua pela janela do quarto, sentiu o cansaço, e fechou os olhos, em um sono tranquilo.

Luke foi o último. Se remexeu diversas vezes na cama, enquanto uma insônia o atacava. Não conseguia dormir, mas depois de algumas horas, com muita dificuldade, dormiu.

O chão estava coberto de neve branca. A lua minguante estava no topo do céu, mostrando que era muito tarde da noite. Um ar frio pairou pelo ar. Árvores tinham os seus troncos nus, sem folha nenhuma. Tudo estava em silêncio.

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Isaac não pôde ver mais nada, apenas escuridão. De repente, um vulto veio em direção dele. Ele corria rapidamente como se estivesse fugindo de algo, mas o jovem não pôde ver o que era, e com medo, se escondeu atrás de uma árvore com o tronco negro e cheio de marcas em alto relevo. Se mantendo ali, Isaac esperou para ver se ele iria passar à sua frente.

De repente, o vultou correu na frente da árvore e seguiu pela floresta. Ele pôde ver que era alguém escondido debaixo de um capuz, mas não conseguiu enxergar mais nada. O vulto, ainda correndo, sumiu atrás de um amontoado de árvores.

Logo atrás, outra pessoa corria com uma capa bem visível, mas o capuz estava jogado para trás expondo o rosto da pessoa. Era um homem jovem com uma barba castanha, tal como os cabelos. Era difícil enxergar mais detalhes na escuridão da noite. Era dele que a outra pessoa encapuzada estava fugindo. Sem esperar mais nada, Isaac saiu correndo atrás do homem que perseguia a outra pessoa. Seus pés pisavam ainda mais rapidamente a neve fria no chão.

De repente, dezenas de metros à frente deles, a outra pessoa continuava a tentar fugir do homem, que agora já estava parado. Ele levantou o seu braço, e com a mão direita estendida, fechou os olhos. De repente, um raio de luz intensa saiu de sua mão e voou até o outro encapuzado e explodiu, destruindo algumas árvores. No lugar onde a outra pessoa encapuzada e fugitiva estava havia virado um buraco negro, consequência da explosão provocada pelo homem. E a outra pessoa estava morta, reduzida a uma montanha de pó e fumaça...

Isaac acordou do seu sonho. O quarto estava silencioso. A sua direita, Taya dormia tranquilamente. Na cama à sua frente, Luke se mantinha enrolado em meio aos seus lençóis, também dormindo.

Mas uma coisa chamou a atenção de Isaac. O grito que Luke dissera ter escutado soava no ar. Era um grito como o de uma mulher, como descrevera o seu amigo. Era como se alguém assustado gritasse por socorro, mas o grito era distante.

De repente, o grito parou e tudo voltou ao silêncio normal, sem nenhum ruído.