Quando eu saí da cantina, senti alguns olhares sobre mim, mas ignorei. Meu sangue fervia de raiva, e eu simplesmente não conseguia me controlar. Encontrei Peggy saindo do corredor para o pátio, e não tardei a alcança-la. Segurei-a pela alça da mochila e a virei para mim bruscamente.

– O que? – Ela resmungou, querendo se soltar. Larguei a alça, mas ainda deixei bem claro que seria pior se ela tentasse fugir.

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– Que porra foi essa? Você me vem com todo um papo de não se meter na vida dos outros e publica no jornal que o Armin foi preso? Caralho, Peggy.

– Abaixa seu tom, o que eu publiquei é só o que a diretora já vai falar durante a tarde.

– Ah, e ai deixa de ser intromissão se já vai ser contado, né? Assume que você gosta é de ver um barraco armado.

– A transmissão de informação incomoda às vezes, minha querida Anna. Eu só fiz o meu trabalho. Se você quer reclamar de alguém por armar um barraco, converse com Armin sobre as atitudes dele. – E ela saiu com aquela carinha de quem sabia que não tinha feito nada de errado. Cínica. Resmunguei, tentando pensar logicamente.

Se os professores iam nos avisar, a situação devia ser pior do que eu imaginava. E Alexy também não tinha vindo à escola, então eu estava absolutamente às escuras. Resmunguei de novo e voltei para o corredor. Já sem fome, decidi pedir Lysandre para levar minha mochila para a sala quando ele acabasse. Ele concordou quase de imediato.

Passei no meu armário, tentando respirar fundo para me acalmar. Enquanto eu pegava meu material, a voz familiar me chamou por trás.

– Oi, princesa.

– Oi, Nath. Como você está? – Fechei o armário e me virei para ele, com os livros no braço.

– Abandonado pela minha melhor amiga, mas bem. – Ele deu de ombros, ainda assim fazendo um biquinho mal humorado com a boca. É, Nathaniel conseguia ser um belo dramático quando queria. – E você?

– Eu estaria melhor se sua irmã me esquece e parasse de se meter na minha vida, sabe como.

– É...Ela me contou, sobre você e Lysandre. – Ele tinha se escorado no armário, agora parecendo bem interessado na tranca de um deles. Suspirei.

– Foi mal não ter te contado. É que eu confesso que nem eu estava sabendo lidar direito com isso tudo. Eu queria esclarecer algumas coisas antes de falar para qualquer um.

– Bom, eu não me consideraria qualquer um nesse cenário, mas obrigado. De todo jeito, eu sabia.

– Desde quando? – Questionei, já imaginando os possíveis cenários em que ele notara e o único me aparecendo sendo o dia da festa da Iris, aquele onde a gente se beijou.

– Hum, desde que você ficou afim dele? Você nunca foi muito boa em disfarçar certas coisas, pelo menos, não pra mim. E a festa da Iris só confirmou que vocês dois já estavam...enfim.

– Ai, eu estou me sentindo horrível por ter te excluído assim. Desculpa. – Peguei sua mão e ele deu um sorriso fraco, mas sincero. – Agora que todo mundo já sabe eu posso te colocar a par de tudo, se quiser.

– Hum, vou ver se estou disponível nesse dia. – Ele começou a olhar para o próprio relógio, me fazendo rir. E ele riu junto, vendo que funcionara. – Falando sério agora, eu confesso que a ideia me assustou, em partes. O cara consegue ser o melhor amigo do Castiel, tem que ter alguma coisa errada com ele.

– Ah, eu concordo nesse ponto, mas quando eu pergunto ele só ri.

– Ele parece legal, no entanto. Eu sei lá, eu não consigo sacar qual é a dele, sabe?

– Bom, sendo assim, você também tem seus mistérios, e isso vindo de mim é uma surpresa considerando que eu sei até a cor das suas cuecas. – Ele começou a rir, se escorando no armário de novo, com as costas nas portas, fitando o corredor quase vazio.

– Você conseguiu desvendá-los, alguns. Parabéns. – Ele respondeu sorrindo, para logo em seguida ficar calado, pensativo. Era estranho a maneira como ele estava agindo.

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– Eu espero de verdade que essa babaca aqui não tenha estragado anos de amizade por causa de um cara. – Falei, também fitando o corredor. Ele passou a mão pela minha cabeça, atrapalhando um pouco meu cabelo e dando outro sorriso fraco.

– Deixa disso, vai. Eu também sumi algumas vezes, ou te escondi algo importante. – Uma simples troca de olhares esclareceu que o algo importante eram os abusos dentro de casa. Suspirei, dando um beijinho nas costas da sua mão, agora presa na minha. – Isso não muda o que a gente tem, nunca vai mudar.

– Eu te amo. – Fiquei emotiva, mas ele nem me deixou chegar a chorar antes de me dar um abraço e falar que tínhamos que ir para a aula. Concordei, respirando fundo e segurando a lágrima idiota que cismava em querer rolar.

Ajeitei meu material no braço enquanto ele ainda me levava até a sala naquele abraço de lado. Pus minha cabeça no seu ombro, estranhando a sensação. Tinha algo como que artificial entre nossos gestos, e aquilo estava me remoendo. Eu não queria perder Nathaniel, e a suspeita de que eu talvez tivesse estragado tudo por um cara me mortificava. Mas não era bem isso que estava fora de lugar. Só que eu também não sabia o que era.

Lógico que o assunto em sala era a prisão de Armin. Faraize penava para conseguir fazer sua voz sobrepor o falatório que discutia o que o garoto podia ter feito. Soltei-me de Nath e fui até Lysandre, que estava com minha mochila. Sorri para ele também, vendo que ele estava tentando não reagir muito à forma como eu estava com Nathaniel.

– Obrigada pela mochila. – Peguei sua mão sobre a mesa e sorri, me ajeitando no meu lugar ao seu lado.

– Lógico que não, Kim, o Armin não invadiu a CIA. – Iris parecia empenhada em defender Armin na história toda, mas Kim não dava muita bola.

– É a cara dele fazer algo assim.

– É só um mal entendido, Kim, pare com isso. – Iris se virou e tentou encerrar o assunto, mas os comentários não paravam.

– Isso tudo é uma baita história. – Priya comentou, ao que Peggy confirmou ser real enquanto me olhava com aquele ar de novo. Ignorei. Violette queria saber do Alexy também na história e ai Ambre decidiu adicionar sua opinião inútil.

– Aposto que ele roubou algum jogo naquela micromages. Ele só sabe fazer isso mesmo da vida.

– Cala a boca, Ambre. – O próprio irmão, que tinha pego o lugar bem a minha frente, chamou a atenção dela. Isso acalmou um pouco os ânimos dentro de sala. – E é microgames o nome da loja. Micromages é um conto de Voltaire.

– E desde quando ela saberia isso? – Perguntei, sem nem pensar. Ele me deu um tapinha de leve na mão que repousava sobre a mesa, me fazendo dar de ombros e sorrir. Lys continuava quieto.

– Vocês acham que a gente liga, mas... – Li começou a falar, mas Rosa mesmo a interrompeu com um belo cala a boca. Daí, Iris quis novamente defender que Armin não era um criminoso. Minha cabeça começava a latejar no meio de toda essa cacofonia. Quando Ambre quis atacar Rosa, a diretora conseguiu finalmente ser ouvida. Ergui os olhos, vendo a figurinha no seu terninho e com uma cara nada simpática.

– Bom, finalmente tenho a atenção de vocês. Boa tarde, jovens. – Ela se endireitou, todo mundo continuava calado esperando o que ela diria e todo mundo já sabia. – Bem, como vocês já sabem devido à indiscrição de certa pessoa...

Peggy abaixou a cabeça na hora, como se não quisesse ser acusada de nada. Ou seja, só provava que eu estava certa sobre ela armar o circo e se esconder logo em seguida.

– Armin foi de fato, ontem, abordado pela polícia, no entanto a situação se provou bem menos complicada e ele logo estará novamente entre nós, então não se preocupem. – Ela deu uma risadinha pouco convincente, e eu olhei para Lysandre bem confusa. O que aquilo queria dizer? Ele retribuiu o olhar, tão sem saber quanto eu. – Eu peço que vocês se concentrem nos afazeres de hoje e não se deixem abater por rumores. Vocês não gostariam que alguém invadisse a vida privada de vocês assim, portanto respeitem também Armin e Alexy.

– Alexy está envolvido? – Sussurrei, mas Lys deu de ombros, segurando minha mão por baixo da mesa. E depois que ela saiu, Faraize finalmente conseguiu o silêncio para comandar sua aula sem mais interrupções. Eu continuei tentando entender o comunicado da diretora, mas só parecia me confundir mais. E então o sinal bateu, e além de um caderno quase vazio eu também estava cheia de dúvidas.

Meio sem pensar, quando o sinal tocou eu apanhei minhas coisas e sai correndo. Deixei tudo no armário desorganizado e fui para o pátio, esperar Iris. Ainda assim, Armin não saia da minha cabeça. Ainda existiam chances enormes de tudo isso ser culpa das nossas invasões de contas.

Senti uma mão no meu cotovelo e me virei, quase trombando em Lys. Suspirei. Com toda essa história eu tinha o largado lá sem nem lhe dizer um tchau que fosse.

– Com essa pressa toda eu diria que temos um encontro romântico. – Ele falou sério, olhando para os lados e me fazendo rir.

– Eu só quero ir embora logo. Mas se Iris topar o encontro, posso resolver isso. – Ele deu um sorriso e finalmente passou os braços ao meu redor, deixando-os na minha cintura. – Que dia...

– Preocupada com Armin?

– Lógico. Eu não consigo digerir nada que ele possa ter feito, e eu fico mais preocupada ainda de ter sido parte do problema se for o caso.

– Não, ele nos garantiu que não era disso. E a diretora também deu a entender que já estava tudo sendo resolvido, então não deve ser grave.

– É, espero que sim. De toda forma, fico feliz de te ver antes de ir. Eu fui bem idiota ao sair correndo assim.

– Eu te vi pouco hoje. Parece que você não quer que nos vejam.

– Você sabe que não é isso, é só que eu passei o dia inteiro passando raiva, realmente. – Ele deu uma risada que aqueceu meu coração antes de concordar. – E eu ainda preciso repassar tudo que aconteceu para Iris, ou seja, mais raiva.

– Não sofra muito. Iris já vem. Até amanhã.

– Obrigada por ter me ajudado. – Ele entendeu do que eu estava falando e sorriu, dizendo que tinha ficado feliz em ajudar. Como agradecimento eu lhe dei um beijo cheio de carinho. Senti sua mão nas minhas costas me puxando ainda mais contra ele.

– Obrigada por me esperar, Anna. Vocês dois são muito fofos juntos. – Iris completou depois que eu tinha interrompido o beijo e simplesmente retribuído o abraço dele. – Vamos?

– Até amanhã.

– Boa noite. – E com um último beijo ele me soltou e nos acenou. Sai com meu braço entrelaçado ao de Iris, enquanto íamos caminhando pela rua num passo lento.

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Repassar o que tinha acontecido no dia anterior não foi nem de perto divertido. Iris parecia assustada com toda a história, mas fiz meu melhor para garanti-la que Charlotte não a incomodaria mais. Quando contei como pegamos a garota despreparada e assustada, vi a expressão de Iris mudar.

– Eu adoraria ter visto a cara dela. – Não era exatamente raiva. Era satisfação, como pagar alguém na mesma moeda depois de sofrer tanto. Concordei que chegou a ser divertido vê-la tentando virar o jogo. – E sobre os e-mails como prova, era blefe, sim?

– Foi, mas a gente a convenceu sobre as habilidades do Armin e ela caiu. Ela até achou que podia usar meu segredo com Lys para nos intimidar, mas a essa altura...eu não tenho do que me envergonhar, nunca tive, e ela com certeza não pode dizer o mesmo.

– E ela falou porque fez isso tudo comigo?

– Era o Tim. Ela descobriu do jogo duplo dele e ficou possessa. A culpa não é sua, lógico, só daquele cretino, mas ela conseguiu pegar as fotos e ai você já viu. Agora, ela saiu de campo, não tem mais com o que se preocupar, ok?

– E será que ela vai mesmo destruir as fotos?

– Ela parecia amedrontada, principalmente quando Lys foi pra cima dela, então acredito que sim.

– Ela merece. – Iris resmungou, finalmente esboçando alguma raiva, mesmo que pouca. – Eu passei semanas desesperada, só queria chorar e sem saber o que fazer com isso tudo. Eu sentia que era impossível falar sobre isso com alguém, qualquer um. E eu me arrependo de tudo isso, mas...

– Tudo isso, o que?

– O site, as fotos, enfim...

– Iris, eu já te disse, não é culpa sua. Você tem o direito de mandar fotos pra alguém do jeito que você quiser. É ele quem é mau caráter de deixar isso pra qualquer um ver e estar conversando com as duas ao mesmo tempo.

– É, eu não tinha como saber que ele estava com ela e que ela surtaria. Eu sou a vítima aqui. – Ela falou, firme. Concordei. Ela sorriu. – Obrigada, vocês três me salvaram. Sem isso eu ainda estaria lá, sofrendo com tudo, ou pior, exposta pro colégio todo. Eu sei que devia ter falado desde o início, mas...é muito difícil.

– A gente sempre vai te ajudar, independente da gravidade da coisa, Iris. – Ela sorriu, meio emocionada e me deu um abraço, antes de agradecer de novo e dizer que tinha que ir logo para casa. A deixei em seu portão e finalmente fui para minha casa.

Subi direto pro meu quarto, depois de dar oi pros meus pais e dizer que não queria jantar, só me trocar e descansar. Os dois aceitaram bem a ideia, me vendo tão acabada. Entrei pro banheiro, pensativa.

Tinha sido um dia e tanto. Por um lado eu fiquei satisfeita em finalmente enfrentar Ambre e perceber que ela não tinha mais tanta influência sobre mim. Ou quase. Agora que a escola toda já sabia do meu relacionamento, eu senti um certo peso ser tirado de cima de mim. Era cansativo pensar em cada gesto a cada momento que estávamos perto um do outro. Ainda assim, a parte maior do peso que sobrava ainda estava para se resolver, e estava lá embaixo acabando de jantar. Suspirei, isso era assunto pra outro momento.

Charlotte também não tinha aparecido, melhor ainda. Por outro lado, toda essa história dos gêmeos estava me deixando atordoada. Eu só queria encontrar com os dois e esclarecer tudo. Tomei um bom banho antes de vestir meu pijama de gatinho e me lançar na cama, com o celular em mãos. Talvez Alexy atendesse.

Tocou, tocou, caiu na caixa postal. Suspirei, desligando sem deixar a mensagem e me esparramei na cama. Me ajeitei na cama depois de um longo suspiro, pronta para dormir e fazer o amanhã chegar mais cedo. Assim que apaguei a luz, meu celular vibrou. Peguei-o achando que podia ser algo de Alexy, mas me enganei. Era melhor ainda.

“Tenha uma boa noite, e bons sonhos. Um beijo”

Lysandre. Sorri, sem saber o que responder. Enviei um simples boa noite de volta, com uma figurinha junto. Era tão bom não estar mais sozinha. E foi daquele jeitinho que eu cai no sono, sorridente e feliz.