Lunática.

Capítulo 5.


– Ei. - cutucou o ombro dela.

Heitor sabia que encontraria Lana na biblioteca no dia seguinte e não estava errado, ela estava mesmo lá. Vestia um jeans claro, chinelos e um moletom pink. O cabelo, mais uma vez, preso em um rabo de cavalo alto.

– Isso no seu pé é um chinelo? - ficou curioso pelo dia não estar numa temperatura boa o suficiente para calçar chinelos.

– Algum problema? - perguntou de volta. - Eles são mais fáceis de descalçar, assim posso sentar com os pés na poltrona ou na cadeira da minha sala. - olhou para ele como se aquilo fosse normal e ele fosse o estranho por não fazer isso.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Essa era Lana. Fazia coisas das quais todas as outras pessoas jamais fariam por considerarem algo fora do comum mas, pra ela, elas eram tão simples quanto calçar um tênis, por exemplo. Em seu ponto de vista, as pessoas é que eram estranhas por deixarem de fazer algo que as desse felicidade ou conforto por medo do que os outros diriam.

– Ai, to atrasada. - gritou ao olhar pro relógio na parede.

– Eu pensei que você matasse as aulas. - ficou confuso.

– Não quando é uma aula que eu gosto e agora, é história. - colocou a mochila nas costas. - Você vem? - olhou pra ele apressada esperando por uma resposta.

A primeira aula dele era de inglês e, mesmo sendo algo que até gostasse, ele tinha planejado passar aquele tempo com Lana na biblioteca; pena que não deu certo. Pelo visto teria de conseguir os horários de aulas dela. Assim, apenas fez que sim com a cabeça e Lana segurou seu pulso num momento de impulso.

– Corre. - gritou. - Minha sala fica no segundo andar, vamos logo Heitor. - começou a correr, puxando o menino.

Ele se impressionou em como ela corria rápido se comparada as outras meninas, mas essa não foi sua distração principal. Enquanto estavam correndo pelos corredores da sala em direção as escadas, ele reparou que ela ainda estava segurando seu pulso e o puxando junto dela. Aquilo não o incomodou, pelo contrário, deu a ele uma sensação estranha porém boa, ao mesmo tempo.

– É aqui que eu fico. - seu rabo de cavalo se desfez enquanto corria, o que deixou seu cabelo todo bagunçado. Terminou de desprendê-lo e balançou a cabeça, fazendo com que ficassem um pouco menos bagunçados e os deixou soltos.

Aquela foi a primeira vez que Heitor viu Lana de cabelo solto e ele a achou ainda mais bonita. Eram praticamente dourados e estavam bagunçados, soltos sobre seu rosto e realçando seus olhos. Ela estava sorrindo e respirando com certa dificuldade por não estar acostumada a correr, mesmo sendo uma ótima corredora. Ele literalmente mal a conhecia, aquele era o segundo dia em que se falaram e aquilo realmente deixou uma dúvida em sua mente. Como é que ele nunca havia reparado em Lana antes? Porque, com certeza, já tinha a visto nos corredores da escola, isso era um fato.

– Qual a sua segunda aula? - praticamente cuspiu as palavras, com medo do sinal tocar, obrigando ela a entrar na sala antes de responder sua pergunta. Eles só tinham mais um minuto.

– Inglês. - sorriu. - Eu vou passar o primeiro intervalo no campo de futebol já que os jogadores nunca estão lá nesse horário, se quiser me fazer companhia. - e assim que terminou de falar, o sinal tocou.

Seu professor de história, Sr. Kary, pediu que ela entrasse e fechasse a porta. Heitor então se lembrou de que também tinha aula e correu até o primeiro andar, torcendo pra ter a sorte de conseguir entrar na sala com atraso de, no máximo, cinco minutos, que era o limite. E ele conseguiu.

(...)

"Querida Lana, venho acompanhando seu desempenho em minhas aulas e gostaria de dizer que fico muito feliz de vê-la participando e compartilhando suas ideias. Comparada ao ano passado, você está se distraindo muito menos e isso é algo bom, espero que continue assim e não só em minhas aulas. Sr. Kary."

Sr. Kary era um senhor simpático com cabelos curtos e grisalhos completamente apaixonado por história, daí a escolha da sua profissão. Saber que Lana se fazia presente em todas as suas aulas era algo que o deixava muito feliz porque ela era uma das poucas alunas que se interessava pela matéria e participava de suas aulas. Ela só fazia isso quando realmente gostava delas. Lana adorava ter conhecimento sobre as coisas, talvez por isso gostasse tanto das aulas de história, ela adorava saber que fatos ocorridos vários anos atrás influenciaram e ainda influenciam as ações e o comportamento do ser humano. O fato de perceber sinceridade e paixão na voz de seu professor também contribuía para que gostasse das aulas.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Quando você disse que passaria o primeiro intervalo no campo, eu imaginei você sentada na arquibancada. - riu. - Não deitada nele. - sentou-se ao lado dela.

– Olha só. - mostrou a ele o bilhete que recebeu do Sr. Kary.

– Uau, então quer dizer que ano passado você era pior ainda. - brincou. - Essa sua cara de meiga é pura fachada, não acredito. - riu.

– Ele sabe que as aulas dele são umas das únicas que eu assisto. - ela continuava deitada, passando a mão em seu cabelo, olhando para o céu.

Lana sabia que era um dos principais assuntos em comum dos professores daquela escola e que, o que ela não tinha de popular com os outros alunos, tinha com os professores. Todos sabiam quem ela era, quais aulas ela frequentava e sobre ela passar a maior parte do tempo na biblioteca. Também sabiam que ela era pensativa ao extremo e tinha problemas para se focar nas coisas que não gostava.

– Lana, como você passa de ano? - ele estava mesmo curioso.

– Acredite ou não, eu consigo a nota mínima pra passar de ano nas matérias que eu mato aula. - olhou pra ele.

– Uau, de novo. - brincou. Ele quis dizer que aquilo fazia ela ainda mais incrível, mas não disse nada.

Ela voltou a olhar para o céu e deixar que aquilo a fizesse esquecer que estava na escola. Lana gostava de como ele tinha uma cor acinzentada e de quando as nuvens, ainda mais cinzas, formavam imagens nele. Era difícil e talvez impossível de explicar, mas aquilo, aquelas pequenas coisinhas a deixavam tão feliz a ponto de deixar escapar algumas lágrimas.

– Por que você não se deita? - percebeu que Heitor estava olhando para ela. - Não da pra ver o céu sentado. - ele não disse nada, apenas se deitou ao lado dela.

Lana gritou e apontou para uma nuvem por ela formar a imagem de um gato para que Heitor visse, mas ele não teve a mesma visão que ela. Para ele era apenas uma nuvem. E foi então que ele percebeu porque ela estava ali, deitada no campo de futebol no seu intervalo, olhando para o céu e para as nuvens: aquilo despertava sua imaginação e ela gostava.

– Lana, eu tenho que ir. - se sentou novamente. - Minha aula de agora é química e eu realmente não posso perder.

– Ah, poxa. - olhou pra ele.

– Mas se você quiser, a gente pode almoçar junto. - já estava em pé. - E aí você pode me contar sobre as outras imagens que as nuvens formaram. - ela sorriu. E ele aceitou aquilo como um sim.

– Até o almoço, então. - se sentou e o olhou sair do campo. Quando seus olhos não puderam mais acompanhá-lo, deitou-se novamente. Ela iria matar a próxima aula.