Lumos! Interativa

Uma pequena lição, gravada em fogo.


O grito familiar chegou aos ouvidos de Godric, fazendo-o paralisar automaticamente e girar sua cabeça para trás, na direção em que os outros alunos deveriam estar. Deveriam…

— Onde diabos eles estão? — questionou Ana, com certa inquietação. Automaticamente, sentiu Max agarrá-la pelo braço.

— Eles devem estar mais para trás… essa voz era da Lottie?

— Maldição. Eu não posso tirar os olhos deles por um minuto sequer… — O fundador girou nos calcanhares, riscando a espada no ar para retirar um galho que ficara em seu caminho. — Fiquem aqui.

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— Mas e se alguma coisa atacar a gente?

Ele parou, pensou por um segundo e logo continuou. — Sigam-me, e não se afastem, estão ouvindo?

Houve uma troca de olhares, e acenos positivos com a cabeça. Ao voltarem pela trilha, não foi difícil ver a falha grotesca que havia sido aberta, em direção as profundezas da floresta. A bifurcação se estendia a perder de vista em meio a folhagem, e não havia nem sinal dos outros. — Parece que ela foi puxada…

— Pelo quê? — Max olhava com desconfiança para aquele segundo caminho.

— E onde estão os outros? — atalhou Ana, por sua vez, jogando o peso em um tronco de árvore.

— Vamos descobrir. — Godric tomou aquela direção com um estranho entusiasmo, o que não estava presente naqueles que vinham atrás dele. O fato é que ele estava relativamente tranquilo demais para alguém que acabara de perder alguns alunos. Talvez tivesse muita fé na capacidade deles. E talvez, tivesse apenas um bom instinto para aventura.

Algumas horas antes:

— A Mestra Helga está demorando, não acham? — Questionara mansamente Charllotie, erguendo a cabeça em direção a porta. Ao contrário dos dormitórios da Lufa-Lufa, que ficavam no porão, um pouco acima das masmorras, a sala que Helga utilizava estava um pouco mais acima, no segundo andar. Isso lhes garantia luz do sol para iluminar o ambiente, o que nunca acontecia quando tinham aulas com Slytherin.

Apesar de cada um dos quatro fundadores ter sido o diretor de sua própria casa, eles não podiam se dar ao luxo de darem todas as matérias para seus alunos. Suas especialidades e habilidades eram diferentes entre si, portanto eles montaram um cronograma, dividindo as matérias e os horários entre os quatro. Era raro ter alunos mestiços ou nascidos-trouxa naquela época, e isso fez a divisão ficar… relativamente mais fácil.

Salazar tinha uma profunda desconfiança para com esses alunos, e os ensinava apenas por obrigação, tendo uma profunda antipatia para com eles - mais do que já tinha com todo mundo, aparentemente. Ele e os outros três frequentemente se desentendiam quanto a esse assunto, mas por ser a minoria, o ofidioglota acabava perdendo. A tendência dessas discussões, com o passar do tempo, era aumentar até que causassem uma catástrofe…

As turmas tinham a média de vinte alunos, de duas casas distintas, para que houvesse um pouco de integração. Helga havia ficado ao encargo tanto da matéria de Herbologia quanto da de Trato de Criaturas Mágicas. Em ambas, as turmas haviam seguido o mesmo padrão: Grifinórios e Lufanos em um horário, Sonserinos e Corvinos em outro. Por suas aulas serem normalmente fora da sala, ela raramente a utilizava, mas naquele dia em especial decidira por dar apenas teoria…

Como Charllotie havia feito questão de avisar, a professora demorava para aparecer, o que causou certa empolgação por parte de Ian. Ele virou-se automaticamente para trás, enquanto preparava-se para fazer o que melhor sabia: cantar garotas. Ou pelo menos tentar. Sua vitima da vez era Ana, sisudamente apoiada em sua carteira, mastigando alguma coisa com aparência suspeita.

— Aninha…

— O que é, praga? — ela resmungou em meio a mastigação. Mais de perto, dava para notar que aquilo era um pequeno palito de madeira.

— Ei, qual é a dessa reação cedo assim?

— Eu que pergunto isso, bebes não deveriam sair da cama a essa hora…

Charllotie suspirou, unindo as sobrancelhas e fechando os olhos. Aqueles dois eram impossíveis quando colocados no mesmo espaço. Deveria ter uma regra para evitar que um ficasse a pelo menos um metro do outro. — Ana… Ian… por favor, mantenham um pouco de compostura…

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— Eu mantenho a minha compostura se colocar uma coleira nesse seu grifo irritante… — Ana reclamou em resposta, vendo com o canto dos olhos Ian aproximar-se perigosamente dela.

— Uau… se fosse eu não deixava… — era pra ter soado como algo provocativo, mas o autor da frase, Dimitry, como sempre estava mais dormindo do que acordado, então acabou parecendo mais um bocejo indefinido. Isso não pareceu surtir lá muita diferença, pois Ian já havia preparado a sua varinha.

— Er… vocês não acham que estão levando isso para o lado pessoa? — Anatáscia encolheu-se de imediato, vendo sua parceira levantar com certa fúria da cadeira e puxar sua própria varinha junto.

— Sem querer ser chato, isso é um péssimo lugar para… — Max calou-se, tomando um jato de água no meio do rosto. Ele mal notou quando Ian havia conjurado o feitiço, e tossiu algumas vezes. — Ei, eu não tenho nada a ver com isso!

Conjunctivitis! — Ana rebateu por sua vez, acertando Ian. Ele levou a mão aos olhos, tentando fazer a ardência passar, sua visão completamente embaçada.

— Maldita seja um milhão de vezes! Eu vou esmagar você, sua anãzinha de jardim! Trip Jinx! — Ele tentara acertar Ana, mas ela saiu do caminho no ultimo instante, e quem acabou tropeçando numa cadeira e indo ao chão foi Anastácia, que havia levantado na hora para tentar parar aquele arremedo de duelo.

— Ai! Ian! — ela pareceu realmente irritada, conjurando um feitiço não-verbal que fez com que ele fosse jogado violentamente para trás.

A contenda durou mais algum tempo, enquanto mais alguns alunos eram acertados – como Max e Dimitry (que obviamente não estava se movendo, e por ainda estar sonolento tinha uma resposta realmente lenta para se defender) – e na tentativa de revidarem, acabavam causando uma confusão ainda maior. Os mais espertos e tranquilos simplesmente se afastaram o máximo que podiam, usando feitiços de proteção para evitarem ser acertados.

Até Charllotie resolver dar um basta na situação.

Petrificus Totalus. — ela murmurou, com sua voz lenta, paralisando Ian. Rapidamente desviou de um outro golpe e repetiu a magia, dessa vez mirando Ana. Ia continuar quando viu Dimitry levantar num impulso e mirar em Max, que estava mais perto da porta. Ela não conseguiu pará-lo a tempo, e só conseguiu ouvir as palavras… virou-se, cravando os olhos azulados em Max, contudo ele jogou-se pro lado no ultimo instante e…

Helga entrou. Foi azarada, derrubada e rolada escada abaixo. Houve um silêncio pesado, antes que uma corrente de alunos se precipitasse naquela direção, querendo ver se a professora estava bem.

E bom… aqui estamos…

Agora, voltando a floresta:

Charllotie não era alguém com tendência a gritar ou fazer escândalo, sem dúvida nenhuma. Era ela sempre calma, educada e paciente. Obviamente, ninguém lembra dessas coisas ao ser raptado por um dragão…

A criatura não conseguia voar direito por causa da vegetação extremamente entrelaçada que havia ali, mas tinha conseguido ao menos chegar até ela e agarrá-la com uma garra escamosa e com tamanho suficiente para esmagá-la com um único movimento. A jovem não era capaz de defini-lo por causa da semi-escuridão, e isso era o pior. Poderia ser qualquer espécie, nem sabia que havia dragões ali dentro! Ela forçou-se a acalmar-se, sabendo que entrar em pânico era inútil ali. Se conseguisse lembrar de algum feitiço que pudesse jogar nele para que a soltasse…

Uma cacofonia de gritos e chamados chegaram ao seus ouvidos. Pôde distinguir três vozes diferentes, a de Ian, Anastácia e Dimitry. Os outros deveriam estar mais distantes… em um primeiro momento teve receio de levantar a voz para gritar sua localização de volta. A criatura que a segurava mantinha o passo lento e constante, entrincheirando-se na floresta, abrindo um caminho sinuoso atrás de si. Se gritasse, o dragão poderia resolver atacá-la. Voltou a observar a trilha, suando frio. Uma vestimenta vermelha e dourada apareceu em seu campo de visão, e Charllotie fechou os olhos para evitar ser cegada pelo clarão que se seguiu.

Confundus! — a voz de Ian gritou, fazendo a criatura parar o avanço e começar a se chacoalhar, confusa. Voltou-se na direção deles, rugindo, temporariamente esquecendo de sua presa e soltando-a. Charllotie rolou pelo chão, levantando-se o mais rápido que conseguia com aquele vestido e ganhando distância.

— Eu não sabia que haviam dragões aqui… — protestou Dimitry, erguendo seus olhos na direção da amiga. — Lottie, está tudo bem?

Viu quando esta contornou o dragão, ele ainda sacudia furiosamente a cabeça de um lado para o outro. Ao se reunir aos outros, permitiu-se respirar com mais facilidade. — Estou… foi apenas um susto…

— Me pergunto se alguém não se assustaria com uma coisa dessas aparecendo do nada… — comentou Anastácia, abraçando-a de lado. — Vamos voltar. O professor Godric deve estar a caminho.

Eles não iam a lugar algum. Uma labareda de fogo saiu da boca do dragão, varrendo com facilidade algumas árvores, transformando-as em cinzas. Os quatro jogaram-se no chão um pouco antes. Ian pôde reparar que as pontinhas do seu cabelo haviam sido chamuscadas com a lufada de ar que viera antes do fogo.

— Que desgraçado, como ele ousa!? — ele já ia fazer menção de levantar, quando Dimitry puxou-o pelo braço.

— Fique abaixado, está querendo morrer?

— Não quero morrer, quero matar esse bicho!

— Ahn, você só pode estar brincando… — Ani murmurou, levando a mão a testa. Logo sentia-se ser puxada por Charllotie, forçando-a para que levantasse.

— Vamos. Ele está se mexendo novamente.

De fato, o dragão agora parara de remexer o imenso corpanzil, aproximando-se de maneira rasteira deles. Das narinas saiam fios de fumaça. Agora, com a luz do sol caindo sobre a pequena clareira que ele abrira com suas chamas, podiam ve-lo completamente. Era um Dragão Galês Verde, o que eles poderiam ter definido pelo rugido melodioso, se não estivessem tão apavorados. Isso de certa forma era algo bom… outras espécies já teriam feito-os em pedacinhos a tempos. Contudo, pela forma que a criatura chegava mais perto, não parecia nada relaxante.

— Er… imagino que seja uma boa hora pra correr… — Anástacia continuava dando passos para trás, segurando firmemente a mão da outra garota.

— Sem sombra de dúvida. — Foi a resposta dela, preparando-se para virar. Pretendia tomar o caminho pelo qual tinha vindo, mas o dragão cercou-os, saltando em direção a entrada, preparando-se para dar um bote.

Glacius! — Dimitry apontou a varinha para a pata do dragão, mas o efeito esperado não durou nada. O gelo subiu até metade do braço musculoso da fera e logo começou a partir-se novamente, mostrando que ela tinha mais força do que parecia.

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— Não tinha uma ideia melhor? — Ian ergueu uma sobrancelha, preparando-se ele próprio para lançar uma magia.

— Ao menos tentei, certo?

— Tsc. Dep…

Um segundo jato de fogo fez com que ele se calasse, e Anástacia tomasse a frente: — Protego! — As chamas bateram contra o escudo recém criado. Nesse mesmo instante, vozes foram ouvidas do caminho que o dragão bloqueava.

— Mas que diabos faz um dragão por aqui? — Max havia estancado pela milésima vez, observando a figura dantesca que ali havia. As escamas reluziam a luz solar, e a fera virou-se lentamente na direção deles fungando medonhamente. — Ou… ou, ou, ou… não me olhe assim, eu nem sou gostoso.

— Não acho que ser gostoso ou não vai fazer diferença para ele, Max. — Godric exclamou, profundamente incomodado. — Parece que vocês o irritaram bastante! — Completou, levantando a voz para ser ouvida pelos alunos que estavam do outro lado.

— Não é exatamente com o dragão que você deveria se preocupar. — Ana uniu as sobrancelhas, focando-o de baixo. Aqueles olhos grandes e demoníacos a encaravam de uma forma que parecia querer devorá-la. — Professor… o senhor não vai pará-lo?

— Por que eu deveria? Flandre é um bom garoto. — Ele voltou-se para o dragão, abrindo um sorrisinho amigável. — Não é mesmo, Flandre?

A criatura rugiu novamente, francamente irritada, como se discorda-se de absolutamente tudo que Godric dizia. A cabeça desceu para observá-lo de frente. Ou pelo menos da mesma altura.

— Ora, não me olhe assim, sabes muito bem que não deve ficar perto das trilhas da floresta. Helga iria ficar chateada se soubesse disso. E também raptou uma das minhas alunas, não tem vergonha?

Flandre bufou, fazendo fumaça bater no rosto do fundador. Este apenas ergueu uma das mãos para acariciar seu focinho, sentindo a textura das escamas esverdeadas. Já havia embainhado a espada fazia um tempo.

Francamente, havia achado que alguma criatura maligna da Floresta poderia ter destruído seus planos, mas estava tudo sobre controle. Enquanto se dirigia para as profundezas obscuras, guiando o dragão para seu lugar normal de descanso, os alunos foram deixados na beira da bifurcação para refletir. Quando retornou, batendo simplesmente uma mão na outra, colocou as mãos na cintura, sobre sua túnica avermelhada, e questionou: — E então, o que aprendemos hoje?

— Que não devemos deixar a trilha? — perguntou Max, alegremente.

— Que feitiços congelantes não funcionam com dragões? — alegou por sua vez Dimitry, incomodado por sua magia ter durado tão pouco.

— Que nunca devemos confundir um dragão? — Anastácia fez um biquinho, observando Ian de esguelha.

— Que a professora Helga é maluca por ter um bicho de estimação desses vivendo na floresta? — Ana ergueu um dedo, pensativa.

— Não, não, não e… bom, isso eu não posso negar, Helga é meio… hum… complexa. Foi uma sorte não terem machucado o dragão que ela demorou tanto tempo para treinar, se não ela iria descontar sua raiva em mim. — Godric suspirou. A fundadora começara a cuidar de Flandre a cinco anos, e quando ele estava grande demais para viver no castelo sem que os alunos descobrissem e tivessem um surto, o próprio Godric aconselhara-a a deixá-lo livre na floresta. Ao que ela respondeu animadamente com: “— Então você irá cuidar dele, e se acontecer algo ao Flandre, irei servir comida enfeitiçada para você até o fim dos seus dias na escola.”

Não que aquela ameaça fosse muito assustadora, mas desde então Godric passara a usar o mesmo perfume de Helga toda santa vez que adentrava a Floresta para verificar o dragão. Às vezes a própria Helga ia visitá-lo, mas sempre sozinha. E voltava repleta de arranhões e machucados, causados mais pelos tombos durante a caminhada do que por algo realmente perigoso.

— Mas como eu ia dizendo… — ele voltou a falar, estralando o pescoço. — A resposta é Responsabilidade e Trabalho em equipe. Devo dizer que a interferência do dragão foi ótima para eu verificar algumas coisas.

— Você não tinha planejado coisa alguma? — Ana inclinou a cabeça, preparando-se para xingar.

— Não… eu cheguei a pensar em dá-los de presente aos Centauros para que eles os assustassem um pouco, mas isso funcionou melhor.

— Ora, seu…! — Max tampou a boca de Ana antes que ela pudesse continuar, e Godric voltou sua atenção da copa das árvores para os alunos.

— Achei interessante a reação que tiveram. Eu não esperava que saíssem da trilha para procurar a Charllotie por conta própria, em vez de tentarem me encontrar. A ideia de protegerem uns aos outros, mesmo sendo de casas diferentes, me faz pensar que nós, fundadores, escolhemos certo ao aceitá-los como os primeiros alunos de Hogwarts. — ele abriu um sorrisinho simpático. Seus olhos escuros cravaram-se nos alunos que ficaram com ele, Max e Ana. — Uma pena que os dois não tenham conseguido provar seu valor também.

Max continuava com a mão na boca de Ana, e ela só conseguia exprimir resmungos abafados e mal-humorados. — Ficar ao lado do senhor me parece mais prudente.

— Bom, ao menos não são lentos. — Godric coçou um pouco a bochecha, pensativo, e dessa vez olhou para Charllotie, que parecia querer falar já fazia um tempo. — Diga, senhorita…

— Por qual razão Flandre veio exatamente até mim?

— Pelo cheiro. Possivelmente achava que era uma amiga, afinal é o mesmo perfume que uso quando entro aqui. — ele tirou um vidrinho da túnica. Havia feito todos usarem-no, antes que entrassem na floresta, no caso de toparem com o dragão. — Por essa razão ele não lhe fez mal algum. Mas depois que Ian lançou o feitiço para confundi-lo, começou a vê-los como uma ameaça.

— Ahn… já que tivemos nossa lição, não podemos voltar para a escola? — perguntou Anastácia, timidamente, levantando um dedo.

— Infelizmente não, afinal tenho que buscar algumas plantas mais para o fundo da floresta, para que Rowina possa usar na próxima aula de poções. — Godric voltou a retirar a espada da bainha, apontando-a para frente. — Vamos andando!

Houve uma balbúrdia irritada por parte dos alunos, mas por fim todos estavam mais uma vez a caminho. Ao menos desta vez, ninguém iria ficar para trás…

X-X

Enfermaria.

Helga estava silenciosamente deitada em sua maca, parecendo compenetrada em ficar brincando com letras luminosas que havia criado no ar, e mudando-as de lugar para formar palavras diferentes. Beatrice parecia ter lhe dado uma folga, mas não deixara-a sair de jeito nenhum, com certo receio de que a fundadora se machucasse outra vez.

A mulher só se distraiu de sua brincadeira quando viu um vulto soturno entrar na sala. Com seus longos cabelos prateados, presos por um laço rente aos ombros, e seus frios olhos cinza, Salazar era uma boa forma para um bicho-papão tomar. No entanto, Helga apenas sorriu ao vê-lo. — Salazar! Você veio me ver? Que simpático da sua parte!

— Eu não tenho nada melhor para fazer. — Ele alegou de maneira seca, enquanto puxava uma cadeira para sentar-se ao lado dela.

— Sério? E seus alunos?

— Ainda há de demorar para minha próxima aula.

— Bom, nesse caso poderia muito bem passar esse tempo na fortaleza da solidão, não é? — ela sorriu brevemente, apontando para baixo, em direção as masmorras, onde Salazar tinha seu dormitório.

— Está cedo demais para me recolher.

— Vai mesmo continuar arrumando desculpas, não é?

Ele ficou em silêncio, piscando levemente os olhos e endireitando-se na cadeira. Observou-a de cima, era difícil imaginar que aqueles dois eram amigos. Aliás, era difícil imaginar que Slytherin conseguisse ser amigo de qualquer pessoa que fosse. — O que diz é incompreensível.

— Ah, você não ficou nem um pouco preocupado mesmo, que cruel da sua parte, Salazar!

— Negativo. — ele rolou lentamente os olhos para o teto. — Estás sempre rolando pelos corredores, Helga. Não é algo particularmente surpreendente.

Ela fez um biquinho, contrariada. — Você é sempre tão chato. Deveria sorrir mais, se não vai ficar com essa expressão aborrecida pelo resto da vida e vai assustar todos os que cruzarem com você.

— Seria uma verdadeira benção.

— Fufu… o que veio fazer aqui afinal de contas? — ela voltou sua atenção para as letras, mexendo-as com a varinha. Com um pouco de esforço, juntara dois “O”, um “L” e um “P” para formar uma carinha feliz.

— Eu meramente não quero estar em outro lugar. — Foi a resposta dele. Direta, cruel como sempre, mas de alguma forma ligeiramente legal. Helga inclinou brevemente a cabeça para o lado dele e sorriu de canto.

— Ei, Salazar… que tal jogarmos palavras-cruzadas?

— Faça como quiser.

Apesar de ter dito isso, ele invocou letras verdes do seu lado também, fazendo um breve sinal para demonstrar que ela deveria começar.