As 19:30hrs ouvi a campainha tocar uma segunda vez naquele dia. Senti algo dentro de mim revirar. Meus pais foram atender a porta, enquanto eu permaneci sentada na sala de estar com meu irmão, esperando. De longe escutava coisas como "Boa noite!", "Que bom que veio", "Entre". Passos pelo corredor e então... ele apareceu. Impecável, com uma camisa social azul escuro, combinando perfeitamente com seus penetrantes olhos azuis. Os cabelos muito pretos atraentemente bagunçados. Ele sorriu pra mim e eu me levantei para cumprimenta-lo.

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— Boa noite - ele pegou minha mão de bom grado, sacudindo-a brevemente e olhando diretamente em meus olhos.

— Boa noite - eu respondi correspondendo seu olhar.

— Você é o cara que salvou minha irmã? - perguntou Jeremy, nos separando.

— Bem, sou eu. E qual é o seu nome campeão?

— Jeremy

— É um prazer Jeremy - Damon se abaixou e apertou a mão dele, sorrindo - Sou Damon.

— Você é tipo o herói do dia né? Salva princesas em perigo todo dia? - perguntou ele, inocentemente.

Todos rimos de sua imaginação, e Damon respondeu:

— Não todo dia. Só quando da tempo, sabe como é...

— Ah sim...

— Bom crianças, vamos comer? Tenho que confessar Damon, não como nada desde o almoço... o trabalho me deixa morrendo de fome - disse minha mãe nos levando à sala de jantar.

— Compreendo Sra. Gilbert... a senhora e seu marido trabalham no hospital da cidade, estou certo? - Sentamo-nos todos a mesa, meu pai e minha mãe de um lado, Damon e eu do outro, e Jeremy na ponta.

— Sim, sim. Nos conhecemos lá, na verdade. É uma história interessante... - e passou a contar todo o ocorrido, com meu pai ajudando e corrigindo em algumas partes, enquanto comíamos o assado. Não conseguia evitar olhar pra Damon de vez em quando, e me surpreendia ao perceber que ele me olhava também.

— Então Damon, onde seus pais trabalham? - perguntou meu pai, trocando de assunto.

Damon encarou seu prato por breves segundos, antes de responder com grande calma na voz:

— Ahn... eles, já morreram, na verdade... - arregalei os olhos assustada.

Stefan nunca havia me dito nada disso.

— Oh, perdão, não sabíamos...

— Sentimos muito, querido - disse minha mãe, em tom maternal.

Eu apenas o olhei, sem disfarçar dessa vez, procurando descobrir os sentimentos que ele carregava, por meio de seus olhos.

— Tudo bem, já faz muito tempo... eu e Stefan éramos crianças quando aconteceu o incêndio... não me lembro como começou, mas de repente, toda a casa estava em chamas. Meu pai nos tirou de lá, nos deixou no jardim, e voltou para buscar nossa mãe. Mas ai, a casa desabou e, bem... nunca acharam os corpos... Stefan e eu fomos levados para morar com nossos tios e voltamos esse ano. Ele voltou antes de mim, na verdade. Eu estava meio preso naquela cidade, mas... voltei - ele sorriu

— Sentimos muito mesmo saber disse, Damon - disse minha mãe.

Damon assentiu, e voltou a comer. Nessa hora, o celular de meu pai tocou, e ele pediu licença para atender. Voltou minutos depois, se dirigindo à minha mãe:

— Querida, a xerife ligou. Aconteceu um acidente perto da ponte, muitos feridos. Estão sendo direcionados ao hospital. Temos que ir. Urgente.

— Claro. Crianças, precisamos ir. Damon, desculpe-nos, não estava nos planos...

— Não, que é isso. Sei como é corrido e imprevisível o trabalho de vocês.

— Mas por favor, não va embora ainda, está cedo. Elena com certeza lhe fará boa companhia.

Ergui os olhos. Olhei pra minha mãe, que tinha um expressão de "Não foi nada, filha", depois pro meu pai que estava tipo "Que ótima idéia", e por último para Damon, que exibia um pequeno sorriso, enquanto levantava para se despedir de meus pais.

— Quanto a você Jer, direto pra cama. Tem aula amanhã, e já está mais do que cansado.

— Ahhh mãe...

— Nada de "ahh mãe", sabe que tenho razão. Vai, anda. Eu e sei pai já estamos atrasados. - ela se despediu dele, depois me abraçou e por último, abraçou Damon, ainda pedindo desculpas pela inconveniência.

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Meu pai também se despediu de todos, e em pouco tempo, só restavamos eu e Damon na grande sala de jantar.

— Então... - comecei, nervosa - quer ir para a sala de estar?

— Claro

Ele me seguiu até a sala, e correu os olhos por ela, assim que chegamos. Liguei a TV e me sentei no sofá. Damon, no entanto, caminhou lentamente pela sala, analisando os retratos na estante.

— É você? - ele perguntou, apontando pra uma foto em que havia uma garota de 8 anos, emburrada por ter perdido sua melhor pipa.

— Sou - eu disse levantando e me postando ao lado dele, para também olhar a foto - Eu tinha 8 anos, tinha acabado de prender acidentalmente a minha melhor pipa na grande árvore da praça aqui em frente de casa.

— Devia ser uma pipa muito legal, você parece estar realmente brava.

Eu ri e assenti com a cabeça, dizendo:

— É, ela era muito legal. Ainda deve estar presa lá.

— Nunca tentou pegar?

— Está muito em cima, eu não consegui subir até lá - sorri pra ele.

— É uma pena - ele sorriu de volta - Mora aqui desde que nasceu?

— Desde que nasci - confirmei - É estranho eu nunca ter ouvido falar de você ou... do que aconteceu, com seus pais... - disse mansamente

— O caso foi abafado, por pedido de meus tios... você ta bem?

Franzi a testa e respondi:

— Ahn, estou.

Ele deve ter entendido minha confusão, porque riu e disse:

— Não. Eu quero dizer... com o que aconteceu hoje. Você ta bem?

— Ahh - então entendi que ele estava se referindo ao incidente na escola - Sim, estou bem. Bom, foi um grande susto, mas... fico feliz que tenha sido salva Sr. Herói do Dia.

Ele sorriu pra mim.

— Fico feliz que tenha salvado você Srta. Princesa em Perigo.

— Ah é?

— É, ganhei um ótimo jantar como prêmio.

Eu ri e disse:

— Fico feliz que tenha gostado da minha comida... Herói.

— Você que fez?

— Sim. E fiz também um ótimo fundie pra sobremesa, mas não consegui colocá-lo a prova. Será que gostaria de prova-lo comigo?

Ele abriu um grande sorriso e respondeu:

— Ficaria extremamente feliz Princesa.

Já na cozinha, eu servi fundie para nós dois, e me sentei na bancada que divide a cozinha da sala de janta. Ele se sentou na minha frente, e provou seu fundie. Saboreou por uns instantes e então fez cara de desgosto. Me assustei.

— O que foi?

— Detesto ter que te dizer isso, mas... está ainda melhor que o assado do jantar. Acho que vou ter que comer tudo.

Suspirei aliviada:

— Meu Deus, você me assustou. Ninguém nunca reclamou da minha comida - ele riu

— E nem vai. Você cozinha muito bem.

Eu sorri:

— Obrigada.

— Você é muito amiga do meu irmão, não é?

— É, ele chegou na cidade na época em que eu terminei com meu ex-namorado... sabe, aquele que me traiu?

— Sei...

— Stefan foi um bom amigo. Ele ficou do meu lado, disse que a dor ia passar, e que eu iria me apaixonar de novo. Eu o amo - disse com simplicidade.

— É, meu irmão é assim.

— Assim como?

— O irmão bonzinho - olhei pra ele, ele não me olhou de volta.

— E você seria o irmão...? - ai ele me olhou, mas não respondeu. Abaixou os olhos de novo.

— Você não me conhece Elena - ele respondeu sério, depois de um pequeno silêncio.

— Mas gostaria... - falei, antes que pudesse controlar.

Ele me encarou novamente. Ai meu Deus, ele deve estar achando que eu sou uma atirada!

Eu sustentei aquele olhar, tentando mostrar que ele poderia confiar em mim.

Ele sorriu.

— Você é incrível Elena, e tem um grande coração - corei um pouco - Não acho que precise dos meus problemas na sua vida - não respondi - Acho que já está na hora de eu ir... - ele falou, se levantando.

— Ah, okay - me levantei e o levei até a porta - Bem, obrigada, de novo... por me salvar.

— Claro - ele me olhou, e então saiu.

Fechei a porta e subi pro meu quarto, tirando o vestido, a maquiagem, e desfazendo o penteado. Me deitei na cama, peguei meu celular e liguei pra Caroline.

— Elena? Como foi?

— Oi...

— Por que esse "oi" tão sem emoção? Como foi o jantar?

— Foi estranho. No começo ele parecia tão legal. Foi engraçado, fofo, e elogiou minha comida.

— Onnw

— Mas ai do nada, ele se tornou frio. Fechou a cara, e não me olhou mais nos olhos na hora de responder as perguntas. Nem ao menos se despediu. Ele parece ter tido problemas na vida, coisas que não quer comentar... talvez pessoas que não quer citar.

— Acha que ele é um criminoso???

— Não Caroline - ri dela - Só acho que, talvez, ele já tenha se magoado demais... Tudo bem que acabamos de nos conhecer mas... realmente queria que ele confiasse em mim, não sei por que. Te ligo de novo amanhã.

— Tudo bem.

— Tchau Carol.

— Tchau...

Desliguei o celular e o coloquei no criado-mudo ao meu lado, fechei os olhos e tentei dormir... mas o sono não vinha.

Depois de meia hora, desisti. Levantei, coloquei um roupão por cima do pijama e olhei pro relógio: 23:30hrs. Meus pais ainda não voltaram, deve ter sido um acidente grave. Desci as escadas e sai de casa. Atravessei a rua, entrei na praça, e me sentei num banco. Fiquei olhando a grande árvore, que a nove anos roubara minha pipa favorita.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.