Quando acordou, não estava mais na sua cela, e isso era muito bem perceptível, esta sala era mais larga, mais alta, e muito bem iluminada. A única coisa que não era diferente, era a detestada barreira de vidro que separava sua vida do mundo real. Os pulsos livres, provavelmente teriam marcas de algemas se ele não possuíse poderes de regeneração. Lá fora, podia ver os cientistas se preparando para a nova experiência. Quando viu que o vampiro acordou, o cientista começou a falar:
— Damon, que bom que acordou... Quero lhe fazer uma proposta, clara e específica: Se colaborar com o experimento, lhe daremos uma bolsa cheia de sangue, aqui e agora. Mas quero que prometa que vai colaborar.
O vampiro, não tendo outras opções, disse:
— Dou a minha palavra.
Em um movimento rápido, a porta foi aberta, e uma bolsa de sangue veio voando pelo ar. Em sua velocidade vampirística, ele a agarrou e começou a beber desesperadamente, sem se importar com os olhares curiosos do estranho grupo que continuava ali. Sentiu suas forças voltarem, não por completo, é claro, precisaria de muitas mais bolças de sangue para voltar ao seu normal. Quando acabou, se recompos, levantou e mostrou-se pronto para começar a experiência. Sem aviso, um dardo foi atirado em seu braço.
— Qual é a experiência da vez? - perguntou, retirando o dardo que já esvaziara seu líquido misterioso.
— Veneno de Lobisomem - respondeu o cientista
— O quê? - assustou-se o vampiro.
Ele sabia exatamente os efeitos que este veneno tinha sobre seu corpo... não matava, mas torturava.
— Bem, se vocês querem ver o efeito desse veneno, - o vampiro disse, vencido - devem injetar mais dele em mim.
O cientista fez cara de desentendido, obrigando Damon a explicar sua teoria:
— Eu sou o vampiro original, sou mais forte que os outros vampiros.... Pra esse veneno ter efeito em mim, vocês precisam injetar uma quantia maior!
Outro dardo foi atirado, e mais outro, e mais outro. Deduzindo que era o suficiente, o cientista mandou parar. Todo o grupo observou atenciosamente enquanto esperavam o veneno fazer efeito.
Os primeiros sinais começaram a aparecer. O veneno subindo pelas veias era visivel no braço do vampiro. Pequenos gemidos de dor saiam por seus dentes cerrados:
— Vai ser um processo torturante, eu posso garantir.
Damon começou a dar pulinhos frenéticos, que em outra ocasião, seriam considerados engraçados:
— Queima! Queima!
— Anotem, anotem tudo que acontecer - ordenava o cientista.
— Anotando, primeiro sintoma, queimaduras extremas, senhor - respondeu um funcionário.
Depois de alguns minutos sentindo a dor das queimaduras, algo dentro de Damon ativou, como se ele tivesse sido ligado na tomada. Começou a correr em circulos dentro da sala na sua velocidade vampirística, quase invisivel e com poderes capazes de formar um redemoinho lá dentro.
— Sintoma número 2, senhor, sistema nervoso ativo. - o funcionário novamente informa.
— Muito bem.
Depois de gastas suas energias, Damon parou, no meio da sala. Ajoelhou-se no chão, e se preparou para a que ele acreditava ser a pior parte. Suas presas apareceram, os olhos avermelharam, a força foi reunida e ele socou repetidamente o vidro da sala, na tentativa de quebra-lo.
- Damon! O acordo era que você iria colaborar! Deu sua palavra! - lembrou, assustado o cientista
— Senhor, acho que o terceiro sintoma é falta momentânea de humanidade!
Damon continuava a socar fortemente a barreira, sem se importar com sua promessa, considerando o fato de que, tendo uma curta falta de sua humanidade, não se importava mais com nada... De repente, uma rachadura apareceu no vidro, assustando todos os presentes. O cientista tentava acalma-lo, o advertindo que se ele quebrar o vidro, estará faltando com sua palavra, embora soubesse que não era culpa dele, e sim do veneno. Damon conseguiu se controlar, a humanidade voltou e ele percebeu o estrago que havia feito:
— Desculpa, e-eu não queria...
— Tudo bem - cortou o cientista - A culpa foi do veneno.
— Olha, eu acho melhor vocês me darem a cura agora, se não, algo pior pode acontecer...
— Existe uma cura? - perguntou o cientista
Damon quase não acreditou no que estava ouvindo:
— Como assim "existe uma cura" ? Vocês não tem a cura? Injetam em mim um veneno mortal, sem nem ao menos saber se existe uma cura? Pois bem... existe sim, e sem ela, a minha humanidade vai ser desligada. Vocês não entendem?
O cientista preucupou-se com as palavras do vampiro. Ele, mais do que ninguém, sabia o que um vampiro com a humanidade desligada, podia fazer.
— Se não tirarem esse veneno do meu corpo, - continuou Damon - ele vai chegar no meu coração, eu vou praticamente "morrer" por dois segundos, e quando acordar, vou estar sem humanidade, e não vou me importar com nenhuma palavra que dei...
Uma euforia começou a se formar entre os cientistas. Funcionarios obedecendo os comandos de verificar se havia alguma cura para este tipo de veneno no depósito, pesquisadores do grupo, que muito pouco sabiam sobre o vampirismo, perguntando o que Damon queria dizer com "humanidade desligada".
Damon se encostou na parede dos fundos, e se preparou pro pior. O veneno subindo por suas veias, deixando rastros de dor por onde passava. Sentiu ele chegando no coração, e percebeu que já era tarde. Com um grito de dor ele apagou. Fez-se um silêncio mortal, a atenção de todos estava voltada a ele. Ele então, abriu os olhos, levantou e direcionou-se ao vidro rachado. Em seu olhar, não se via mais o cansaço ou sofrimento, apenas o anseio por liberdade. Com um único soco, ele quebrou o vidro. Todos sairam correndo desesperados. Ele saiu, se alimentou dos que precisava, e do resto, quebrou o pescoço, incluindo o do cientista.


Quebrou a porta de ferro do arsenal e sentiu a luz do sol pela primeira vez em 200 anos. Ele estava livre. E com a humanidade desligada.

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