Love Jokes

Capítulo XII - Festa na boate


Não era possível ouvir qualquer som que não os tilintares de copos de vidro, gargalhadas e falatórios incontáveis que se embolavam e misturavam tornando-se ruídos incompreensíveis para quem observava de fora de cada conversa individual, e como se a cereja do bolo não pudesse faltar naquele ambiente de sonoridades diversificadas, uma música completamente remixada era tocada ao fundo. O mundo lá fora já não existia quando ali dentro vivia a diversão.

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Fora daquele mundo, nas imundas ruas de Gotham, chovia como não acontecia já há algum tempo. E como um presságio de mal agouro, a chuva trouxe consigo algo que já não mais era falado. Um mal a qual todos, fossem ricos, pobres, ladrões ou heróis, desejavam que não voltasse jamais. Uma lembrança risonha que desejavam esquecer. E por quase um ano, haviam esquecido. Eles deveriam saber, jamais se esquece uma boa piada.

A chuva batia com força no negro asfalto em frente àquele bar luxuoso, porém, nem mesmo a chuva lá fora, o falatório lá dentro, ou a música que agredia a tentativa confusa de comunicação dos clientes que ali se divertiam, tornara imperceptível a chegada inoportuna do verdadeiro pesadelo daquela pútrida cidade àquele estabelecimento.

Talvez apenas alguns tenham paralisado ao ouvir o som da porta de metal e vidro se abrir e então perceber a figura que ali adentrava, mas, todos sentiram a pele gelar quando após um pequeno grito trêmulo, um único nome fora ouvido da voz comumente reconhecida da não tão jovem bargirl, que perante tamanho susto, deixara a caríssima garrafa de Vodka russa, Belvedere, cair e se espalhar ao chão.

— O Coringa... – Cochichava uma dúzia de vozes que arregalavam seus olhos amedrontados.

Apenas após os primeiros segundos, todos começaram a perceber duas outras figuras fantasiadas de animais juntas ao Coringa. Ambos, um urso pardo e um urso panda, carregavam Submetralhadoras semiautomáticas; enquanto o urso pardo carregava uma HK MP5-K co2, o urso panda carregava em suas patas uma UZI co2. Ambos inertes em aguardo de ordens, posicionados atrás do palhaço do crime, que agora bem vestido em um luxuoso terno negro sob medida, uma camisa social branca, uma fita em laço lilás, ao invés de uma tradicional gravata, um broche branco de pluma de avestruz e luvas brancas que finalizavam seu elegante conjunto de vestimenta para a noite, sentia o misto de odores daquela boate e sorria com as muitas sensações.

Era uma noite importante, seu retorno após tanto tempo fora. “Não é porque vai respingar sangue, que tenho de estar malvestido! Ora essa, um homem imponente tem de mostrar o quão poderoso é apenas de olharem para ele. Não concorda, Sr. Ptyz?” Perguntava o Coringa há algumas horas ao seu alfaiate, que tremia ao lado do cadáver de seu auxiliar enquanto media as circunferências do palhaço homicida à sua frente.

Ainda na porta de entrada, o Coringa fechava seus olhos, levantava a cabeça e inspirava fundo enquanto abria os braços. Parecia aproveitar o ar e todos os cheiros daquele ambiente já há muito tempo não frequentado. Havia realmente bastante tempo, talvez, até mesmo antes de ser levado à Arkham. Mas, estava tudo muito diferente desde a última vez. E embora o cheiro do local não fosse dos piores, aquela barulheira de poucos segundos atrás, cujo agora havia cessado perante sua presença e o desagradável som de batidas remixadas ao fundo, ainda presente, era algo que lhe desagradava bastante.

Dois seguranças enormes e com músculo sobressaltados avançaram em direção ao Coringa. E embora suas entranhas se contorcessem de medo, tinham de fazer o seu trabalho, sabiam. Não iriam expulsar o palhaço, ou seus ursos, mas, pediria para que não entrassem com suas armas no local. Erro deles. Não pensaram que era melhor perder o emprego do que a vida?

— Senhor, Coringa. Boa noite, senhor. – Disse um dos dois homens, tremendo de nervoso enquanto se aproximava com um sorriso que mascarava tamanho medo.

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O Coringa nada disse, apenas os olhara se aproximar. Havia certa desconfiança, mas, achava o estado amedrontado daqueles dois machões algo divertido. “São como os dois neandertais de Arkham. A diferença é que estes talvez pensem.” pensou enquanto os observava com desprezo.

— Tudo bem, senhor? É bom vê-lo aqui conosco esta noite. É... Senhor. – Estava enrolando, pensando na melhor maneira de pedir algo tão ousado para aquele que um dia já governou o lado sombrio de Gotham. – Você poderia pedir para seus... – Tentou se recompor e impor alguma autoridade. – Posso pedir para que entreguem suas armas, cavaleiros? Ou pelo menos, guardem... – Fraquejou.

Apenas um sorriso.

— Ah, sim, claro que sim, senhor... – O Coringa lia o crachá preso ao paletó negro do enorme homem à sua frente. - ... Eiber. Senhor Eiber. Claro que podemos entregar ao senhor. Que falta de educação à minha!

— Obrigado, senhor. – Eiber já se sentia mais calmo e confiante. Talvez o palhaço do crime não fosse o monstro caótico e irracional que todos pensavam. “É só pedir com educação!” pensou ele. – Fico muito... – Eiber fora interrompido pelo Coringa.

— Vamos, garotos. Entreguem a eles. Podemos sempre compartilhar! Afinal... – Agora a face do Coringa esbanjava um, para muitos, reconhecível sorriso psicótico. – Temos fogo para todos. E isso aqui... Ah... Isso aqui vai pegar fogo! – Havia uma intensidade amedrontadora em sua frase.

De repente, a noite de diversão havia acabado, a dançaria havia acabado, a irritante música havia parado e todos começaram a gritar quando o som do estalar contínuo de centenas de munições eram disparadas das armas que ambos os ursos seguravam.

— Vejam, garotos! Não sabia que vocês eram fabricantes de queijo! – O Coringa ria ao se referir aos corpos esburacados e completamente ensanguentados dos dois seguranças agora caídos ao chão alguns metros de distância.

Olhando todos aqueles rostos assustados, que mesclavam lágrimas, gemidos e gritos, sentiu o poder do medo voltar a suas mãos. Era incrível, havia se esquecido. Então seu olhar voltou-se para a bargirl que tremia em prantos agachada atrás do balcão, apenas com seu olhar curioso e petrificado sobre o mesmo, observando ambos cadáveres não muitos metros de distância. Sabia que se alguém ali soubesse o que ele queria saber, muito provavelmente seria ela.

Caminhando em direção ao balcão, sentou-se em um dos bancos frente a este enquanto seus ursos permaneciam na porta de entrada para barrar qualquer um que pretendesse fugir. Com um sorriso simpático, olhou para a mulher agachada e ainda paralisada perante tamanho trauma.

— Toc-toc. Alguém para atender um pobre cliente? – Ele brincava.

Alterando com certa lentidão o foco do olhar, a bela atendente de bar, com seu corte de cabelo negro curto, um pixie hair com franja longa, e alguns piercings prateados na orelha e nariz, abrira a boca como se fosse gritar, embora sua voz não saísse. Sua mente apenas era capaz de lhe dizer que iria morrer naquela noite. “Por que hoje? Por que ninguém vêm ajudar?” Ela se questionava de forma repetitiva.

— Vamos, menina, seja rápida! Céus... Esses jovens não querem nada hoje em dia! – O Coringa reclamava com uma expressão séria, enquanto apoiava a cabeça em seus dedos, como se quisesse mostrar certa impaciência.

— De-Desculpe. – Gaguejava. – Como posso... – Ela tentava manter a respiração constante, algo que agora lhe parecia necessitar de alguma concentração e esforço que jamais notara. - ... Por favor, não me mate. – Ela implorava em meio ao choro que não podia mais ser contido.

— Não, não chore. – O Coringa tocara o rosto em prantos da bela atendente a sua frente. – É claro que eu não vou matar você.

— Não vai? – Certo alívio havia começado a tomar conta de seu peito.

— Não! – O palhaço ria enquanto se apoiava para frente no balcão e dava um pequeno tapa no mesmo. – Bem, ao menos você não vai morrer hoje. – Disse o Coringa enquanto inclinava sua cabeça, olhando de baixo para cima e dando-lhe um sorriso amedrontador ao mesmo tempo em que erguia suas sobrancelhas.

— O que? – Ela havia percebido o que ele queria dizer. Antes mesmo que seu coração pudesse voltar a acelerar, o palhaço deu a ordem.

— Você não achou que eu entraria aqui, com submetralhadoras cheias de munição, e sairia sem esvaziar todos os pentes, não é? – O Coringa a olhava como se fosse louca. – E você sabe a forma mais rápida de esvaziar uma arma? – Ele dera uma pequena pausa cômica. – Puxando o gatilho, é claro!

Aquelas palavras foram como uma ordem para iniciar o massacre. Sem oportunidade de fuga, em meio à sons de gritos implorando por suas vidas, gritos cobertos de pragas ou simplesmente gritos, em meio ao som de vidro quebrando, mesas sendo destroçadas e caixas de som sendo destruídas, o som inconfundível de submetralhadoras disparando tornava o que até poucos minutos era um sonho de diversão para muitos, em um pesadelo inesquecível.

Alguns conseguiram fugir da morte rápida no massacre do palco de dança principal e da área de bar próxima a entrada, mas, sem ter para aonde fugir, exceto para os fundos ainda dentro da boate, em uma tentativa inútil de abrir a porta de emergência, cujo por algum motivo estava trancada, acabaram sendo perseguidos e mortos de qualquer forma. Era um massacre injustificável e sem qualquer motivo aparente.

— Sabe... É apenas uma mensagem. – O Coringa balançava a cabeça e jogava os olhos para cima enquanto balançava as mãos, em uma expressão como se dissesse: “algo bobo que tenho de fazer para que me escutem”. – Me vê um pouco daquilo ali. – Ele apontava para alguma bebida aleatória na estante atrás da atendente, cujo embora tão trêmula quanto um terremoto japonês, tratou logo de atender o pedido. – Eu apenas quero o que é meu. Entende? Eu saio por alguns... – Ele tentava se lembrar quanto tempo ficara fora. - ... Por alguns meses, e... Bem, sabe como é, não é? Alguém tomou o meu lugar! – Se antes ele parecia se divertir, agora parecia furioso. Essa alteração repentina de humor apenas deixava a atendente ainda mais apavorada. – Não é como se eu realmente ligasse para a ideia de ser o “Rei de Gotham”. Céus, Falcone era um Rei e olha o que aconteceu! O que me deixa puto... E eu digo isso com todo o meu coração sorridente... É que tiveram a coragem para tomar o meu lugar, mas, ninguém teve para impedir que tomassem o meu lugar! Pelo contrário, aparentemente o apoiaram! Eu pensei que havia respeito entre nós, criminosos de Gotham. Quando eu soube o que estava acontecendo nesta maldita cidade, eu pensei comigo mesmo: “Ora, será que fariam o mesmo com Carmine Falcone se ele ainda estivesse vivo?” e sabe o que eu percebi? – Ele dera uma pausa enquanto esperava uma resposta da atendente à sua frente e aproveitava para pôr o gole da bebida completamente aleatória que havia pedido para dentro de sua garganta. Descia quente, embora estivesse gelada. – Vamos, garota! Converse comigo! Não estou falando sozinho, estou? – Ele então, notando a incapacidade da mulher que lhe atendia, segurou sua face pelo queixo com seus dedos enluvados e então mexeu-a para cima e para baixo, e depois para os lados. – Sim? Não? – Continuou. – É claro que fariam o mesmo com Falcone! Atiraram nele! – Ele ria repentinamente, o que fizera a atendente arregalar os olhos em susto. – Então, sabe... Ele finalmente chegara ao ponto.

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— O que você quer? – Finalmente ela dissera algo com sua voz anasalada e atrapalhada pela respiração ofegante de puro desespero. Não que houvesse prestado atenção em tudo o que o palhaço havia dito, afinal, seu medo bloqueava sua capacidade racional de conversação, mas, queria entender o porquê aquela maldita noite ter se tornado o filme de terror que estava vivenciando, e mais importante, queria saber qual seria o seu fim.

— Eu só quero saber quem é o dono da boate. Quem é o seu chefe? Ou melhor, quem é o Máscara Negra e aonde posso encontrá-lo? – O Coringa perguntava como se fosse algo simples.

— O Máscara Negra? – A mulher parecia um tanto confusa. – Eu... – Ela pensara se era melhor contar a verdade, ou mentir para aquele homem. Não sabia o que ele queria saber. - ... Não sei muito sobre ele, senhor. Eu juro! Eu só sei que ele é o dono desse e de várias outras boates. Na verdade, ele é dono da maior parte do comércio de Gotham. É tudo o que sei.

— Olha... – Pela primeira vez, ele lera o nome da atendente em seu crachá. – Ana. – Já estava sentindo sua paciência se esgotar. – Se isso for tudo o que você sabe, então, eu vim aqui à toa, fiz todo esse show à toa, meus rapazes se vestiram de panda à toa, e você está viva à toa. Então, por favor, não diga para mim que você só sabe isso.

— Mas, senhor, eu juro! Apenas os grandes chefes de Gotham sabem sobre o Máscara Negra e o como podem encontrá-lo! – Mesmo sem querer, havia dito algo útil que acabara por salvar a sua vida. – Eu sou só uma atendente de bar, senhor... Uma bargirl. – Ela voltara a chorar sem qualquer controle de suas lágrimas.

— Então, apenas os chefes sabem como encontrar o Máscara Negra? Por que não falou antes? Eu podia ter ido atrás do Pinguim! – O Coringa parecia um pouco pensativo com a mão no queixo. – Ei! Eu quero fazer uma reclamação à sua gerente! Aonde ela está?

— A minha gerente? – Ana não estava entendendo. “Uma reclamação?”.

— Olha, Ana... – O Coringa batia com o polegar na testa enquanto abaixava a cabeça. O que fez com que Ana percebesse sua tatuagem. - ... Você é uma gracinha; é ótima, sério! Mas, está começando a me dar nos nervos.

— Desculpa! Ela está de férias, senhor. – Temia por sua colega e superior de trabalho.

— De férias? Será que ninguém quer trabalhar nesta cidade? – Ele batia o dedo indicador no balcão. – Bem, quem não têm cão, caça com o gato. Certo? Vamos lá, pergunta que vale um milhão de dólares, querida. Se acertar, o titio Coringa aqui vai embora, se errar... – Olhando para cima, o Coringa balançava a cabeça enquanto lambia com a ponta da língua sua cicatriz no lado direito da boca. - ...bem, não erre.

— Não, por favor... – Ela implorava. O pesadelo não acabava.

— Uma boate em Gotham, nunca é só uma boate. No crime organizado, a sujeira está sempre... – Buscava a melhor palavra. - ... Conectada. Há cochichos, conversas, responsabilidades fora do horário, e bem, às vezes, uma bela atendente, como você, não é só uma atendente. Então, a pergunta é... Em que merda de lugar, eu posso encontrar um dos “chefões”?

— Você pode encontrar o senhor Guzz na... – Ela pretendia explicar sobre algum clube, em algum lugar, porém, fora novamente interrompida pelo homem à sua frente.

— Resposta correta! Eu sabia que você saberia! – Ele apontava um dedo para a atendente, como se a parabenizasse ao mesmo que reconhecia seu valor. – Vamos então?

— Vamos? – Ela não havia entendido até então.

— Não acha que vai sair falando um monte de direções e eu vou tirar um bloco de notas do bolso, não é mesmo, querida? – Disse o Coringa retirando uma pistola de pequeno porte e uma faca de seus bolsos para mostrar que não havia blocos de notas ou canetas entre os objetos. – Você será o meu GPS hoje a noite, Ana.

— Ah, não... – Foi tudo o que ela conseguira gemer naquele momento.

— Mas, não antes, é claro, de darmos uma forcinha à sua gerente e principalmente ao seu chefe!

Ela o olhava como se não entendesse.

— Você sabe fazer uma Molotov? – Ele perguntava como se fosse algo comum.

— Molotov? – Ela ainda não entendia a piada.

— Não está na idade então... Entendi. É simples: você pega o álcool... – O Coringa apontava para toda a bebida atrás da atendente. - ... Pega um pano qualquer, coloca fogo no pano, joga a garrafa... Bum! Explosão. – Ele gesticulava de forma a ilustrar a explosão com suas mãos.

— Você quer... – Ana engolira em seco. - ...Que eu ponha fogo na boate?

— Fogo no buraco, querida. Fogo no buraco. Pense nisso como uma ajuda na apólice de seguro do Máscara Negra. Que tal?

— Mas, e as pessoas? – Ana parecia negar a si mesma o massacre que havia visto, falava como se ainda houvesse alguém vivo além dela, do Coringa e seus dois ursos.

— Acho que não vão se importar, não é? – O Coringa olhava um cadáver próximo a eles. Então levantando-se do banco em que se sentava e caminhando até o cadáver, pegou em seus cabelos com uma das mãos, o queixo com a outra e então fez como que se o cadáver respondesse para Ana. – Eu não me importo, Ana! Já estou meio morto mesmo! – O Coringa fazia uma voz extremamente grossa para fingir ser a voz do rapaz que havia usado como ventríloquo. Uma risada repentina. Uma assustadora piada. – Olha, vamos fazer o seguinte, está bem? Vou te esperar no carro, Bob e Shaw, meus amigos ursos, irão te ajudar com isso. Só tente não demorar.

— Não, por favor... – Ana implorava em desespero.

— Ana, Ana, Ana, Aninha, minha querida. Você tem filhos? Mãe? Você tem o que... Uns trinta anos? – Ele não pretendia, mas, teve de usar esta cartada. Não que se importasse, só não havia planejado esta piada para a noite.

— O que? Não, não... Olha, eu faço. Só, não chega perto deles! – Agora havia uma semente de raiva em suas emoções amedrontadas. Parecia irreal, um completo pesadelo que piorava a cada segundo.

— Isso, boa garota. – Disse o Coringa enquanto dava-lhe as costas e adiantava-se para fora da boate.

Logo Ana pôde ver os dois ursos, capangas do Coringa, se aproximar com suas armas em mãos. Ana sentiu como se seu coração fosse explodir naquele momento, e adiantou-se para pegar algumas garrafas antes que um daqueles insanos e psicóticos animais fizessem algo contra ela. Ambos os ursos passaram direto por Ana e agarraram mais algumas garrafas, pondo-as junto das garrafas que Ana havia posto em cima do balcão do bar.

— Tudo isso? – Ela estranhou.

Inesperadamente, um dos ursos, o urso pardo, não respondera como qualquer pessoa à sua pergunta, ao invés disso, ele apenas berrou em um rugido animalesco e que para nada serviu ou respondeu, exceto para deixar a pobre atendente de bar ainda mais assustada.

Percebendo que não havia panos úteis e suficientes no balcão, a amedrontada atendente começou a olhar ao redor, se perguntando como conseguiria aqueles panos. Um dos ursos se afastara do balcão repentinamente e caminhara com certa pressa até o cadáver de um dos seguranças, mas, apenas quando o bizarro urso começou a arrastá-lo pelos braços foi que Ana finalmente entendera aonde conseguiria todo o pano que precisava. A ideia de utilizar a roupa dos mortos para criar bombas lhe fazia questionar o que estava fazendo de sua vida.

Alguns minutos depois um estrondo fora ouvido do lado de fora da boate, e dentro de seu carro, um Rolls-Royce Phantom negro, no banco do carona, o Coringa sorria vendo a graça de sua piada. “Todos se ajoelharam para este tal Máscara Negra, agora, todos estão negros como carvão. Isso que eu chamo de torrado!” Pensava consigo mesmo. De repente, no instante seguinte à saída de seus dois capangas e da chorosa atendente que se adiantava com os braços cruzados até o carro, uma explosão maior ocorreu, explodindo vidros que compunham a entrada da boate. O estrondo e o impacto derrubou tanto ursos quanto atendente, o que fizera o Coringa gargalhar e apoiar-se na janela do carro.

— Vamos logo, seus boçais, não temos a noite toda! – Gritou o Coringa.

Após uma série de indicações de direções, números e nomes, enfim haviam encontrado o local aonde encontrariam Guzz, um traficante colombiano que havia se tornado dono de um dos três clubes mais frequentados de Gotham. Guzz era também, e acima de tudo, chefe da família de colombianos responsáveis pelo tráfico de metanfetamina em Gotham, os Ditanos.

— Gun’s in Drink? – O Coringa se perguntou se era possível existir algo como “meio plágio”.

— Criativo. – Opinou Ana, quase como que se estivesse se esquecendo de tudo que havia acabado de vivenciar e fazer.

— Agora você fala? – O Coringa a olhava como se observasse uma criança ousada, um misto de desprezo e incompreensão. Ana apenas arregalou os olhos e apertando os lábios dera de ombros.

— Garotos, ursos, hora do show. – Disse o Coringa, como se desse uma ordem clara para que entrassem naquele clube.

Ambos os ursos, saíram de seus assentos e como se dançassem, avançaram até a entrada do local, aonde se depararam com dois seguranças que os impediram de entrar. Não demorara para que ambos seguranças percebessem as manchas de sangue na pelagem das estranhas fantasias, entretanto, até então, não suspeitaram que os dois haviam acabado de chegar de um massacre, e sim que aquelas manchas faziam parte das vestes.

— Mas, que porra... – Reagiu um dos seguranças.

Rapidamente, sem chance de reação, um dos ursos cortou a garganta do segurança a sua frente, revelando portar um pequeno canivete. Ao ver a inesperada e terrível cena de seu colega de trabalho segurar a própria garganta que expelia sangue como uma cachoeira, congelou por um segundo antes de avançar contra o assassino fantasiado. Seu avanço foi interceptado quando o outro urso, aquele que estava a sua frente, acertou-lhe com alguma lâmina na lateral de seu abdômen. Muito provavelmente aquele ataque lhe havia perfurado algum órgão, pois a dor naquele momento apenas o fez cair ao chão sentindo uma dolorosa agonia antes inimaginável.

Ambos os ursos subiram em cima de suas vítimas e enquanto um já não respondia, o outro implorava por sua vida e gritava de dor. O urso respondera, não com qualquer palavra, mas, novamente, com um berro que simulava um rugido feroz, o que calara o segurança naquele momento. O homem que sangrava ferido e tinha agora um enorme urso sobre si, tentava empurrar o mesmo e agredi-lo a face, mas, não só não parecia surtir qualquer efeito, como cada esforço feito fazia doer seu ferimento como se algo enorme continuasse a entrar dentro de sua barriga. Era insuportável.

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— Está pronta, Aninha? – Perguntou o Coringa ainda dentro do carro enquanto via a cena de seus dois capangas vestidos de urso derrubarem e cortarem os dois seguranças.

— Meus Deus... – Ana colocava os dedos frente a boca ao ver aquela cena. - ... O que? Pronta? Eu não estou livre?

— Livre? Já? Eu estou adorando a sua companhia! – O Coringa fez uma expressão tristonha. – E veja só, você já aprendeu tanto! – Ele parecia animado.

— Não... Eu não... Eu não quero! – Ela voltava a implorar e lágrimas surgiam em seus olhos. Aquele comportamento realmente já o estava entediando.

— É simples, está bem? Você vai entrar lá, curtir a noite, e em quarenta minutos, você vai fazer uma ligação. Apenas isso. – Parecia simples.

— Uma ligação? – Ela parecia não entender.

— Santo Morcego... – O Coringa apenas se lamentava por não ser a Harley quem estava ali com ele. “Essa garota não serve nem para limpar os meus sapatos! Eu vou dar um tiro nessa cabecinha... Oh, Harley, se fosse você, estaríamos rindo de tudo isso.” Ele pensava enquanto observava impaciente a garota no banco de passageiros. – Você não tem a menor graça. Olha... Apenas aperte este botão, certo? Você vai gostar.

— E se eu apertar antes? – Ela questionava tudo, o que já estava deixando o Coringa no limite. “Se eu tenho de explicar a piada...” Ele pensava.

— Acho que você não está me entendendo, Ana. Eu tenho cara de palhaço? – Ele dizia com tom grosseiro. – Tá bom, não responda. – O Coringa inspirava fundo e expirava em seguida. – Você ganhou. – O Coringa abria o porta-luvas do carro e de lá retirava o que parecia ser uma bomba relógio e alguns rolos de fitas. – Vêm cá.

— Não, não, não! – Ela tentava se afastar.

— Vamos, lá. Alguns só aprendem desse jeito. – Ele puxou a mulher desesperada no banco de trás pela perna e agarrando-a pela gola da jaqueta, puxou-a para perto. – Calminha, calminha... Você quer explodir todo o carro? Não? Então apenas... Se acalme.

Após prender a bomba em um dos pulsos de Ana com uma série de fitas, ele bateu na mesma com a ponta de uma faca que havia acabado de usar para cortar e separar a fita de seu rolo.

— Quarenta minutos, está vendo? – Ele olhava para a mulher no banco de trás indicando o cronómetro que já estava rolando. - Basta ligar. – Ele mostrava o pequeno celular e seu botão com um símbolo verde de telefone indicando que ao apertá-lo, a ligação seria realizada. – Se ligar antes, Bum! Se ligar depois, Bum! Aperte o botão exatamente ao fim do cronômetro e a bomba é desativada.

A atendente nada respondera, apenas assentira com a cabeça.

— Eu entro, depois você entra. Tenho sempre que bater um papo e lembrar que é o velho Coringa que manda nessa espelunca. Malditos ingratos. – Dizia o Coringa enquanto saía do luxuoso carro.

Embora entrasse pela porta da frente, logo de cara não chamara atenção de outros seguranças, já que supostamente os dois responsáveis pelo controle de quem entrava ou saia, deveriam estar a postos na porta de entrada ao lado de fora do clube. A entrada interna do estabelecimento era como uma passarela mais alta, aonde levava o cliente em direção à duas espaçosas e modernas escadas brancas de piso polido, iluminadas por LEDs azuis. Todo o ambiente era escuro e apenas havia uma baixa iluminação que alternava entre um azul claro, azul escuro e branco em rápidos flashs de forma a dar uma sensação alucinógena, típica das baladas modernas.

Em meio às duas escadas que levavam cada uma para uma direção dentro do clube, estava o enorme bar recheado de bebidas, sendo este o único ponto bem iluminado do clube, coberto por luzes brancas para chamar atenção em meio a tanta escuridão; o design era interessante e servia como um tipo de base para o local onde o DJ trabalhava, encontrando-se logo acima do bar, como uma cobertura. Um pouco atrás da área do DJ, porém, ainda conectada àquela estrutura, havia uma pequena torre que muito se assemelhava às torres vistas dentro de prisões, e no topo, uma área coberta de enormes janelas de vidro. Aonde o Coringa se encontrava, naquela passarela, não era possível visualizar muito do que havia no topo da torre, mas, sabia que era ali aonde encontraria Guzz Ditanos, o chefe da família colombiana.

— O que eu tenho de fazer para chamar atenção neste lugar? – O Coringa olhava ao redor e embora estivesse no centro do palco, ninguém parecia percebê-lo, todos apenas dançavam ao som de “Purple Lamborghini” como se apenas o que importasse fossem seus movimentos de dança e o álcool a qual ingeriam.

Repentinamente um barulhento som de tiro foi-se ouvido dentro do clube, e embora quase abafado pelo volume elevado da música, agora havia sido percebido. Centenas de faces assustadas voltaram-se para a passarela de entrada e embora paralisados, algo aparentemente comum ao se ver o inesquecível palhaço do crime, puxões de ar e gritos apenas começaram quando o corpo do DJ caíra frente ao bar, mostrando ter sido ele o alvo do tiro disparado pelo Coringa.

— Parece que o coitado andava trabalhando demais! Mas, dormir no trabalho... – O Coringa fazia um som de desaprovação com a boca.

— Parado aí! – Gritou um primeiro segurança que apontava sua arma na direção do Coringa. Não parecia ter medo. Grande erro.

— Largue a arma, palhaço! – Gritou um segundo segurança, também sem qualquer vestígio de medo.

— Ah, ah, ah... – O Coringa levantou uma de suas mãos e então abrira seu paletó, revelando na parte interna uma série de granadas. – Não vamos fazer esta festa bombar, vamos?

— Que merda... – Reclamou o primeiro segurança enquanto agarrava um Walk Talk preso em seu cinto.

— Puta que pariu... Que cara maluco. – Dizia o segundo enquanto uma salgada gota fria de suor escorria de sua têmpora.

O Coringa os olhava aguardando decidirem o como a situação se desenrolaria. Lambia os lábios enquanto os olhava de baixo para cima e com um leve inclinar de cabeça. “Vamos, vamos...” o Coringa tinha certa pressa, já sabia como aquela situação iria se desenrolar, era algo até bastante óbvio para ele.

— Sabe... Ao menos vocês têm mais culhões do que aqueles outros... – O Coringa falava quase que para si mesmo.

— Chefe? Tá na escuta? – Perguntava um dos seguranças através de seu rádio comunicador.

— O que porra está acontecendo aí? Mataram o meu DJ? – Guzz podia observar todo o clube de onde estava.

— O Coringa, senhor. Ele está aqui. – Explicou o segurança sem tirar os olhos do palhaço armado à granadas, parado em cima da passarela.

— Ah. – Por alguns segundos isso foi tudo o que Guzz respondera. – Tragam esse filho da puta até aqui.

— Sim, senhor. – Confirmara o segurança.

— E aí? – Perguntara o outro segurança.

— O senhor Guzz quer que o levemos lá em cima. – Disse o colombiano sem gostar nada da ideia.

Subindo até o palco, com uma pistola apontada para a face do Coringa, ambos caminharam um passo de cada vez até o palhaço, esperando que o mesmo não fizesse nenhum ato repentino, como puxar o pino das granadas.

Quando o primeiro segurança se aproximou, o Coringa levantou seus braços, e os dois colombianos puderam notar que enquanto em uma de suas mãos enluvadas havia uma Magnum de pequeno porte, a outra aparentemente não escondia nada. Foi então, ao se convencerem que o Coringa pretendia se render, e o posicionamento de ambos estar exatamente aonde o genioso criminoso queria, que surgira em sua mão até então aparentemente vazia, um tipo de canivete gilete, escondido até aquele momento na manga de seu paletó.

Em um corte único e transversal, o Coringa cortou a garganta do primeiro homem e sem dar o tempo devido, atirou na cabeça do segundo, o que fez com que uma dezena de outros seguranças corressem para agir. Enquanto o segurança ainda agarrava sua garganta ensanguentada e grunhia de dor e medo, o Coringa inseriu em sua boca o que parecia ser uma granada.

— Você parece um pouco mal, por que não se deita? – Brincou enquanto chutava o pobre homem fazendo-lhe cair da passarela ao mesmo que puxava o pino da granada presa à boca do homem.

Com o baque dolorido do corpo ensanguentado, uma fumaça verde começara a ser liberada da granada presa à boca daquele homem. Uma confusão desenfreada se desenrolou aonde todos no local começavam a correr em uma tentativa de fuga, procurando toda saída disponível. Uma surpresa infeliz aguardava quem saísse pela porta de entrada.

Toda aquela movimentação, atropelava e atrapalhava os seguranças que se dividiam e tentavam correr em direção ao seu colega ferido, com a estranha granada na boca, enquanto outros faziam o possível para chegar até o palco aonde estava o Coringa.

Muitos dos que tentavam fugir e acabavam respirando aquela estranha fumaça verde, sentiam uma incomum e inesperada dormência, não só como se seus músculos relaxassem de forma súbita, mas, como se suas cabeças começassem a girar. Uma risada, e então outra, foram ouvidas, e logo, diversas pessoas em meio a suas próprias fugas, começavam a rir. Tudo aquilo era inacreditável e tornava a ação dos seguranças uma piada; foi então que perceberam: o Coringa havia desaparecido.

No topo da torre central daquele clube, Guzz Ditanos tentava entender o que estava acontecendo. Seu coração batia forte e aguardava o pior, sabia que ele viria ao seu encontro. Abaixo dele, uma confusão absurda de gente correndo, gritando, chorando, rindo e alguns até mesmo desmaiando em meio aquela fumaça verde. “Incompetentes!” pensava Guzz sobre seus seguranças enquanto via o caos surgir em seu clube.

— Como ele conseguiu entrar? – Guzz acendia um charuto.

Não demorara muito para que alguém batesse em sua porta. E embora rezasse ao nome de Maria, algo que não fazia já havia tempo, talvez até mesmo anos, sabia que não seria livrado daquele mal. “É a minha penitência, senhor?” Ele se questionava e questionava à Deus.

— Toc. Toc. Senhor Guzz. – A voz já era conhecida pelo chefe colombiano. Havia quase um ano que não à ouvia, mas, jamais a esqueceria.

Antes de matar o garoto prodígio e ser preso em Arkham, o Coringa era reconhecido como o Rei do Crime da cidade de Gotham. O palhaço infame havia alterado toda fórmula da criminalidade dentro daquela cidade. Antes de seu reinado, havia uma certa organização, aonde Falcone e Maroni eram os maiores crânios responsáveis por cada aspecto criminoso e contrabandista existente naquela pútrida cidade.

Quando conquistara seu título, matando uma dúzia de chefes de famílias e grandes traficantes, além de se mostrar o único capaz de lutar contra o justiceiro mascarado de Gotham, houvera enormes mudanças. Elevando a criminalidade à um nível mais caótico e, portanto, menos organizado, priorizando o medo construído ao invés do lucro imediato, o Coringa acabou por consequência proposital, ou acidental, aumentando os lucros de longo prazo da maior parte dos criminosos de Gotham; isso graças à diminuição e até mesmo quase extinção da ação policial contra a criminalidade. Ninguém queria enfrentar o Coringa, ou a extrema violenta e inconsequente reação adotada por todos os mafiosos, ladrões e traficantes da cidade após o assumir do poder do Coringa como o chefe dos chefes. Não havia mais regras ou respeito e isso tornava tudo infinitamente mais perigoso. Para piorar a situação, toda vez em que o Batman confrontava o Coringa, era não só um banho de sangue, como o próprio cavaleiro das trevas permanecia fora de combate por um longo período de dias, ou mesmo semanas, abrindo espaço para uma ação despreocupada dos criminosos.

E embora a criminalidade e lucro geral houvesse aumentado com a tomada de poder do Coringa, algo bastante incomodo para todos também havia chegado junto a tudo isto: taxas absurdas. O Coringa não tinha a menor preocupação, respeito ou noção do quanto pedia a seus “súditos” em troca de “segurança”. As taxas variavam entre trinta a sessenta porcento dos ganhos, e esta variação ocorria apenas por se o Coringa gostava ou não da cara de quem falasse com ele. Ora essa taxa era escolhida sem nenhum critério aparente, ora era decidida com algum jogo ou pedido absurdo e incompreensível.

Para Guzz, a condição para uma taxa de quarenta e cinco porcento havia sido usar pequenos escoteiros como traficantes ao invés de seus colombianos grandes e armados antes comumente usados. Podia não parecer grande coisa quando comparado à outras condições dadas pelo Coringa, mas, para Guzz, tanto o valor exorbitante da taxa, quanto usar crianças, e principalmente crianças escoteiras para traficar suas drogas, era algo deveras humilhante!

O Coringa havia passado por grandes transformações ao longo dos anos desde que aparecera. Se no início queria apenas provar o seu ponto, provar que as pessoas daquela cidade eram tão podres quanto ele, hoje ele via Gotham e seu povo como brinquedos pessoais, e não apenas isto, como passara a desfrutar da luxuosidade adquirida por seus crimes. Era hoje um homem, um criminoso, um palhaço, em grande parte, diferente do que fora anos atrás. Não que não acreditasse mais em toda sua antiga ideologia, pelo contrário, porém, hoje não era mais seu objetivo ou prioridade. Apenas queria continuar se divertindo cada vez mais!

— Vamos, Guzzinho, estou ficando sem tempo e sem paciência. – Disse o insano e psicótico atrás da porta.

— Merda. – Guzz abrira rapidamente uma pequena gaveta em sua escrivaninha e agarrara sua pistola, escondendo-a em suas costas, de forma a ficar presa ao cinto.

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Caminhara com certa paciência até a porta e então a destravara, abrindo uma das duas enormes portas de madeira, posicionando-se ao lado da porta, permitindo que a passagem ficasse livre para o Coringa.

— Oi. – Disse o palhaço sorridente apoiado na outra porta que permanecia fechada.

— Coringa. – Guzz o cumprimentara com certa impaciência. – Entre, por favor.

— Tão gentil. – Brincou.

— Que confusão foi aquela? – Guzz o olhava com certa fúria. – Se queria falar comigo, bastava pedir para subir.

— Qual é, Guzz... – O Coringa o olhava como se estivesse falando algo estúpido e até mesmo irracional. - ... Qual seria a graça? Além do mais, eu não acho que você me deixaria subir, não é mesmo?

— O que? Claro que sim. – Embora dissesse que sim, era claramente uma mentira. Guzz teria mandado matar o palhaço sem pensar duas vezes.

— Sério? É que, sabe... – O Coringa deu uma pausa em sua fala enquanto andava e passava seus dedos sobre a mesa de escrivaninha de Guzz, retirando seu paletó com uma dúzia de granadas presas em seu interior e pondo-o sobre a mesma, sentando-se em sua confortável cadeira de chefe logo em seguida. - ... Já não nos falamos há algum tempo.

Guzz franzira as sobrancelhas ao ver tantas granadas presas à um paletó, e embora aquilo fosse algo típico dos feitos do Coringa, ainda assim, se perguntava se aquele homem não tinha medo da morte. Foi então que em meio a seus pensamentos sobre a insanidade explosiva do Coringa que ele viu uma oportunidade: ele havia retirado o “colete” que impedia uma ação direta contra ele. “Esse merda acha mesmo que não tenho coragem de meter uma bala no peito dele?” o chefe colombiano suava frio.

— Pensei que estivesse morto. – Guzz colocava disfarçadamente uma de suas mãos na arma em suas costas.

— Aparentemente muitos pensaram. – O Coringa parecia se irritar com aquela ideia. – Mas, não se mata uma ideia, Guzzinho. – Um pequeno sorriso.

— Será? – De repente um tiro foi disparado e o palhaço junto com a cadeira luxuosa caiam para trás. – Acho que a ideia acabou. – Diz Guzz sentindo seu peito encher de orgulho. Um orgulho que não duraria muito tempo.

Um novo disparo é ouvido e quase que no mesmo instante, com uma dor lancinante toma uma das pernas de Guzz Ditano que perde o equilíbrio e sente uma de suas canelas parecer romper. O tiro inesperadamente disparado pelo Coringa que havia caído ao chão, destroçara a parte inferior da tíbia de Guzz.

Poucos segundos depois o ferido palhaço se levanta do chão e caminha até o corpo contorcido e caído de Guzz que gemia de dor enquanto segurava sua destroçada canela. Olhando-o naquela posição quase fetal, o Coringa não sentira se quer raiva de tamanha ousadia, mas, desprezo pelo erro cometido pelo chefe da família colombiana.

— Poucos centímetros para baixo, e você teria conseguido, Guzzinho. Sabe, é por isso que você não está no topo. Você é só um empregado se fazendo de peixe grande. – Dizia o Coringa apontando para o buraco ensanguentado em seu ombro. Não parecia sentir dor, o que era estranho e surpreendente para Guzz.

— Filho da puta! Eu sou o chefe da família Ditano! – Ele gritava sem largar a canela que mais parecia uma cachoeira vermelha.

— Blá, blá, blá... Eu não pretendia te matar hoje, Guzz. Não pretendia mesmo. Eu só queria saber aonde o Máscara Negra vai estar, para... Você sabe... – O Coringa então se agacha e dando alguns tapas leves na face do homem moreno a sua frente que aos poucos assumia uma coloração mais pálida, continuava a falar. - ... Batermos um bom papo de gente grande.

— Merda... – Guzz não parecia cooperar.

— Eu... Eu já estou ficando puto com todos vocês hoje. – Agarrando Guzz pela mandíbula firme e contraída, Coringa lhe mostrou seu canivete gilete que agora retirava do bolso. – Por que ninguém quer simplesmente me responder o que pergunto?

— Está bem, está bem... Porra... – Guzz apenas pensava que precisava de um médico. – Se eu contar, você precisa me levar para um hospital. Certo?

— Não se preocupe, Guzzinho, virão levar você. – Prometeu o Coringa em meio à um sorriso engraçado.

— Ninguém sabe ao certo aonde está o Máscara Negra, mas, ele costuma aparecer em nossas reuniões semanais. Ao menos na maior parte delas. – Era uma boa pista. Caso o encontrasse em uma destas reuniões, poderia matá-lo na frente de todos os outros chefes. Aquela ideia lhe agradava.

— E por acaso, aonde ocorreria esta próxima reunião, pequeno Guzz? – O Coringa brincava encostando e acariciando a face de Guzz com sua lâmina.

— Ainda não sei, não combinamos ainda! Mas, geralmente, nos encontramos no subterrâneo do hotel “Place G.”! – Guzz sentira o medo que já existia se elevar ao ter a lâmina encostando a parte interna esquerda de se seus lábios. A lâmina agora não estava mais fora de sua face, mas, dentro de sua boca.

— E que horas as minhas princesas costumam se encontrar? – O Coringa olhava para cima e inclinava a cabeça, como se tentando ouvir o som de difícil compreensão das palavras de Guzz que não só estavam perdendo força devido a dormência causada pela falta de sangue, como por ter uma lâmina tocando sua boca por dentro.

— Duas da manhã! Por favor... – Seu implorar fora interrompido pelo cortar cruel e repentino de um dos cantos de seus lábios pela lâmina afiada do canivete gilete que o Coringa havia posto em sua boca. Mais sangue, mais dor.

— Bem, temos que mandar uma mensagem então, não é mesmo, Guzzinho? – Disse o Coringa com um grande sorriso enquanto admirava os olhos desesperados de Guzz.

Encolhida em um canto do clube, isolada em um sofá de parede azul, tremendo e chorando perante toda aquela confusão, todo aquele caos banhado pelas alucinógenas transições de luz e fumaça esverdeada que havia se espalhado por boa parte da pista de dança, Ana aguardava os últimos três minutos dos quarenta marcados no cronômetro da bomba presa ao seu braço. Faltava pouco. Tinha medo de falhar e morrer. Se perguntava se alguma terapia seria capaz de ajudá-la depois daquela noite.

Em apenas quarenta minutos, vira mais de uma dúzia de pessoas morrerem; mais cadáveres para a conta de seus pesadelos. Ana havia entrado logo após ver diversas pessoas saírem do clube por todos os lados, fossem as saídas laterais de emergência, ou a de entrada para o clube. Só havia um problema: os ursos do Coringa gratuitamente esfaquearam um punhado de gente que tentava fugir pela porta da frente. Quando os cadáveres pararam cair, os gritos e estranhas risadas cessaram, os ursos passaram a encarar o carro aonde Ana estava, e imediatamente soube que era a hora de entrar. Suas pernas bambas e corpo trêmulo haviam se tornado algo comum naquela noite.

Quando entrou na boate, havia uma dezena de cadáveres no chão, e alguns pareciam segurar suas barrigas, enquanto outros exibiam um claro sorriso póstumo. Alguns seguranças mortos na passarela se tornaram meros obstáculos pelos quais Ana teve de passar para chegar à escada. Não sabia o que fazer, apenas sabia que tinha de esperar.

Quando faltavam quinze minutos para o fim da contagem, Ana escutara dois disparos no alto do clube, e pela primeira vez percebera a enorme torre no centro do mesmo. Seus olhos se arregalavam enquanto se perguntava o que estava acontecendo naquele lugar, e o como o Coringa podia causar tanto estrago. “Ele é como uma praga!” Ela pensou.

Finalmente passou a contar os últimos segundos para o fim da contagem, o que fazia seu estômago se contorcer em ansiedade e medo. Tudo dependeria de um clique certeiro.

Quando enfim apertou o botão verde, ao fim do último segundo, estranhou quando a suposta bomba não desligou ou explodiu, mas, começou a vibrar e cantarolar algum toque antigo e instrumental. “Que porra é essa? Um despertador?” Ela se questionou sem entender.

— Alô? Alô? Olá? Há alguém na linha? – Dizia uma voz masculina e confusa, cujo saía do telefone em suas mãos. – Malditos adolescentes... – Seja quem fosse, parecia prestes a desligar.

— Que? Oi! Oi! Desculpa, quem é? – Ana perguntava sem entender absolutamente nada do que estava acontecendo.

— Senhora? A senhora ligou para a DPGC. Aconteceu alguma coisa? – O rapaz do outro lado parecia tão confuso quanto Ana.

— Meus Deus... – Ana caíra em prantos enquanto um alívio colossal tomava seu peito. Com palavras falhas e abafadas pelas lágrimas e soluços, Ana pedia socorro enquanto tentava explicar aonde estava e o que estava acontecendo.

— Nossas viaturas já estão a caminho, senhora. – Avisou o policial. Uma grande movimentação e questionamentos podia ser ouvido ao fundo.

Em menos de quinze minutos, três viaturas e doze policiais haviam chegado e invadiam às pressas o clube Gun’s in Drink. Armados com escopetas e pistolas, falando através de autofalantes, os policiais começaram sua operação para parar o maldito homicida que teria feito um massacre no local. A vítima que havia sido capaz de ligar para o departamento citara que havia sido o Coringa quem causara todo aquele mar de mortos, porém, o chefe do DPGC não acreditara na mulher que parecia perturbada ao telefone. “Um impostor, é claro” ele acreditava, afinal, se fosse mesmo o Coringa, Arkham teria avisado sobre sua fuga. Não fora o caso.

Nada. Exceto pelos muitos cadáveres, ou as poucas vítimas e clientes ainda vivos, inclusive a própria Ana dentre estes, nada fora encontrado no saguão principal do clube. Nenhum Coringa.

— Senhor, o Coringa não está no saguão. – Informou um dos policiais ao seu superior.

— Busquem na torre! Há algo de errado, talvez não seja o Coringa, mas, ainda assim, alguém causou tudo isso. – O chefe da operação torcia para que o assassino não houvesse conseguido fugir a tempo, afinal, havia corrido o mais rápido possível até o local. No fundo de seu âmago, um pequeno calafrio na espinha temia que quem houvesse causado todas aquelas mortes fosse mesmo o Coringa, porém, agora era o Máscara Negra quem mandava; ele e os outros chefes de Gotham haviam se tornado intocáveis ao comprar o antigo chefe da DPGC e seus agentes. Felizmente o acordo generoso e lucrativo fora mantido mesmo após a saída do antigo chefe. Meses atrás não ousaria guiar uma operação contra o Coringa, ou mesmo, contra um suposto Coringa, porém, o Máscara Negra pagava rios de dinheiro para proteção de seus subordinados, os chefes das famílias; e era a DPGC os novos “seguranças” responsáveis por estas proteções. - Guzz Ditanos não está no clube? – O chefe da operação engolia em seco.

Poucos minutos depois um de seus homens se aproximara completamente pálido e com os olhos arregalados. Já sabia o que viria.

— Chefe Urik, o senhor precisa... O senhor... Vir comigo. – O homem tremia.

— Ah, merda... – O chefe da operação, Urik, sentia o estresse, que já não havia há algum tempo em seu cérebro, amassá-lo como uma noz.

No último andar da torre, na sala do próprio chefe da família colombiana, Guzz Ditanos, o que estava diante de Urik não era um mal presságio, um simples caso de homicídio, ou mesmo terrorismo, mas, uma maldita e clara mensagem. Uma mensagem do Coringa.

O cadáver já frio de Guzz Ditanos tinha suas duas bochechas cortadas dos cantos dos lábios até quase a orelha, como um enorme e macabro sorriso, e não era apenas isso, o maldito palhaço ainda havia aberto a camisa do falecido chefe da família Colombiana e escrito com cortes brutos por todo seu tórax e abdômen.

— “Chefes de Gotham, escolham: ele ou vocês.” – Urik lia o que estava escrito no corpo à sua frente.

— Devemos informar ao Comissário, senhor? – Um de seus policiais subordinados perguntou já compreendendo a gravidade da situação.

— Não! Não... – Urik franzia as sobrancelhas enquanto observava de forma hipnótica e ao mesmo tempo distraída em pensamentos sobre as consequências do que via caído à sua frente. -... É melhor o Gordon não saber sobre isso, por enquanto. Vamos avisar os chefes antes disso.

Antes de ser enviado como chefe daquela operação, o Comissário Gordon, recente chefe do departamento policial de Gotham, havia esclarecido ser bastante provável que o “suposto Coringa” fosse na realidade um farsante, ou mesmo um seguidor do mesmo e não o próprio, já que não havia tido qualquer alarme sobre uma possível fuga de Arkham. Mesmo com tamanha descrença, Gordon enviou uma equipe de doze homens para lidar com a situação; não era tolo a ponto de duvidar completamente da possibilidade. Apesar disso, e apesar da grande quantidade de dinheiro que o Máscara Negra pagava, mesmo sem que Gordon gostasse ou mesmo aceitasse aquilo com seu sono tranquilo, o Comissário ainda mantinha suas ideologias reluzentes de um cavaleiro de Gotham, o que como naturalmente ocorria ao longo das décadas de serviço, irritava, ou mesmo atrapalhava os corruptos que eram quase totalidade dentro da DPGC.

Urik sabia que se avisasse Gordon, antes dos chefes, a probabilidade do Batman descobrir sobre o Coringa e rastrear os chefes através dele, eram enormes, além do mais, em uma situação como aquela, sabia que o mais sábio a se fazer era receber as ordens dos chefes, antes de tomar qualquer atitude, ainda mais quando os alvos eram os próprios chefes, aos quais a DPGC deveria proteger e servir.

Olhando aquele cadáver coberto de palavras como uma folha de papel, por uma última vez, o chefe da operação, Urik, deu-lhe as costas e apressou-se para entregar a mensagem a seus chefes. Sabia o que viria a seguir, sabia que algo grande estava para acontecer. O sangue derramado naquele clube era apenas o início, e como dizia no maldito cadáver colombiano: teriam de escolher um lado. Abraçar o caos mais uma vez em uma tentativa de manter-se vivo sob às leis da insanidade, ou enfrentar uma tempestade que em meio a sorrisos pode fazer de todos um alvo em potencial. A vida insana, ou a morte lucrativa?