Acordei um pouco mais tarde no dia seguinte. Meu corpo ainda estava pesado pelo cansaço do dia anterior, mas já me sentia melhor, como se nunca tivesse passado mal. Suspirei ao lembrar da conversa com Larry na pronto socorro e, depois, ali em minha cama. O perfume dele ainda estava pelo ar e eu sorria como uma apaixonada idiota. Eu devia ter algum tipo de problema por estar tão apaixonada por alguém que eu sequer conhecia e que, aparentemente, não havia me mandado sequer uma mensagem ainda. Revirei os olhos e me levantei da cama para tomar um banho. Um banho extremamente demorado e relaxante me faria bem.

Pelo que havia escutado, haveria um segundo show do U2 naquela noite e, obviamente, eu não iria a esse. Não havia conseguido ingressos e, bem, não é como se Larry fosse aparecer novamente para me entregar mais um par. Encostei minha cabeça na parede, sentindo a água quente percorrer todo meu corpo, relaxando-me, fazendo ir embora toda a dor e angústia que eu sentia.

Saí do banheiro enrolada na toalha, caminhando devagar em direção ao quarto, quando meu celular apitou com uma mensagem recebida. Abri um sorriso largo ao ver quem havia mandado. Era Larry.

Olá, Lindsay. Espero que tenha dormido bem. Gostaria de te ver hoje antes do show. Pode se encontrar comigo em frente ao The Sinclair às 15h?

Respondi com um positivo e corri para escolher a roupa que usaria para encontrá-lo, já que estávamos perto do horário combinado. Terminei de me arrumar e peguei um uber até o local combinado. Não me sentia segura para dirigir e, de qualquer forma, meu carro ainda estava no mecânico. Abri um sorriso tímido ao ver Larry encostado no capô de seu carro, esperando por mim.

Desci do uber e me aproximei dele, olhando-o com atenção. Ele mordeu o lábio inferior e estendeu a mão para mim. Puxou-me para perto em seguida, num abraço apertado.

— Vou te levar para o hotel e depois você vem comigo para o show. Tudo bem?

Concordei com a cabeça, ainda sem acreditar que aquilo estava acontecendo de verdade. Eu passaria a tarde no hotel com Larry e iria a mais um show do U2. Quando, em um milhão de anos, eu pensaria que isso seria possível?

Abri um sorriso largo assim que entrei no quarto de Larry, olhando ao redor com atenção, para decorar cada mínimo detalhe da decoração. O loiro parecia ser bastante organizado, apesar da mala não estar com o zíper fechado e ter uma manga de uma camisa preta para fora. O resto do quarto parecia intacto, como se ele nem estivesse hospedado ali.

Larry abriu uma garrafa de vinho que tinha sobre a mesa dentro de um balde de gelo, serviu duas taças e me entregou uma. Estávamos em silêncio, olhando um para o outro, como se quiséssemos decorar cada linha, cada traço, cada mínimo detalhe. Sorri, tomando um gole após brindarmos. O vinho era delicioso.

O baterista se sentou no sofá e me chamou para sentar-me ao seu lado. Ele era exatamente como eu me lembrava das fotos, que olhei por horas a fio, enquanto esperava o resultado da promoção (que, por sinal, eu não ganhei). Ri baixo ao me lembrar disso.

— O que houve? - ele perguntou, com o olhar divertido e uma sobrancelha arqueada.

— Só estava lembrando da promoção que eu não ganhei para ir ao show ontem. Inclusive era por isso que eu estava toda descompensada e acabei batendo em você. - comentei, dando de ombros.

Ele sorriu e passou o braço ao redor dos meus ombros, deixando-o apoiado no encosto do sofá, enquanto tomava um gole de vinho.

— Imaginei mil formas de te conhecer enquanto sonhava com você, mas confesso que nenhuma delas envolvia um acidente.

Conversamos durante horas. Um querendo saber mais do outro, querendo conhecer a pessoa com quem sonhava por dias seguidos, querendo entender. Larry era um homem incrível, contou sobre a banda, como havia conhecido os outros integrantes e sobre a carreira. Contou-me como era ser um rockstar que não gostava de fama e atenção. O loiro me perguntava sobre minha faculdade, meus planos para o futuro, o que eu gostava de comer, de beber, de fazer, de ler e de ouvir. Queríamos saber tudo, absolutamente tudo, sobre o outro. Nada menos que isso.

Quando nos demos conta, já era hora de ir ao show. Larry foi tomar um banho, enquanto eu conversava com John por mensagem, contando a ele o que havia acontecido naquela tarde. Larry e eu não tínhamos nos beijado nem nada, só conversado mesmo, mas John não acreditava. Era engraçado como ele achava que eu estava escondendo algo, como se tivesse alguma necessidade disso. O baterista saiu do banheiro já pronto para o show, estendendo a mão para mim.

— Vamos?

Concordei com a cabeça, levantando-me após segurar a mão dele. Caminhamos em silêncio até o elevador. A mão dele não largava a minha. Acariciava-me com o polegar vez ou outra, intercalando com apertões em minha mão. Não conseguia tirar o sorriso dos lábios. Era engraçado como tudo estava acontecendo.

Respirei fundo quando saímos do elevador e Larry soltou minha mão. Não gostava da distância entre nossos corpos, mesmo que eu ainda não tivesse experimentado a proximidade. Esperamos em silêncio até que o carro que levaria Larry para o show chegasse, mas logo estávamos a caminho do The Sinclair.

***

O show havia sido perfeito. Estávamos empolgados com aquela turnê, com a energia do público, com toda a boa imprensa que estávamos atraindo após o segundo show em Cambridge. Saí do palco e logo encontrei Lindsay, esperando-me no backstage com um sorriso largo que, só de ver, me deu vontade de beijá-la. Respirei fundo, tentando reprimir aquela vontade. Não podia agir daquela forma. Ela era uma fã, uma desconhecida e usar isso a meu favor seria ridículo, seria quase algum tipo de abuso.

Segurei a mão dela, mordendo o lábio inferior na tentativa de reprimir um sorriso. Eu não era muito conhecido por sorrir, pelo contrário. Uma foto minha sorrindo era rara, principalmente depois que fiquei mais velho. Mas, com ela por perto, era quase impossível não sorrir. Puxei-a pelos corredores em direção ao camarim. Não queria ser interrompido. Alguns fãs, que haviam vencido um concurso cultural, estavam conhecendo os bastidores e eu realmente não queria que eles me parassem para conversar ou tirar foto. Não. Queria apenas ficar perto de Lindsay o máximo que eu pudesse. Iríamos embora no dia seguinte e cada segundo ao lado dela era precioso.

Eu passei meu braço pela cintura dela enquanto caminhávamos e sentir o seu calor sob a blusa estava me deixando louco. Não conseguia entender o porquê, nem sequer a conhecia direito, mas tudo o que eu queria era saber dela, ficar com ela, ouvi-la falar, tocá-la, beijá-la até perder o ar.

Abri a porta do meu camarim e, assim que ela entrou, nos tranquei dentro da sala e a olhei. Seu olhar, de alegria e confusão, refletia exatamente o que eu estava sentindo. Meu coração estava disparado e eu não sabia o que dizer ou o que fazer. Nunca havia me sentido daquela forma com qualquer outra pessoa. Nem Ann, com quem eu comecei a namorar no auge da minha adolescência, fez com que eu me sentisse um idiota que não sabia como agir.

— Hm… Oi… - eu a ouvir dizer com a mesma voz de meus sonhos, o que me fez abrir um sorriso involuntário.

— Olá, Lindsay. Gostou do show?

A morena concordou com a cabeça, mordendo o lábio inferior. Aquilo me fez enlouquecer ainda mais. Não entendia como era possível sentir aquele turbilhão de coisas por alguém que eu nem sequer conhecia.

— Gostei sim! Agora entendo como vocês chegaram aos 40 anos de carreira fazendo tanto sucesso.

Eu a vi sorrir de maneira tímida, o que fez eu me aproximar alguns passos. Os olhos dela se arregalaram em minha direção, como se estivesse preocupada ou com medo.

— Tá tudo bem? - perguntei preocupado.

— Está. Eu só… não sei explicar. É estranho estar exatamente aqui nesta sala com você.

Concordei com a cabeça, passando a mão pela cintura dela e a puxei para mais perto de mim num abraço apertado.

— Entendo perfeitamente - sussurrei, sentindo-a me apertar no abraço. - É estranho estar com você na mesma sala do sonho…

Abaixei um pouco a cabeça para encará-la e acariciei seu rosto com a ponta dos dedos. Lindsay fechou os olhos, entreabrindo os lábios, como se estivesse a espera de um beijo. Aproximei meu rosto do dela, mas ela se afastou, me fazendo suspirar de frustração.

— É… eu não sabia muito sobre você. Descobri quem você era faz alguns dias, nem sequer tinha escutado U2 direito. É muito estranho me sentir assim por alguém que eu mal sei o nome.

***

Vi Larry concordar com a cabeça, aparentemente frustrado por eu ter fugido do beijo. Mas eu sabia que, no fundo, ele entendia como eu me sentia. Sabia que ele entendia o quão complicado e diferente era aquela situação de tudo o que eu já havia vivido. Apesar de não termos conversado sobre aquilo no hotel, era nítido o quão confuso ele estava. Talvez por estarmos na mesma sala do sonho, pelo menos a do meu sonho, as coisas haviam ficado ainda mais confusas.

Suspirei enquanto ele se aproximava de mim novamente, olhando-me com atenção. Mordi meu lábio inferior, sem conseguir me mover. Eu não queria fugir novamente, realmente queria que ele me beijasse. Era estranho, eu sei, me sentir daquela forma por alguém que, tecnicamente, eu havia acabado de conhecer. Não importava se fazia semanas que sonhávamos um com o outro. Nós havíamos acabado de nos conhecer e não sabíamos nada um do outro.

— Linds, eu posso te dar um beijo? - ele perguntou, olhando-me nos olhos.

— Larry? - eu sussurrei, sem acreditar que meu sonho estava se tornando real.

— Um beijo apenas, Linds.

Larry se aproximou ainda mais de mim, colocou a mão em minha cintura e me puxou para perto, colando nossos corpos. Nossos lábios se tocaram, e se roçaram devagar.

— Larry, não. - eu me afastei com relutância.

O loiro sorriu com malícia, puxou-me novamente para perto e me beijou com vontade, sorrindo ao perceber que eu estava totalmente entregue, retribuindo o beijo na mesma intensidade imposta por ele. Mas dessa vez eu não acordei. Não acordei porque aquele beijo, aquele aperto ao redor da minha cintura eram reais. Larry estava em minha frente, com o corpo colado ao meu, beijando-me como se não houvesse mais nada no mundo que ele quisesse. Pelo menos eu não queria mais nada além daquele beijo.

Percebi que ele começou a caminhar pelo local, o que me fez acompanhá-lo até que minhas pernas batessem em um sofá e eu me deitei, abrindo um sorriso leve entre o beijo quando ele se deitou sobre mim. Minhas mãos não paravam quietas. Iam da nuca dele até a cintura e depois aos braços e então arranhavam-lhe a barriga e voltavam para a nuca. Aqueles braços… como Larry era forte. Talvez por ser baterista, mas ele tinha braços enormes e eu era fascinada por eles, o que significa que não parava de apertá-los e arranhá-los. Cortei o beijo apenas quando precisei de ar, porque, se dependesse só da minha vontade, eu nunca mais pararia de beijá-lo. No sonho era bom, mas de verdade o beijo era muito melhor do que eu sequer podia imaginar. Larry abriu um sorriso leve, com os lábios vermelhos pelo atrito com a minha boca, olhando-me com aqueles olhos verdes queimando em desejo, o que só fez minha vontade de beijá-lo aumentar ainda mais. Dei-lhe um selinho leve, abrindo a boca para dizer algo bobo, numa tentativa de fazê-lo rir quando alguém bateu na porta, fazendo o loiro bufar.

Larry levantou, tentou ajeitar o cabelo, que estava levemente bagunçado, e caminhou até a porta. Abriu-a e encarou o homem parado do outro lado, que parecia ser alguém da produção. O homem, que eu não conseguia ver direito, falou alguma coisa que eu não pude ouvir e logo saiu, deixando um Larry aparentemente muito irritado para trás.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.