Os Vingadores saíram da sala aos poucos, a fim de ir ajudar Thor. Deixaram-me sozinha no meu quarto, embalada pelos meus pensamentos e anseios. Eu suspirei quando a porta bateu, indicando que o último Vingador se fora. Até mesmo Lucca, depois de conversar um pouco comigo, deixara o lugar. Ficar sozinha era bom, mas eu acabava divagando demais. Os meus pensamentos giravam em minha mente, e eu começava a refletir em excesso sobre tudo a minha volta. Não era algo muito saudável.

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Assim, quando a porta novamente se abriu, fiquei intimamente feliz. A porta fez um barulho agudo ao ser aberta levemente, e Steve Rogers entrou, hesitante:

– Eu a atrapalho? – Steve indagou, parando.

– Não. Claro que não. – Afirmei, esboçando um sorriso. Fiz um gesto para que Steve se aproximasse.

Ele o fez, e puxou uma cadeira para se sentar do meu lado. Eu tentei sentar na cama para encará-lo melhor, mas o gesto me provocou um pouco de dor de cabeça.

– No meio de toda essa confusão, eu... Quase havia me esquecido de agradecer. – Steve comentou, sorrindo fraco. – Então, mesmo que tenha sido imprudência sua, muito obrigado.

Eu sorri, colocando meu cabelo atrás da orelha.

– Retire a parte da “imprudência”. – Comentei, rindo. – Só o agradecimento já está bom.

O Capitão abaixou os olhos, e ainda sorria. Seu semblante era tranquilo e sereno.

– Mas algo ainda me incomoda... Por que fez isso? Você é louca? – Ele disse, estudando cuidadosamente o tom de voz que usaria, para parecer mais gentil.

Eu o encarei durante um longo tempo. Algo me dizia que Steve já sabia a resposta de tudo isso. Talvez ele só quisesse confirmações. Por fim, fitei-o fixamente. Seus olhos azuis eram límpidos e complacentes. Eu falei, quase murmurando:

– Você teria feito o mesmo por mim. Aliás... Já fez. Quando eu estava presa na SHIELD, no pior momento da minha vida, você me ajudou. – Eu fiz uma pausa. - Ajudou-me, e confiou em mim. Não tinha nenhum motivo para ter feito isso, mas fez. Por quê?

Steve aprumou-se na cadeira. Parecia verdadeiramente surpreso pela minha pergunta inesperada. Ele franziu o cenho, e sua expressão refletia uma curiosidade contida:

– Eu não sei... Mas eu também já passei por isso. O homem que me escolheu para ser o Super Soldado... Ele não tinha nenhum motivo para me escolher. Eu era um cara magro, incapaz, comum... Um cara comum do Brooklin. – Steve suspirou, como se estivesse lembrando-se de algo. - O que eu tinha de especial? Nada. Mas ele me escolheu. Mesmo não tendo nenhum motivo para fazer isso. Acho que... Aprendi isso com ele. Aprendi, de certa forma, a confiar mais nos outros.

Seguiu-se um momento de silêncio, enquanto eu digeria tudo o que Steve me contara. Ele dividira suas lembranças comigo. E fazia sentido. Mas eu discordava de Steve em um ponto: Ele não era um cara comum. Não mesmo.

Eu pigarreei e continuei:

– Mas no seu caso foi justo. Você tinha, e tem, uma personalidade interior única e muito especial. Você é um homem raro, Steve. Com qualidades muito boas. Acho que aquele homem percebeu que você era diferente... Um homem bom. E lhe deu essa chance.

Steve sorriu, e havia um sincero agradecimento em cada um de seus gestos. Aquilo me fazia sorrir também. Ele engoliu em seco e depois continuou, olhando-me intensamente. Sempre que ele fazia isso, eu simplesmente não conseguia desviar meus olhos dos seus.

– De uma maneira inexplicável, sinto o mesmo por você. Sinto que tem algo de valor em seu interior. Você também é diferente, embora tente esconder isso de todos. Acho que perceber essa sua grandeza me fez querer te dar essa chance. Da mesma forma que viram algo único em mim, eu vejo algo único em você. Acho que... Sempre terei fé em você, Stella. Sei que existe algo em você além de sombras e raiva.

Fiquei um tempo apenas admirando o sorriso encorajador de Steve. Eram belas palavras. Tão elogiosas que provavelmente não poderiam ser aplicadas a mim. Steve era gentil demais. Ele acreditava nas palavras que proferia. Mas por que eu não conseguia acreditar nelas?

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Eu forcei-me a desviar os olhos e disse, tentando parecer suave:

– Você pode estar errado, Steve. Não sou como você.

– Mas é especial. Há algo de bom em você. – Steve aproximou-se, levantando-se da cadeira. Foi um gesto hesitante. As mãos dele tremiam e até suavam um pouco, mas ele segurou-me pelo pulso e pousou suas mãos nas minhas, tocando-as firmemente. Era um gesto de cumplicidade e amizade. Ou pelo menos, eu achava que era. Eu estava confusa. Podia ser impressão minha ou não, mas Steve parecia ter aproximado seu rosto. Estava a centímetros do meu. E eu não me movia. Eu não recuava. Eu não desejava fazer nada disso. Eu não queria dizer não.

Steve sussurrou, muito próximo de mim:

– Além disso... Não quero estar errado.

•••

Não recuei. Steve também não.

Apenas paramos. Estávamos com as mãos entrelaçadas e com os rostos muito perto. Eu podia sentir sua respiração vacilante e irregular soprando sobre meu rosto, eu podia observar de perto cada piscada hesitante que ele fazia e o movimento de seus olhos confusos, quando abertos. Eu podia ainda observar cada movimento de seu rosto, devido a nossa proximidade. A timidez e a gentileza conduziam seus gestos. E eu não estava tímida, tampouco eu era gentil. Eu apenas aceitava que ele nos conduzisse. Eu estava subordinada àquele homem e seus modos tão específicos de agir.

Fechei os olhos, sentindo apenas as suas mãos trêmulas segurarem as minhas firmemente, entrelaçando nossos dedos. Senti seu hálito fresco perto de mim e sua respiração sonora. Aguardei, passivamente, algo que não iria ocorrer.

Não nos beijamos. Apenas ficamos perto um do outro. Era um sinal claro de apoio e confiança. Steve não tinha motivos para confiar em mim, muito menos para me salvar. Mas eu sentia que eram suas pequenas atitudes que me salvavam um pouco a cada dia. Desde quando precisei de sua ajuda na prisão, ou agora, quando todos pareciam estar contra mim. Steve estava lá. Ele tinha fé em mim. Ele enxergava algo em mim, algo que nem eu mesma poderia ver no momento. Eu duvidava de que eu era uma boa pessoa. Duvidava de que eu poderia ser salva, de alguma forma. Mas Steve, com essas atitudes, me fazia acreditar que eu estava errada. E talvez essa fosse a diferença de tudo.

Steve me fazia crer que eu poderia mudar. Steve me fazia crer que havia salvação. E talvez não tivesse. Mas ele me fazia pensar que teria. Essa crença em mim mesma era o que me surpreendia. Ele me fazia crer dessa maneira. Ele me fazia ter fé. Como ele mesmo tinha. E, sim, eu o admirava. Nenhum outro homem era como Steve Rogers. Ele era um exemplo de honra e determinação. Um homem da justiça. Algo que eu jamais poderia ser. Algo que eu jamais poderia ter.

Assim, ficamos perto um do outro. Sentindo um ao outro. Sentindo as agonias, os medos, os desesperos, mas também a gratidão e a fé. Enfim, nos abraçamos, e eu sabia que não havia nada para ser dito ou justificado naquele momento. Não houve beijo, e ninguém precisava explicar o motivo disso. Apenas estávamos onde queríamos estar, pensando no quanto aquilo podia ser bom um para o outro. Não vejo como poderia ter ocorrido de outra forma. Apenas estávamos perto... Perto o suficiente para me marcar como um beijo me marcaria.

•••

Eu e Steve estávamos abraçados. O Capitão afastou-se lentamente, e suas mãos agora tremiam pouco. Eu abri os olhos, lamentando deixar o calor quente de seu abraço firme. Steve tremeluziu as pálpebras e abriu os olhos lentamente. Aos poucos, ele se afastou mais. Olhava-me com um pouco de culpa e medo.

– Desculpe-me... Eu não... Eu não queria... Eu... – Ele comentou, confundindo-se. Eu sempre admiraria aquela sua atitude. A sua inocência nata.

– Não se desculpe. – Eu disse, olhando-o um pouco ressentida. Fora um momento especial. Não queria que ele se arrependesse disso.

– Ah, ok, eu acho... Que... Vou embora. – Steve comentou, levando uma mão aos cabelos louros, num gesto de constrangimento. Ele estava com vergonha.

– Tudo bem. – Comentei. Steve olhou-me durante alguns segundos, como se me sondasse. Em seguida, caminhou a passos lentos até a porta. Sua expressão exibia preocupação.

Mas eu ficaria bem. Melhor do que antes. Esse momento a sós com Steve me dava forças para continuar, mesmo com todos desacreditando em meus planos. Eu daria um jeito. Ninguém pereceria por minha causa. E meus problemas não eram o fim do mundo. Talvez eu até merecesse a punição, embora não concordasse com ela.

Steve suspirou e abriu a porta. Eu só esperava que ele me ouvisse. Gritei, esperando que ele não tivesse ido embora:

– Steve! Obrigada. Por tudo.

– Disponha. – O Capitão comentou, fechando a porta com tranqüilidade. Não estávamos mais perto um do outro como outrora, mas eu podia sentir como se Steve estivesse do meu lado. O mesmo sorriso sereno e os olhos azuis cintilando. O Capitão América tinha fé em mim. Por que eu mesma não teria?

•••

Uma semana se passara.

Eu estava sentada na escadaria principal de Asgard, observando, através de uma janela, os Vingadores treinarem.

– Banida do treino... Ótimo. Fury, você é muito esperto mesmo. – Eu resmunguei, sozinha, lembrando-me do meu ódio particular pelo meu líder.

Há uns dias atrás, eu fora chamada para conversar com Lucca e Fury.

Fury contara-me que minha punição seria ficar um mês longe dos treinos e das batalhas, a menos que eu estivesse sendo supervisionada por ninguém menos do que ele mesmo.

– Isso é ridículo! Você não poder ter um Vingador a menos nessa época complicada! – Eu disse, enquanto caminhávamos pelo Palácio.

– Se a equipe desfalcada falhar, considere isso como culpa sua. Por causa de sua rebeldia naquela noite. – Fury retrucou, agressivo. – Sem treinos, nem batalhas. A menos que eu permita e vigie você. E, por favor, menos palpites nos planos. Thor é o deus do trovão e sabe o que faz. Ele não quer levar a equipe inteira para um caminho sem volta por causa do que você acha que sentiu naquela prisão.

Eu fuzilei Nick com os olhos. Desejei ter aquela Magia novamente me percorrendo, para acertá-lo sem culpa. Como ele poderia dizer aquelas coisas?

– Eu aceito a punição, Senhor Fury. – Falei, ironicamente. – Mas, agora, Não sou eu quem está sendo infantil. Se a equipe precisar de mim, com ou sem suas ordens, eu vou ajudar.

– Cumprir um pouco de ordens nunca fez mal a ninguém, Stella. Deveria tentar. – Fury respondeu, indo embora.

– Pois é... Ouvir os outros, para não prejudicar a equipe, também é uma boa opção. – Respondi, cruzando os braços e virando-me para partir.

Lucca me segurou pelo braço, dizendo:

– Ei... Deixe-o. Ninguém te culpa pelo que aconteceu. Sabe disso. Agora, bola pra frente.

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Eu forcei um sorriso:

– Lucca, você acredita em mim, não é mesmo? Aquela Magia... Ela é perigosa. E o que estamos fazendo? Ignorando-a. A equipe vai ser prejudicada. Preciso saber se você está comigo. Precisamos fazer alguma coisa.

Lucca me abraçou displicentemente, falando:

– Claro, sorella. Irmãos são para essas coisas. Em troca, claro, de alguns favores.

Eu revirei os olhos. Lucca riu, piscando para mim. A família Alessa precisava agir. Regras nunca tinham espaço nos nossos planos. Agora, não seria diferente.