Não consigo me concentrar no filme. A única coisa que eu penso é que eu tenho probleminhas. Cada fibra do meu ser se arrepende de ter gritado com John. Agora ele vai achar que eu sou doida e que eu ainda gosto dele. O que não é verdade. A parte de gostar dele, pelo menos. Porém autocontrole não é meu forte e naquele momento todas as mágoas antigas que eu tinha dele e tentava abafar, vieram à tona. Não consegui me conter e gritei, mas adivinhem! Não adiantou em nada, porque a raiva ainda está dentro de mim. Lutando para sair. Sinto raiva dele, por ter me abandonado quando éramos crianças, sinto raiva de mim por ter sucumbido aos charmes dele, sinto raiva de tudo e de todos. E não, eu não estou de TPM.

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Tudo que eu desejo é voltar para casa. Para minha casa. Encolher-me em posição fetal e chorar, até desidratar, até minha cabeça doer, até que tudo que eu sinto vá embora junto com as lágrimas. Todavia, não posso e nem vou fazer isso. Cansei de ser fraca, de chorar por John, quando eu sair desse cinema, serei uma nova Isabelle. E vou tentar esquecer que algum dia eu já gostei de John.

Volto a prestar atenção no filme quando o mocinho tira a camisa, arrancando suspiros de muitas garotas, incluindo minhas amigas, eu apenas reviro os olhos. Levo a mão ao saco de pipoca e a única coisa que peguei foram alguns milhos queimados.

– Gente, vou comprar mais pipoca – anuncio.

Andar pelo cinema é sempre desconfortável porque o espaço entre as poltronas é pequeno e é impossível não pisar no pé de alguém. Por causa da minha coordenação motora precária, piso no pé de muita gente. Saio da sala com minha cara da cor dos meus cabelos, depois das pessoas terem me mandado calar a boca porque ficava repetindo “desculpa” toda hora.

Não tem ninguém na fila da pipoca, porém os dois caras do caixa estão em uma conversa tão empolgante que nem notam minha presença. Depois de muitos “boa tarde”, “com licença”, “ei” e “prestem atenção em mim”, eu perdi a paciência.

– Vocês são surdos ou se fazem?!

Finalmente, os dois me olham. O moreno vira pra mim e fala:

– Onde está sua educação?

– Na casa da porra, junto com a pipoca média que eu estou há meia hora pedindo!

Ok, foram uns cinco minutos, mas exagero é meu nome do meio. Ele vira bufando e coloca a pipoca. Dou o dinheiro para ele, pego a pipoca e me viro, irritada. Esbarro em alguém e a pipoca caí toda no chão. Inspira, expira, inspira, expira, inspira... MEU DEUS MORRI, TO NO CÉU E NINGUÉM ME DISSE! QUE PEDAÇO DE MAU CAMINHO É ESSE NA MINHA FRENTE?

– Mil desculpas, eu pago outra pipoca pra você!

O rapaz me olha com uma carinha preocupada super linda. Ele tem cabelo loiro-escuro bagunçado, olhos verdes e barba por fazer.

– Não precisa! Bom que eu não engordo!

– Como se você precisasse! Seu corpo já é lindo!

Espero que eu não esteja tão vermelha quanto estou pensando.

– Meu nome é Gustavo – ele se apresenta.

– Isabelle.

Ficamos nos encarando por alguns minutos. Por alguma razão, senti um incomodo. O que tinha de errado em flertar com um cara lindo que derrubou minha pipoca? Nada, certo? Errado, uma parte do meu cérebro (que eu tento ignorar) grita que esse é o cara errado.

– Izzy! – escuto Milena gritar atrás de mim. Viro para ela, tentando falar com os olhos pra ela dá o fara dali, porém ela não entende, ou fingi não entender. – Você perdeu o final do filme!

– Que peninha! Qual era o filme mesmo?

Ela bufa e revira os olhos.

– Quem é o seu amiguinho?

– O nome dele é Gustavo e nós acabamos de nos conhecer. Gus, essa é Milena.

– Prazer – ele estende a mão para ela.

– Então, Isabelle – faço uma careta. – Falei algo errado?

– Nada, é que quando me chamam pelo nome parece que estão brigando comigo.

Ele sorri.

– Vou dar uma festa na minha casa essa noite, topa? Pode levar sua amiga também.

– Claro! – Milena responde por mim. Ele pede meu número e diz que vai me mandar uma mensagem com o endereço.

– Te vejo mais tarde, Belle.

E sai. Ok, preferia que ele tivesse me chamado de Isabelle. Só John me chama de Belle. Droga! Por que eu não consigo parar de pensar nesse menino?!

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– Onde está Lari? – pergunto à Mi, tentando distrair minha mente.

– Aqui! – Lari aparece atrás de mim, me dando um susto.

(...)

Depois de almoçar, passamos o resto da tarde fazendo compras. Consumistas? Não, magina! Recebo a mensagem de Gus com o endereço e avisando que a festa começa às dez. Seis horas, vamos pra casa de Mi. Assistimos a um filme e começamos a nos arrumar para a festa.

(...)

Olho-me no espelho e gosto do que vejo, o vestido tubinho preto que comprei hoje ficou perfeito. Bagunço meu cabelo, deixando-o volumoso, passo um batom vermelhão e aplico uma sombra preta que me deixa com um ar de “misteriosa”. Calço um salto vinho e pego minha bolsa. Essa noite quero aproveitar até o último segundo, esquecer a timidez e os problemas e “cair na gandaia”. Saio do banheiro e vou para o quarto, as meninas exclamam um “uau” quando me veem.

– Cadê a Izzy que eu conheço? Ficou no banheiro? – Lari brinca.

– Quase isso. Vamos? Essa noite eu quero aproveitar!

(...)

Assim que o elevador abre, consigo ouvir o barulho da festa. Uma música eletrônica toca no volume máximo. A porta da cobertura está aberta, entro e as meninas me acompanham. Encontro Gustavo em meio à multidão e aceno para chamar sua atenção. Ele me vê e vem até mim. Fala alguma coisa, porém não escuto.

– O que? – ele se aproxima e cola ser corpo no meu, para falar ao meu ouvido.

– Você tá linda!

– Obrigada! Você também... Lindo e cheiroso!

Aproximo meu rosto de seu pescoço e sinto uma fragrância forte tomar conta de minhas narinas. Ele ri e fala mais alguma coisa que não escuto porque meus olhos são atraídos para uma pessoa em especial.

– Merda! – deixo escapar.