Lionheart

Capítulo 19


Os primeiros sinais da primavera já se faziam presentes no castelo, podia-se notar maior vivacidade nos jardins que o cercava, com o tom de verde cada vez mais presente e as árvores começando a florear.

As semanas estavam passando mais rápido do que Marlene conseguia acompanhar e seus dias andavam bastante corridos entre aulas, treinos e os estudos para os NIEM’s, visto que a loira estava bastante determinada em tirar as melhores notas no exame.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Devido a correria em que se encontrava, Marlene caminhava mais animada que o normal pelos corredores naquele dia, em direção ao salão principal. O dia finalmente estava chegando ao fim e o clima de final de semana já se fazia presente. No dia seguinte teriam o sábado livre para visitar Hogsmeade, mas esse não era o único motivo de sua empolgação, havia combinado com Sirius de passarem o dia juntos. E é claro que desde que eles começaram com a história do namoro falso, já tinham visitado o vilarejo juntos algumas vezes, porém, essa seria a primeira vez que iam sem fingir realmente, pois desde os avanços que tiveram em relação ao outro, não puderam experienciar esse momento juntos porque nas semanas anteriores James acabou colocando treinos extras aos finais de semana, por causa ao avanço do campeonato de quadribol, no qual Grifinória e Sonserina vinham disputando de maneira assídua a liderança. Marlene estava precisando muito dessa distração e já continha inúmeros planos para compartilhar com o garoto.

Ela ainda não conseguia definir o que de fato estava acontecendo entre eles, desde as mudanças que o feriado de Natal proporcionou. Não que agora estivessem namorando, mas talvez estivessem ficando? Não sabia!

Desde a última conversa que tentara ter com Sirius a respeito deste assunto, há algumas semanas, em que o garoto não lhe deu repostas muito claras sobre o que poderia estar estabelecido entre eles, a loira não tocou novamente no assunto. Estava tentando não pensar tanto a respeito, pois no fundo ficava um pouco chateada em não ter tudo às claras entre eles, mas ao mesmo tempo, pensava também em como o moreno poderia estar se sentindo, visto que se ela estava confusa ele provavelmente não estaria em uma situação diferente. E com isso em mente, ela buscava sempre guardar tais questionamentos e se esforçar para apenas “viver o momento” como ele mesmo havia lhe dito, ao passo que sabia que isso estava a suprindo cada vez menos e ela ansiava por algo a mais com ele, pois já havia desistido de tentar negar para si mesma que não estava apaixonada pelo garoto.

E por isso, aquele passeio em Hogsmeade estava sendo tão especial para si, visto que desejava em seu intimo que ao estar em um ambiente longe da escola e das obrigações que estavam os cercando, pudessem ter um momento tão legal com quanto tiveram na pausa de fim de ano e talvez tivessem a oportunidade de conversar de maneira sincera um com o outro sobre tais sentimentos e expectativas.

No entanto, a garota viu sua animação se esvair quando se deparou com Sirius e Valerie juntos em um dos corredores que entrara a fim de chegar ao salão principal, o que fez com que ela automaticamente parasse de andar. Sentia como se seus pés estivessem colados no chão.

Os dois conversavam sobre algo e Marlene não pôde deixar de notar o sorriso genuíno que Sirius mantinha nos lábios enquanto observava a garota. A loira sentiu seu coração afundar, apesar de os dois não estarem fazendo nada demais, qualquer pessoa poderia notar o carinho e a ternura com que Sirius olhava para a ex-namorada.

A conversa não durou muito e Marlene não fazia ideia do que eles estavam falando, mas Sirius parecia bastante envolvido. A loira sabia que não deveria ficar espiando o moreno e sabia também que se ele ou qualquer outra pessoa a pegasse naquela situação seria muito esquisito e constrangedor, mas nem fizera por maldade. Não é como quisesse bisbilhotar a vida dele ou algo do tipo, só não esperava presenciar os dois e fora pega tão desprevenida que não conseguia não olhar ou apenas continuar andando.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Marlene viu quando Valerie depositou um beijo demorado no rosto de Sirius, que lhe deu um abraço apertado e eles trocaram um olhar afetuoso antes da garota se afastar. Para Marlene foi como se tivesse levado um banho de água fria ou um choque de realidade.

Aquilo não deveria tê-la pego de surpresa, afinal, os motivos pelos quais Sirius sugeriu o trato entre eles era bem diferente dos seus, ele queria chamar a atenção de Valerie, porque então deveria estar espantada em constatar que eles ainda tinham aquele tipo de vínculo? Não conseguia deixar de pensar que ela que tinha sido boba em imaginar qualquer coisa entre ela e Sirius.

Quando Marlene finalmente conseguiu retomar a razão e estava pronta para sair dali, Sirius se virou na direção em que ela estava. Ele ainda sorria quando seus olhos encontraram aos dela e pela maneira como sua feição se modificou, ficou claro que ele notara que a garota estava presente há algum tempo.

Sirius caminhou a passos rápidos até Marlene.

— Não é o que você está pensando! – o garoto disse com apreensão.

Marlene teria rido se fosse em outra situação, mas estava se sentindo muito chateada pra isso e nem saberia explicar o porquê. Sirius não estava fazendo nada demais, no entanto, havia um sentindo de traição muito forte dentro de si.

— Eu não estou pensando nada.

— É sério Marlene, a gente estava só conversando – continuou a se explicar.

— Eu vi! – Marlene não sabia muito o que falar. Ela sequer sabia o que estava sentindo.

— Então está tudo bem? – Marlene desviou o olhar. Não estava bem. – Você está brava comigo?

— Não, não estou brava. Eu só não sei.

Marlene mordeu os lábios, por algum motivo que ela não entendia, sua garganta começou a queimar e sentiu um bolo começar a se formar. Estava sentindo-se extremamente idiota por estar a ponto de chorar por algo tão bobo.

Será que a gente pode se falar em outro momento? – ela perguntou, se esforçando para se manter firme.

Sirius a observou pelo que pareceu longos minutos e assentiu meio incerto, ela nem esperou para ver se ele falaria mais alguma coisa, apenas se afastou, se encaminhando para o dormitório.

Marlene até gostaria de continuar seu caminho para o salão principal e jantar, mas não queria ter que falar com Sirius antes de sequer conseguir elaborar algo. E não poderia simplesmente ignorá-lo sem ter que aturar perguntas e olhares questionadores dos amigos.

Ao chegar no dormitório, a loira agradeceu aos deuses por estar sozinha. Tomou seu banho, comeu um pacote de salgadinhos que tinha em seu malão e só quando se deitou é que permitiu-se pensar em Sirius, que esteve em sua mente por quase a noite toda.

Ela viu a hora que as amigas voltaram do jantar, Lily até chamou seu nome algumas vezes, mas ela fingiu estar dormindo. Viu quando o quarto ficou em total silêncio e escuro, indicando que as outras garotas haviam dormido, enquanto ela não conseguia desligar.

Marlene percebeu que não estava brava com Sirius, não achava sequer que estava triste com o garoto. Sua chateação estava sendo mais direcionada a si mesma do que a qualquer outra coisa. Sentia-se tola e ingênua, Sirius em nenhum momento a enganara ou escondera de si a importância que Valerie tinha para ele, havia até mesmo confessado a ela que fora a garota quem terminara a relação, demonstrando que por ele talvez ainda estivessem juntos. E ao longo de todos esses meses em que ela e Sirius se “relacionaram” ele nunca escondeu que ainda tinha contato com a ex.

Como Marlene se deixou levar? É claro que não poderia competir com Valerie, ela e Sirius namoraram por muito tempo, amadureceram juntos, e apesar dele se chatear com as desavenças, ela fora seu primeiro amor. É obvio que um envolvimento de alguns meses, que sequer fora real a princípio, não seria nada para o garoto se comparado a tudo o que viveu com a ex-namorada.

E foi ao chegar a todas essas constatações que Marlene se permitiu chorar, por se sentir boba e insuficiente. Sentia quase que uma sensação palpável de dor ao pensar que Sirius gostava mais de outra garota do que de si, se é que ele realmente gostava dela. Talvez ele só estivesse confuso quando se permitiu envolver.

A garota não sabia muito bem o que pensar.

***

No dia seguinte, Marlene acordou se sentindo péssima. Não só por causa de seus sentimentos por Sirius, mas por quase não ter conseguido dormir. Sentia como se um caminhão tivesse passado por cima de si.

Ela estava no banheiro analisando sua aparência, quando Lily o adentrou. Observou a loira por alguns instantes, antes de se aproximar e se encostar na pia ao lado da amiga, virando-se de frente para a mesma.

— Tudo bem? – a ruiva perguntou e Marlene acenou positivamente com a cabeça. – Tem certeza? Você não parece ter tido uma noite muito boa.

— Eu estou bem, só tive dificuldade para dormir essa noite.

Lily ficou quieta, vendo Marlene pentear os cabelos.

— Ontem você não foi jantar. – ela disse depois de um tempo.

— Não estava com fome – mentiu e Lily soltou um suspiro descontente.

— O que está acontecendo, Lene? Sei que você está mentindo! E a julgar pela maneira como Sirius parecia chateado no jantar, não posso deixar de pensar que tem a ver com ele.

Marlene sentiu seu coração dar uma pontada ao ouvir o nome do garoto.

— Eu não quero falar sobre isso, Lily – a ruiva abriu a boca para contestar, mas Marlene continuou. – Não agora pelo menos, mas juro que depois a gente conversa.

E Marlene estava de fato precisando daquilo, desde que ela e Sirius se aproximaram, ela passou por tantas mudanças, inseguranças e questionamentos, no entanto não teve ninguém com quem conversar. Afinal, ninguém sabia o que estava realmente acontecendo entre eles. Sentia que precisava desabafar um pouco sobre tudo o que sentiu neste meio tempo. Estava demais até mesmo para ela que costumava ser mais reservada sobre si.

— Tudo bem – Lily murmurou. – Quando você se sentir confortável sabe que eu estou aqui.

Lily se aproximou de Marlene de fez um carinho em seus cabelos antes de deixar o local. A loira terminou de se arrumar, demorando mais do que normalmente. Estava criando coragem para se deparar com Sirius.

Sabia que não teria como fugir, que ele logo a procuraria, e nem ela queria aquilo. Queria deixar o peso que estava sentindo e tinha treinado a noite toda tudo o que gostaria de dizer, e estava muito certa quanto a isso.

Marlene o encontrou sentado no final da escada que dava acesso aos dormitórios, estava a esperando. A loira baixinho suspirou em busca de coragem e torceu os dedos nervosamente, antes de finalmente terminar os degraus que faltavam até chegar ao garoto.

— Bom dia – ela anunciou sua presença e Sirius levantou rapidamente, ficando de frente para ela.

— Bom dia. – ele respondeu, parecendo analisa-la.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Será que podemos conversar? – ele assentiu.

— Você não vai querer ir para Hogsmeade? – questionou e ela negou com a cabeça. Ele pareceu incerto de como reagir.

— Podemos ir para algum lugar mais tranquilo? – Marlene sugeriu e Sirius concordou.

Eles caminharam em silêncio para o lado de fora do castelo, em direção ao campo de quadribol. Durante o percurso a visão periférica de Marlene captou os olhares de soslaio que Sirius direcionava a si, parecendo querer dizer algo, mas no fim, ele permaneceu quieto.

Eles sentaram na arquibancada e observaram o gramado por algum tempo, até que Sirius se pronunciou.

— Olha, me desculpe se você ficou chateada por ontem. Mas eu estava falando a verdade quando disse que não aconteceu nada entre a Valerie e eu.

— Eu sei, Sirius, eu vi vocês dois.

— Então porque você está assim? É porque eu estava falando com ela? – ele a fitou. – Nós não estávamos falando nada de importante, sei que da outra vez você não gostou de saber que eu ainda tenho contato com ela, mas eu te disse que não era dessa maneira que você pensa. Nós dois temos uma ligação, sabe?

Quando Sirius disse aquilo, Marlene desviou o olhar sentindo sua garganta arder. Ela precisou de muito autocontrole para impedir que suas emoções tomassem conta.

— Eu entendo. – ela mordeu os lábios.

— Então fala alguma coisa! – ela sentiu o olhar do moreno queimar sob si.

— Eu acho melhor a gente terminar, Sirius – Marlene riu sem humor. – Terminar com esse namoro falso e com seja lá mais o que estava rolando entre nós.

— O quê? Por quê? – Sirius levou as mãos ao rosto de Marlene, forçando-a a olhá-lo. – Se você sabe que eu não fiz nada então por que está falando isso?

— Porque eu acho que já chegamos ao que queríamos com o nosso trato, não foi? Matthew acreditou que estávamos juntos e esqueceu a história das cartas. Você queria provocar a Valerie e conseguiu também...

Sirius a fitou por longos segundos antes de bufar indignado.

— Você sabe que não se tratava mais disso.

— E se tratava do que? – ela o encarou de volta.

— A gente estava se curtindo, Marlene!

A loira respirou fundo antes de continuar.

— Eu acho que você está confuso, Sirius!

— Sobre o que eu estaria confuso? – Marlene murmurou um “Valerie” e o garoto suspirou alto. – Caramba, já te falei várias vezes que não tem nada entre eu e ela. Eu já te pedi desculpas, não sei mais o que te falar... Não acredito que você está querendo terminar por causa de uma bobagem.

— Não é uma bobagem – a loira manteve seus olhos fixos nos de Sirius. – Eu não estou dizendo que há algo entre vocês, mas eu acho que nem você se dá conta da dimensão do seu sentimento por ela. Eu sei que você não fez nada e sinceramente eu não estou chateada ou brava com você. Quando Matthew me disse que você continuava a vê-la, eu fiquei possessa por saber que ela havia te magoado e ainda assim você a mantinha por perto, porém, parte da minha raiva foi porque eu também fiquei com ciúmes – disse com sinceridade. – Mas ontem vendo vocês juntos... Ai Sirius.

Marlene sentiu sua voz embargar. Não queria chorar na frente dele.

— A maneira como você a olha e sorri, o carinho... Eu não posso ficar no meio disso. Há seis meses, quando decidimos começar com isso, eu jamais iria imaginar que as coisas tomariam esse rumo. A gente brincava sobre algum dos dois se apaixonar e sair machucado, e olha só como onde estamos. Não posso deixar que fique pior! Eu sei que você foi sincero comigo e sei também que os momentos que tivemos foram recíprocos, mas não acho que você tenha de fato superado a Valerie, acho que qualquer um que veja vocês dois juntos, consegue perceber o afeto que você tem por ela. E eu não posso e nem quero ficar novamente com alguém que não sabe o que quer. Já foi doloroso demais passar por isso uma vez, não quero passar novamente!

Sirius estava evitando olhá-la. Parecia estar refletindo sobre tudo o que ela acabara de dizer.

— Eu não sei o que te responder. Eu gosto de você, Marlene, gosto mesmo! Você é simplesmente incrível e eu nem sei explicar o bem que ter você por perto me fez, fazia tempo que eu não me sentia tão leve quanto me senti nesses meses. Mas eu não consigo afastar totalmente a Valerie da minha vida, ela foi uma pessoa importante pra mim, sabe? Mesmo que que as coisas não tenham acabado da melhor maneira entre a gente e que tenha me magoado muito, ela esteve presente em muitos momentos da minha vida, bons e ruins.

Marlene assentiu com a cabeça.

— Tudo bem, Sirius... Eu entendo.

— Eu não sei o que pensar de tudo o que você disse! Eu só sei que gosto do que nós desenvolvemos.

— Eu também gosto, mais do que deveria! E é por isso que incertezas não é o bastante para mim. Não posso continuar me envolvendo com você quando eu te digo todas essas coisas e você não discorda.

Marlene se levantou, seu íntimo suplicava para que Sirius a dissesse que ela interpretara as coisas de maneira errada e que ela era a única pessoa com quem queria estar, mas ele não o fez. Ele parecia meio atordoado quando eles se olharam pela última vez antes dela começar a se afastar.

Enquanto caminhava de volta ao castelo, Marlene não pôde deixar de sorrir com tristeza vislumbrando o campo de quadribol. O quão cômico era que eles terminassem exatamente onde começaram?