O sol era bonito pela manhã. Não queimava a pele como no restante do dia e ainda deixava o céu feito arte.
Bruno apreciava o céu nesse instante, via com olhos maravilhados. Olhos que à muito tempo não contemplavam o céu; ora por não ter tempo sobrando e o corpo sempre ter pressa para tudo; ora por não acordar nesse horário com frequência. Não que fosse mudar agora apenas pela beleza que ali existia, pois afinal dormir até as 10h também tinha sua graça. Mas, ele sabia aproveitar os pequenos momentos que vinham do nada como aquele, então o passo era desacelerado.
E, para completar, a rua estava serena. Tarde demais para quem tinha medo de escuro e ainda cedo para o barulho das crianças que iam para a escola duas quadras dali. Era agradável.

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Bruno tinha acabado de sair de casa e andava rumo ao fim da rua, onde seu melhor amigo morava. Porém, antes de chegar lá, viu uma movimentação na casa em frente àquela que era seu destino. Vitor fechava o portão e saia, meio apressado, da casa rosa.

"Não me diga que... "

Ao vê-lo acenou e ambos foram para casa de Vitor. O garoto não perdeu tempo e já insinuou o que havia imaginado no primeiro momento que teve oportunidade.

— O que aconteceu com vocês dois? Vai me dizer que finalmente deram uns pegas? - Perguntou entusiasmado.

Vitor recebeu aquilo com receio.
Todos estavam loucos?” Imaginava que sim.

— Não. De onde tirou isso, cara? É a Bia!

— E daí que é a Bia? Ela é mulher. Tu sabes que ela é mulher, né?

— Não rolou nada, dá para parar de encher o saco?

— Tá. - Deitou-se na cama de solteiro do Vitor e com a cara em encontro ao travesseiro murmurou as seguintes palavras: - A Bia deve estar toda frustrada agora.

Mas Vitor não ouviu. Estava preso a algumas cenas atrás, onde Beatriz afirmou ser lésbica. Ela estava falando sério? Se sim, por que demorou tanto tempo para contar? E aquele abraço? Significava alguma coisa?
Quando ele acordou, Beatriz já estava fora da cama, no notebook, provavelmente editando uns vídeos. Ele tentou falar com ela, mas a mesma logo mudou o assunto e disse que o Bruno estaria na casa dele logo em seguida. Fez com que ele se retirasse antes que pudesse entender qualquer coisa; ou tomar um café.

— Onde tu estavas naquela noite? – Perguntou decepcionado. Sabia que se fosse o contrário, se a Elisa terminasse com Bruno, ele correria no mesmo instante para consolar o amigo. Era pedir demais que o mesmo assim o fizesse?

Não era a primeira vez que sentia que o interesse dos amigos por ele era totalmente inferior ao interesse dele pelos amigos.
Mas negava acreditar que assim pudesse ser. A dúvida apenas rondava-o.

— Desculpa mesmo. - Falou antes mesmo de tentar se explicar. Sabia que sua justificativa não era boa o suficiente e resolveu contar com o bom coração do garoto. - Essa semana foi meio estranha, não consegui tirar tempo de vir aqui antes.

— Belo amigo você. - Tacou uma almofada.

— Foi mal, foi mal. Mas pode contando o que aconteceu. Minha manhã é toda sua. - Relaxou, braços para trás da cabeça, pés já estavam em cima da cama faz tempo.

— A Bia acha que ela terminou comigo por causa do sexo.

— Vocês chegaram a transar? – Levantou seu corpo com a novidade. - Isso é uma surpresa para mim.

— Deixa eu reformular... A Bia acha que ela terminou comigo por falta de sexo.

— Agora sim está parecendo realista. – Novamente jogou-se na cama. - Eu disse para você que tava mais do que na hora, não disse? Essa coisa de que mulher gosta de esperar é velha. Não funfa mais.

— Mas, sabe o que é? Não rolava clima.

— Tu é muito frouxo mesmo. – Franziu a testa. - Como que não rolava clima com um mulherão daqueles? Só se um dos dois fosse gay.

— To falando sério! Sempre algo empatava a gente.

— Cara. Tu foi na casa dela logo na segunda semana de namoro para ver filme. Qual a tua? Vai dizer que foi lá crente que ela queria ver um filme?!

Vitor lembrou daquele dia. Ele tinha ido na parte da tarde e passou o dia todo abraçado com Camile, sem ninguém para perturbar. Mas só tinham feito duas semanas e ele estava tão nervoso que só de ficar assim próximo a ela já paralisava, então permaneceu quietinho no seu canto como um bom travesseiro.

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— Nessa eu mosquei mesmo! Mas depois disso não tive nenhuma chance. O irmão dela a segue até o banheiro!

— E por que não a trouxe aqui?

— E a minha mãe? Acha que é fácil? Não é apenas por que a Dona Martha é de boas e de mente aberta que as outras mães são!

— Isso tudo é desculpa. Se quisesse mesmo pegar tu a levava para um motel.

Vitor ficou vermelho. “Essa era realmente uma possibilidade? ”

— Mas assim... convidar ela para ir num motel... não é forçar a barra? - Disse envergonhado.

— Ai garoto, tu tem muito o que aprender. - Bufou.

Vitor olhou para o teto. Perguntou a si mesmo se concordava com os amigos, se também achava que era por isso que haviam terminado e a resposta foi "Não!".

— Se ela quisesse teria deixado claro, provavelmente não foi por isso que terminamos.

— E o que te vem à mente?

— Não sei... - Disse, depois lembrou que havia visto um comentário meio suspeito em uma foto de perfil dela. - Deixa eu te mostrar um negócio.

Ligou o notebook, que demorou um certo tempo para funcionar. Entrou no Facebook e foi direto na página da ex, porém o face não quis colaborar e ele não a encontrou. Mas tentou novamente e novamente antes que pudesse entender a realidade.

— Cara. Acho que tu foi bloqueado. - Disse Bruno, tirando as primeiras conclusões.

— Não. Eu entrei no face dela ontem ainda...

— Então ela te bloqueou essa noite. Me diz, o que tu ia mostrar?

— Um comentário no perfil dela. De um cara, meio que falando gracinha. Mas ela não respondeu, então não achei tão problema assim.

— Da licença, deixa eu abrir o meu face. - Saiu da conta do amigo e depois conectou a sua própria. Procurou a garota e para sua surpresa, nada encontrou. - Droga, fui bloqueado também! Ela se precaveu bastante, mas o que será que está escondendo?

Vítor se sentiu triste. Nem stalkear ele podia? Que vida era essa? Como ia sobreviver?

Bruno não perdeu tempo e já mandou uma mensagem para Beatriz pedindo que a garota olhasse no Facebook se conseguia encontrar a Camile. A resposta veio quase de imediato com um simplório "não".

E sim, ela estava acordada, como todas as outras horas do dia. Estranho seria não encontra-la online.

— Droga, o que está havendo? - Deitou-se na cama. Seus olhos marejados já imaginando onde aquilo ia dar. Afinal, ela não havia se importado de exclui-lo até agora, então repentinamente tinha tomado aquela decisão? O que significava?

— Calma aí, nada de chorar ainda, vou fazer uma conta fake e descobrir.

Levou alguns minutos para que Bruno tivesse a conta pronta.
Realmente, é muito mais fácil fazer uma conta fake do que construir um currículo a partir do nada.

Então, novamente, a primeira coisa que fez foi procurar o nome Camile Andreia de Souza. E, agora sim...

— Agora você pode chorar.