Like a Vampire 3: Lost Memories

Capítulo 25- A fuga


Narração Nikki

O dia correu normal e tranquilo. Quer dizer, pelo menos se considerarmos que eu estava numa prisão.

Comi o que haviam jogado pra mim. Dormi bastante. Bati um papo com os guardas sobre como a imortalidade devia ser um saco. Ouvi barracos de outros prisioneiros que estavam em celas compartilhadas. Tudo de normal.

Quer dizer, eu meio que fazia isso sem estar na prisão. Comia. Dormia. Falava pros Sakamaki que devia ser um saco ser vampiro. E brigas todo dia, porque não há dias normais na minha vida mais.

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Irônico, até. Eu estaria vivendo as mesmas coisas. A diferença é que eu estaria com minhas irmãs, amigas, pessoas que nem gosto tanto e com meu NAMORADO.

Que era ainda um nome bem estranho de se chamar Shu, diga-se de passagem. O dia que ficamos juntos pela primeira vez foi o dia que eu fui presa. Então é um equilíbrio divertido de emoções pra mesma data.

Um dia vou contar isso pros meus filhos e eles vão rir e falar que eu era louca.

Talvez eu nem tivesse filhos. Com toda essa história de Eve, o que eu menos quero é ter que lidar com “Ei, adivinha? Você está carregando o ser mais poderoso das quatro raças! Não é demais?”.

Principalmente vindo do KarlHeinz.

E eu tinha muita coisa pra resolver antes de pensar em filhos. KarlHeinz estava nessa lista.

—Você tem visita.- Um dos guardas que eu não gostava muito abriu a porta de ferro pra me avisar, e logo depois entrou com cara de emburrado.

Forcei um sorriso. Pelo menos eu ia ver minhas irmãs e Shu.

Mas fiquei surpresa quando vi que quem passou pela porta, na verdade, foram Shu e Daayene.

—Vamos te tirar daqui.- Daayene disse com um sorriso.

—Que?- Perguntei.- Resolveram deixar meu caso financiável?

—Não. Mas vamos te tirar daqui!- Daayene bateu palmas, o que me deixou mais confusa ainda.

—Mocinha, vai pra trás aí.- O guarda tentou pegar a Hudison pelo braço- Ninguém vai tirar ninguém de lugar nenhum. Especialmente essa problemática aí.

—O que você disse?- Shu questionou, tentando ser ameaçador- Sabe quem sou? Filho herdeiro do seu rei, seu chefe. Acho que isso significa que também comando você, e eu te ordeno a soltar minha noiva.

Pera aí.

É. O. QUÊ?

Noiva.

N-O-I-V-A.

Noivinha.

—Que?- Falei de novo, sentindo minha pele queimar como se eu estivesse numa frigideira.- Noiva?

—Noiva?- O guarda parecia menos confuso.- É uma humana, sua alteza.

—Isso não me impediu meu irmão de se casar com a Princesa Victoria. Quem dirá me impedir de casar com essa mulher.- O olhar azul de Shu era frio- Eu disse pra soltá-la.

—Sinto muito, Sua Alteza.- O guarda respondeu.- Apesar de sua autoridade, esse tipo de decisão cabe a seu pai fazer.

—Cara, o pai dele mal sabe a existência de camisinha e você acha que ele serve como bússola moral?- Daayene colocou a mão na cintura- Acredita em mim. Eu conheço pessoas mais confiáveis que ele. E tipo, olha pra mim.

—Não aceitarei levar ordens e humilhações de uma humaninha desgraçada.- O guarda olhou feio pra Daayene.

—Não fala assim dela!- A defendi.

—Tá de boa, amiga.- Daayene sorriu- É uma pena, porque eu queria muito resolver no diálogo.

Em um piscar de olhos, Shu imobilizou o guarda com sua força sobrehumana. Daayene pegou um molho de chaves de seu cinto, e começou a testar uma a uma na minha cela.

—Essa não... Essa pode ser... Ah, não dá... Pode ser essa!

—É uma quadrada meio amarela.- Eu respondi, com uma cara de “sério?”.

—Ah, obrigada!- Ela achou a chave, e a virou na fechadura. A porta abriu- Num mundo mágico, eles ainda usam chaves. Vamos embora!

O guarda conseguiu sacar sua espada, tentando machucar Shu. Daayene ergueu uma mão, e uma espécie de magia vermelha saiu de seus dedos, criando uma barreira entre a espada e o vampiro.

—Vamos.- Shu pegou minha mão.

—Mas...- Eu recuei- E a Daay?

—Ajuda. Uma criminosa está escapando.- Um guarda falou numa espécie de “walktalk”.

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—Pode ir, eu me viro!- Daayene gritou, e eu percebi que ela mal estava fazendo força pra impedir aquela espada.

Deixei Shu me guiar. No meio da escadaria, vi vários guardas saindo e indo até a minha cela. Daayene saiu correndo de lá, mas não desceu os degraus. Ao contrário, levantou as mãos do chão e as fechou, prendendo todos os guardas numa espécie de corda vermelha. Após balança-los um pouco, ela fechou mais os punhos, os asfixiando.

Ela começou a levitar, e eu vi que ela realmente dava conta do serviço.

Shu me levou até a frente da prisão, e eu fiquei confuso com como nervoso ele parecia estar.

—Estamos esperando algo?- Questionei.

—Ahã.- Shu respondeu.

De repente, um caminhonete verde parou na frente da prisão.

—Vem, moça!- Era Victoria, do banco do passageiro.

—E você?- Perguntei pra Shu.

—Eu vou voltar. Juro.- Ele me deu um selinho. Rápido demais, na minha opinião.- Agora vai.

Praticamente pulei no banco de trás, e percebi que Sofie que estava dirigindo.

Sofie usava óculos escuros, e um lenço branco na cabeça. Seu cabelo parecia mais curto, o que destacava brincos de pérola que combinavam com seu vestido preto com bolinhas brancas. Não percebi que sapatos ela estava usando.

—Mas o que é isso?- Questionei.

—Moda.- Sofie disse com certa ironia. Ela tirou os óculos e o prendeu no decote do vestido.- Deu tudo certo na prisão, eu acredito.

—Até demais.- Respondi.- Por que não me tiraram antes se era tão fácil assim?

—Não é tão fácil assim.- Victoria se virou pra me encarar- Agora mesmo, os guardas estão chamando todos os exércitos e patrulhas que estão no festival pra te caçarem. E também, só tivemos essa ideia de plano ontem de noite.

—Que louco.- Eu estava meio admirada com quão inteligente Victoria era, na verdade.- Aconteceu alguma coisa?

—Ah, você não tem ideia.- Sofie revirou os olhos.

—Terminei com o Reijii.- Victoria disse como se fosse simples, e eu arregalei os olhos.

—QUE?- Eu estava chocada- Mas por que? Divórcio? E o Heisuke?

—Não divorciamos. Ainda.- Ela suspirou- Eu pedi um tempo pra ele. O desgraçado me engravidou de propósito ano passado.

Eu não achava que minhas sobrancelhas podiam se arquear mais, mas claramente eu estava enganada.

—Os dois estão sem se falar. Foi maior B.O ontem no castelo.- Sofie explicou.- Por isso não fique surpresa se depois você ver eles afastados. Mas eles ainda se amam, só estão com muito ódio um do outro.

—O....k- Era difícil de absorver aquilo tudo- E o que mais?

—Ah, os meninos não quiseram nos contar as tretas de Eve e aquele trem todo.- Victoria deu de ombros- E Sofie quase foi estuprada pelo Robert.

Engasguei.

—Vic!- Sofie bateu no volante- Eu ia contar isso! E de um jeito mais... delicado.

—Eu tô tão cheia de informações agora. Acho que meu cérebro vai falhar.- Murmurei.- Quer falar sobre isso, Sofie?

—Agora não.- Sofie respondeu- Preciso focar em te deixar segura.

Olhei pra trás, percebendo algumas cavalarias se aproximando.

—Robert também bateu nela.- Victoria continuou.

—Vic, eu juro que eu te mato.- Sofie revirou os olhos.

—O que? É verdade! Ela merece saber!- Victoria retrucou, como se não fosse nada.

—Você tá bem?- Estava sinceramente preocupada.

—Não foi tão ruim quanto parece. Ele me viu com as anotações que eu te falei mais cedo. Ficou bravo e me deu um tapa na cara e gritou comigo. Me chamou de Molly.- Sofie hesitou um pouco- Ok. Foi bem ruim. Foi péssimo. Mas não adianta falar disso agora, né? Estamos numa missão. E não espalha isso, que nem certas pessoas. Só contei isso pra nossa família.

Concordei com a cabeça, nervosa pelo tanto de informações e pela aproximação dos cavalos.

De repente, um caminhonete também vermelho ultrapassou a gente, e pegamos o mesmo caminho.

—Se agacha aí, Nikki.- Vic instruiu, e eu obedeci.

Fiquei olhando de cantinho. Sofie fez várias ultrapassagens perigosas, que eram trocadas pelo outro carro.

—Parado aí! O carro com a menina de cabelo e olho castanho dirigindo!- Um cavaleiro gritou, e pegamos um atalho. O outro carro foi parado.

—Gente...?- Chamei, e vi que paramos um pouco longe de vista.

Os cavaleiros pararam o outro carro, e foram meio pegos de surpresa quando eu não estava lá.

Uma menina de roupa idêntica á Sofie desceu do carro. Ela tirou os óculos e foi tiro e queda.

Sarah.

—Posso te ajudar, senhor?- O sorrio era de Herbert. Era óbvio.

—Tem mais alguém no carro com a senhorita?- Ele questionou, e Sarah fez que sim com a cabeça.- Pode mandar sair?

Sarah deu algumas batidinhas no vidro, e do carro saíram Marie e Lua.

—Por que estavam em alta velocidade?- O homem perguntou.

—O senhor começou a perseguir a gente, ué.- Lua respondeu, como se fosse óbvio.

—E por que vocês correram?- Ele insistiu.

—Medo, ué.- Marie parecia determinada a vencer aquele debate- Vocês começaram a correr atrás da gente. Esse tanto de macho aí, o que você quer que nós, meras mulheres, pensemos?

Será que todo mundo da família é falso assim?

—Parece justo.- O guarda deu mais uma olhada dentro do carro- Vão e façam o que tem que fazer.

—Agradecemos.- Sarah sorriu de novo, e as três entraram no carro. Percebi que nossa caminhonete começou a acelerar de novo.

—Isso foi louco.- Eu opinei, bem chocada com tudo.

—Eu sei.- Sofie riu- Eu e Brunna que bolamos essa parte.

—E os outros 90% do plano também.- Victoria completou.

Continuamos naquele caminho numa perigosa alta velocidade por mais alguns minutos, e eu fiquei assustada quando vi vários guardas machucados correndo.

—O que diabos aconteceu?- Questionei de novo.

—Eu falei que os exércitos estavam sendo chamados.- Victoria disse simplesmente- Cousie havia prevido essa parte. Por isso ela e suas irmãs estão atacando uma parte dos soldados enquanto Mao, Jackson, Sol e (--) atacam a outra parte.

—Vocês falam como se fosse simples!- Briguei- Mas vocês basicamente criaram um plano gigantesco, prevendo tudo que ia acontecer e envolvendo todas as pessoas que conhecemos!

—Na verdade, não era pra ser tão gigantesco assim.- Sofie falou enquanto fazia uma curva. Mas o festival precisa de uma distração depois que os profetas explanaram sobre Heisuke.

—...Oi?- Arregalei os olhos- Como assim? Por que?

—Isso é uma boa pergunta.- Victoria disse.- A sorte é que todos do reino interpretaram que eu ainda estava grávida. Mas acho que isso não vai durar muito. Logo logo vão perceber que eu magicamente não tenho barriguinha de grávida, e aí que o negócio vai pegar fogo.

De repente paramos.

—Seguinte, Nikki.- Sofie se virou pra mim.-Entra nesse castelo abandonado aí, que a Priya e a Anna vão te explicar tudinho.

Concordei com a cabeça e saí do carro.

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Quando minhas irmãs sumiram de vista, andei rápido na residência.

Era toda velha e feita de pedras marrom-claro. Não parecia habitada. E não era muito longe do festival.

Abri a porta marrom rapidamente e entrei.

—Aleluia. Eu tava ficando preocupada.- Priya disse. Ela e Anna estavam me esperando logo no salão principal.

—Deu tudo certo?- Anna parecia preocupada quando andou até mim.

—Sim. Surpreendentemente.- Eu expliquei.

—Ok.- Priya me obrigou a sentar numa das cadeiras- Em qual braço tá a sua marca de prisioneira?

Mostrei meu braço direito. A marca de prisioneira era nada mais nada menos que uma espécie de queimadura que faziam em um dos braços pra identificar presidiários fugitivos e ainda mostrar qual crime eles cometeram.

O meu era um círculo vermelho cheio de círculos dentro. Simbolizando “assassinato em massa”.

Íncrivel.

—Seguinte, Nikki.- Anna segurou meu braço- Eu vou ter que cortar essa parte da sua pele. Mas relaxa, vai dar tudo certo e a dor vai passar. Eu até esterilizei essa faquinha!

Fiquei assustada quando Anna me mostrou uma pequena faca de prata, parecendo que era de bolso. Mas engoli em seco meus medos, já que realmente não tinha o que fazer.

—Enquanto Anna faz parte dela, olha pra mim. Eu vou te explicar o plano, ok?- Priya segurou meu rosto pra encarar o dela, e eu fiz um joinha com a mão esquerda quando comecei a sentir a pequena faca de Anna deslizar pela minha pele.-Ótimo.

Ela respirou fundo:

—Ok. Quando acabarmos aqui, os trigêmeos vão te levar pra outra casa, e lá vão estar Reijii e Yui. Reijii vai curar a ferida que isso aqui vai criar.- Ela apontou pra Anna, e eu tive que abafar outro gemido de dor- E Yui vai fazer uma transformação em você pra te fazer virar menos... isso. Então vão te passar por uma espécie de encanamento, que vai resultar numa rua, onde o Subaru vai te pegar e vai te levar pra Mansão Sakamaki!

Dei um gritinho de dor.

—Acabei por aqui.- Anna respondeu- Não olha ainda Nikki, vou enfaixar pra não infeccionar.

Mesmo com dificuldades pra respirar, concordei com a cabeça.

—Gostou do plano?- Priya questionou.

—Achei... ótimo.- Respondi. Senti uma espécie de tecido enrolar meu braço direito, e quando me virei pra ele vi uma faixa meio ensanguentada onde um dia estava minha marca de prisioneira.

—Você tá se sentindo bem?- Anna perguntou, nervosa.

—Ahã.- Respondi, mesmo me sentindo meio mal.- Cadê os trigêmeos?

De repente a porta se abriu, revelando Ayato:

—CHAMOU?

Eu hesitei.

—...Tem certeza que é uma boa ideia eles me levarem?- Questionei.

—Não.- Priya admitiu- Mas eles ficaram enchendo o saco porque queriam fazer alguma coisa então meio que sobrou isso pra eles.

—Nossa, assim eu fico ofendido~- Laito cantarolou.

—Fique. Esse era o objetivo.- Priya respondeu.

—Vamos logo com essa porcaria.- Kanato brigou.

—Ele tá de mau humor porque não sabe onde a Sarah tá.- Ayato explicou de forma sussurrada e nada discreta. Achei um motivo bem válido, na verdade.

—NÃO TÔ NÃO!- Kanato foi dramático.

—Ele tá.- Laito disse com um sorriso, e me ofereceu a mão de forma suspeita.- Agora, vamos?

Bem, eu não tinha muita escolha.

Segurei no braço de Laito e de Ayato, e Kanato ficou por trás de nós.

Acabou, eles me teletransportaram tranquilamente para um outro castelo abandonado.

Meio que estremeci quando eu vi que até ossos na porta tinham.

Abri as portas azuis escuras, e já dei de cara com Reijii. Ele parecia estressado, e não me deu nem mais de um olhar pra eu entender que era pra eu me sentar.

Me acomodei num dos sofás amarelos do salão de entrada, e Reijii se aproximou de mim com um frasco com um líquido vermelho.

Olhando bem pra ele, eu podia ver grandes olheiras debaixo de seus olhos. E seus óculos não faziam nada pra disfarçar o fato que ele estava com os olhos meio avermelhados.

Aff, provavelmente era a treta dele com a minha irmã.

Quer dizer, eu não fui nem um pouco alegre com o que ele fez. Claro. Mas isso foi ano passo e os dois claramente ainda se gostam. TALVEZ se eles conversassem, se acertassem e decidissem mudar, o relacionamento ainda podia dar certo.

E eu ia acabar pistolando com os dois se eles continuassem com esse negócio de “fala não fala” por muito tempo. Então melhor eles se resolverem sozinhos.

—Você tá bem?- Perguntei, sentindo ele desenfaixando meu braço.

Ele nem me olhou:

—Não pior do que você, eu imagino.

—Não te imaginei como o tipo que sofresse pela mulher, só isso.- Dei de ombros enquanto ele abria o frasco.

Ele finalmente me olhou:

—E eu não te imaginava como o tipo que era presa.

—Justo. Desculpa, vou ficar calada.- Ele virou o líquido na minha ferida, e senti um ardido forte na área.

—Eu estou pagando pelo meu erro.-Reijii respondeu- Nós dois tivemos que fazer isso.

—É.- Ele ficou observando meu pulso por alguns instantes, antes de pegar uma toalha branca e pressionar sob meu ferimento- Temos mais em comum do que eu pensava, eu acho.

—Espero que não faça as mesmas burradas que eu.- Reijii falou muito baixo, quase inaudivelmente. Ao tirar a toalha, percebi meu ferimento sarado.- Está pronta, pode subir. Yui vai encontra-la lá.

Acenei a cabeça, um pouco confusa com a simpatia de Reijii.

Eu achava que ele odiava o irmão dele. Aka Shu. Aka meu namorado.

Subindo curtas escadarias, acabei num quarto todo verde. Yui estava deitada na cama, cercada de roupas bizarras, perucas e maquiagens.

—Ah! Você chegou!- Yui comemorou um pouco, de um jeito bem fofo.- Vem, senta aqui, eu só tava te esperando!

—Nem adianta eu falar que não quero, né?- Eu ri, já sentando na cama.

—Não!- Yui respondeu- Eu ensaiei muito pra esse momento, ok? Me deixa brilhar, já que eu não sou uma lutadora que nem vocês outras.

Passei quase meia hora me aprontando. No final das contas, acabei com uma peruca loira bem natural, com um lenço azul prendendo-a a minha cabeça. Eu estava com um batom meio vinho, e usava um delineador gatinho com um pouco de brilho. Já em roupa, eu estava usando uma calça jeans de cintura alta desconfortavelmente justa e uma espécie de top cropped azul. E sneakers.

—...Eu pareço uma drag queen.- Eu falei, me olhando pro espelho.

—Não parece nada!- Yui fez beicinho.

—Como não? A culpa não é sua, maquiagem e roupas 10/10. Mas eu meio que pareço um menino, já que eu tenho os ombros mais largos e sou mais musculosa, então...

—Então que você tá linda.- Yui me chacoalhou pelos ombros.- Chega disso, agora por aqui.

Segui Yui por algumas escadas. Acabei de frente a uma espécie de cano de tubulação de ar gigante. Yui tirou a tampa, resultando num buraco.

—...Você não quer que eu desça por aí, né?- Questionei.

—Sim, quero.- Yui ajeitou minha peruca- Sol disse que os soldados estão seguindo seus rastros até aqui, então... você não tem escolha.

Bufei.

—Tá.

Me sentei no chão primeiro, e cruzei os braços enquanto eu descia pelo “ótimo” escorregador da tubulação.

Caí de bunda na terra, e ainda bati a cabeça. Senti uma presença perto de mim. Abri os olhos. Era Brunna.

—Que?- Fiquei confusa.- Não era o Subaru?

—Era, sim.- Brunna respondeu, me ajudando a me levantar- Mas parece que deu merda lá no carro onde Marie, Sarah e Lua estavam. Então Subaru saiu correndo e me mandou no lugar dele.

—E onde você tava?- Perguntei.

—Na Mansão Sakamaki, como uma boa chefona do mal.- Brunna deu de ombros.- Agora vem, sobre na moto.

Me assustei quando vi ela em cima de uma moto toda preta.

—Desde quando você sabe andar de moto?- Segurei uma risada.

—Desde o momento que você corre perigo de vida e eu sou uma amiga muito boa.- Brunna revirou os olhos- Agora para de perguntar e sobe.

Meio nervosa, subi logo atrás de Brunna, e segurei na cintura dela quando ela acelerou.

O medo de morrer era maior que a confiança, então fiquei de olhos fechados por todo o trajeto. Sentindo só o vento bater no meu cabelo/peruca, eu podia dizer que estávamos em alta velocidade.

Devíamos ter passado uns quarenta minutos assim. E quando a moto parou, respirei de alívio ao ver que estávamos bem em frente da Mansão Sakamaki.

—Credo, pelo menos finge que confia em mim.- Brunna riu, e esperou eu descer da moto- Os Mukami estão lá dentro pra te receber. Eu vou indo, Sofie precisa da minha ajuda.

Concordei com a cabeça, e aguardei ela ter ido embora pra me virar pra encarar a minha casa.

Nossa, era estranho ainda de falar isso. Mesmo depois de... três anos?

É, mais ou menos isso.

Fui andando em frente. Abri a porta sem dificuldades. Os Mukami estavam relaxando na sala.

—Oi...- Disse, meio fraco.

—Ah, oi.- Yuma não pareceu nem mudar de expressão.

—Foi tudo bem?- Ruki não tirou os olhos do livro.

—Sim. Na medida do possível. Não sei por que eu tive que me arrumar toda, mas tudo bem.- Dei de ombros.

—Foi minha ideia!- Kou comemorou- Todo mundo achou que era pra prevenir você de ser parada por guardas, mas eu só queria te ver arrumada por uma vez na vida.

—...Você nunca me viu arrumada?- Questionei- Achei que já.

—Nikki... está... bonita...- Azusa opinou, e eu fiquei meio vermelha:

—Valeu, Azusa!

—Você fica bem loira.- Kou concordou.

—Eu prefiro o cabelo azul.- Yuma negou.

—É porque você tem gosto ruim.- Kou retrucou com deboche.

—Não pior que o seu.- Yuma brigou- Já prestou atenção no que você veste?

—Eu vou indo... tomar um banho... antes que piore.- Eu disse, e Ruki me apressou:

—Vai mesmo.

Subi as escadas todas até chegar no meu quarto. Me senti em casa, pela primeira vez em muito tempo.

O cheiro ainda era o mesmo, tudo estava do jeitinho que eu tinha deixado. Mas algo estava diferente.

Eu.

Mudei muito do início do ano pra cá. É óbvio, ninguém faz as coisas que eu fiz e fica de boas.

Mas estou em geral, feliz pelos resultados finais.

Entrei no banheiro, e só consegui relaxar quando entrei na banheira e fui banhada pela água quente, quase borbulhando.

Era quase como se a água lavasse todas minhas preocupações.

Devo ter demorado quase uma hora, pra ser honesta. Não lembro qual foi a última vez que tomei um banho. Me sentia imunda.

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Assim que saí do banho, me fiz o favor de colocar um conjunto de moletom que eu tinha enfiado no meu guarda roupa antes de sair pro festval. Tinha cheirinho de conforto, e era isso que eu precisava. Também fiz questão de deixar meu cabelo secar naturalmente.

Quando desci de novo, já haviam chegado mais pessoas. Os trigêmeos estavam contando algo pros Mukami, que não pareciam nada surpresos. Cousie, Eliza e Haruka estavam batendo um bom papo com Victoria. Sofie conversava com Shu e Brunna.

Do outro canto, eu podia ver Jackson, Yui, Mao, Sol e Akira. No meio do meu pensamento, Mao chamou Haruka, que veio bem calmamente. Ele disse algo pra ela, e ela riu.

Reijii estava meio isolado num canto, parecendo perdido em seus pensamentos.

Em certo momento, Daayene, Priya e Anna chegaram da cozinha com vasilhas cheias de biscoitos. Os Mukami usaram isso como deixa pra saírem da conversa com os trigêmeos.

—Ali está a mulher da hora!- Mao comemorou ao me ver.

—Para de fazer a menina passar vergonha.- Haruka o repreendeu.

—Não existe mais esse termo entre a gente, eu acho.- Sofie deu uma risada suave.

—Aceita chá?- Ruki me ofereceu.

—Não, obrigada.- Fui descendo as escadas- Victoria só tomava isso quando estava grávida, acho que enjoei por ela.

Todo mundo ficou sério do nada.

—Ah, desculpa.- Dei de ombros, como se não quisesse nada- Cedo demais?

—Pode falar o que quiser.- Victoria deu um sorrisinho-Tá de boa.

—Não se preocupe, Victoria.- Cousie falou com deboche- O que você chama de erro eu chamo de milagre. Apesar de com certeza Heisuke crescer com problemas emocionais relacionados a mulheres ou homens, dependendo de com quem ele for ficar, graças ao inevitável divórcio de vocês, aposto que será um lindo cara. Problemático, mas lindo.

—Definição de todos os homens que eu conheço.- Daayene disse.

—É por isso que eu não tenho namorada.- Yuma opinou.

—Você não tem namorada porque nenhuma mulher em sã consciência ficaria com você.- Priya retrucou.

—Se casem logo, por favor.- Shu resmungou, e assim que eu aproximei dele, o loiro deitou a cabeça no meu ombro.

Priya e Yuma pareceram ofendidos, mas antes que qualquer um dos dois pudesse falar algo, Kanato os interrompeu:

—Alguém sabe onde a Sarah tá?

—Com o Subaru, a Marie e a Lua, assim eu espero.- Brunna disse como se fosse óbvio.

—Não ligo pra eles. Quero dizer ONDE ela está?- Kanato reforçou a pergunta.

—Deixa de ser dramático, eles estão bem.- Ayato brigou.

—Ah, quem fala~, se fosse a Sofie sumida, você ia estar se descabelando.- Laito cantarolou.

—É diferente- Ayato retrucou- Sofie sumida, sinal de perigo. Sarah, Lua, Marie ou Subaru sumidos? Só um dia normal em casa.

—Parece justo.- Sofie considerou, e deu uma breve risada.

—Desculpa a demora!- Marie praticamente arrombou a porta- Uns guardas pararam a gente de novo, foi uma loucura.

—É verdade.- Lua entrou abraçada com Subaru- Eles acharam que eu era uma duquesa de algum reino que aparentemente fugiu depois de ter filhos bastardos com seu bobo-da-corte. Foi bem louco.

—Lua já é fã dela.- Subaru disse.

—Eu sou.- Lua concordou.

—Kanato!- Sarah fechou a porta atrás de si- Você tá bem?

Sarah praticamente se lançou em cima de Kanato, bem na frente de todo mundo.

—Sim, por que eu não estaria?- Kanato pareceu confuso.

—Ah... Anna e Azusa me falaram que...- Sarah começou.

Anna e Azusa tomaram um gole de chá ao mesmo tempo.

—Esses dois só tem cara de inocentes, né?- Eliza comentou com uma risada.

—Nem cara, direito.- Haruka completou, e Mao deu risada do comentário dela.

—Mas somos ótimos cupidos.- Anna disse bem baixinho.

—Eu que tava preocupado com você!- Kanato brigou- Como ousa sumir assim?

Sarah resolveu calar ele da melhor forma possível: dando um beijo bem rápido, mas bem “TCHÂM” nele.

Claro que todo mundo começou a assobiar e bater palmas, e os dois acabaram ficando vermelhos.

—Posso falar que vocês são um ótimo casal?- Mao sorriu- Só não são melhor que eu e a Haru aqui.

—Acho que temos boa competição, meu amor.- Haruka brincou.

—É verdade.- Sol comentou- Eu, Aki e Jackson já criamos nomes pros casais, saca só: Nishu, Sanato, Maito, Lubaru, Bruki, Yuckson, Maruka e Akirol!

—Meu deus, que nomes horríveis.- Priya riu- É por isso que eu não namoro.

—Você não namora porque...- Yuma começou, mas Priya colocou uma mão em cima da boca dele.

—Maito parece mato.- Marie cerrou os cenhos- Larie não é melhor?

—Larie é coisa da Xuxa, irmã. Ilariê...- Lua começou a pensar alto- Mas Sanato e Lubaru é só o nome dos meninos mudando a primeira letra!

—E Bruki é estranho.- Brunna opinou.

—Então criem vocês!- Sol reclamou.

—Eu gostei de Nishu!- Levantei a mão.

—Eu gostei de Maruka também.- Haruka deu de ombros.

—Vocês tem todos gostos muito estranhos.- Cousie murmurou- Ninguém deveria estar namorando aqui.

—Também tinha Vijii na nossa lista, mas por motivos já conhecidos, cortamos da lista.- Akira respondeu, fazendo um cafuné na sua namorada.

—Vijii parece virgem.- Victoria estranhou.

—Tem Soyato também, mas estamos no aguardo pros próximos acontecimentos pra usarmos esse.- Jackson continuou.

—Nossa, que nome ruim.- Ayato filosofou- O casal desse nome deve ser uma bosta.

Todo mundo olhou pra ele como se ele fosse maluco. Sofie deu de ombros:

—Com certeza.

De repente Daayene fez uma careta, massageando suas têmporas.

—Tá tudo bem, MNeko-Chan?- Kou questionou.

—Dor de cabeça.... e uma voz.- Daayene reclamou- Já volto!

Ela correu até a cozinha. E voltou poucos segundos depois com um papel em mãos, que entregou pra Shu.

Ele leu:

“Queridos primos e outros agregados da família,

Espero que a missão de resgate á Nikki tenha ido conforme o esperado, e que estejam todos a salvo nesse momento. Infelizmente, venho lhes informar que com o segredo de Victoria á tona, nossa família não está tão segura assim. KarlHeinz já ouviu sobre o resgate e sobre Heisuke, e acredita que o filho já tenha nascido.

Todos acreditam que vocês já estejam na Mansão Sakamaki, então saiam amanhã para um lugar mais seguro antes que algum desastre aconteça sem esperarmos.

Além disso, não acho que Mun esteja mais segura entre a multidão. Algumas fontes dizem que ele já queria entregar sua filha pra um noivado misterioso e poderoso. Por isso, embarquei numa missão de encontrar Oliver e Igor, e a trouxe comigo.

Entendam que Mun, apesar de nova, já tem entendimento de muitas coisas, e já está adquirindo maturidade (física e psicológica). E como anda sendo treinada na espada, acredito que estará segura andando comigo.

Espero vê-los todos em breve,

Lilith.”

—Que?- Ayato pareceu abismado.

—Como Lilith pode levar uma criança pra uma missão perigosa dessas?- Subaru brigou- E sem nos avisar.

—Ela tá certa.- Cousie respondeu- Se todas suas suposições estão corretas, então Mun fica melhor longe daqui. E não vai demorar muito pra Robert começar a caçar Sofie, também.

—Só uma coisa.- Sarah questionou- Acabamos de virar criminosas?

—Talvez não os meninos, já que o jogo deles foi mais “limpo” e com certeza o pai deles tira eles dessa.- Haruka explicou- Mas a gente? Nossa, a gente tá ferrada se nos pegarem.

—Então... outra fuga?- Sugeri.

—Eu nem sei o que a gente fez direito, essa é a pior parte.- Sofie reclamou.

—A gente ainda não fez coisa, essa é a questão.- Eliza continuou- Não estão com medo do que a gente fez, e sim do que podemos fazer se não nos podarem agora.

—Nossa, elas falam bonito.- Yuma apontou pras Creedley.

—Descansemos por hoje- Reijii instruiu- Amanhã durante a manhã partiremos pra um lugar seguro.

Todos concordamos, mas continuamos no sofá conversando um pouco.

—Que dia louco.- Shu suspirou do meu lado.

—Nem me fale.- Eu ri- Não foi você que fugiu de uma cadeia, garanhão.

—Mas foi um grande dia pra todos. Não tem como negar isso.- Shu se virou pra mim, ainda deitado no meu ombro- Senti sua falta.

—Você me via todo dia.

—Não é a mesma coisa de te abraçar aqui- Shu me deu um selinho.- Noiva.

—Ainda não acredito que falou isso pros guardas.- Revirei os olhos.

—Pode ser verdade, se você quiser.- Shu riu.

—Se esse for seu pedido de casamento, eu juro que termino com você.- Dei um tapa de leve no ombro dele- E talvez um noivado não seja a melhor coisa a se ter no nosso grupo, tão perto de um divórcio.

—Victoria e Reijii?- Shu questionou- Eles vão se resolver.

—Jura? Eu não perdoaria ele se fosse no meu lugar.- Opinei.

—Ele fez merda, é claro.- Shu falou, e eu ri do seu linguajar.- Mas eu acho que ele se arrepende. Ele não quer assumir, é claro. Somos orgulhosos demais pra assumirmos qualquer coisa. Mas está começando a perceber que a burrice dele custou o amor da vida dele.

—Desde quando você fala bonito assim?- Brinquei, e ele me ignorou:

—É sério. Todo mundo aqui tá passando por uma redenção pra parar de ser idiota e ficar com a pessoa que ama. Eu passei por isso. Melhor, ainda estou passando. E todos nós estamos propícios a tomar péssimas decisões. Mas eu acho que eles precisam é de um tempo. Victoria precisa... sei lá o que meninas fazem depois de um término. Mas Reijii precisa se entender como o errado da situação e pensar em formas de provar que ele quer mudar pela Vic. Porque só falar não adianta.

—Parabéns pela análise, acho que você me convenceu- Dei um beijo na bochecha dele- Noivo.

Ele sorriu, e me aconcheguei pra mais perto dele.

Passei a observar Ayato, tenso e em pé ao nosso lado, Ele observava (claramente) Sofie, que mexia nos cabelos e sorria ao conversar com Sarah, Kanato e Marie e Laito.

—Vai falar com ela.- Eu falei meio alto, mas só ele ouviu:
—Hein?

—Ela disse pra você ir falar com ela.- Shu repetiu- Sofie.

—Quem disse que eu quero falar com ela?

—Seus dois olhos verdes que não param de olhar pra lá. E duvido que esteja olhando com essa paixão toda pra Sarah.- Opinei.

—Ou pro Kanato.- Shu completou, e eu ri.

—...Melhor não.- Ayato comentou.- Eu fui babaca com ela. E ela provavelmente tá com raiva de mim até agora.

—Você já viu a Sofie com raiva?- Shu comentou- Não é assim.

—Eu acho que ela tá afim de você.- Opinei.- Mas pega leve, também. Você é muito intenso, então não força ela a nada. Pergunta o Subaru, eu tenho punho bem forte.

—E o Robert?-Ayato perguntou.

—A gente já não tem um mega-tratado pra matar o Robert quando a gente ver ele de novo?- Shu opinou- Vai.

Ayato respirou fundo, tentando não parecer com medo. Depois, fez a maior pose de confiança e marchou até Sofie. Ele começou a se infiltrar no assunto, até todos chegarem pra lá pra darem espaço pra ele no sofá.

Ayato acabou sentado num braço do sofá, e Sofie bem ao lado dele. Enquanto eles conversavam com os dois outros casais, Ayato acabou (de forma nada sutil mas até que fofa) pegando a mão de Sofie e entrelaçando seus dedos.

Ela não fez nada pra afastar ele de si.

—Acho que vou virar cupida junto com a Anna e o Azusa.- Comentei.

—E tudo volta ao normal.- Shu me deu um selinho de novo.

Ele estava certo.

Estava tudo voltando ao normal.

Quase.