- Hm... Eu diria não. – Falei, olhando diretamente para Justin, que mantinha um sorriso desafiador no rosto enquanto os garotos à nossa volta explodiram em risadas escandalosas. Gabe era o que estava surtando mais e eu não consegui conter uma risada.

- Eu acho que alguém está perdendo a moral, hein J-ev. – Seth gritou, entre risadas. Eu havia aprendido recentemente que J-ev era um apelido meio estranho que os meninos tinham para o Justin, por causa do sobrenome, Evans.

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- Ela quem está perdendo esse corpinho maravilhoso. – Justin respondeu, apontando para seu tronco, coberto por sua blusa preta de gola V debaixo de seu casaco do time de basquete da Roosevelt.

- Não seja tão convencido, Justin, por favor. Eu tenho vergonha alheia. – Dramatizei, apenas para irritar o garoto. Gabe riu ainda mais e passou o braço por meu ombro, puxando-me para dar um beijo em minha bochecha.

- Essa é das minhas! – Gritou ele, rindo.

Ok, vamos situar as coisas: faz exatamente dois dias e quarenta e sete minutos que eu fui declarada princesa para o mundo – que no caso se resume à Roosevelt. O que aconteceu nesse meio tempo? Bom, não muita coisa. Jolie e eu continuamos brigadas, Justin continua me dando força e agora eu ando com Seth, Luke, Gabe e Justin. Apenas para que eu não fique sozinha, disse Justin, para que meu ego não inflasse muito com esse gesto de carinho. Ele é um idiota, que fique claro.

Mas um idiota incrível ao mesmo tempo. Ninguém havia ficado do meu lado como ele ficou depois do que houve. Não que eu esperasse que o mundo se curvasse para me atender, mas foi um sentimento incrível de não-estou-sozinha.

Eu não diria que estava tudo bem nem muito menos diria que estava indo tudo bem; as pessoas ainda me olhavam daquele jeito estranho que me incomodava, sempre observando, sempre julgando ou especulando. Era simplesmente horrível, mas eu conseguia viver um dia de cada vez.

Jolie estava ficando em casa mais vezes, porém isso não me deu nenhuma chance de tentar conversar com ela. Minha mente dá voltas e mais voltas, eu não consigo falar com ela sobre o que houve. Sempre tem um dever de casa, sempre tem um trabalho, sempre tem uma ida ao shopping ou até mesmo ter que levar os gêmeos para passear.

- Você não ficaria mesmo com o Justin? E comigo? – Luke insistiu, parecendo não acreditar no que eu havia dito. Esse tipo de pergunta me fez corar muito principalmente quando eles me explicaram o que significava o termo “ficar”.

- Não enche a menina, Luke. – Seth revirou os olhos.

- Você só diz isso porque já ficou com ela! – Luke respondeu.

- Eu estava bêbado, ok? E a Karen já disse que me perdoou! – Seth se defendeu, ficando exaltado.

- Vocês podem parar de falar como se eu não estivesse aqui? – Pedi, escondendo o rosto nas mãos.

- Ok, ok. – Gabe bateu palmas. – Já deu.

- É, já deu. Eu só quero terminar meu pudim em paz. – Falei, enfiando uma colher na boca.

Os meninos fizeram caretas afetadas para mim, brincando com a minha cara por eu ter feito manha, mas eu não liguei. Estava aprendendo a conviver com eles e a regra número um é: não dê bola para tudo que eles fazem. Ou dizem.

Eu podia me acostumar com essa vida, de verdade. Podia me acostumar a ter que aguentar todas as brincadeiras das pessoas sem que elas tenham medo de me chatearem, podia aguentar todos os olhares, todas as dificuldades daquela vida nova. Eu podia. Não foi isso que eu estive pedindo por todo o tempo?

Eu estava no último pedaço do pudim quando Luke comentou sobre uma garota do primeiro ano e então eu decidi que estava na hora de sair, ir ao meu armário e pegar meu livro de álgebra ou eu esqueceria e conseguiria uma bronca por isso. Levantei-me sem cerimônias, por mais que eu estivesse morrendo para dizer “com licença”, mas não vi a necessidade de ser tão formal com esses três Neandertais.

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O corredor estava parcialmente vazio; alguns alunos perambulavam, conversando e enfiados em seus armários. Tirei meus fones da mochila e conectei ao meu celular, colocando a primeira música que vi para tocar.

- Hey. – Uma mão segurou meu ombro, fazendo-me reduzir minha velocidade. Olhei por cima do ombro e encontrei um Justin e seu sorrisinho de canto.

- Oi. – Abri um sorriso pequeno e parei no meu armário. – O que foi?

- Nada, só quis te acompanhar, ter certeza de que ninguém vai te incomodar...

- Desse jeito vamos ter que discutir os termos do seu contrato. Devo pagar salário ao meu novo guarda-costas? – Brinquei, fazendo-o soltar uma risada fraca. – Mas sério, não precisa me escoltar aonde eu for. Eu estou bem, juro.

Justin me fitou seriamente, sem vacilar um segundo e deu um passo adiante, diminuindo o espaço entre nós. Tentei recuar meu passo, mas a parede de armários surgiu atrás de mim, me impedindo. Ele avançou de novo, seus olhos sem deixarem meu rosto.

- Mas eu quero. – Ele sussurrou, sua voz saindo mais grossa que o normal.

- Então apenas mantenha distância. – Pedi, entrando na brincadeira (por mais que ele não estivesse parecendo brincar). Encostei a ponta do indicador no peito dele e o empurrei. – Guarda-costas.

- Se for me chamar disso, vou reivindicar meus direitos trabalhistas. Salário e férias.

- Estou te dando férias, já pode sair do meu pé. – Sorri, vitoriosa. Ele franziu o cenho e eu me virei para meu armário, lembrando-me de pegar o livro de álgebra.

Ele abriu a boca para falar, mas uma voz feminina vinda do fim do corredor o interrompeu. Ambos viramos na mesma hora para ver quem era e tive que reprimir um suspiro de frustração quando vi que era Jennifer. Sei que meus motivos para não gostar dela eram muito superficiais, e a maioria deles nem diziam respeito a mim, e sim a Jolie, mas eu não conseguia sentir afeto por ela.

- Hey, Jenny. – Justin abriu um sorrisinho enquanto ela se aproximava de nós. Não perdi tempo e me voltei para meu armário, me mantendo ali, procurando alguma coisa que eu pudesse fazer. Ouvi o salto do sapato dela bem próximo e o som de beijo. Tentei ignorar aquilo, mas não pude.

- Onde você esteve o dia todo? – Ela perguntou e pude sentir o olhar queimando minhas costas.

- Hm, ocupado. – Justin respondeu suscintamente. – O que foi?

- Nada. Só estava com saudade. – Fez manha e mais uma vez o barulho molhado de beijo. Acho que vou vomitar. – Hm, a propósito: o Sr. Bervig quer ver você. E você.

Não entendi de início quando ela repetiu a palavra, mas depois me toquei que ela estava falando comigo. Virei-me devagar para olhar para ela, mas acabei vendo mais um beijo daqueles dois e senti meu estômago embrulhar de novo. Assenti para mim mesma, fechei a porta do armário e saí andando. Onde será que fica a sala do diretor? Era o diretor, não era? Sr. Bervig.

Entrei na secretaria, ali deveria ter pelo menos alguém que pudesse me ajudar a sala.

- Karen! – Ouvi Justin atrás de mim, parecendo correr. Parei de andar e esperei ele me alcançar. – Não é essa porta.

Assenti, sendo puxada por ele para a porta ao lado, onde estava escrito “Principal” e talvez por isso eu não tenha identificado. Senti-me um pouco frustrada por minha limitação linguística.

Entramos juntos na sala, que era pequena, mas aconchegante. A mesa de mogno estava contra a luz que vinha da janela com vista panorâmica do campus da escola, a bandeira do país estava ao lado da cadeira acolchoada que estava ao lado da grande estante abarrotada de livros.

- Alteza. – A voz do diretor veio do lado da porta, fazendo-me tomar um susto. Justin me segurou pela base da minha cintura, como que me impedindo de cair. Olhei para o homem que tinha as mãos nos bolsos da calça social e a blusa de botões branca estava firmemente presa pela gravata borboleta.

- E-eu. – Senti minha garganta ficar seca.

- Evans. – O diretor continuou, olhando Justin com cara de poucos amigos. E ele, por sua vez, assentiu, parecendo se divertir com a irritação do homem. – Que bom que vieram tão rápido, achei que teria que esperar mais. Srta. Alexandrine, gostaria de alguma coisa, um chá, um café...?

- Eu estou bem, acabei de almoçar. – Falei, sorrindo polidamente. Senti toda minha aura voltar a me cobrir, toda a coisa de princesa de novo em meus ombros. E, para meu estranhamento, eu gostei de me sentir naquele lugar de novo. Era como me sentir em casa, de certa forma.

Eu podia ser mais confusa?

- Ótimo. – Disse o Sr. Bervig. Ele tirou o telefone do gancho e ligou para a extensão da secretária, pedindo para ela entrar na sala e um tal de Bruce entrar também. – Sente-se, Justin. Srta. Alexandrine queira esperar a sua vez com a secretária, sim?

- Por que ela recebe tratamento VIP e eu não? – Justin brincou, sorrindo um pouco, mas o diretor não sorriu.

- Sentado, Evans. Agora. E não quero ouvir nada vindo de você. – Disse ele.

Pude deduzir que o diretor não gostava nem um pouco do Justin.

A secretária entrou na sala e me tirou dali, enquanto o homem Bruce entrava na sala. Ele era alto e robusto, quase intimidador, carregava uma carteira com um distintivo cravado.

Distintivo?

- Então, aqui estamos nós de novo... – O homem começou a dizer, enquanto fechava a porta e então eu não pude mais ouvir o que ele dizia. Mas o termo ‘de novo’ ficou martelando na minha cabeça. Ele estava ali por causa de Justin? E... O distintivo?!

- Então, vossa Alteza...

- Karen. Apenas Karen. – Pedi, sorrindo um pouco. – Sra...?

- Agnes.

- Agnes. – Repeti. – O que está acontecendo? Por que Justin foi chamado? Por que eu fui chamada?

- Não se preocupe, querida. É tudo para a sua segurança. – Ela me garantiu e eu fiquei ainda mais confusa.

Ela me fez sentar em um sofá no canto da secretaria e esperar para a minha vez com o Inspetor Bruce. Sim, eu descobri que o cara era da polícia. O distintivo era exatamente o que eu estava imaginando, mas não sabia para que fim ele estava aqui. Aproveitei o tempo para adiantar alguns deveres de casa que estavam faltando.

- Que fique claro, Justin. – A porta foi aberta e o Inspetor saiu pela porta, mantendo-a aberta enquanto Justin saía por ela, meio cabisbaixo, sem desviar os olhos da porta.

Guardei meus materiais, colocando-me de pé num pulo. Queria ir até Justin e perguntar porque ele estava daquele jeito, mas no mesmo instante Agnes se colocou ao meu lado e me guiou gentilmente para a porta da sala do diretor.

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- Vossa Alteza. – O Inspetor me cumprimentou antes de me deixar entrar na sala e fechar a porta atrás de nós. O diretor me sorriu gentilmente e apontou a cadeira vaga, ao lado do Inspetor.

- Só Karen. – Pedi, novamente.

- Bom, Karen. – Ele corrigiu. – Estamos aqui por causa da recente... Bom... Nós realmente não esperávamos que alguém da realeza viesse para a nossa escola sem aviso prévio e... Bom. Lamentamos muito termos descoberto dessa maneira, Srta. Alexandrine.

- O que o seu diretor quer dizer, Alteza, é que temos que ser cautelosos agora que você está exposta. E eu preciso saber: quem, da Dinamarca, sabe que você está aqui?

- Todo mundo sabe. – Falei.

- Todo...? – Ele pareceu não acreditar em mim.

- É. Eu estou aqui... Como férias. – Sorri um pouco.

- E todo mundo sabe que todo mundo sabe que você é princesa? – Ele voltou a questionar. A pergunta soou estranha, mas eu entendi.

- Não.

- Ótimo. Mais cautela. Alteza, você entende que pode estar em risco, não sabe?

- Sei, mas... Se houver movimentação da polícia aqui, eu vou estar ainda mais exposta, certo?

- Er... Certo. – Ele concordou, relutante. – Não vamos fazer alarde, mas manteremos um olho em você e um olho no rapazinho que acabou de sair daqui.

- Justin?

- Ele não é a melhor companhia para você.

- Por que não?

- Justin Evans não tem o melhor histórico com a polícia, Alteza. – Ele não parecia se incomodar com meus pedidos de informalidade. – Enfim. Não quero me prolongar. Apenas vim deixar o recado de que tem gente de olho. É um aviso.

- Vou me manter fora da zona de perigo. – Garanti, cruzando as mãos no colo.

- Assim espero. Obrigado por seu tempo, Alteza. – Disse ele, levantando-se em sua postura rígida e me estendeu a mão para me colocar de pé. Não hesitei em aceitar sua ajuda.

- Obrigada por se importar. – Sorri.

Saí da sala sentindo-me quase uma prisioneira de guerra que sai da sala de tortura porque a Guerra acabou e seu inimigo fora derrotado. Quase.

Não encontrei Justin quando saí, e também não esperava encontrar. Mas ele me devia muitas explicações e eu não queria nem saber se não queria compartilhar comigo. Antes de mais nada, agora eu tinha a solene desculpa “é para minha segurança”. E se ele queria ficar perto de mim, teria de me contar tudo.

Mas...

E se ele realmente não quisesse ficar perto de mim? E se eu não valesse a pena desse tanto?

Soltei um suspiro e me dirigi à minha aula de Álgebra. Mas só depois que parei na porta da sala e a achei fechada, notei que estava atrasada e não tinha uma autorização para entrar. Ótimo. Maravilhoso. Caminhei então em direção à biblioteca para esperar o próximo sinal e então eu teria minha aula de Biologia.

- Ei, K. – Ouvi alguém me chamando.

Adivinha.

- Justin? – Girei nos calcanhares e o vi perto da porta de saída da escola.

- Não. A Monalisa. – Revirou os olhos.

- Ah, foi mal, Monalisa. Achei que era o Justin. Não te conheço, não vou falar com você. – Imitei o tom sarcástico dele. Justin bufou e me chamou de novo. Andei a passos largos até ele. – Você vai me contar o que está acontecendo? Vai me dizer por que aquele homem queria falar comigo? – Intimei o garoto, que ficou em silêncio, olhando algum ponto atrás de mim. – Foi o que eu pensei. Até mais, Ju...

- Não vou te contar nada. – Revirou os olhos. – Eu só queria te pedir uma coisa. Um favor.

- Você não está em condição de me pedir nada.

- Karen. – Ele fechou os olhos e pressionou o ponto interno com a ponta do indicador e do polegar, parecendo cansado e estressado. – Fica longe de mim.