Os corredores estavam vazios. Minha visão chegava a doer, era tudo muito branco. Os armários, que ficavam logo após um pequeno hall de entrada, se estendiam em fileiras aparentemente intermináveis, mas era só o efeito que a luz causava. Algumas bandeiras com Roosevelt escrito em letras garrafais e chamativas, da cor vermelha, quase vinho, adornavam os espaços entre as grandes janelas dos corredores, assim como os quadros informativos e coisas do gênero.

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– A secretaria é por aqui. – Jolie me puxou pela mão, para a esquerda.

Acompanhei-a até a pequena sala cheia de armários para arquivos cinza e uma senhora de óculos retrô lendo uma revista qualquer.

– Vou procurar... – Jolie começou e eu estanquei.

– Não! Fica aqui e me ajuda! – Pedi. Ela me olhou, divertida.

– Sua chance de conversar com alguém que não é da família. Eu te vejo no refeitório, consegue achar? O prédio grande e feio, lá do outro lado do campus? – Ela quase ria. Neguei com a cabeça. – Vai!

– Não, Jo, por favor! – Quase implorei.

– Boa tarde! – Jolie gritou para a moça e saiu rapidamente da sala, me deixando completamente sozinha com a mulher que agora me dava atenção. Sorri fraco.

– Ér... Eu sou nova aqui e...

– Ah, sim! A novata. – Ela disse, sem muita animação na voz. Ok, obrigada pelas boas vindas!, pensei. – Aqui está. – Pegou algo embaixo da mesa. – Sua combinação do armário, seus livros e seu horário. – Jogou tudo aquilo em cima de mim.

– Obrigada. – Falei, esperando algum pingo de educação dela em troca.

– Tá, tá. – Resmungou e voltou a ler sua revista.

Dei meia volta e saí dali, tentando refazer o caminho que Jo havia me mostrado antes. Até consegui chegar ao mesmo corredor que antes, cheios de armários. Empilhei meus livros, apoiando-os em meu tórax e coloquei as folhas avulsas em cima de tudo e rumei atrás do meu armário.

– 378... Não... 379 também não... Ah! 380! – Sorri ao achar o meu armário, depois de andar uma distância considerável. Passei algumas salas, história, matemática e inglês, pelo que me lembrava de ter lido no vidro das portas.

Fiquei feliz pela altura do armário ser perfeita para a minha. Não precisava me esticar muito e nem me abaixar muito. Eravidunderlig(maravilhoso em dinamarquês)! Coloquei a combinação que a moça havia me dado e abri meu armário. Era bem bonitinho até, numa escala de cinza quase branco. Comecei a guardar meus livros ali, de acordo com meu horário, para não me enrolar no meu dia. Eu era a única pessoa naquele corredor... Ou quase.

– All those fairy tales are full of shit, one more fucking love song: I'll be sick... – Um garoto vinha cantando pelo corredor. Ele segurava sua mochila por uma alça só e tinha a outra mão dentro do bolso, os fones de ouvido entravam por dentro de sua blusa branca meio justa, que mostrava seus músculos definidos. O cabelo claro estava meio bagunçado e havia um sorrisinho em seus lábios enquanto ele pronunciava as palavras com uma voz extremamente doce.

Foi só uma olhada rápida, mas deu para notar muita coisa. Ele era bonito e tinha estilo. Além de bom gosto musical, já que ouvia Maroon 5. Voltei minha atenção ao meu armário. Era o penúltimo livro que eu iria guardar. Matemática, dava vontade de jogá-lo no chão.

Mas aí, a matemática resolveu me ouvir, e se jogou no chão, levando a química consigo. Bufei de frustração e enfiei a cabeça no armário, frustrada – e envergonhada. O menino estava passando logo atrás de mim nesse exato momento. Arrisquei olhar para trás e vi que ele olhava para mim. Voltei a olhar o armário.

– É pedir muito por um pouco de cavalheirismo? – Resmunguei e me preparei para pegar os livros, mas só tive tempo de ver uma mochila jogada no chão e um par de mãos pegando meus livros. Meu Deus, que vergonha, será que ele escutou?

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– Desculpe, você disse alguma coisa? – Ele se levantou rapidamente e me entregou meus livros, tirando os fones de ouvido logo em seguida. Reprimi um suspiro de alívio.

– Ahn, não. – Coloquei os livros no armário, ignorando minha organização. Peguei o celular, o iPod, minha carteira e depois fechei o armário.

– Jurei que você tinha dito algo. – Ele estava pegando sua mochila quando eu me virei.

– Eu não disse nada. – Voltei a afirmar aquilo. – Ah, obrigada por pegar os livros. Você é a primeira pessoa que foi gentil comigo nessa escola. – Confessei, me sentindo mal por isso.

– Que isso. – Ele assentiu e saiu dali, com toda a sua beleza.

Virei-me para meu armário e fechei os olhos, me sentindo muito idiota. Meu Deus, os olhos dele... Eram simplesmente lindos!

Girei nos calcanhares e me decidi a procurar pelo refeitório. Meu primeiro dia na escola estava só começando.

Entrei no grande prédio que tinha cheiro de comida: só podia ser ali o refeitório. A barulheira aumentou assim que eu abri a porta amarela. Muita gente me olhou quando entrei. Acho que todos ali sabiam quando havia uma novata por aqui.

– Ah, que bom que te achei! – Jolie veio em minha direção, com um sorriso enorme no rosto. – E aí, como foi? Ela te mordeu?

– Não, Jo. – Revirei os olhos. – Mas no corredor...

– Hey, novata! – Um garoto moreno de óculos escuros Ray-Ban parou à minha frente e ao lado de Jolie. Ele sorria muito e estendeu sua mão para mim. – Sou Gabriel, mas todos me chamam de Gabe. E você é...?

– Karen. – Sorri, estendendo minha mão também. Ele a pegou e deu-lhe um beijinho. Bons modos, oh Deus!

– Senta com a gente, pri... – Jolie começou a falar, mas eu a olhei feio. – Prima!

– Vocês são primas? Sério? – Gabe olhava de mim a ela, surpreso.

– Primas distantes. – Expliquei.

– Muito, muito distantes. – Jolie comentou, meio triste.

– Você é de onde? – Ele quis saber. Sentei na cadeira ao lado de Jolie.

– Hm... Europa. – Desconversei, pegando meu celular e o desbloqueando.

– Legal. Qual país?

– Ah... – Lancei um rápido olhar para Jolie. – Dinamarca.

– Jura? Cara, que longe! Fica no norte da Europa, né? – Ele sorriu, completamente interessado.

– É logo acima da Alemanha. – Exemplifiquei.

– Que demais! Deve ser muito legal morar lá, ter sotaque e essas coisas. – Disse ele, pensativo.

– Eu não vejo nada demais. – Dei de ombros e pude ver que Jolie revirava os olhos, como se não concordasse com nada do que eu dizia. É, ela não concordava mesmo.

– Porque você nasceu lá. – Gabe riu pelo nariz. – Vou pegar meu almoço, vão querer algo?

– Nós já almoçamos. – Jolie disse, sorrindo para ele.

Gabe assentiu e saiu da mesa, indo em direção ao balcão mais afastado dali.

– Ele é legal. – Falei, sorrindo. Jolie concordou.

– Por que não quer que ninguém saiba? Seria completamente demais!

– Porque não quero ser tratada de jeito diferente. Eu vim para cá para ser uma pessoa normal pelo menos uma vez na minha vida. Se todo mundo souber que sou... Da família que sou, vai ser o mesmo drama de sempre. – Expliquei, desenhando círculos invisíveis na mesa.

– Boa tarde, Jo. – Uma garota ruiva tingida parou na nossa mesa, com outras duas em seu encalço. Elas vestiam um uniforme da mesma cor que aquelas bandeiras nos corredores da escola: um top e uma saia de pregas, com tênis Adidas branco. – Aqui está o mapa da escola, como você pediu. – Ela deixou uma folha amarela em cima da mesa e sorriu. – Seja bem vinda à Roosevelt. Sou Jenny.

Agradeci e disse meu nome também. Logo depois elas saíram dali e foram se sentar em outra mesa.

– Elas são líderes de torcida. – Jolie explicou. Bem, aquilo eu havia entendido. – A Jenny é diferente dos estereótipos que os filmes fazem. Olhe, elas que mantém o blog da escola e fizeram um mapa para alunos novatos. Eu pedi uma cópia para você.

– Obrigada, Jo! – Sorri abertamente e peguei a folha para analisar.

– Vamos aos fatos. – Ela tirou a folha de minhas mãos. – Aqui temos panelinhas. Temos os nerds: eles são legais, mas você precisa saber falar a língua deles. As líderes de torcida: são garotas legais. Os caras que têm banda: eu sei que isso dá um charme a mais, mas só fique com eles se quiser uma DST. Os góticos e demais variações do rock: nunca falei com eles, mas tenho medo. Temos os alunos do grêmio estudantil: as pessoas mais corretas e formidáveis dessa escola, vão para Harvard, tenho certeza. Os caras do time de futebol: os maiores imbecis que você vai conhecer. Temos as patricinhas: não chegue perto delas, elas cospem veneno. E tem os garotos do time de basquete: eles são legais, mas andam com as patricinhas, então esquece. E tem o resto: Pessoas normais, que fazem coisas normais e vivem suas vidas normais. Eu e Gabe fazemos parte desse grupo.

– Uau. – Disse, depois que ela me apresentou a diversidade da escola. – E onde eu me encaixo?

– Ainda não sei bem qual grupo aceita princesas, mas por ora você fica com a gente. Normal. – Ela riu pelo nariz. Sorri, agradecida por ficar no grupo que mais me parecia aceitável, o grupo que eu queria fazer parte por ser simplesmente normal.

Algumas risadas estrondosas me chamaram a atenção, perto de onde eu vira Gabe pela última vez. Alguns rapazes riam e olhavam um garoto fazer malabarismo com quatro maçãs. No meio deles, reconheci dois garotos: aquele que me ajudara mais cedo e Gabe, ambos riam e brincavam entre si.

– Aquele é o Justin. – Jolie suspirou. Voltei a olhar para ela.

– Qual deles?

– O que está falando com o Gabe. – Ela deu um meio sorriso. – Justin Evans e sua trupe. O loiro é o Ryan, o moreninho fofo é o Chaz.

– Eles são...

– Bonitos? Lindos? Deuses? É, eu fiquei sabendo disso. – Riu, sem humor.

– Eu ia dizer divertidos, mas são bonitos também.

– ‘Divertidos’, Karen? – Ela me olhou, incrédula. – Você é assim mesmo? Certinha?

– Como assim, certinha?

– Você é a primeira garota que vê aqueles três e não chama nenhum deles de gostoso ou pedaço de mal caminho, ou simplesmente se joga aos pés deles. – Revirou os olhos.

– Desculpe, não acho adequado reparar desse jeito nos meninos. – Apenas me desculpei. Mas depois abri um sorriso travesso. – Você é desse tipo de garota, Jo?

– Já fui. Mas não vale a pena competir com todas as garotas siliconadas e perfeitas dessa escola. – Disse, tristonha.

– Você é linda, Jo. – Falei, sincera. – Não sei por que um garoto não repararia em você. – Sorri.

– Fala isso para eles. – Bufou.

– Ok. – Arrastei a cadeira para trás e me preparei para levantar, mas ela me impediu.

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– Ficou doida? Você não chega num garoto e fala: olha, aquela menina quer sair com você!

– E por que não? Como vai chamar a atenção dele sentada aí? – Sorri, sem entender nada.

– Eu não... Quer saber? Você tem razão! Eu sou perfeitamente perfeita para qualquer um deles. E vou lá tentar a minha sorte. – Ela se animou, estufando o peito.

– Isso mesmo! Vai lá! – Encorajei-a.

Jolie levantou da cadeira e respirou fundo. Girou nos calcanhares e ficou parada.

– Jo, vai! – Disse, mas ela não se mexeu.

– Esquece. – Ela virou para a mesa, pegando sua bolsa. – Não vale mesmo à pena. – E saiu dali. Ah, não me deixa sozinha!