Nathan POV

Já se passaram 14 dias desde que a Alma me fez aquele telefonema que me deixou carregado de preocupação e completamente enervado por não poder ajudá-la.

Passei pela casa dela no dia seguinte mas ninguém lá estava, apenas um carro estacionado, que assumi que fosse o dela. Nesses 13 dias que se seguiram eu tive pesadelos as noites todas, bem, pelo menos naqueles em que eu conseguia dormir. Não conseguia prestar atenção às aulas e as minhas notas baixaram, não que isso fosse um problema. Sempre fui um bom aluno não era por causa de um deslize que eu iria me meter em sarilhos.

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– Pareces um zombie, meu.

Era o que o meu irmão me dizia toda a santa manhã. E os rapazes com quem eu jogo futebol também me dizem isso de vez em quando.

Raios! Já se passaram duas semanas, DUAS! e eu ainda não tive noticias dela. Não queria pensar muito na alternativa da ausência de informação, mas era difícil não deixar de pensar na possibilidade de ela estar morta.

Até tentei falar com a amiga que ela foi salvar – a Isabella – mas a rapariga não sabia da Alma, e, aparentemente, do que lhe tinha acontecido.

– É um bocado estranho, sabes. – disse-me ela – A Alma finalmente arranjar namorado e evaporar-se no ar! Ela não costuma faltar à escola assim desta maneira.

– Desculpa, namorado? Quem? – perguntei confuso.

Ela apenas ergueu uma sobrancelha e depois foi-se embora a rir.

Tentei telefonar à Alma mas ia sempre parar ao voice mail. Ás vezes atrevia-me a deixar mensagem de voz, mas era raro.

Só queria que ela estivesse bem. Só isso, será pedir muito?

* * * * *

Já passaram 16 dias e eu estava a stressar. Foi por uma unha negra que eu não fiz algo que me iria arrepender mais tarde.

Passei pela escola dela à tarde, como sempre faço, na esperança de a ver siar com os seus amigos. Mas não.

Suspirei.

– Ah! o doce som de uma alma desesperada. – disse uma mulher estupidamente bela. O meu queixo caiu.

– Meu querido, estás-me a dar dor de cabeça com tanta preocupação. Relaxa. – continuou.

– Desculpe a indelicadeza, mas a senhora é…? – perguntei.

– Afrodite, enchanté. – respondeu estendendo a mão.

Eu apertei. Só passados alguns segundos é que eu fiz a ligação que estava mesmo à frente do meu nariz.

– Espere um segundo. – afirmei levantando um dedo no ar – A Afrodite?

Oui. – respondeu orgulhosa.

– Mas como…

– Não interessa, querido. O que importa é o que tem andado a remexer na sua cabeça… e no seu coração. – disse com um sorriso malicioso nos lábios – E acredite que eu sei do que estou a falar, é a minha área. Ora, embora eu seja visivelmente demasiado nova para ser avó, eu quero que saibas que a minha neta escapou da morte iminente por um triz.

Aquilo deixou-me arrasado e delirante ao mesmo tempo.

Escapou da morte por um triz? Ela estará bem? Onde é que a Alma está? Estará acordada?

– Obrigado. – respondi sem saber bem o que dizer mais.

– Vou ver como ela está ainda hoje, meu querido, descansa. E claro que farei com que a Alma comunique contigo, com ou sem livre arbítrio. – terminou num tom de voz malévolo.

Voltei a olhar para os portões da escola. Em breve ela estaria de volta. Pelo menos é o que eu espero.

* * * * *

Estava no meu quarto a andar de um lado para o outro sem saber bem o que fazer. Tinha feito todos os deveres de casa e trabalhos para apresentar, só para aliviar a cabeça. Revisei a minha apresentação de inglês umas duas vezes, só para ter a certeza que não tinha feito asneira. Até tentei jogar um pouco com o meu irmão – o Damien – mas sem sucesso.

O Damien gosta muito de desporto. Ficou radiante quando lhe contei que ia entrar na equipa de futebol. Ele trabalha num laboratório de Bioquímica, é um nadador e ainda tem tempo para ser nadador-salvador no verão e fazer-me companhia. Isto tudo tem de vir com algum bónus, claro. Ela anda sempre com raparigas atrás, uma paixoneta a cada cinco ou seis meses.

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Certa vez, eu estava a assistir a uma das suas competições de natação e a namorada dele (naquela altura) também estava lá com a irmã. A mais velha era morena, alta, magra, com olhos castanho-escuros e um pouco tímida (do género do meu irmão, não sei porquê); enquanto a mais nova era loira com madeixas azuis, olhos cor de mel, baixa, magra também e tinha uma forte personalidade.

Engracei bastante com ela, o que eu mais gostava era que ela tinha sentido de humor mas também era incrivelmente honesta e direta. Mesmo assim só durou um mês e tal. Nada de mais. Passado algum tempo o Damien e a irmã dela acabaram. Nunca mais as vi, acho eu.

Uma vez um amigo meu contou-me que tinha ouvido algumas raparigas lá da escola a comentar que os irmão Black eram o mais próximo que elas tinham dos Beckham. Eu ri a bandeiras despregadas quando ouvi aquilo, as coisas que as raparigas às vezes dizem…

Os nossos pais no verão costumam viajar para cá, outras vezes somos nós que vamos para a Inglaterra. E também vamos no Natal – quando o Damien não tem nenhum assunto pendente (geralmente raparigas) e eu não estou muto atarefado com a escola. Porque quando isso acontece, os nossos pais – Evelyn e Philip Black – vêm mais os meus tios – Lucy e Jules Black – e primos – Amanda, Clare e Jonathan.

Enquanto estava embrulhado nos meus devaneios mal ouvi o telemóvel a tocar. Atendi mesmo no fim do último toque.

– Sim?

Ei, isto é meio que uma chamada desculpa-por-não-ter-dito-que-estava-viva. – respondeu ela meio a rir.

– Mais vale tarde do que nunca.

Mesmo assim eu peço mil desculpas! Nem imagino o quão stressante deve ter sido. Desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa…

– Pára! A sério, fico feliz por teres ligado.

Ela respirou fundo.

Têm sido uns dias bem malucos por aqui.

– Aqui acho que foi mais ou menos isso.

Ela gemeu. – Não dá para fazeres isso de modo a não aleijar tanto?! Di immortales!

Certo, bem, eu estou a trocar as ligaduras por isso és capaz de ouvir umas quantas obscenidades vindas deste lado. – disse ela a rir. – AU!

– Não tens, tipo, comprimidos ou assim.

Não fazem efeito. – suspirou.

– Okay.

Ouve… em relação à outra noite eu…

– Está tudo bem, a sério.

Não! Não, deuses, não está nada bem! Eu sou muito impulsiva e faço as coisas sem pensar nas consequências que os meus atos podem ter depois…– eu ouvi um rapaz a dizer “ Até que enfim que admites”, ao que ela respondeu:”Está calado Calvin, olha que eu te corto a língua e dou-a de comer à Sra. O’Leary” – Bem, só queria dizer que o que aconteceu foi um erro e eu peço desculpas pelo meu comportamento.

Okay, esta doeu. O meu ego está a chorar de dor.

– Ao menos estás viva.

Nem me digas nada. Pior dia da minha vida, ou melhor, dias.

– Dias? – perguntei confuso.

Sim, eu… hum… estive muito, muito perto de ficar… mesmo morta.

– Morta não é o suficiente? Tem de ser mesmo morta?

Eu tive uma paragem cardíaca, dois dias depois é que voltei a mim mesma. Fora a perda de sangue, o veneno, o trauma e isso tudo… Sim, morta não é suficiente. – respondeu ela com uma voz embargada e rígida ao mesmo tempo.

Eu não sabia o que dizer. Devia confortá-la e dizer que tudo ia ficar bem? Ou que ela tinha de forte e ultrapassar isto? O coração dela parou de bater e dois dias mais tarde é que ela voltou? Isso não é possível. Quer dizer, o coração para de bater e depois morresse, só com um milagre (dos bem grandes) é que um coração pode retomar a bater após dois dias parado.

Mas ainda bem que ela voltou. A Alma é uma rapariga forte, das mais fortes que conheci. Não é qualquer um que vai para uma luta sem saber o que vai encontrar ou onde o encontrar. E ainda bem que o coração dela voltou a bater.

Foi um milagre dos grandes.

O meu milagre.

Nathan?

– Alma.

Pensei que tinhas desligado ou assim, paraste de responder.

– Estava a ingerir informação.

Ouvi-a a gritar o que eu pensei que fosse um palavrão num idioma esquisito.

CALVIN EU-NÃO-SEI-O-TEU-NOME-COMPLETO! ISSO ESTÁ A DOER MUITO!

CALA A BOCA E FICA QUIETA, ALMA GRACE! – gritou de volta um rapaz.

Desculpa lá a histeria. – disse depois de se recompor.

– Tudo bem.

Será que está sempre tudo bem contigo? É porque eu não percebo porque é que ages como se fosse uma chamada normal quando eu acabo de dizer-te que estive morta! Eu fui perseguida, tortura e perseguida outra vez! Para não falar do facto que fui empalada e se aquelas coisas soubessem um pingo de anatomia humana eu ficava mesmo morta! Mas contigo está sempre tudo bem, nada te atinge.

– O quê?! Também não é preciso ficares assim!

Assim como?

– Zangada. Que mais poderia ser? Estás a gritar comigo como se eu tivesse culpa do que te aconteceu!

Eu sinto que tu não te importas! E como assim agora estás a dizer que a culpa foi minha? Que eu deixei que me matassem?

– NÃO! Argh não é nada disso, Alma! E como assim não me importo? Eu andei estes dias todos completamente perdido! Eu não dormia, e quando conseguia sonhava com o teu cadáver numa sarjeta qualquer! Não me digas que eu não me importo, porque eu não tenho feito mais nada desde a noite em que nos conhecemos senão preocupar-me contigo!

Que resposta é que eu obtive? Nada. Silêncio absoluto.

Ouvi um fungar do outro lado da linha e senti-me péssimo. Eu acabei de gritar com a rapariga que eu só queria que ficasse bem e que superasse isto tudo, mas acabei por gritar com ela e deitá-la a baixo. Também ouvi uns murmúrios desesperados dela e da outra pessoa que estava com ela – o tal rapaz, o Calvin.

Ela não pode falar neste momento.

– Diz-lhe que eu peço desculpa a sério.

Ouve meu, e ouve bem. Eu penso que falo corretamente o que a Alma está a pensar, não podes simplesmente falar com ela assim e deitá-la a baixo desta maneira, especialmente agora que ela está muito frágil, e depois pedir desculpa. Meu, isso é a mesma coisa que partir um copo e pedir desculpa a seguir, não vai fazer nada.

Eu respirei fundo. Ele tem razão, eu sou idiota.

– Pede-lhe para me ligar. – pedi apertando a cana do nariz.

Não tenhas muitas esperanças. – e desligou-me na cara. Fiquei furioso.

Saí do quarto batendo com a porta.

– Que bicho te mordeu? – perguntou o Damien. Estava tão concentrado no trabalho que deu um salto quando bati com a porta.

– Nenhum mesmo. – respondi sentando-me ao seu lado na mesa da cozinha.

– Discussão com a namorada?

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– O quê? Não, não tenho namorada nenhuma. – disse eu de uma rajada só.

Ele voltou a olhar para o computador de novo soltando risadinhas abanando a cabeça.

– Conta-me histórias que eu gosto, Nate.

Eu revirei os olhos.

– O que é o jantar? – perguntei desejando mudar de assunto o mais depressa possível. Eu estava a sentir-me corar.

– Nem penses nisso! É a tua vez de fazer o jantar.

– Está bem. – disse num resmungo enquanto me levantava.

E lá fui eu fazer a porcaria do jantar. Irritado como tudo, mas fui.