As cartas de truco estavam espalhadas pela mesa, uma mão passa por elas as empurrando até bater em uma garrafa de cachaça que com a batida cai na mesa e derruba seu liquido sobre a mão, despertando Armin com o susto. Sem entender nada do que estava acontecendo, e com a dor latente da ressaca em sua cabeça, ele começou aos poucos voltar para a realidade.

Então lembrou do motivo de ter bebido e seu coração se espremeu de dor dentro do seu peito. Não havia conseguido dormir pensando em Alexy. Na tarde do dia anterior, na televisão virou notícia o jornalista e o Capitão do Exército que estavam sendo perseguidos. Agora que lembrou dos acontecimentos, Armin não iria conseguir se acalmar até ter alguma notícia de que seu irmão está bem.

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A porta da entrada bate e o coração do homem de olhos azuis dispara, sem pensar duas vezes ele vai correndo para a porta e a abre, dando de cara com um homem de cabelos castanhos e olhos azuis e o rapaz de olhos rosa que lhe tanto causou desespero na última noite. Os dois trocaram olhares e nem precisaram dizer nada antes de irem um em direção ao outro e se abraçarem com lágrimas no rosto.

- Eu pensei que tinha te perdido, seu desgraçado! - Gritou Armin já chorando.

- Eu que pensei que nunca mais ia te ver! - Respondeu o jornalista.

Kentin apenas observava a cena emocionado com o reencontro dos irmãos, era de fato algo muito lindo de se ver, mas seu semblante ficou sério novamente quando lembrou do motivo de estarem ali.

- Bem, talvez essa seja a última vez que vocês irão se ver.

Armin olhou espantado para o seu colega Capitão, mas logo fechou seu semblante também e adentrou a casa, pedindo que o acompanhassem até seu escritório. Chegando lá, sentaram nas poltronas e o dono da casa pediu que seu irmão contasse tudo que aconteceu no dia anterior. Alexy prontamente começou a falar e lembrou até dos mínimos detalhes que aconteceram, e se constrangeu um pouco quando lembrou no que aconteceu no final de tudo, mas preferiu guardar essa história para si mesmo.

- Entendi, então tirando um tiro na barriga e que agora vocês são fugitivos, está tudo bem. Mas então, o que iremos fazer agora? - Perguntou Armin.

- Eu e Alexy não temos alternativa se não fugir, nós estamos longe da fronteira, mas assim que sairmos dessa cidade, chegar até a Argentina ou Paraguai não deve ser difícil, nossos rostos ainda não vão ser conhecidos e então poderemos viver por lá.

- Saquei... Bom, nesse caso vamos nos organizar que eu irei com vocês - Armin foi se levantando mas Alexy puxou sua mão.

O homem ficou confuso, mas a confusão virou preocupação quando olhou os olhos de seu irmão, ele já imaginava o que ele iria dizer.

- Você tem que ficar aqui, eu nunca irei me perdoar se algo acontecer com a gente e você estiver junto e acabar morrendo por algo que é inteiramente culpa minha.

O Capitão sentiu uma dor enorme no seu coração ao ouvir isso, mas ao mesmo tempo percebeu a determinação e seriedade na voz de seu irmão, portanto com muito pesar decidiu respeitar sua decisão. Então saiu da sala para começar a preparar o que os dois iriam precisar para sua fuga.

- Vocês precisarão de outro carro, eles estarão procurando pelo carro do Kentin. Deixem ele comigo e levem o meu, e vocês devem partir imediatamente, aproveitem que eu moro perto da saída da cidade, é muito arriscado entrar mais adentro para se despedir de outras pessoas. - Armin falou sério, olhou para o irmão que tristemente concordou, sabendo que era a melhor coisa a se fazer - Não se preocupe, eu irei dar notícias de vocês para todos depois que tudo isso se resolver.

Com todos de acordo com a decisão, começaram e levar suprimentos e outras coisas para dentro do carro de Armin, Kentin pegou armamentos que trouxe do depósito e levou para o outro carro também. Eles fecharam o carro e os irmãos se olharam seriamente, e se abraçaram mais uma vez, por uma última vez. Os olhos de ambos molharam o ombro do outro, e a vontade de não se soltarem era imensamente maior do que a necessidade de se despedirem, mas era um mal necessário. Com lágrimas ainda escorrendo, o carro deu partida e o militar e o jornalista foram embora para nunca mais voltar.

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Já estavam a mais de duas horas na estrada. O silêncio era a única coisa que existia dentro daquele carro desde que partiram. Alexy se sentia desconfortável por não poder ter se despedido de todos, nunca mais iria ver os textos loucos de Peggy, Jade falando sobre suas plantas, e também não chegaria a ver Violette se recuperar do acontecido. No entanto ele tinha certeza que Armin iria contar para todos sobre sua fuga, e ele acredita que todos iriam compreender e desejariam que ele estivesse bem.

O que ele faria quando chegasse na Argentina? Talvez ele finalmente pudesse se tornar um verdadeiro jornalista, podendo mostrar ao mundo suas verdadeiras palavras, sem ocultar nada. No fim das contas talvez fosse ser uma nova vida boa, apenas ele e Kentin. O que será que Kentin poderia fazer? O rapaz achava que ele tinha cara de alguém que daria um bom padeiro. Seria apenas os dois... juntos.

- Está tudo bem? - Kentin quebrou o silêncio de mais horas.

- Bem, perfeito não está. Mas sei que independente do que acontecer, pelo menos eu fiz de tudo para ser eu mesmo.

- E independente do que acontecer, eu estarei com você.

Com um sorriso sincero, Kentin deixou Alexy emocionado e preenchido com uma alegria que ele não esperava que pudesse sentir algum dia. Agora que o silêncio havia sido quebrado, eles começaram a conversar sobre diversas coisas, imaginando o que eles fariam quando estivessem finalmente no seu destino.

Não demorou muito e logo mais a frente o militar avistou carros parados fechando a estrada. Problemas. Olhou para o jornalista com um olhar sério, e o outro logo entendeu o que estava acontecendo e se preparou para o que estava para começar. Kentin começou a raciocinar rápido, precisava dar um jeito. Eles estavam tão perto do seu objetivo. Se safaram uma vez, conseguiriam se safar de novo.

As laterais da estrada eram um campo aberto, e logo mais para dentro do campo começava uma plantação de trigo, iria usar isso ao seu favor. O carro foi se aproximando cada vez mais dos seus inimigos, e quando estavam perto de se cruzarem, Kentin violentamente virou a direção e entrou no campo, enquanto olhava seriamente Castiel que o encarava com o mesmo olhar.

Sons de tiros começaram a ser ouvidos. Alguns soldados atiravam em direção ao inimigo enquanto outros já estavam entrando nos carros para persegui-los. Alexy pegou uma arma e começou a se preparar, abriu o vidro do carro e pôs seu corpo para fora e começou a atirar algumas vezes e entrar para dentro do carro. Conseguia acertar o veículo mas não acertou em nenhum soldado, então resolveu ir para uma abordagem mais pesada.

Castiel estava furioso e não parava de xingar todos seus soldados, estava no último carro dos que estavam perseguindo Kentin e Alexy. Em meio a tantos xingamentos ficou quieto ao ouvir um grande estrondo. Olhou para fora e viu o jornalista com granadas na mão. Ficou perplexo e admirado com todo o armamento que seu inimigo detinha, mas não iria ficar assim. Pegou sua arma mais precisa, se posicionou na janela e começou a se concentrar na sua mira.

Alexy entre uma granada e outra conseguiu ver que Castiel estava preparando um ataque, mas não sentia que ele estava mirando nele ou em Kentin, o que achou estranho. O rapaz tinha conseguido destruir 2 carros já com seus explosivos, havia apenas mais dois, no entanto não achava que havia matado os soldados que estavam lá dentro. De repente se ouviu um barulho de estouro e quando Alexy percebeu o carro em que estavam parecia estar se arrastando. Logo entendeu que Castiel estava é mirando nos pneus do carro. Quando se deu por conta, os dois pneus traseiros estavam estourados.

- Não há mais como dirigir isso, mas estamos já na frente da plantação, podemos ir correndo e ficaremos mais escondidos lá - Ordenou Kentin.

Prontamente os dois pularem do carro e foram correndo para dentro da plantação de trigo. Kentin conseguiu observar o inimigo saindo de dentro dos carros e correndo em direção à eles também. Kentin começou a armar algumas armadilhas enquanto olhava para Alexy e com seu olhar lhe ordenou que fosse por outro lado e se separassem, o que o garoto obedeceu mas a contra-gosto. Logo o militar também já estava correndo para outro lado.

Kentin se preparou com a sua arma e ficou em posição pronto para atirar a qualquer momento, não sabia quantos iriam para o seu lado, mas iria eliminar todos e ir correndo atrás de Alexy. Não demorou muito e ele ouviu o som da explosão. Alguns inimigos a menos já, não demoraria muito para outros chegarem.

- Procurando alguém?

Ouviu uma voz conhecida e se assustou, virando para trás se deparou com Castiel lhe dando um soco no rosto, e depois jogando a arma de Kentin para longe. Kentin tentou se jogar para cima de Castiel, mas este foi mais rápido, desviando-se e ainda atacando Kentin com um chute na barriga, bem onde havia tomado um tiro, causando uma dor imensa nele. Sem dar tempo para raciocinar, Castiel disparou um tiro na perna de Kentin e começou a rir da cara de desespero do rapaz.

Do outro lado Alexy também estava em posição, tinha ido já para fora da plantação e se escondido atrás de uma árvore, e conseguia mirar precisamente em todos os inimigos que via, eliminando todos que via. Ouviu um som de tiro dentro da plantação e começou a ficar preocupado com Kentin, mas acreditava que tudo ficaria bem justamente por ser Kentin.

- Ali está ele!!

Alexy despertou de sua preocupação quando ouviu que tinha sido localizado, porém olhando para frente não avistou ninguém. Quando deu por si, já haviam três homens em cima dele e estavam o amarrando. Após ter suas mãos e pés amarrados, o rapaz fora levado para fora das árvores, e ficou sendo segurado por um dos homens enquanto pareciam estar esperando alguém. Não demorou muito e Castiel saiu da plantação arrastando Kentin, visão que deixou Alexy horrorizado.

- Hahaha, acharam mesmo que esse lance de minas terrestres iriam funcionar de novo? Eu não sou imbecil - Ria Castiel enquanto jogava o corpo do outro no chão - Está vendo Kentin? Sem escapatória para você e para seu namoradinho.

Kentin cuspia sangue, mas tentava se recompor e se ao menos ficar de joelhos. Olhou para Alexy e este já estava chorando em desespero ao ver seu rosto todo ensanguentado. O Capitão já havia aceitado seu fim, mas precisava ao menos proteger ele.

- Castiel, é só a mim que você quer não é? Afinal você quer se vingar pelo tiro no braço, dá para ver pela sua atadura nele. - Kentin sentiu que havia o fisgado quando viu o Coronel morder os lábios após dizer isso - Então deixe ele ir, você não precisa da vida dele.

- Não diga isso Kentin! - Gritou Alexy mas sua boca fora tapada pelo homem que o segurava.

- Bem, a ordem foi que eu capturasse e executasse os dois, mas hoje eu estou de bom humor, então acho que esse acordo pode ser feito, afinal só a cena desse viadinho chorando desesperado pela morte de um merda que nem você já vai ser incrivelmente prazeroso de se ver.

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Kentin então sentiu sua consciência ficar incrivelmente leve, havia então pelo menos conseguido salvar seu amado. Então ele pode olhar para Alexy, que não parava de chorar, e ficou incrivelmente grato pela oportunidade de conhecer ele, o rapaz que mudou completamente a sua vida e seu destino em apenas alguns dias. Tentou forçar a voz, mas esta não saía mais, então apenas gesticulou com a boca o que pareceu serem três palavras, que foram acompanhadas de um imenso sorriso. Logo após sentiu uma arma encontrando sua testa e um tiro foi dado. Kentin caiu morto no chão.

O peito de Alexy doeu tanto que parecia que ele iria explodir. A vontade de gritar foi concedida com a mão do homem soltando sua boca. Lágrimas caiam incansavelmente pelos seus olhos. Nenhuma palavra conexa conseguia ser proferida. Os homens riam do desespero do rapaz.

- Aaa, essa cena é algo impagável, mas vamos homens. Eu sou um cara de palavra, vou deixar esse coitado vivo, ele já está na merda mesmo. Vá, aproveite e fuja que nem a marica que você é, soltem ele. - Proferiu o Coronel.

Os soldados soltaram Alexy e este foi correndo para o corpo caído de Kentin, chacoalhava ele na esperança dele acordar, de estar só fingindo, mas a poça de sangue que se formava ao seu redor e manchava suas roupas não mentiam. Depois do desespero do jornalista, veio o silêncio profundo. Conseguia ouvir os passos deles indo embora.

- Isso não vai ficar assim para sempre! - Gritou o rapaz - Vocês não irão se safar assim para sempre!

Os passos pararam, Castiel se virou e olhou curioso para o outro que se levantava aos poucos.

- Como assim não vamos nos safar? Nós já nos safamos, o poder está totalmente em nossas mãos. Nada que meros civis como vocês possam fazer vai salvar vocês. O futuro está nas mãos do Exército! - Proclamou o homem de cabelos negros e começou a rir.

- Não... não, porque isso ainda não acabou - Alexy fala enquanto começa a se levantar - Porque pode não ser hoje, e provavelmente não vai ser amanhã, mas um dia, vocês não vão mais conseguir nos controlar. Não vão mais conseguir nos reprimir. E algum dia nossa voz vai ser ouvida por todos, e nós vamos nos libertar de vocês!

Castiel começou a se irritar com a fala do garoto, e na tentativa de fazê-lo ficar quieto, apontou a arma para ele e ordenou que os outros também o fizessem. Mas o rapaz não se intimidou.

- Olha, eu tinha prometido te deixar vivo, mas assim você não está facilitando, vai logo embora. - Provocou o Coronel.

- NÃO IRÃO CALAR AS NOSSAS PALAVRAS, NÓS ALGUM DIA VAMOS REESCREVER ESSE PAÍS!

- Atirem!

Em questão de dois segundos, o corpo de Alexy recebeu uma chuva de disparos, sendo perfurado em diversos lugares, ele não aguentou e caiu no chão. Era o fim. No entanto, não se arrependia de nada.

No outro dia, Armin andava pensativo pela rua. Se perguntava como poderiam estar seu irmão e seu companheiro. Olhava as vitrines das lojas e lembrava o quanto seu irmão gostava de olhá-las, de toda a animação e alegria que ele trazia para o ambiente só de estar presente. Ele ia sentir muita falta do irmão, mas sabia que ele estava num lugar melhor para ele.

Então cruzando a rua, o Capitão chegou na praça pública, e lá seus olhos não quiseram acreditar no que viram. Castiel estava em cima de um palco, e de cada lado dele havia um corpo amarrado em uma pilastra de madeira. De um lado Kentin, com o corpo todo manchado de vermelho sangue e com um buraco na testa. E do outro lado... Alexy, com vários buracos no corpo e olhos abertos e vazios.

- Estão vendo? É isso o que acontece quando se rebela contra o Exército, nós só estamos tentando manter a paz no nosso país. Vocês estão dificultando nosso trabalho.

Armin sem acreditar no que viu saiu correndo. Correu e correu mais, enquanto lágrimas corriam por seu rosto desesperado, até que tropeçou e caiu no chão. Com dificuldade se sentou no chão e começou a chorar ainda mais descontroladamente, gritando e socando o chão até machucar sua mão, ignorando todos que estavam ao seu redor.

No terraço do hospital, Violette admirava o céu pela última vez. Sempre gostou de ver os pássaros voando. Logo talvez ela pudesse voar pelos céus também. Foi andando aos poucos, mancando ainda, até os limites do prédio. As dores no seu corpo eram ainda imensas, e a dor da sua alma era ainda pior. Alexy não retornaria, Jade provavelmente não estava mais entre eles. Ambos foram apagados da história, e sua vida não fazia mais sentido. Olhou para os seus braços, estava segurando um quadro, uma pintura dos três sorrindo juntos. Abraçou com toda a força dos seus braços o quadro e fechou os olhos. Pulou.

No jornal, Peggy escrevia uma crônica, que mais tarde seria aprovada por Lysandre e entraria no jornal.

“Dizem que uma imagem vale mais do que mil palavras, o que é verdade. No entanto, palavras carregam por si um peso indistinguível que nos levam a desejar e agir por coisas inimagináveis. Eu sou grata a todas as palavras que um dia pude trocar com as mais diversas pessoas. Sou grata por ter conhecido pessoas que tinham muitas palavras a me oferecer, e que com estas palavras me tornaram a pessoa que sou hoje. Mesmo palavras pequenas podem carregar significados estrondosos, por isso sempre preste muita atenção no que os outros estão falando.

Palavras também são algo que podem ser facilmente apagadas, por isso também lembre-se de sempre guardá-las na sua memória. Porque o mundo pode acabar, os livros podem ser destruídos, as pessoas que te deram estas palavras podem morrer. Mas enquanto você ainda mantiver estas palavras na sua memória, o mundo inteiro ainda estará vivo dentro de você.”

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.