< Em algum lugar do Ocidente >

— Estamos perdendo tempo. – Um jovem cientista loiro com forte sotaque alemão se dirigiu a seu superior. – Devíamos desenvolver o soro e atacar o quanto antes.

— Não é esse o plano. – O homem nem se deu ao trabalho de desviar o olhar de sua papelada para dar atenção ao mais jovem. – Volte para o laboratório e aguarde novas instruções. - Por estar concentrado em seus papéis, não notou a expressão de descontentamento na face do loiro.

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— Sim, senhor. – O cientista retornou ao laboratório a contragosto, seguiu até o computador e analisou mais uma vez os resultados sobre o soro. Estava perfeito. Pronto para se conectar ao DNA que lhe daria as especificações que formariam um supersoldado. Ou um semideus. Anteriormente haviam tentado usar o DNA dos gêmeos sokovianos, sem sucesso. As cobaias que foram testadas com o DNA dos Aprimorados, assim como aquelas testadas com uma fração de radiação gama, não sobreviveram. A seu ponto de vista, não eram biologicamente evoluídas o suficiente para aguentar tamanho poder. Seu código genético era limitado demais; uma mutação derivada de outra jamais ocorreria. Estava contando com a colaboração de Adam para encontrar o DNA que se adaptasse apropriadamente tanto ao soro quanto às cobaias.

— Oswald. – Chamou uma voz grossa. O jovem ergueu os olhos para um homem alto, de cabelos negros até o pescoço e olhos cor de mel. O homem era dono de uma extensa propriedade intelectual. – Derek o avisou que eu estava retornando?

— Não, Adam. – Oswald rapidamente abriu seu bloco de anotações e pressionou o botão da caneta, pronto para começar suas anotações. – O que descobriu?

Adam era um homem misterioso. Tudo o que o loiro sabia era que o mais velho era uma espécie de cientista de campo especializado em genética e mutações. O único que havia concordado em colaborar em sua pesquisa. O único que não o via como uma criança brincando de cientista ou um asqueroso rato de laboratório. O único que o considerava o gênio superdotado que realmente era. Desde que Henselmann fora capturado pela SHIELD, o garoto prodígio se aproximara de Adam, que sem dúvida era um tutor muito melhor do que o lunático alemão. Henselmann perdera toda a credibilidade com o mais novo quando recorrera à lavagem cerebral para apagar tudo o que pudesse comprometer a HYDRA. A SHIELD tinha a Feiticeira Escarlate a seu favor, então o louco apagara a própria mente sem considerar as consequências.

— Não encontrei cobaias suscetíveis aos experimentos. Ainda. – O loiro suspirou. Adam ergueu uma sobrancelha. – Há algo que queira me contar?

— Derek acha mais prático selecionar logo as melhores cobaias e testar o soro com urgência. Estou começando a questionar se talvez ele não esteja certo.

— Derek é um idiota. – Adam disse com tanta tranquilidade e segurança que fez um sorriso brotar nos lábios do jovem alemão. – Um troglodita total. Não dê ouvidos ao que ele diz. Ele não é como nós. Nesta situação, qualidade definitivamente supera quantidade. Não devemos nos desesperar por causa de Henselmann. A SHIELD não faz ideia de quem estamos procurando. – O loiro sorriu de leve:

— Então, meu palpite estava correto? – Adam sorriu misteriosamente:

— Acredito que você esteja mais do que pronto para termos uma conversa séria.

— Do que se trata?

— Gostaria de lhe oferecer uma proposta, Walden.

{...}

Estava preso em uma enorme sala branca, o chão era tão bem encerado que conseguia ver meu reflexo nele – o cabelo preto liso estava penteado para trás com gel para que mamãe não se irritasse mais uma vez com meu cabelo bagunçado, minha camisa branca social estava impecável e colocada apropriadamente por dentro da calça jeans, meus cadarços estavam bem amarrados e firmes e aproveitei o momento para arrumar mais uma vez o colarinho da camisa e minhas sobrancelhas para que ela não me achasse patético novamente. “Sou o herdeiro, tenho que estar maravilhoso e ser poderoso como mamãe. Não, maravilhoso não; perfeito. Sim, tenho que estar perfeito”.

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“Eu serei muito intimidador quando crescer; já era o mais alto da turma, todos achavam que eu já tinha 12 anos! Há! Eu serei poderoso igual a mamãe e então ela terá orgulho de mim! Sim, tudo ficará melhor quando eu a fizer se orgulhar de mim!”. Sorri ao pensar nisso. Ela só queria que eu fosse uma pessoa boa e decente. Eu daria conta do recado. Cumpria tudo o que ela mandava – as aulas de latim, francês, mandarim, espanhol, história mundial, esgrima, kung fu, artes marciais, as aulas de tiro...

— Henry. – A Srtª Wilson me chamou, automaticamente endireitei a postura e sorri para ela.

— Bom dia, Srtª Wilson.

— Sinto muito, querido. Sua mãe não está disponível hoje. Ela está cuidando de assuntos muito delicados em sua reunião, então infelizmente ela não conseguirá vê-lo. – Franzi os lábios. Eu não me permitiria chorar. Não ali, não naquele momento, não quando estava determinado a orgulhar a única pessoa que importava para mim. A Srtª Wilson sorriu novamente. – Lamento, Henry, mas tenho que ir também. Logo o chamarei para tomar um sorvete, que tal? – Ela checou seu relógio. – Até mais tarde, querido. – E saiu apressada.

Fiquei olhando para a grande porta branca com as letras “C.O.” em dourado por um tempo. Claro que ela não me atenderia. Mamãe era importante demais para a empresa e para as outras pessoas também, ela sempre estava ocupada. Tolice minha pensar que ela teria um tempo para me ver. Sufoquei todos aqueles pensamentos conforme eles surgiam em minha mente. Era eu que estava errado, eu sabia. Eu teria que crescer e deixar toda aquelas coisas de criança para trás. Só crianças sentem carência de atenção, adultos não precisam de atenção. Eles sabem resolver seus próprios problemas. Sim.

Sorri fracamente, sentindo lágrimas molharem o meu rosto. A culpa era minha. Eu não era bom o suficiente, teria que me esforçar ainda mais. Sim, só quando eu fosse o melhor mamãe me viria. Ela estava fazendo aquilo por mim, para me instigar a ficar melhor e mais forte. Sem me conter, quando dei por mim, estava a centímetros da porta. Conseguia ouvir agitação lá dentro, até que...

Olhei para os meus pés.

Um líquido vermelho escorria debaixo da porta.

Arregalei os olhos quando percebi do que se tratava.

Sangue.

Senti um tremor em minha perna direita. Retirei preguiçosamente o celular do bolso do jeans e atendi, nem me dei ao trabalho de olhar o identificador de chamadas.

— Kooohlss... – Minha voz ainda estava rouca por ter acordado havia pouco tempo, minha visão ainda estava turva. Ignorei a minha taquicardia pela memória que havia acabado de recordar.

— Como sabia que era eu?

— As pessoas desse século enviam mensagens. Já você...

— Vá à merda, Henry. – Resmungou.

— O que você quer? – Perguntei rindo preguiçosamente. Sentia-me aliviado por Katherine ter me salvado de meu pesadelo, aquela memória traumática me assombraria para sempre.

— Você tem algum compromisso hoje à tarde?

Observei o horário no celular: 4:54. Ao meio dia teria que voar para a Islândia para efetuar um trabalho. Seriam sete horas de avião. Havia muitas coisas que ainda tinha que fazer antes de ir, não daria tempo. Não me importava em ir com civis, nem com o tempo que demoraria, mas como Katherine precisaria de minha ajuda, teria que tirar o caça da garagem subterrânea. Estava sempre à disposição dela.

— Nada que não possa ser remarcado. A que horas devo aparecer no seu apartamento?

— Às três e meia.

— Do que se trata?

— Planejamento tático. – Franzi o cenho. Desde quando Katherine era organizada e entendia esse tipo de termo?

— O que vai acontecer de um a três anos a partir de hoje?

— Três anos?... Não, não. A festa será antes disso. – Ela riu de leve.

— É planejamento operacional então. O período é geralmente de três a seis meses a partir de hoje.

— Ainda está mais próximo disso... ENFIM, TEMOS QUE FALAR SOBRE A MALDITA FESTA.

— Não esquente a sua cabecinha com isso, Little Kohls. Tenho certeza de que Hollister já está organizando tudo há meses com discrição. A Florzinha adora esse tipo de coisa, ela encara isso como uma meditação. Alguns fazem ioga, outros pintam livros antiestresse, já ela, planeja festas badaladas com boa música e muita comida.

— Quando foi que ela pediu para a sua banda tocar? – “Astuta como sempre”; pensei.

— Já faz uns... Dois meses. Tivemos que fazer o quarto repertório novo, sendo que o primeiro ela rasgou em pedacinhos, o segundo ela fez uma bolinha de papel e jogou no lixo e o terceiro ela riscou metade das músicas porque achou “absurdamente imprópria para a ocasião”.

— Ela está levando isso irritantemente a sério.

— Esse é o espírito da coisa. Logo resolveremos isso.

— Assim espero. Já estou me arrependendo de ter concordado com isso. – Ela suspirou.

— Não esqueça: se precisar de ajuda, é só me chamar. Eu desço do palco e vou diretamente até você, não importa o tamanho da encrenca na qual você esteja metida. – Ela riu:

— Obrigada, Henry. Nos vemos mais tarde.

— Até mais tarde, Little Kohls. – Encerrei a chamada. Sem dúvida, aquele seria um longo dia.

Assim que encerrei a chamada, voltei a olhar em volta. Ainda era difícil acreditar que eu estava, de fato, na Torre dos Vingadores. Pietro tinha definitivamente se redimido do fracasso inicial do encontro da noite passada. Fiquei aliviada quando Steve permitiu que eu passasse a noite na Torre. Me senti uma criança quando liguei para avisar Sage e ela insistiu para falar com algum “responsável” pelo telefone. Sua atitude me lembrava sempre do porquê minha mãe ter concordado que eu morasse com ela - a ruiva era extremamente responsável. As ordens dadas pelo Capitão – e por Sigyn também, tinha certeza – eram bem claras: quartos separados e portas trancadas para que um não fosse sorrateiramente para o quarto do outro no meio da noite. Como adolescentes. Não houveram protestos, até porque não estávamos pensando em ir tão longe. Pietro e eu mal nos conhecíamos.

A noite passada havia sido bem divertida, tirando o fracasso de como havia começado. Pietro havia me mostrado um pouco da Torre, indicando onde ficava o quarto de cada Vingador, não perdendo a oportunidade de brincar apontando para uma tomada e dizer que o Visão nem precisaria de um quarto para recarregar sua bateria. Ri por educação, para evitar ficar um clima desconfortável após a piada sem graça. Depois disso, ele me mostrou uma sala de jogos gigante, com uma mesa de sinuca, uma de tênis de mesa, vários tipos de videogames de última geração (incluindo uma área delimitada para o uso de aparelhos VR), alguns jogos de cassino, como a roleta, uma mesa com um tabuleiro de Hnefatafl (um jogo viking antecessor ao xadrez, tinha certeza que Thor jogava), um alvo na parede com vários dardos no centro, um espaço com uma televisão e vários aparelhos tecnológicos, vários dos instrumentos de Guitar Hero e mais mil e uma parafernálias – incluindo uma tirolesa e uma pista de boliche – que pareciam muito legais. Jogamos um pouco de Pac-man, em uma máquina de fliperama. Ele fez a cortesia de me deixar ganhar, o que me deixou irritada. Como ele não queria jogar outro tipo de jogo, como xadrez, apenas desisti e segui até a sala de estar, segui até o aparelho de som e coloquei um pouco de música. Me arrependi por não ter levado minha bolsa maior, conseguia colocar um livro dentro para quando estivesse entediada.

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Estava ignorando o que ele falava sobre a Torre até que ouvi “...Os últimos andares são só de pesquisa”. Aquilo definitivamente havia chamado a minha atenção.

— Nós com certeza não podemos ir até lá, não é? – Perguntei sem esperanças, pois já tinha certeza do óbvio. O platinado deu de ombros:

— Eu acho que tudo bem, contanto que a gente não toque em nada. – Ele desligou o aparelho de som. - Vamos?

— Sim. – Me levantei arrumando o vestido, depois o segui até o elevador da Torre. Apareceu uma identificação no espelho, Sexta-Feira devia ter escaneado nossos rostos quando entramos. As portas se fecharam.

— Para o primeiro andar de pesquisas, Sexta-Feira. – disse Pietro. A voz robótica feminina preencheu o elevador:

— Katherine Adams Kohls não têm autorização nível beta. Autorização necessária. Chave de acesso: Vingador.

— Autorização concedida. – Respondeu Mercúrio.

— Acesso negado. Chave de acesso: Vingador.

— Mercúrio.

— Acesso negado.

— Pietro Maximoff.

— Acesso negado.

— Gêmeo Aprimorado.

— Acesso negado.

— Que merda, Tony. – Praguejou.

— Acesso negado.

— Papa-Léguas. – Resmungou Pietro, com a voz baixa.

— Autorização confirmada. Bem-vindo, Papa-Léguas.

Ri levemente. Ele me olhou meio sem-graça.

— Stark dá esses apelidos imbecis para toda a equipe. – ele deu de ombros.

— Deve ser bem divertido trabalhar com ele. – Maximoff fez uma careta:

— Nem tanto. Ele está mais para irritante do que divertido.

— Entendi. – Por um instante me peguei imaginando como seria a convivência dos super-heróis. Será que eles já chegaram a ter alguma briga feia? Quem os separaria se eles resolvessem se enfrentar de repente? Isso seria uma coisa a ser pensada. Será que Fury tinha um plano de contingência para cada um deles?

— As coisas são meio monótonas para mim aqui. – Franzi o cenho:

— O que quer dizer?

— Não sei... Às vezes me pego lembrando do passado... Antes das experiências começarem. – O platinado correu os dedos por seu pulso até a parte interna do antebraço; por esse gesto involuntário pude presumir que haviam usado muitas agulhas em suas veias nas tais experiências. Suspirou. – Wanda e eu... Nós lutávamos por uma causa, entende? Sempre lutamos. Por mudanças. Por justiça. Sempre, até o nosso último suspiro. Nós sempre nos esforçamos muito para que as coisas mudassem. – Havia um sentimento oculto em sua voz. Não conseguia identificar o que era. Não era raiva ou fúria, era algo menos destrutivo e mais... Frustrante.

— Você acha que a luta de vocês não deu certo? Vocês ainda lutam, você sabe disso. - Será que ele se sentia desmotivado, mesmo estando entre os heróis mais poderosos da Terra? Para mim, era exatamente isso que parecia.

— Sim, claro. Você está certa. Eu estou apenas... Tagarelando. - O platinado desconsiderou, como se sua confissão não fosse tão profunda. Era claro, ao menos no meu ponto de vista, que ele não queria aparentar vulnerabilidade. Ele era um herói, afinal. Não podia demonstrar fraqueza. Ao menos, era isso o que ele pensava.

Desabafando. — O corrigi com um sorriso. Ele sorriu de volta, com um leve brilho no olhar. Senti uma parte do meu coração se aquecer. Pietro tinha um jeito único, ele era diferente das pessoas que já havia conhecido. Me senti aliviada ao perceber que desde que o conhecera, nunca sentira a necessidade de descobrir qual seria seu próximo passo, como acontecia com todos os outros. Não que ele fosse alguém previsível, e sim alguém cujas atitudes eu poderia confiar. Ele não me machucaria nem trairia minha confiança, era o que meus instintos me diziam.

— Peço desculpas por te incomodar com esses pensamentos. – Seu sempre presente sotaque se tornava mais notável quando ele usava uma entonação certa, quando eu conseguia sentir que ele estava sendo sincero. – Por algum motivo, sinto que posso conversar com você sobre eles sem que me julgue. – Não consegui segurar o sorriso.

— Fico feliz em saber que você se sente à vontade perto de mim. – As portas do elevador se abriram.

— Bom, só espero que o doutor não tenha deixado o laboratório muito bagunçado. – Se virou para mim. – Vamos?

— Vamos. – Andamos lado a lado enquanto eu observava em volta. Haviam paredes de vidro, que eu sabia que se tratavam de telas nas quais Sexta-Feira exibia para Stark e Banner as informações de cada coisa ali; mecanismos robóticos avançados demais, além de muitos armários com frascos e béqueres, recipientes de todos os tamanhos e elementos químicos variados.

— Aqui é bem maior do que eu esperava. - Seu tom de voz denunciava sua surpresa. - Onde ficam as invenções legais?

— Você não tem acesso liberado nem às invenções do Senhor Stark, nem aos experimentos do Doutor Banner. - Respondeu Sexta-Feira.

— Okay, okay, nós só queremos ver alguns robôs. Um da Legião de Ferro ou algo assim.

— Você também não tem acesso liberado a nenhum robô do Senhor Stark, Papa-Léguas.

Continuei andando pela sala, impressionada por tudo que havia ali. Sorri. Mesmo não vendo robô algum, ainda era muito interessante. Ao fundo da sala havia uma grande porta do que parecia um cristal extremamente fino. Parecia estranhamente antiga para as criações altamente tecnológicas da sala.

— Isso aí deve ter uns mil anos. – Disse Pietro. Franzi o cenho observando a porta. O que um artefato como aquele fazia ali? – O Doutor estava estudando essa porta, achamos no que pareciam ser as ruínas de um palácio subterrâneo em uma caverna da Noruega. - Fiquei a três passos da porta de cristal, logo pude ver que parecia estar rachada, porém sem nenhum risco de se partir. Em seu centro estava a rachadura, próximo a suas bordas haviam símbolos esculpidos levemente, quem olhasse de longe não os notaria. Arregalei os olhos ao perceber que se tratavam de runas nórdicas – e mais do que isso, pelo que diziam, parecia se tratar de uma espécie de feitiço para trancar permanentemente tal porta de cristal. Respirei fundo e coloquei minha máscara impassível novamente para que Mercúrio não percebesse que eu entendia o que dizia ali. Sorri para ele:

— Bom, mesmo que não tenhamos visto nenhum robô, isso aqui é demais. – Olhei em volta para distrair o Vingador quando o que realmente despertara meu interesse havia sido a porta misteriosa. Antes mesmo que ele pudesse me respondesse, fomos interceptados por um robô branco com o número 13 em seu braço esquerdo:

— Vocês não deviam estar aqui. É necessária uma autorização nível alfa.

— Um robô! Um robô! – O Maximoff sorriu amplamente, o que automaticamente me fez lembrar de Luke com seu espírito de animação. Ri levemente por ver sua reação. O robô inclinou levemente a cabeça para o lado:

— Por gentileza, retirem-se.

— Olha só isso, Katherine! – Pietro se aproximou e começou a balançar a mão em frente ao rosto do “13”. Cruzei os braços:

— Por que você está tão animado? Você mora aqui, deve ter contato com esses robôs o tempo todo.

— Ah, não. – Ele sorriu levemente. – O Tony não me deixa mais chegar perto deles desde que acidentalmente explodi sete robôs da Legião de Ferro. – Arregalei os olhos. Acidentalmente? Ele havia dito aquilo com uma naturalidade espantosa. Eu não deveria subestimá-lo, com certeza. Nem ele, nem o robô.

— Acho melhor você parar de mexer nele então, não acha, Pietro? – Sugeri pacientemente, enquanto estava internamente surtando. Já o imaginava ficando com os olhos vermelhos e nos perseguindo com armas e lasers super avançados.

— Imagina, eles são inofen... – Naquele momento, o robô deferiu um soco na cara do Vingador, que foi parar a três metros de mim. Estranhamente, não gritei. Pelo menos ele não tinha explodido a minha cara.

— Eu já falei pra parar de mexer nos meus brinquedos, Papa-Léguas. – A voz de Tony saía do robô. O androide virou o rosto para mim. – Desculpe por isso, novata. Esse Zé Colmeia continua de olho na minha cesta de piquenique, é irritante. – Tony suspirou. Foi quando entendi. Sexta-Feira havia mandado um alerta para o Stark, que enviou o robô para que parássemos de bisbilhotar o laboratório. – Caiam fora. Hoje o museu tecnológico mais avançado do planeta está fechado para visitação.

— Eu só queria mostrar um robô a ela, já que agora ela está no time dos heróis. – Disse o platinado, se aproximando. Aparentemente, ele não havia se ferido gravemente.

— Ela não está no nosso time, está no time do Fury. Aprenda a diferença, garoto.

— Os Vingadores também foram reunidos pelo Fury. – Encarei o robô, me sentindo levemente ofendida. Eu já estava perdendo créditos com eles só por Fury ter concordado em me treinar? – Então vocês não estão no time do Fury também? Um time de heróis?

— Fury não é um herói. Ele é um espião. Ele é O espião. Seus segredos têm segredos. – O robô apontou para mim, a voz do Stark ficou mais grossa e séria. – Tome cuidado, novata. Não pode encarar esse mundo como uma pessoa ingênua. Você agora é uma espiã. Desconfie de todos, você não estará segura em lugar nenhum.

— Você tem passado muito tempo com a Natasha, Tony. Está ficando paranoico. – O tom de voz de Pietro era de zombaria.

— É Senhor Stark pra você. Não confio em pilantras Aprimorados. – Revirei os olhos, os dois pareciam crianças implicando uma com a outra. Cada hora que passava perto dos Vingadores me sentia estranhamente mais familiarizada, como se já os conhecesse. Bocejei.

— Não que eu não esteja curtindo, mas... Podemos voltar? Já está bem tarde, tenho que ir embora.

— Por que você não dorme aqui hoje? Temos quarto de visitas. – Sugeriu o Aprimorado.

Eu havia sorrido para Pietro Maximoff.

Depois daquilo, consegui a permissão de Sage e havia dormido na Torre dos Vingadores.

— Katherine? Está se sentindo bem?

Pisquei rapidamente quando notei que havia paralisado admirando a vista da sacada da Torre. Era um antigo costume meu, revisar mentalmente os acontecimentos da noite anterior. Fazia com que eu me sentisse segura, pois sabia que Kitty não havia tomado o controle quando me lembrava de acontecimentos anteriores. Me virei e encontrei dois olhos claros me encarando. O loiro estava totalmente focado em mim, carregava luvas de boxe vermelhas em sua mão direita. Provavelmente estava indo para um treino matinal de boxe.

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— Kate? - Seus olhos me analisavam com cuidado, checando se eu estava bem. Sorri levemente para ele:

— Estou bem, Steve. - Ele franziu o cenho e tocou meu braço com a mão livre, seu olhar preocupado e firme me analisava meticulosamente.

— Tem certeza? - Assenti. Por que ele estava sendo tão insistente? - São cinco e quinze da manhã. Tem certeza de que está bem? Precisa de alguma coisa? Se for algum problema feminino, posso falar com a Natasha, se você quiser, ela não se importa.

— Eu estou bem, Capitão, obrigada. – Sorri, levemente envergonhada pela preocupação de Rogers. – Agradeço a sua preocupação, mas eu só tenho problemas para dormir. Ou eu durmo muitas horas ou poucas, não consigo um meio-termo.

— Bom, já que é assim, aceitaria tomar um café comigo? – Ele sorriu.

— Você faz exercícios antes do café da manhã?

— Eu faço muitas coisas antes do café da manhã, Kate. – Seu sorriso suave parecia fixo em seu rosto. – Não consigo ficar parado. – Observei Steve por um tempo. Ele era paciente, compreensivo e simpático, mas também era focado, sério e firme quando necessário.

Em outra vida, na qual eu não tivesse uma criatura cruel e desprezível como Kitty em minha mente, eu seria como ele. Mas nesta, não era o caso, nem de longe. Como havia conhecido super-humanos, alienígenas e acabaria trabalhando com eles, sempre torcia mentalmente para que alguém pudesse tirá-la de mim; era meu desejo mais íntimo que jamais revelaria a alguém. Se eles soubessem sobre ela, me matariam ou me estudariam; de qualquer forma, não poderia me confessar para ninguém.

— Tudo bem, Capitão. – Coloquei uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e espelhei seu sorriso por um segundo, depois desviei meu olhar do seu. O loiro seguiu até o balcão da cozinha.

— Pode me chamar de Steve, Kate. - Ele colocou a água para ferver e começou a pegar as coisas para fazer o café. – Você prefere o café mais fraco ou mais forte? O Tony comprou um pó de café colombiano muito bom, se quiser experimentar.

— Eu... É... – Fiquei sem jeito. Como explicaria a ele que café não era a minha praia? Não queria ser indelicada. Bom, não custava nada experimentar, certo? Eu não iria morrer por tomar café uma vez na vida. – O que o senhor... – Ele me encarou e me corrigi rapidamente. – ...Você preferir. – Ele sorriu.

— E de suco de laranja, você gosta? – O loiro ergueu uma sobrancelha. Assenti. Ele seguiu até a geladeira e tirou uma jarra com suco de laranja. Colocou um copo em cima do balcão e me serviu.

— Obrigada, Steve. – Bebi um gole. Era refrescante e doce na medida certa. – Então... – O Capitão estava concentrado em coar o café. – Isso tudo é bem diferente, não é? – Ele franziu o cenho.

— Desculpe, mas não entendo ao que está se referindo, Kohls. – Seus olhos azuis se voltaram para mim. – Para você tudo aqui é novidade, não? É isso que está me dizendo?

— Desculpe, Rogers... – Suspirei. – Eu só... – Me calei. Eu estava prestes a falar sobre Kitty e o quanto me sentia perder a cabeça a cada dia que passava.

— Pode me contar, Kate. Você sabe que seu bem-estar é minha responsabilidade também, não sabe? – O encarei, as sobrancelhas arqueadas revelavam a minha surpresa. Steve continuou. – Enquanto você for a minha recruta, tenho que garantir que você esteja apta tanto mentalmente quanto fisicamente para esse trabalho. Estou ciente de que não é um trabalho fácil ou ideal, mas ele tem de ser feito.

Ficamos em silêncio por alguns segundos, até que o Capitão sorriu tranquilamente para mim. Aquele sorriso era diferente, parecia querer me passar confiança e honestidade enquanto dizia algo como “você não está sozinha”. Meu coração se aqueceu, alívio tomou o meu corpo, sentia uma certa tensão ir embora. Embora não fosse revelar meus segredos que escondia, era bom saber que tinha um aliado, alguém que me ouviria e parecia genuinamente preocupado comigo.

— Obrigada, Steve. De verdade. – Ele assentiu. Senti que devia falar pelo menos parte do que sentia a ele, assim, talvez, ele pudesse me ajudar. – Eu... Acho que preciso de ajuda. Eu sei que vai parecer bobo e sem sentido...

— Pode dizer, Kate. Estou te ouvindo, e quero te ajudar.

— Certo... Bem... É que... – Respirei fundo. Como falaria o que sentia a ele? Podia começar pelo que estava me incomodando. Kitty. – Eu ando tendo alguns sonhos bem ruins... Principalmente desde que o treinamento começou. – Ele se calou, parecia refletir sobre minhas palavras enquanto servia-se do café recém-preparado. Ele segurou a caneca com uma mão e colocou a outra mão dentro do bolso.

— Compreendo... – Seu olhar, fixado em mim, era inexpressivo enquanto ele bebia calmamente um longo gole de seu café. – Acredito que seja apenas estresse, recrutas sempre demoram a se adaptar ao trabalho, então se sentem pressionados.

— Eu estou perfeitamente bem, Steve. –Protestei. - Tenho certeza de que estou apta. Vou trabalhar muito duro para melhorar minhas habilidades, estou focada nisso. Sei que meu físico não está tão bom assim, mas minha mente está pronta para arcar com o que a S.H.I.E.L.D. espera de mim.

O Capitão se manteve em silêncio por alguns instantes, aguardando pacientemente que minha euforia passasse.

— Isso é o que você diz enquanto está consciente, Kate, mas acho que seu subconsciente discordaria. Não sou um especialista no assunto, mas sei o estrago que a exaustão mental pode causar.

— Você consegue me ajudar com isso, Steve? – Perguntei com esperança. Ele franziu os lábios:

— Receio que não, Katherine, sinto muito. – Senti todas as minhas esperanças se estilhaçarem naquele momento. Senti um nó se formar gradativamente em minha garganta, porém, antes que pudesse dizer qualquer coisa ao Capitão, ele se aproximou de mim e tirou algo do bolso, esticando para mim em seguida. Era um cartão que parecia de um grosso papel laminado dourado. O peguei, levemente relutante. As letras eram destacadas em preto.

Pandora

Auxílio psicológico, psiquiátrico e espiritual

Olhei atentamente. Virei o cartão, atrás havia o endereço. Meus olhos estavam fixos no cartão, minhas mãos pareciam paralisadas, agarradas ao pequeno objeto. Estava incerta do que fazer.

— O que é isso, Steve? Por que deu isso a mim?

— Eu disse que não posso te ajudar, e, por mais que eu queira, isso é verdade. Eu não sou um especialista no assunto, mas ela é. Espero que se sinta pelo menos um pouco melhor depois da primeira consulta.

Girei o cartão algumas vezes.

— Aqui não tem nenhum telefone de contato. Como vou marcar a consulta?

— Não se preocupe com isso, Kate. Ela sempre sabe o horário e nunca perde uma consulta. – Ele sorriu misteriosamente. Franzi o cenho, intrigada. Ele colocou uma mão no meu ombro. – Confie em mim, você vai gostar. É justamente do que você precisa.

— Certo... – Meus olhos permaneciam fixos no cartão. – Se você acha, não custa nada dar uma chance, não é? – Sorri.

Seria interessante tentar descobrir os segredos que assombravam minha mente. Eu teria alguém para dividir meus pensamentos e preocupações, ao menos, era o que eu pensava. Estava ansiosa, abismada, preocupada. Eu definitivamente iria à Pandora.