Letters to Myself

Capítulo final- Completo Babaca


Koala piscou os olhos. Aquele não era o som do despertador. Ela não ligava o despertador aos sábados. Principalmente as duas da tarde, era muito tarde para o seu gosto e para qualquer pessoa com o mínimo de senso. Aquela hora, ela já estava devidamente vestida, com roupas leves e confortáveis, adequadas para um dia dentro de casa com o aquecedor ligado, e já na segunda garrafa de chocolate quente.
Além disso, aquele som não era a melodia agradável que vinha do celular, todos os dias úteis, pontualmente as seis. Parecia mais um animal gritando de dor.
O pior era que ela conhecia de algum lugar
O baque surdo atingindo a porta, seguido por um "foi mal" indicavam que o jornal havia chegado. Mas não era possível que aquele garotinho adorável que entregava as notícias tivesse feito aquele barulho que dava profunda aflição aos ouvidos dos biólogos. Além disso, a voz dele era fina demais para isso.
E, como todo cérebro funcional da área de biológicas, a massa cinzenta da garota já formulava dezenas de hipóteses possíveis para explicar os sons antes mesmo de abrir a porta. Mas nenhuma delas dizia que o velho fantasma do passado não tão distante iria reaparecer. Porque isso era extremamente improvável.
Mas Sabo com certeza superava os limites de improbabilidade infinita deduzidos por Douglas Adams (QUARENTA E DOIS!!). E aproveitando a deixa para outra referência literária perfeita para a situação: não existe nada impossível, só improvável.
E, depois de tantas coisas que haviam se passado, ela nunca teria imaginado que, naquele dia planejado inicialmente como outro qualquer, aquele idiota apareceria diante da porta,com aquela cara de sonso que conseguia irritá-la pelo simples fato de existir, e sorrindo daquele jeito que simplesmente extinguia toda a brabeza que ela por acaso tivesse.
Mais longe ainda do imaginário estava a possibilidade de estar sentada no mirante a três horas de carro da casa esperando o sol se pôr.
Como eles haviam chegado até ali mesmo?
–---Flashback, umas horas antes----
–-Pronto, essa é a última!- Sabo atirou a última sacola para dentro do quarto.
–-Nossa, é sério mesmo essa sua mudança ein? Olha quanta coisa!!
–-Mais ou menos.- ele chacoalhou os ombros- Eu tenho um estágio fixo por seis meses, e estendo a quantidade de tempo que eu quiser como funcionário mesmo.
–-É uma ótima proposta! Deu sorte ein?
–-É... Sorte... --a última coisa que ele faria seria admitir que estudará feito um condenado por essa vaga. Ele ainda tinha uma reputação a manter!! -Mas é você? Ta trabalhando com alguma coisa,ou...?
–-Ah, minha mãe foi trabalhar, no início do ano, em uma reserva mais pro interior do país. Dai eu acabei ficando no lugar dela lá no centro até ela voltar.
–-E quando ela volta?
–-Uhnn.... daqui a dois anos talvez? Não sei.
–-É muito tempo! Como sobrevive sem ela?
–-Ah, eu me viro. Que nem fazia na época da universidade...
–- Mas dessa vez você está completamente sozinha! Como...
–-Eu já estou acostumada.- Koala interrompeu antes que ele fizesse a pergunta- Já sou crescida tá? Não se preocupe.
–-Me preocupo sim! Ninguém devia ficar completamente sozinho e...
–-Ta bem, tá bem, senhor Nico Robin. Vamos sair?
–-Já conheço todos aqueles lugares que você falou.
–-Ah é? Mas eu ainda acho algum que você não foi!!
–-ei ei, espera!- ele a segurou pelo pulso antes que saísse.
–-O que foi?
–-Isso... Isso é seu. --Ele estendeu uma caixa embalada muito porcamente.
Sabo nunca fora bom em embalar coisas. Era um de seus piores anti-talentos, perdendo apenas para dançar. Mas ela não precisava abrir pra saber o que era.
–-Minhas cartas....--Ela segurava o embrulho contra o peito. Era mais pesado do que ela se lembrava.... E terrivelmente nostálgico--Maldita Bonney! Eu falei pra jogar fora!!!
–- Bom, se dar pra mim é como jogar fora então ela não deve ter uma boa impressão de mim né...
–-Você leu?
–-....-- Silêncio significava sim.
–-Depois de tantas vezes eu ter te dito pra não ler...--Ela lançou um último olhar para a caixa, soltando um sorriso logo em seguida- Típico seu. Não esperava nada diferente.
–-Então eu tenho que pedir desculpas ou....?
–-Só... Só vamos sair tá?-Ela mandou o pacote para algum canto, sem muito cuidado- Depois eu mexo com isso.
Talvez ela usasse para assar marshmellows.
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É, fora algo assim. De alguma forma, aquele desgraçado já conhecera TUDO que lhe passava pela cabeça e mais um pouco. Dessa forma, eles acabaram ali, naquele mirante, pois segundo Koala " nenhum por do sol é igual a outro". Pouco importava se aquele era um lugar pra casais, ela pensara, ainda deve ter alguém. A última coisa que ela queria era ficar sozinha de novo com aquele ser.
Já fora difícil aguentar aqueles poucos minutos dentro da casa sem estapear ou jogar uma torrente de perguntas em cima do garoto. As horas no carro foram uma tortura, e preferia não pensar em como passaria os dias até que ele arranjasse um lugar pra morar. Porque diabos ela oferecera o quarto de hóspedes? Ah, é, porque ela era IDIOTA.
Mas ele era um idiota maior ainda.
–-Cof cof...-- Sabo forçava a tosse.
–-Você é péssimo em fingir tosse.
–-Desculpa mas eu não tinha uma ideia melhor pra chamar sua atenção. Tá encarando o nada a cinco minutos e não fala nada desde que a gente chegou. Nem respondeu a minha pergunta!
–-Você fez uma pergunta?
–-Claro! Quem mais seria? Não tem mais ninguém aqui!
Putz. Era verdade. Quem seria besta o suficiente pra encarar os 11 graus somados ao vento cortante só pra ver o sol se pôr? Ela não pensara nisso.
–-Ah, tá... Desculpa. Qual era mesmo?
–-Ah.... Bem... Sobre dois anos atrás... No hos....
–-Não precisa falar sobre isso.--Ela virou o rosto, fechando a cara- Sério.
–-Mas...
–-Foi coisa do momento.
–-Mas...
–-Além disso, você nunca pensa no que faz mesmo. So.... deixa pra lá, tá?
–-Eu...
–-Eu sei que você deve estar se sentindo culpado mas...
Ele a segurou pelos ombros, obrigando que ela a olhasse de frente.
–-Não é questão de querer, eu PRECISO falar sobre isso....
Ela abriu os olhos, devagar, enquanto levantava a cabeça. O olhar dele não a deixava em condições de responder não.
–-...Por Favor...?
Koala soprou a franja.
–-42.
–-Ahn?
–-Você tem exatos 42 segundos pra falar. E vai rápido porque já se passaram 4.
–-Ahhh... Tá. Eu sei que você provavelmente quer me matar por eu ter sumido e não ter dado notícia nenhuma nesses últimos dois anos....
15. 16. 17.
–-... E acho que eu realmente devia ter arranjado um meio de comunicação mas eu achava que você devia estar querendo me matar então....
21.22.
–-... E acho que eu fui um idiota mas....
24.25.....42!!!!!
–-Idiota? IDIOTA? -Ela não aguentava mais.- VOCÊ FOI UM COMPLETO BABACA, ISSO SIM!
Pisca, pisca. Certo, não havia se passado o tempo prometido mas Sabo tinha total consciência de que não devia interrompê-la.
–-UM BABACA QUE FEZ O FAVOR DE LEVAR MEU CELULAR EMBORA E NÃO ATENDER MESMO DEPOIS DE EU TER LIGADO MAIS DE CINQUENTA VEZES!! Sabe quanto custa uma ligação internacional???? Provavelmente não!!!
Ooooops.
–-E uma babaca que também fez questão de passar dois anos passando longe da Robin e da república!!!!!
Ele preferia dar a volta três quarteirões acima dos dois lugares quando tinha que passar por perto. Talvez não tivesse sido uma boa ideia...
–-AH! E que faz questão de SE MUDAR sem me avisar!!! Sabe quantas cartas retornaram por "destinatário não encontrado"????? MUITAS!!!!
Cerrrrto.... Mudar de bairro também não fora...
–-E A DONA ASNESIA AINDA FEZ QUESTÃO DE MANDA UMA CARTA ESCRITO "DESISTA". Sabe o quanto isso doeu???? Jogava na cara o quanto eu estava desesperada!!!!! E o pior é que eu estava mesmo!!!!!!
....
–-AH!!! E você já ouviu falar de e-mail???? Provavelmente não, já que nem tem um!!!! Você e o senhor treinador pertencem ao arco da velha mesmo!!!!!! Além disso, porque você não ligou pro telefone fixo aqui de casa? EU DEIXEI COLADO NA SUA GELADEIRA E FIZ QUESTÃO DE NAO MUDAR....
–-Pfffffffffffffffff AHAHAHAHAHAHAHAHAHA
Certo. Sabo era especialista em rir em momento inapropriados. Mas nunca, nunca, NUNCA houvera um momento pior do que aquele para rir.
–-DO QUE VOCÊ TÁ RINDO IMBECIL?????
Ele apenas colou a testa na dela, ainda dando risada.
–-EI, eu ainda não terminei!!!
Pelo menos ela já havia parado de gritar.
–-Eu ainda não te perdoei!!!
–-Eu sei, eu sei.
–-Então porque tá tão tranquilo???? Você não tem esse direito!!!!
–-Porque eu concordo com tudo o que você disse.
Ela fez bico, ainda de cara fechada.
–-E mais. Eu fui um retardado completo que ficou sem dizer muita coisa. Um besta total em ficar tentando fugir de tudo o que me lembrava você. Um medroso, fracote e amarelão que preferia ficar se escondendo por culpa de um "achar" do que ir atrás de certeza. São adjetivos o suficiente?
–-Então você concorda que não merece ser perdoado?
–-Não mereço AINDA, senhorita. Mas tenho muito tempo pra compensar.
–-Não é como se você tivesse só esquecido do meu aniversário Sabo, não vou deixar tão fácil.--O sorriso dela mostrava exatamente isso.
–-Eu sei, mas você nunca foi mesmo né?
E ele finalmente juntará coragem o suficiente para beijá-la pela segunda vez. E, pela segunda vez, ele conseguiu fazer alguma coisa totalmente certa.
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