Let it be

Eu te amo até a lua - ida e volta


Eu estou soluçando alto e chorando.

O delineador preto que passei em meus olhos para “destáca-los” agora escorre por todo o meu rosto.

Jake me abraça forte e pede para eu não o deixar, mas não há nada que eu possa fazer, o avião já está chegando e ele vai me levar para longe. Melissa se aproxima de mim, também chorando, e diz que vai sentir minha falta. Até o Pedro, meu quase-vizinho idiota, veio ao aeroporto. Ele parece desanimado.

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– Você merece o melhor, All. – Pedro diz. Ele faz uma pausa e então continua: – Quer dizer, você já foi grosseira comigo um monte de vezes, mas sabe... Sentirei sua falta também. As coisas boas que você já fez por mim compensam as ruins.

Ele olha para a Mel com carinho. Eles são um casal lindo, e me sinto feliz só por fazer parte disso.

– Eu te amo Alice. Você é minha melhor amiga para sempre, lembra? Independente do que aconteça. Não é um “adeus”. – Melissa diz, com a voz suave. Eu a abraço novamente.

– Obrigada por tudo. – respondo. – E você não é, nem nunca foi, uma idiota. Você sempre esteve ao meu lado e é provavelmente a única pessoa no mundo que consegue me suportar sem se estressar por nem um momento sequer. Eu não... Não quero me mudar. Não quero deixar vocês.

Minha voz soa fraca, triste, arrastada. Eu me apeguei a essas pessoas, elas também são minha família.

– Alice. – mamãe chama. – Você tem cinco minutos.

Convidei Marcos e Bruno para virem ao aeroporto, mas eles estão ocupados ou algo assim. Já a Martha, vulgo anãzinha, veio.

Não consigo decifrar se ela está triste ou indiferente, mas a abraço do mesmo jeito.

–Você até que é legal, loirinha. – ela diz. – Talvez eu sinta sua falta.

– Igualmente. – rebato. – Cuidado para não tropeçarem em você, anã de jardim.

– Haha. Cuidado para não pensarem que você é uma banana, querida.

– Cuidado para... – eu ia falar algo muito legal, tenho certeza. Mas nesse momento o Jake puxa meu braço e me olha com cara feia. E daí que estou brigando com uma criança? Ela começou.

– Alice, será que você pode se concentrar aqui? – ele pede. – Isso é para ser uma despedida triste.

– Oh, desculpe. – falo. Ele sorri um pouco e me beija.

– Cof, cof. – Melissa simula uma tosse. Finjo que não ouvi e continuo beijando meu namorado, afinal, vou ficar muito tempo sem vê-lo.

– Querida. – papai diz com a voz grosseira. – Temos que ir.

– Eu sei. – resmungo.

Enxugo as lágrimas dos meus olhos e respiro fundo.

– A gente se fala, né? Mandem uma mensagem por whats app ou algo assim. Amo vocês. Quem sabe vocês não vão me visitar um dia... – digo, por último. E então eu vou.

* * *

A barriga da minha mãe já está crescendo, obviamente: Ela está grávida. Mesmo levando em consideração o fato de que a gravidez é uma coisa linda e blá blá blá, ainda assim é uma tortura sentar ao lado dela no avião. A mamãe ocupa o espaço de duas pessoas!

– Parte meu coração ver você triste, sabia? – mamãe diz, provavelmente em uma tentativa (cá entre nós, bem boba) de me fazer parar de chorar.

– Se partisse eu não estaria nessa droga de avião. – rezingo.

– Não fale assim. Eu só quero o seu bem.

Fecho a cara e continuo olhando pela janelinha do avião minha cidade se tornar cada vez menor. Ignoro as lágrimas que continuam a escorrer pelo meu rosto. Os meus duendes estão enlouquecendo, preocupados com meu estado, mas até isso eu ignoro.

Algumas coisas talvez simplesmente não tenham sido feitas para dar certo.

* * *

A minha cama é macia e parece dizer “Alice, Alice, Alice” toda vez que me levanto dela. Minha nova casa é pequena, mas aconchegante. Me olho no espelho. Meus olhos estão roxos e inchados. Chorei a noite inteira ontem. Dormir tem se tornado uma tarefa difícil agora. Faz uma semana que estou em Miami. O Jake tem me mandado mensagens e tudo mais, porém isso só torna mais complexo ficar longe dele.

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– Alice! – mamãe grita. Meu quarto agora não é mais em um primeiro andar, fica no térreo, ao lado do quarto dos meus pais.

– Que é? – grito de volta. Ainda temos os mesmos hábitos, ao menos.

– Venha aqui. IMEDIATAMENTE! – escuto outro berro e estremeço. Não me lembro de ter aprontado nada recentemente, mas mesmo assim uma preocupação invade meu ser.

Caminho em passos lentos até onde minha mãe está, absorvendo bem o oxigênio desse mundo poluído. Pode ser a última vez que respiro.

Mamãe não parece brava. Suas bochechas estão em um tom aceso de rosa e seu cabelo está despenteado, mas ela parece quase... Animada.

– Tenho novidades! – ela exclama. – Fui promovida no trabalho. Estamos nos adaptando tão bem aqui, não é? E você daqui a pouco estará indo para a escola e fazendo novas amizades. Que bom que o seu inglês é perfeito!

– Não entendi porque você me chamou com tanta urgência. Não me importo com essas coisas todas. – dou de ombros, olhando para a mamãe com indiferença.

– Não seja tão grossa, filha.

– O que? Você só fica dizendo “não fale assim”, “não aja assim”, mas a senhora já tem reparado em como tem agido? Até agora, tudo que você tem feito é dar ordens, além de ter me arrastado até outro país porque quer viver como uma família! Famílias não guardam segredos, mãe. E você só me contou que estava grávida no ultimo instante! Além disso, porque raios não foram a vovó e o vovô que se mudaram para o Brasil invés da gente vir para cá? Que droga. Sei que eu não tenho a pior vida do mundo, que eu tenho o que comer, o que vestir, e lençóis para me aquecer, mas eu também sei que parece que a senhora está fazendo de tudo para estragá-la.

Saio correndo do quarto da mamãe, e corro para o meu. Tranco a porta e me jogo na minha cama, já estou chorando, pela milésima vez, e me sinto péssima, mas fui sincera em cada palavra. Ligo o computador e abro o Skype como se a humanidade dependesse disso. Eu preciso das palavras do Jake. Do conforto que sinto ao vê-lo, ao ouvir sua voz. Ele está online, o que nem me deixa surpresa, nas férias todo mundo fica o tempo todo no computador, né?

– Oi... – começo, já sabendo que o Jake vai ficar preocupado ao ver meu rosto cheio de lágrimas.

– Aconteceu alguma coisa, All? – ele dispara. – Não fica triste. Está tudo bem. Eu te amo.

– Eu falei um monte de coisa para minha mãe agora. Ela deve estar se sentido mal, mais até do que eu. Eu sempre sou tão grossa! – começo a chorar ainda mais. – Eu queria ser melhor para as pessoas, mas sempre faço a coisa errada.

– Então peça desculpas. – O Jake sugere, como se essa fosse a coisa mais simples do mundo. – Diga que está arrependida. Você está, não está?

– Não sei. Eu sinto que fui sincera. Mas acho que ninguém gosta de ter a verdade despejada na cara.

– Você gosta, Alice? Acho que não, né? Tente consertar tudo. É mais fácil do que você imagina. A chame para dar uma volta na praia, sei lá. Ela vai gostar da sua companhia. E você vai poder conhecer melhor a cidade.

– Obrigada pela ajuda. – murmuro, sem nenhuma ironia. - Eu sinto sua falta. Eu te amo.

– Eu te amo até a lua, ida e volta. – ele diz e sorri.

– Eu te amo infinitas vezes. – respondo.

Ele ri um pouco. Nos despedimos e eu faço um lembrete para mim mesma: Pedir desculpas à mamãe. Fico pensando no que o Jake disse (“Eu te amo até a lua ida e volta”) até acabar pegando no sono. Eu sonho com corações... E uma grande distância.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.