Lembranças De Um Verão

Capítulo 7 – Mergulho


– Dar um jeito? – Perguntava eu enquanto ainda olhava incrédula pra ele colocando alguma coisa que eu não sabia o que era no anzol – Mas não é só você criar umas daquelas bolhas de ar pra eu ficar embaixo d’água como sempre faz?

– Annie, quanto tempo de oxigênio você acha que cabe dentro de uma bolha daquelas? – Ele nem se deu ao trabalho de olhar pra mim ao responder, continuava concentrado no que estava fazendo – Pra você ficar lá embaixo tanto tempo eu teria que criar uma bolha enorme, o que não facilitaria em nada pra você perambular por lá.

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– Tem razão. Mas como uma vara de pesca vai nos ajudar com esse problema? E o que diabos você esta colocando nesse anzol?

– Isso são pedaços de marshmallow. Tyson me disse que é a comida preferida dos Peixes-filtros.

– Dos Peixes o que?

– Peixes-filtros! Eles são a melhor forma de alguém conseguir respirar debaixo d’agua por várias horas.

– Hmmmm. Estou com medo de perguntar como eles funcionam...

– Relaxa, não é nada tão assustador. Você só vai precisar engolir eles por um tempo.

– Por um tempo? Quer dizer que depois terei que “vomitá-los”? Argh! – Fiz uma cara de nojo – Isso não estava no nosso acordo, cabeça de alga!

– Confie em mim! Você não vai nem sentir nada!

Depois de dizer isso ele ficou de pé no barco e preparou-se para lançar o anzol ao mar. Fez um movimento e a linha balançou pra trás e depois foi arremessada a frente caindo a alguns metros do barco. Eu não conseguia me acostumar com o fato de que Percy era especialista em tudo que tinha relação com o mar. Ele parecia ser um pescador profissional mesmo nunca tendo feito aquilo na vida.

– Agora só temos que esperar alguns segundos pra eles morderem a isca – Falou ele na maior naturalidade, como se aquela fosse uma pesca completamente comum.

– E como tem certeza de que eles estão por aqui? Como sabe que vão morder a isca mesmo? E se não conseguirmos os tais “Peixes-salva- vidas”?

–É Peixe-filtro! E eles estão por toda parte! Só que a névoa não te deixa vê-los. Olhe melhor!

Eu inclinei o corpo pra poder olhar as águas do mar. Me concentrei e comecei a notar pequenos peixes rodeando o nosso barco. Eles não eram como os peixes que estamos acostumados a ver sendo vendidos no mercado. Nem parecidos com aqueles que vemos nos aquários. Eles tinham um formato alongado, sem nadadeiras, sem olhos e eu também não estava conseguindo enxergar se havia uma boca ali. Eles se moviam tão rápido pra lá e pra cá que quase não conseguia distingui-los.

De repente percebi uma agitação na agua onde Percy havia atirado a linha. Ele então segurou a vara com mais firmeza e começou a rodar o molinete. Alguns segundos depois eu vi o anzol saindo da água. Pendurados no pedaço de marshmallow estavam, não um, mais vários Peixes-filtros. Eles eram pequenos o bastante pra conseguir dividir o lanche. Percy foi trazendo a linha de volta até que conseguiu segurá-la com a mão e trazer os nossos “amigos” pra dentro do barco. Percy começou a desgrudar os pequenos peixes do anzol e a colocá-los em um pequeno tubo de ensaio que havia trazido.

– Pronto, agora abra a boa e feche os olhos.

– Tem certeza que isso vai funcionar?

– Confie em mim!

– Ok! – Concordei enquanto fechava os olhos e abria a boca. Fiquei esperando sentir aquela pequena criatura que parecia ter um aspecto gosmento, na minha língua, mas nada aconteceu. Esperei mais um pouco e nada. Até que abri os olhos e vi Percy segurando o tubo de ensaio vazio – O que aconteceu? Eles escaparam?

– Não, você já os engoliu. Agora vamos, deve começar a fazer efeito em alguns instantes, e você não vai querer estar fora d’água quando isso acontecer – Ele pegou sua mochila e já ia se preparando pra saltar do barco.

– Espera, vamos com roupas normais mesmo? Não precisamos colocar roupa de banho ou de mergulho?

– Não precisa disso. O “Peixe-filtro” também te ajuda a manter as roupas secas debaixo d’água.

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Logo depois de dizer aquilo Percy deu um mergulho digno de um atleta e depois voltou à tona, com os cabelos molhados.

– Ué, não ia se manter seco?

– Quando estou na água, gosto de sentir que estou. Vem, eu te ajudo a descer – E estendeu o braço pra mim. Eu, depois de pegar minha mochila, segurei a sua mão e coloquei os pés pra fora do barco primeiro. De tênis e tudo. Dei um pequeno impulso e cai na água. Minhas roupas ficaram molhadas porque eu ainda não sabia como usar o poder do Peixe-filtro.

– E agora?

– Agora você vai afundar comigo, e quando estiver pronta simplesmente vai sentir que consegue respirar debaixo d’água. Vamos descer no 3, ok?

– Ok! – disse ainda insegura.

– 1, 2... 3!

Afundamos. Eu, seguindo o instinto de sobrevivência de qualquer mortal comum, prendi a respiração. Enxergava Percy como um borrão colorido. Ele gesticulava e movia os lábios como se estivesse falando. Mas eu, obviamente, não escutava nada. De repente comecei a sentir que meus movimentos eram menos pesados. Como se a água começasse a se comportar como o ar a minha volta. Não me sentia mais como se estivesse flutuando no mar, e sim no céu. Minha visão também começou a melhorar até que enxerguei Percy perfeitamente. Depois, quase que sem pensar, inspirei a agua do mar que entrou rapidamente em meus pulmões. Ao contrário do que eu esperava isso não me causou nenhuma dor ou desconforto. Meu peito então começou a subir e descer, eu respirava normalmente.

– Viu como foi fácil? – A voz de Percy chegava aos meus ouvidos de uma forma diferente. O som ali embaixo se propagava mais lentamente por isso as vozes ficavam distorcidas, mas consegui compreender o que ele disse, provavelmente, por causa da ajuda do Peixe-filtro.

– É... já me sinto quase uma sereia! – Brinquei e ele soltou uma gargalhada.

– Então vem aqui minha sereia, vai ter que pegar uma carona comigo se quiser descer rápido – ele se posicionou a minha frente, de costas pra mim. Suas mãos seguraram meus pulsos e fizeram meus braços rodearem sua cintura. Eu entendi o recado e então segurei firme nele – Infelizmente o Peixe-filtro não te dá bom desempenho nadando, nem te dá o poder de controlar as águas.

– Imaginei... vê se vai devagar!

– Devagar? Tá brincando né? – E no milésimo de segundo seguinte, ele girou seu corpo fazendo-nos ficar de cabeça pra baixo e começou a descer cada vez mais fundo em direção a escuridão.

Fechei os olhos e encolhi a cabeça, encostando no ombro dele. Não sei quanto tempo fiquei assim, só sei que não demorou nada pra eu perceber Percy diminuindo a velocidade até paramos de pé num chão arenoso. Ainda estava com todos os músculos do corpo tensos por estar fazendo tanta força pra me segurar a ele. Meus olhos se abriram e percebi que ali em baixo era bem mais claro do que eu imaginava. Assim que nos soltamos eu perdi o equilíbrio e cambaleei para o lado. Teria caído se Percy não tivesse me segurado.

– Hey, aonde vai tão cedo? Mal chegamos e já tá querendo ir embora?

– Bobo! Falei pra não vir tão rápido! Agora estou zonza! – Disse eu esfregando as mãos nos olhos e depois esticando braços e pernas pra testar meus reflexos. Só então percebi que eu ficava parada de pé no chão normalmente. Nem ao menos sentia uma maré tentando me levar pra lá e pra cá. Realmente a água tinha assumido completamente o papel do ar.

– Então vamos até ali e sentar um pouco enquanto você se recompõe.

– Acho que não... – dei um passo a frente e voltei a me sentir mareada. Que irônico pensar aquilo, já que aparentemente o mar já não estava surtindo efeito sobre mim depois que engoli aquele Peixe-Filtro. Mudei de ideia e então completei – na verdade, pode ser que seja uma boa ideia sim!

Percy então me ajudou a chegar até um recife de corais que tinha o formato de um banco. Nos sentamos e eu relaxei um pouco.

– Eles já sabem que estamos aqui?

– Eles quem?

– Sei pai, seu irmão, sua família. Todos.

– Imagino que sim. Poseidon mantém um controle minucioso dessa área. Ele saberia se tivesse um mínimo grão de areia fora do lugar.

– E eles virão nos receber ou alguma coisa assim?

– Acho que não. Nós teremos um tempinho pra conhecer o reino antes de eu te levar ao palácio.

– Ah que bom! Adoro adiar o meu sofrimento.

– Para com isso vai, já disse que não importa o que ele diga, nada vai nos separar.

Foi a coisa mais fofa que Percy havia dito o dia todo. Eu senti meu coração se enchendo de alegria enquanto batia mais acelerado. Sorri e cheguei mais perto dele. Ele fez o mesmo e afagou meus cabeços enquanto me beijava. Esse beijo subaquático era diferente de tudo que já tínhamos experimentado. Porque quando estávamos dentro das bolhas de ar, era como um beijo comum fora d’água. E quando eu também estava embaixo d’água, tinha que ficar prendendo a respiração e me preocupando pra não engolir água.

Dessa vez o beijo foi totalmente submerso e sem restrições. A água, mesmo já não provocando a mesma força sobre nós, fez com que os movimentos ficassem mais lentos e ao mesmo tempo mais intensos. Não me importaria de não visitar mais Palácio nenhum e ficar ali, só curtindo as minhas novas ‘habilidades’ aquáticas.