P.O.V. Felicity.

Quem diria que fazer faxina me colocaria numa situação dessas. Eu limpei tudo. O Esconderijo todo. Os monitores, o equipamento, os manequis, as flechas, os arcos, as vitrines, o chão.

Varri, lavei, esfreguei, passei pano, limpa telas. Tá tudo nos trinques. Menos eu. Inventei de limpar a geringonça que o Oliver usa pra se pendurar e me lasquei. Porque agora eu estou pendurada e prestes a cair.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Não consigo usar o celular, já que este está encima da mesa e tocando de novo, de novo e de novo.

Então, fiz a única coisa que uma pessoa na minha situação e com pânico de altura pode fazer.

—Socorro! Alguém! Socorro! Thea! Dig! Oliver! Socorro!

Eu senti a minha mão escorregar o meu corpo cair e ai... escuridão.

P.O.V. Oliver.

Eu conheço a Felicity. Ela nunca fica longe do celular, sempre atende no terceiro toque no máximo e esse é o sétimo.

Quando cheguei ao esconderijo encontrei uma Felicity inconsciente e com um ferimento na cabeça.

—Felicity!

Levei ela correndo pro hospital e liguei para o Diggle.

—O que aconteceu?

—Eu a encontrei inconsciente no esconderijo embaixo da Verdan.

—Acha que houve alguma invasão?

—Não sei, Diggle.

O médico veio com o seu jaleco branco e carregando uma prancheta.

—Sabe o que aconteceu?

—Ela bateu a cabeça e fraturou uma costela, mas não há sinais de agressão. Porém, ela caiu e foi uma queda feia.

—Escorregou?

—Ela caiu de uma grande altura.

—Caiu de uma grande altura? Tem certeza?

—Tenho. Enfaixei a costela e ela vai ficar bem. Tem que ficar em observação por algumas horas.

Não sei quanto tempo demorou, fiquei numa agonia, sapateado tentando entender como ela pode ter caído duma grande altura num esconderijo subterrâneo. Mas, ela finalmente acordou.

—Como se sente?

—To bem. Porque eu to no hospital?

—Do que você se lembra?

—Ahm, faxina! É. Eu tava fazendo faxina.

—Fazendo faxina?

—Tinham embalagens de comida espalhadas por todos os lados, as telas estavam engorduradas, o chão estava nojento, os vidros cheios de dedos. Ai eu peguei uma vassoura, sacos de lixo, produtos de limpeza e pau na máquina.

—Felicity, eu te encontrei inconsciente. Como você ficou inconsciente fazendo faxina?

Ela parecia fazer força para se lembrar. Então, pareceu lembrar.

—Ah! O trepa-trepa assassino.

—O que? Isso é algum tipo de codinome de bandido?

—Não. Estou sendo literal. Eu tava limpando aquele seu trepa-trepa assassino, ai eu fiquei pendurada lá.

O meu equipamento de musculação.

—Eu olhava pra baixo e ai ficava enjoada e tudo rodava, eu não conseguia descer. Fiquei entalada lá. Como quando fiquei presa na casa da árvore na quinta série. Só que pior. Eu acho que eu cai. Devo ter entrado em pânico.

Apesar da situação ser crítica não consegui controlar a risada quando me veio na cabeça a imagem da Felicity pendurada no meu equipamento de musculação. Ela é tão pequena, tão magrinha.

—E como foi que você ficou pendurada no equipamento de musculação do Oliver?

—Eu tava limpando. E tinha uma escada, mas ai eu fui subindo, e subindo e subindo. Quando eu olhei pra baixo... foi tudo para as cucuias. Caiu a escada e eu quase fui junto, mas eu me agarrei naquele trem e fiquei pendurada.

—Você deu um baita susto na gente.

Ela olhou pra mim e perguntou:

—Como consegue se pendurar naquele trepa-trepa assassino e não morrer?

—Eu treino.

—Você é maluco. E eu to ficando com sono. Porque eu to com sono?

—O médico te deu morfina.

—Ah! Morfina é legal. Até soa engraçado. Morfina. Mor... fina.

Ai Meu Deus!

Depois que ela dormiu eu e o Diggle demos risada.

—Ai, só a Felicity para aprontar uma dessas. Ficar pendurada num equipamento de musculação e apelidá-lo de trepa-trepa assassino.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

—Aquilo requer muita força, Oliver. Força que ela com certeza não tem. Mas, ter entrado em pânico da altura e derrubado a escada... é algo que ela faria. Acho que não existe ninguém no mundo mais desastrada do que Felicity Smoak.

Dadas as quarenta e oito horas ela foi liberada.

—Você deveria ficar de repouso senhorita.

—Vou ficar.

E eu fiquei com ela no seu apartamento minúsculo que era mais para um apertamento.

—Felicity Smoak. Só você para ficar pendurada no meu equipamento de musculação.

—Algum dia aquilo te derruba. Eu não subia nem no trepa-trepa do parquinho e aquele lá tem mais ou menos uns vinte metros de altura.

Eu ri. É claro que não tinha vinte metros.

—Você tem que limpar aquela geringonça.

—Eu limpo. Todo dia.

—Mas, não limpou direito. Tava sujo e engordurado. Eu é que tive que esfregar!

—Vou te levar pra cama senhorita esfrega-esfrega.

—Esse é um codinome horrível. E eu to com fome.

—Posso pegar um hambúrguer do Big Belly.

—Não. Eu tenho que parar de comer no Big Belly, eu vou virar uma baleia.

—E o que você quer comer?

—Não sei. Eu não sei cozinhar. Da última vez que eu tentei tive que chamar os bombeiros.

—Botou fogo na casa?

—Não, mas foi quase.

Eu ri.

—E o que você quer comer?

—Eu não sei. A minha cabeça ainda tá meio... confusa.

—Que tal, macarrão?

—Macarrão é bom. Eu vou buscar uma taça de vinho.

—Vinho? Você acaba de sair do hospital.

—Exatamente por isso. Pra comemorar. Primeira vez que eu fui hospitalizada em prol da equipe. E foi fazendo faxina. Clássico eu.

Ela voltou com a garrafa, abriu-a com o saca rolhas, colocou o vinho na taça e sentou no sofá.

—Sabia que a minha mãe também não cozinhava?

—Imagino que não. E o seu pai?

—Não sei. Ele foi embora.

—Sinto muito.

—Já faz tempo.

Estava picando os ingredientes e ela tava sentada no sofá olhando pra mim.

—O que foi?

—Nada. Nunca tinha notado o quanto você fica bonito cozinhando.

—Obrigado, senhorita Smoke e o que a senhorita vai fazer?

—Eu vou ficar aqui e olhar.

—Vai me supervisionar?

—É. É o meu trabalho, só que é reconfortante saber que agora não corre perigo de vida, não está prestes a tomar um tiro, ou ser explodido. Mas, se te traz algum conforto, pode perder um dedo.

—Não quero perder nenhum dos meus dedos.

Dessa vez era ela que estava com a testa enfaixada.

—Você é que está com a testa enfaixada.

—É.

Fiz macarrão fetutticini ao molho branco. Ela gostava de molho branco.

—Qual é a sua comida preferida, Oliver?

—Comida.

—Ah, qual é? Deve ter alguma que você goste mais.

—Carne. Um bife mal passado.

—É. Parece bom.

—Música favorita?

—Não tenho uma. Nunca me liguei muito em música e você?

—Eu gosto de um pouco de tudo. Mas, a minha favorita é Come as you are do Nirvana.

—Uma roqueira?

—É.

Nós jantamos e continuamos a conversar até ela apagar.