Na casa do Cosme Velho o dia também começa... Laura está à mesa tomando café... prepara-se para enfrentar a rua e começar a procurar um novo emprego.

Laura: Matilde... vou sair agora pela manhã, mas provavelmente vou estar em casa à tarde...

Matilde: A senhora vem para o almoço?

Laura: Sim... mas pode fazer algo bem simples... hoje seremos somente o Daniel e eu... O jornal já chegou?

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Matilde: Sim senhora...

Laura abre o jornal de Guerra... folheia e dá uma olhada nas manchetes... até que se prende a algo que vê... seu sorriso de satisfação não cabe em seu rosto... foi publicado... seu artigo foi publicado... está muito feliz... talvez aquilo seja o prenuncio de novos artigos... se Guerra gostou e publicou esta primeira matéria... talvez possa interessar-se por outras... e com esse humor se despede da empregada

Laura: Bem... isso já é um alento... agora vou ver o que me espera nas escolas que vou visitar... me deseje sorte Matilde!

Matilde (sem entender exatamente ao que Laura se refere): Claro... boa sorte D. Laura...

Enquanto isso, Edgar e o Capitão Vilas Boas chegam ao porto... adentram o imponente Canhoneira Ajuricaba, que chegou ao Rio de Janeiro vindo de Londres ha alguns dias e onde sabidamente haviam marinheiros dispostos a aderir ao motim... Vão passando e batendo continência aos oficiais superiores e a tripulação que encontram... chegam à hora de inspeção, sendo que todos os marinheiros estão enfileirados no convés... Edgar está com o coração na mão... a vontade de descobrir a verdade e o medo de ser descoberto estão dividindo espaço em seu pensamento... passa pelas filas de marinheiros como se fosse um oficial que tem por praxe este procedimento... até que se detém no último marinheiro da terceira fileira... conhece aquele homem... é Zé Maria... aproxima-se dele e faz sinal para acompanha-lo... com a cobertura do Capitão Villas-Boas passam despercebidos por todos, que estão atentamente ouvindo o discurso inflamado de um Almirante... Zé indica o caminho e vão até a casa de máquinas do navio...

Edgar: Zé Maria... meu amigo... que bom ter te encontrado aqui...

Zé: Edgar... o que diabos está fazendo aqui? Como está com essa roupa de oficial?

Edgar: Preciso que mantenha segredo... eu escrevo para o jornal do Guerra com o pseudônimo Antonio Ferreira... estou fazendo uma reportagem sobre o que está acontecendo aqui nos navios da Marinha... Zé... me conte o que está acontecendo... juro que não vou citar seu nome...

Zé: Tudo bem... confio em você... todos os marinheiros negros aqui são tratados com escravos... se alguém reclamar de algo por aqui é preso no porão e leva chibatadas... se isso não resolve é transferido para um navio prisão ou para a Ilha das Cobras... não sei se percebeu, mas o capitão deste navio anda com uma chibata... como negociar pacificamente não resolve, estamos organizando este movimento... mas não temos nenhuma intenção de machucar ninguém... apenas queremos forçar o governo a aceitar nossas reivindicações de trabalho... a abolição destes castigos físicos...

Edgar: Zé... mas há alguns dias um dos navios começou a lançar fogo contra a cidade assustando as pessoas.. inclusive saiu em alguns jornais que atingiu algumas casas e pessoas ficaram feridas...

Zé: Deve ter gente dentro de algum navio tentando colocar a população contra os marinheiros... como te disse... não temos por objetivo machucar ninguém... deste navio nunca vai sair uma ordem para atacar a cidade... eu nunca faria isso... muito menos o João Cândido ou o Pau da Lira...

Edgar: quer dizer que você é um dos comandantes da revolta? Zé... não esperava outra atitude sua... você já passou por algum destes castigos?

Zé: Sim... dê uma olhada (virando-se e mostrando as marcas de chibata em suas costas)... não é só a dor física meu amigo... o que mais dói é a humilhação...

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Edgar: Obrigado Zé... já tenho material suficiente... agora vamos... antes que deem por sua falta...não quero te trazer problemas...

Zé: Já estou até o pescoço de problemas... esse seria apenas mais um... mas vamos...

Edgar: E depois da revolta? Pretende passar uns dias no Rio?

Zé: Acho que sim... vou ver se visito minha gente lá do morro...

Enquanto isso, na cidade, Laura segue por escolas... é recebida com educação e cortesia pelos diretores... até o momento que descobrem seu estado civil... Acabara de entrar no Liceu, um instituto de educação para meninas, enquanto aguarda ser recebida, vê no mural da secretaria que estão precisando de uma professora para o terceiro ano... seus olhos brilham... é uma oportunidade real de trabalho... Ela entra e começa a conversar com o diretor... ele gosta de seu perfil e começa a ler seu currículo...

Diretor: Bem... a senhora tem excelentes qualificações... desenvolveu um ótimo trabalho em Petropolis... tem boas referências... mas infelizmente nosso quadro de funcionários está completo...

Laura: Mas eu vi na entrada que estavam necessitando de professores...

Diretor: Senhora... vou ser-lhe franco... precisamos de professores... mas a senhora não serve para nossa instituição...por melhor currículo profissional que tenha... precisamos de pessoas integras e de conduta moral impoluta... uma mulher divorciada não é um bom exemplo para nossas crianças...

Laura: O senhor está julgando minha conduta moral por meu estado civil? Não fiz nada de errado... o divórcio é legalmente permitido no país...

Diretor: Isto não importa... perante a sociedade a senhora teve uma atitude vergonhosa... agora com licença... tenho muitas coisas a fazer... Passar bem D. Laura...

Laura (levantando-se e suspirando): Passar bem...

Laura está desanimada... percorrera várias escolas... e, em todas obtivera a mesma resposta... não há vaga... em todas recebeu o olhar reprovador e preconceituoso de seus diretores... alguns de forma velada... outros nem tanto... Está cansada.. já são quase meio-dia... é melhor voltar para casa...

Já na Rua São Clemente, D. Constância está pronta para sair... vai a Rua do Ouvidor... precisa providenciar os últimos detalhes do almoço de aniversário de seu esposo...

Carlota: Tem certeza que quer sair? As pessoas ainda estão comentando...

Constância: Não me importo com isso... sou mais do que toda essa gentinha... e preciso terminar de organizar esse almoço...

Albertinho (chegando com malas na mão): Que almoço? Acho que cheguei na hora exata!!!!

Constância: Filho! Que felicidade te ver aqui! Que bom que veio para o aniversário de seu pai!

Albertinho: Não poderia faltar! Consegui alguns dias de folga no Quartel... a viagem foi cansativa... de Curitiba até aqui é um longo percurso...

Assunção (entrando e dando um abraço em Albertinho): Filho! Que bom ver-te! Depois de tanto tempo vou ter minha família completa para celebrar meu aniversário!

Albertinho: Pena a Laura não estar presente! Estou com saudade de minha irmã...

Assunção: E quem disse que não estará? Laura e Daniel virão... Vou convida-la hoje mesmo para vir...

Constância: Nem pensar... a Laura está proibida de entrar nesta casa...

Albertinho: A Laura está aqui? E quem é Daniel?

Assunção: Daniel é o filho da Laura com o Edgar...

Constância: Definitivamente... ela não pode vir... já temos escândalos suficientes... e a casa vai receber toda a elite carioca... todos os políticos importantes desta cidade... está decidido... agora me deem licença... preciso ir à Ouvidor... vamos Carlota

Albertinho: Preferia um almoço simples... só para família... mas sua mãe tem de fazer disso um evento social...

Albertinho: Me conta essa história direito... A Laura tem um filho com o Edgar? Voltou do Interior? O que aconteceu aqui enquanto estive fora?

Assunção: É uma longa história... vou te contar...

Longe da cidade, Edgar chega a Ilha das Cobras... naquele lugar insalubre e lúgubre vê coisas que fazem com que fique ainda mais revoltado do que estava quando terminara a conversa com Zé Maria... ao entrar naquela prisão vê marinheiros machucados...privados de água e comida... ao ser conduzido por Capitão Villas-Boas a uma cela, vê corpos sendo recolhidos... três prisioneiros acabaram de vir a óbito depois de serem espancados e ficarem três dias sem comer...

Edgar: Já vi o suficiente... vamos embora daqui... se ao menos pudesse falar com João Cândido...

Capitão: Infelizmente nisto não posso te ajudar... não sei que destino deram a ele... vamos... vamos voltar a cidade...

Na casa dos Assunção, pai e filho terminam sua conversa sobre os últimos acontecimentos na família...

Albertinho: Pai... quero ver Laura... preciso conhecer meu sobrinho.. ver como minha irmã está depois de tudo isso... onde ela está morando?

Assunção: Na casa do Cosme Velho... vá mesmo visita-la... e eu vou esperar sua mãe e tentar convence-la a convidar sua irmã..

Após algum tempo, batem a porta da casa do Cosme Velho... Laura que estava sentada na sala lendo, vai atender...

Laura (sorrindo): Albertinho!

Albertinho: Não vai convidar seu irmão para entrar? Quero um abraço!

Laura: Claro... todos os que quiser...

Daniel chega correndo à sala quando ouve que a porta se abrira... vê sua mãe abraçada a um homem estranho..

Daniel: Mamãe!

Laura: Oi Daniel... vem aqui... quero te apresentar... esse é seu tio Albertinho...

Daniel: Meu tio? Aquele que você e o vovô disseram que era do Exército?

Albertinho: Isso mesmo... como vai Daniel?

Daniel: Bem... se você é meu tio pode abraçar a mamãe...

Albertinho: Laura... vejo que ele é tão ciumento quanto alguém que conheço... Daniel... e você eu posso abraçar?

Daniel: Tá...(dando um abraço no tio e saindo correndo para brincar logo depois)

Laura: Quando chegou?

Albertinho: Hoje...vim para o almoço de aniversário do papai

Laura: Almoço?

Albertinho: Sim... mais uma das ideias absurdas da mamãe... o papai me contou tudo Laura... vim ver você assim que soube de tudo...

Laura: Claro... e com certeza eu não devo ir a esse almoço...

Albertinho: Laura... eu daria qualquer coisa para estar em seu lugar... vai ser maçante....

Laura: Mas é o aniversário do papai...

Albertinho: eu sei Laura... ele vai vir conversar com você... disse que vai tentar convencer a mamãe...

Laura: Sei que não vai conseguir...

Eles continuam conversando... quando Albertinho se despede Laura fica pensativa... está atormentada... avisa Matilde para cuidar de Daniel e sai...

Edgar chegara em casa... está terminando de trocar sua roupa... pensa em tudo o que viu naquele dia dentro das instalações e navios da Marinha Brasileira... tem de escrever logo o artigo e entregar para Guerra... mas antes vai passar na casa de Laura... precisa ver como está sua esposa e seu filho... está descendo as escadas quando ouve batidas na porta... vai atender...

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Edgar: Laura... estava indo ver você...

Laura (Abraçando Edgar): Me abraça Edgar... estou precisando tanto de você...