Joaquim aluga um coche e toma o rumo de Petrópolis No caminho pensa no que vai dizer a sua cliente. Não pode deixar que a oportunidade de aproximar-se dela se perca. Está apaixonado... quanto a Edgar, entende sua reação... em seu lugar teria agido da mesma maneira.. imagina que deve estar sendo difícil para ele aceitar que Laura não é mais sua esposa... mas agora ela é livre e nada vai impedi-lo de tentar conquista-la e com o tempo faze-la feliz....

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Enquanto isso, no Rio de Janeiro, Edgar e Guerra estão no porto. Os negócios de Edgar vão muito bem, já é um advogado renomado na cidade e, pouco antes de embarcar para Portugal, havia encomendado um carro a motor. Ele vai busca-lo sem muito entusiasmo.

Guerra: Nossa... mas é maravilhoso

Edgar (sem muito ânimo): É...

Eles embarcam e vão seguindo para a Rua do Ouvidor... Edgar vai levar Guerra até o Jornal. O rapaz está completamente desanimado.

Guerra: Que é isso Edgar? Você acaba de comprar um carro e está assim... devia estar louco para sair por aí...

Edgar: Guerra... quando eu comprei esse carro eu ainda estava casado.... tinha planejado tantas coisas... viajar com a Laura para tantos lugares.... passear com ela... leva-la onde quisesse... e agora...

Guerra: E agora faça essas viagens sozinho... aliás... depois de tudo isso você está mesmo precisando...

Edgar: É... tem razão... talvez uns dias longe daqui me ajudem a espairecer... mas para onde vou?

Guerra: Não sei... qual o lugar onde mais gosta de ir?

Edgar: Sei lá... Paquetá... Petrópolis....

Guerra: Pois então... que eu saiba Petrópolis era o seu refúgio

Edgar: Não... nem pensar... minha lua de mel foi lá... em cada parte daquela casa, daquela cidade, eu vou me lembrar dela...

Guerra: Bom... Edgar... se for por isso... ficar aqui dá na mesma... vai... enfrente seus fantasmas... só assim vai poder seguir em frente... coragem, meu amigo

Edgar: Está certo... amanhã vou para Petrópolis...

Na fazenda, Laura e Sandra conversam na varanda, quando um coche chega e estaciona no jardim.

Laura: Quem poderá ser?

Sandra: Vamos ver...

Elas vão até a escada e vêem Joaquim descer do veículo. Ele vai ao encontro das moças.

Joaquim: bom dia

Laura e Sandra: bom dia

Joaquim: É um prazer voltar a vê-la, D. Laura

Laura: Obrigada... entre... deixe apresentar-lhe... esta é minha amiga Sandra

Joaquim: Encantado (beijando a mão de Sandra)

Sandra: Como vai (Sandra percebe que Joaquim não desvia os olhos de Laura...) Com licença... vou ver se encontro a D. Gertrudes...

Laura: Bem... Dr. Castro... a que se deve sua visita?

Joaquim: Conforme prometi... vim trazer-lhe o documento assinado pelo juiz... agora a senhora é uma mulher oficialmente divorciada...(entregando o papel para Laura) e... também não podia deixar de aproveitar a oportunidade de revê-la...

Laura olha para aquele papel. Sente um gosto amargo na boca. Suspira. Seu casamento chegara ao fim. Tenta disfarçar a vontade de chorar...: O senhor não precisava ter se incomodado... como disse podia ter entregue o documento para meu pai...

Joaquim: Desculpe meu atrevimento... mas... desde que a conheci não consigo parar de pensar na senhora...

Laura (distraída... não consegue parar de olhar para a folha que tem em mãos): Desculpe... o que disse?

Joaquim: Gostaria de continuar a seu dispor... se me permitir gostaria de visita-la mais vezes...

Laura: Dr. Castro... desculpe... mas não posso aceitar suas visitas... nem agora nem depois...

Joaquim: Eu entendo que tudo é muito recente... mas com o tempo a senhora deve pensar em retomar sua vida... é tão jovem e tão bela... deve pensar em ter um companheiro...

Laura: Eu já tenho um companheiro... para o resto de minha vida

Joaquim: Edgar...

Laura: Não... Edgar é o amor de minha vida.. e ninguém vai conseguir substitui-lo.... o senhor mesmo sabe em que circunstâncias esse divórcio ocorreu... mas meu companheiro é outro...

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Joaquim: Perdão... mas não compreendo...

Laura: Estou grávida... mas...por favor.... peço-lhe discrição sobre isso...

Joaquim: Eu entendo... mas ter um filho sozinha será muito complicado... e creio que o pai não sabe...

Laura: Não... e não pretendo avisa-lo... tenho medo que me tire a criança.... por favor não conte nada a ele...

Joaquim: Conheço Edgar... ele jamais faria isso... mas... posso ajuda-la... lhe faço uma proposta... case-se informalmente comigo... eu assumo essa criança como meu filho...

Laura fica chocada quando ouve aquilo...

Laura: Mas o senhor me disse que é amigo de meu ex-marido... como pode fazer isso com ele?

Joaquim: Senhora... estou completamente apaixonado... e faria qualquer coisa para vê-la feliz... mesmo que isto me custe a amizade do Dr. Vieira

Laura: Dr. Castro... agradeço por tudo... mas pretendo que nossa relação se mantenha em nível profissional... e se não tem mais nada a fazer aqui lhe peço que se retire...

Sem dizer palavra Joaquim volta para o coche, que recebe ordens de ir para o Rio de Janeiro. Laura está na varanda... ainda está espantada com o que Joaquim lhe disse.. Sua amiga Sandra volta a lhe fazer companhia

Sandra: O que queria esse senhor?

Laura: Ele veio me entregar o documento do divórcio... mas era apenas um pretexto...

Sandra: Logo vi... ele não parava de olhar para você

Laura: Como pode? Se dizendo amigo do Edgar e me dizendo essas coisas? Mas já o coloquei no devido lugar... Sandra (chorando)... meu casamento acabou...

Sandra: Amiga... chora... vai te fazer bem (consolando e abraçando Laura)

Laura: Obrigada por estar aqui...

Sandra: Amigas são para essas coisas... vem... vamos dar uma volta....

Laura: Não... prefiro ir para meu quarto... não fique chateada... mas preciso ficar um pouco sozinha...

Sandra: tudo bem...

Laura vai para o quarto e chora sua dor. Pensa em seu matrimônio... no que podia ter sido... e que infelizmente jamais será...

No dia seguinte, Edgar prepara-se para viajar. Deixa instruções para Matilde a respeito da casa, visita sua mãe, sua filha e parte para Petropolis. Após algumas horas de viagem chega a Chácara de seus pais. Olha ao seu redor.. o jardim... o caramanchão .. o caminho para o lago... tudo o faz lembrar de Laura... vê dona Maria o esperando na porta

D. Maria: Edgar... seja bem-vindo

Edgar: Obrigado Maria... como está tudo por aqui?

D. Maria: Como sempre... Menino... desculpa me intrometer... mas... o que aconteceu? Por que veio sozinho? Brigou com dona Laura?

Edgar: Maria... é uma longa história... mas depois eu conto... deixa eu levar as malas...

Edgar entra na casa... vai em direção ao quarto... não tem coragem de abrir a porta... mas... como disse Guerra... é preciso enfrentar seus fantasmas... abre... vê a lareira... o tapete onde dormiram abraçados... a cama... tem a impressão que Laura está ali... mas ela não está...

Na fazenda Laura acorda desanimada. Sandra resolve animar a amiga

Sandra: Amiga... anime-se... pense que tem um bebezinho aí dentro de você... e que ele sente tudo o que você sente...

Laura: Eu sei...

Sandra: Quer saber? Chega com esse desânimo! Vamos para a cidade...

Laura: Para cidade?

Sandra: Isso mesmo...você já começou a fazer o enxoval dessa criança?

Laura: Com tudo isso nem pensei... mas você está certa... preciso pensar no seu afilhado

Sandra: Meu afilhado? Ai Laura... que honra! Pois então... agora eu como madrinha coruja quero ajudar a escolher tudo o que o meu afilhadinho vai precisar... e faço questão de presenteá lo com várias coisinhas...

Laura: Sandra... não precisa... eu tenho um dinheiro guardado... vai dar para comprar tudo o que ele precisa e acho que ainda sobra alguma coisa...

Elas se arrumam e vão de charrete até a cidade. Estacionam... vão andando pelas ruas e conversando

Sandra: Achei que seu pai estivesse te ajudando...

Laura: E ele está... me cedendo um lugar para morar... mas não quero depender dele para minhas despesas e as do meu filho... assim que puder quero voltar a trabalhar...

Sandra: Está certo... você sempre quis ser independente... te admiro muito...

Laura: Então vamos, comadre.. agora você me animou... ah... preciso ver umas roupas para mim... as minhas estão começando a ficar apertadas...

Na chácara, Edgar anda um pouco... chega ao caramanchão e pensa em ler alguma coisa.. só então se dá conta que esqueceu de trazer livros...

Edgar: Mais isto... bom... vou para cidade... na biblioteca há de ter algo que possa me interessar...

Edgar entra em seu carro e vai para Petropolis. Entra na biblioteca e vai olhando os títulos pelos corredores formados pelas prateleiras...

Laura e Sandra estão na rua com suas compras. De repente deparam-se com a biblioteca.

Laura: Ah... vamos entrar... quero ver se encontro um livro do José de Alencar que li há muito tempo... "O Tronco do Ipê"...

Sandra: Vamos... nada anima mais uma professora do que uma biblioteca.. ainda mais se ela se chamar Laura Vieira....(rindo)

Elas entram.. vão conversando pelos corredores....

Sandra: É assim que gosto de te ver..... isso só faz bem para você e o meu afilhado

Elas entram no corredor em frente ao que se encontra Edgar... ele ouve uma voz que lhe parece familiar... é Laura... tem certeza que é Laura... sente uma felicidade por saber que seu amor está ali... tão perto... pelas frestas da prateleira consegue ve-la... procura escutar o que diz sem que ela perceba que ele está ali...

Laura: Pois então, D. Sandra Praxedes... eis aqui D. Laura Vieira... divorciada... e muito, mas muito feliz... e quando ele estiver em meus braços serei a mulher mais feliz do universo...

Edgar desaba ao ouvir aquilo... ela está proclamando aos quatro ventos que é divorciada... e ainda diz que está feliz com isso... e mais... já está apaixonada por outro e está esperando chegar... quem será o desgraçado? será que Joaquim conseguiu? Não... o Joaquim não... Laura aquele dia não lhe deu nenhuma esperança... mas e depois? Sua vontade é tomar-lhe satisfação... mas com que direito? Ela já não lhe deve explicações... está feliz... até roupas novas está comprando para poder encontrar-se com esse fulano... pois então que seja...

Ele sai da biblioteca sem deixar ser visto. Vai até a chácara e lá sim demonstra todo seu sentimento... chora de raiva... jura que nunca mais quer ver Laura... desconta sua ira em uma pobre cadeira que é jogada longe...Mais calmo, arruma suas coisas. Não há mais condições de permanecer ali...

Os meses passam. Sandra voltou para a Capital, não sem antes tentar convencer Laura a contar a Edgar sobre o filho que vão ter. Dr. Assunção sempre que pode vem visita-la e acompanha de perto a evolução da gravidez. E também continua insistindo que ela deve contar sobre a criança. Quando passeia pela fazenda e vai até o alojamento dos colonos que trabalham nos cafezais, vê crianças correndo e brincando com seus pais... Tudo isso a faz pensar se está agindo certo... Seu filho tem o direito de conhecer... de conviver com Edgar... e ele... bem... nunca perdoará se ela esconder que vai ter um filho... Está em seu quarto... vai até a escrivaninha e começa a escrever...

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Petropolis, 18 de setembro de 1905

Edgar

Sei que depois de tudo o que passamos deve estar estranhando eu estar te escrevendo. Mas, há algo que preciso contar-lhe e que se não o fizer não vou ter paz. Algumas semanas depois de você ter partido para Portugal, descobri que estava grávida. Estou esperando um filho seu. Minha primeira reação foi te contar, mas diante de tudo o que se seguiu, resolvi manter silêncio a respeito de minha gestação. Mas não posso, não aguento mais isto. Nosso filho e você têm o direito de se conhecerem, conviverem... Nossa situação seguirá a mesma, mas o bebê e você tem o direito de terem um vínculo afetivo. Espero que possamos nos entender a respeito do futuro dele...

Ele deve nascer no final de novembro. Você será bem-vindo se quiser estar presente quando ele chegar.

Laura

Laura coloca a carta no correio no mesmo dia. Uma semana depois, a carta chega a cada de Edgar. Matilde a recebe.

Matilde: Dr. Vieira... correspondência para o senhor...

Edgar: Obrigado Matilde...

Edgar vê o nome do remetente .. não acredita que Laura lhe escrevera... depois de tudo o que aconteceu... de tudo o que ouviu em Petropolis... vai abrir o envelope... mas... para.... não... não quero saber nada a respeito dessa mulher... ele amassa o papel... e joga a carta no lixo...