Laura E Edgar - Um Novo Olhar

Alguns anos... Final


Alguns anos (capítulo final)

Nove meses depois daquela noite, em uma tarde chuvosa de primavera, nascia Bento Assunção Vieira, nosso pequeno menino. Um lindo menino loiro com olhos verdes e é muito parecido com o pai. Nasceu forte e um tantinho robusto. No momento de escolher um nome sugeri Bento, Edgar perguntou o significado, disse a ele que significava “abençoado”, então foi o nome escolhido. Bento vinha para abençoar nossa família. Melissa já com quase onze anos e Beatriz com pouco mais de dois e três meses ficaram felizes com o novo irmão. Edgar, agora, não era o único homem da família, tinha um filho, tínhamos o nosso menininho.

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Outro dia, chegando da escola vi Edgar, Melissa, Beatriz e Bento, minha família, estavam na sala, o pai brincava com as nossas crianças, foi uma das cenas mais belas que vi, tinha tanto orgulho da minha família, dos meus três filhos, de meu amado marido. Bento crescia com saúde e cada vez mais parecido com o pai, apesar de Edgar jurar que o caráter do menino fosse mais parecido com o meu, um tantinho rebelde. Melissa era quase uma mocinha e ajudava a cuidar dos irmãos, adorava ler para eles. Beatriz se tornava mais parecida comigo... Meus filhos estavam crescendo, felizes e para mim era o que mais importava.

Mas nem tudo é felicidade, quando Bento já tinha quase um ano, Edgar recebeu um telegrama vindo de Portugal, desta vez ele fez questão que eu lesse.

– Então Catarina está muito mal? Tuberculose, será que é verdade mesmo. – Eu disse.

– É o que parece, se for verdade temos que contar para a Melissa... Querendo ou não a Catarina é mãe dela. Desculpe falar assim querida...

– O que disse é apenas a verdade... Eu amo a Melissa, mas a mãe dela é a Catarina... É que está mulher já aprontou tanto no passado, e cada vez que ouço o nome dela, eu sinto um frio na espinha... Tenho medo que seja armação dela, uma maneira de querer nos ludibriar...

– O que sugere? – Edgar me perguntou.

– Eu não sei... Daquela vez aconteceu tudo aquilo, não podemos resolver nada de maneira intempestiva. Será que é verdade mesmo... Ou a Catarina está aprontando alguma coisa, não confio... Tenho medo... – Estava receosa.

– Você tem razão... Pode ser mentira, por outro lado pode ser verdade também... Eu ainda tenho alguns conhecidos do tempo da faculdade... Há um amigo daquela época que pode nos ajudar, hoje mesmo eu mando um telegrama para ele e peço que verifique... Se for verdade, veremos o que vamos fazer...

– Eu não quero expor minha filha desnecessariamente... Sei que a Catarina e mãe da Melissa, mesmo assim fico incomodada... Vamos esperar e vê o que realmente está acontecendo... Se for verdade, contamos a nossa menina.

Edgar concordou comigo e conseguiu mandar um telegrama para o amigo e a resposta não tardou a chegar, três dias depois já tínhamos a resposta confirmando que a Catarina realmente estava muito enferma... Edgar olhou para mim e entregou-me o telegrama e reli novamente a notícia sobre a mãe da nossa filha mais velha.

– Temos que contar para Melissa, ela tem o direito de saber que sua mãe está muito enferma e que pode não resistir. – Disse ao Edgar e o abraçando.

– Como posso dá está notícia para a Melissa? – Edgar estava angustiado.

– Sabe perfeitamente bem que não me agrada mentir, então, temos que contar a verdade, Melissa tem o direito de saber. Querendo, ou não, a Catarina é mãe dela e nossa menina tem todo o direito de saber sobre o estado de saúde dela...

– Nestes anos todos, a Catarina nunca mandou nenhuma carta, nenhuma notícia, sabe que preferi assim. Agora me sinto um pouco culpado por não ter deixado que ela se corresponde-se com a mãe...

– Você fez o que acha certo... A Catarina tinha feito muito mal a nossa família, é natural que a desejasse distante da gente... Porém, agora, perto da morte, tem o direito de ver sua filha pela última vez, quem sabe Catarina tenha algum arrependimento em relação à filha. Quem sabe é disso que precisa para poder ir embora em paz consigo mesma. Mesmo que não tenha dado nenhuma notícia durantes todos estes anos, querendo ou não ela é mãe, e isso, em algum momento surge muito forte em nós mulheres, mesmo que seja anos depois da maternidade...

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– Sugere que eu leve Melissa a Portugal? – Surpreso.

– Na realidade sugiro de todos nós irmos a Portugal, eu, você e as três crianças.

– É uma viagem cansativa para os menores.

– Mas necessária para Melissa. Minha filha tem o direito de vê a mãe biológica pela última vez. – Disse a Edgar. – Sei que será uma viagem cansativa, não posso deixar os pequenos, porém, também, não posso deixar minha filha mais velha sozinha neste momento... Quero e vou está ao lado dela...

– Então embarcamos o quanto antes. Eu vou providenciar as passagens e tudo para que possamos ir o mais rápido possível.

– Perfeito, será melhor levar Matilde conosco, nós dois não damos conta dos três sozinhos. Então é melhor contarmos, e em seguida você providencia as passagens.

Edgar e eu fomos ao quarto da nossa filha mais velha, Edgar contou a Melissa o estado de saúde de Catarina, mesmo não vendo a mãe a mais de três anos, a menina ficou triste, eu e pai a consolamos, perguntamos a ela se desejava ver a mãe pela última vez, a menina pensou um pouco e disse que sim, já esperávamos por está resposta. Naquela noite fiz questão de ficar mais tempo ainda com Melissa, e nós conversamos, pouco depois a menina adormeceu e eu, sua mãe de coração fiquei ao seu lado...

Menos de uma semana depois, estávamos a caminho de Portugal, a viagem foi bastante tranquila, as crianças enjoaram um pouco, afinal de contas, nunca tinham feito uma viagem tão longo e tão pouco de navio. Porém tentávamos distraí-las o máximo possível. O Navio portou em Lisboa, e desembargamos, Já havia um coche a nossa espera e nos hospedamos em um hotel perto no Centro.

Assim que nos estalamos, Edgar, eu e Melissa fomos ao sanatório onde estava internada Catarina, mas não havia muito que fazer, a cantora havia morrido dois dias antes de tuberculose, e seu sepultamento seria no dia seguinte. Minha filha me abraçou com tanta força, acredito que tinha esperança de encontrar a mãe com vida, e, infelizmente, não aconteceu, a pequena chorava. Edgar providenciou os últimos arranjos para o sepultamento. Voltei para o hotel com minha filha e fiquei com ela todo o tempo assim como os irmãos. Depois que Edgar chegou, jantamos e não deixava de reparar no rostinho triste de Melissa, mal tocou no jantar. Na hora de dormir, ela pediu para que eu ficasse um pouco mais com ela, Edgar e Matilde cuidaram dos outros dois menores.

– Por que minha mãe nunca me mandou nenhuma carta para mim... É como se tivesse me esquecido, ou não gostasse de mim... – Melissa choramingava no meu colo e eu tentava consolá-la.

– Não acho que ela não tenha gostado de você, apenas gostava do jeito dela, ela cuidou de você nos seus primeiros anos. Foi necessário sua mãe ir embora, por isso você ficou com a gente... Sabe Melissa existem muitas maneiras de gostar muito de alguém e a sua mãe tinha o jeito dela de gostar de você... Tenha certeza que ela gostava muito de você...

– Mas nunca foi como a senhora e o papai.

– Por que somos pessoas diferentes.

– Mas ela não ficou comigo quando foi embora.

– Sua mãe achou que seria melhor você ficar com seu pai e comigo, Melissa, porque sabia que tínhamos muito amor para dá a você. – Tentava consolá-la.

– E agora o que vai acontecer comigo? – Melissa tinha os olhos marejados.

– Como assim meu amor? – Perguntei a ela sem entender direito. Neste momento Edgar entra no quarto.

– O que vai ser de mim? – Perguntou ao enxugar uma lágrima.

Edgar se senta junto de nós.

– O que vai ser de mim, papai? – Fitou o pai.

– Por que pergunta isso Melissa. – Edgar estranho a pergunta assim como eu.

– A minha mãe Catarina morreu, talvez o senhor não tenha mais porque ficar comigo...

Assim como eu, Edgar sentiu o coração apertado quando ouviu Melissa falar isso. Eu fiquei surpresa...

– Minha filha porque você diz isso? Da onde tirou isso... – Perguntei.

– Agora não tenho mais a minha mãe...

– Melissa, você perdeu a sua mãe, mas tem a mim e o seu pai, não está sozinha... Tem aos seus irmãos que te adoram... Você é a nossa filha linda e mais velha... E amamos muito você...

– A Laura tem razão minha filha, você é a nossa filha mais velha e adoramos ter você como filha... Você e seus irmãos são as melhores coisas que aconteceu em nossa vida... Sem vocês, a vida seria tão sem graça, você e seus irmãos é a nossa maior riqueza e que tão sentido as nossas vidas...

– Melissa, eu também te amo muito, o que seu pai falou é verdade. E nestes anos que tenho convivido com você aprendi a te amar tanto, para mim, você é minha filha, sei que não nasceu de mim, mas é minha filha e que aprendi tanto com você. Você é minha filha, assim como a Beatriz e o Bento. Vocês três são meus filhos e ninguém vai tirar isso de nós. Eu tenho muito orgulho de dizer que é minha filha... Você, Melissa, é nossa filha. Você é minha filha e eu te amo demais. Uma criança para ser filha de alguém não precisa nascer do ventre daquela pessoa, aceitar uma criança é abrir seu coração incondicionalmente para ela e aceitá-la como sua... Por isso Melissa eu me considero sua mãe também, pois eu a aceitei lá atrás, ainda naquele colégio em que eu a conheci... Quando não imaginava que era a filha de Edgar... E ao saber quem você era já estava em meu coração e de lá nunca saiu... Você é minha menina, minha filha e ninguém pode mudar isso... Tenho um imenso orgulho de você... Se a vida nós deu um presente, este certamente é você e seus irmãos... E os amamos os três igualmente... – Eu chorava assim como a filha.

– Eu amo tanto a senhora mamãe. – Melissa abraçou-me e ainda chorava.

– Eu também te amo muito, meu amor. – Eu ainda abraçada a minha filha.

– Eu te amo muito papai. – Melissa agora abraçava ao pai.

– Eu também meu amor, eu te amo muito. Nunca se esqueça disso, nem por um momento sequer. – Edgar beijou a testa da filha e a abraçou novamente. - Nós te amamos muito e você é a nossa filha mais velha, nossa abelhinha... Eu sei que está triste pela sua mãe Catarina, e é natural que se sinta assim... Mas você não está sozinha, nós somos seus pais e estamos aqui, sempre ao seu lado... E temos muito orgulho de você e a amamos muito... Assim como seus irmãozinhos também...

– Eu também amo vocês... – Ainda chorava e era natural que fosse assim, tinha perdido a mãe verdadeira e não quis ficar longe da minha menina... Melissa ficou conosco naquela noite e deve um sono agitado...

No dia seguinte fomos ao sepultamento de Catarina. Estávamos apenas Edgar, eu e Melissa, um padre que acompanhou o pequeno cortejo e um senhor que empurrou o carrinho que levava a urna. O padre fez as últimas orações e o corpo de Catarina desceu a sua sepultura. Melissa jogou um buque de rosas brancas sobre o caixão e os sepultadores jogaram cal e Edgar jogou a última pá e assim terminava a trajetória de Catarina Ribeiro. Descansava em paz, e por ironia do destino vi seu caixão repousar ali. Voltamos para o hotel, Melissa ficou agarrada a mim durante vários dias mais do que o de costume. Ao voltar, nossa rotina voltava ao normal e a lembrança de Catarina foi se apagando ao poucos de nossa vida. Se Melissa já mal tinha o hábito de falar da mãe biológica, depois da temporada em Portugal, não vi minha filha pronunciar seu nome novamente... Ao menos não na minha frente e felizmente seguir com sua vida, assim como o restante de nós... Para ela, agora, eu era sua mãe e assim me chamava...

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Os anos foram passando, nossos três filhos foram crescendo, e agora Melissa era uma linda jovem de quase vinte anos. Estava mais linda do que nunca, era uma jovem feliz e isso era o que mais importava para mim e Edgar. Assim como eu, Melissa se formou na Escola Normal e começou a me ajudar na nossa escola. Minha menina era uma ótima professora e eu tenho tanto orgulho de minha filha. Ela me ajudava na escola e sempre estávamos juntas... Edgar morria de ciúmes da filha, porém, um dia, a ordem natural da vida começou surgir diante de nós, um jovem chamado Maurício Meireles, assim como Edgar, era advogado, pediu a mão de nossa menina em casamento. Perguntei a minha filha se era seu desejo se casar com Maurício, e ela respondeu que sim. Pouco mais de um ano depois da festa de noivado, noite anterior ao dia do casamento da Melissa e fui até seu quarto e parecia que minha filha já esperava por mim...

– Mamãe, que bom que a senhora veio... Estava aqui arrumando as últimas coisas...

– Nervosa minha filha? – Eu a abracei.

– Nem sei mais o que sentir... Estou feliz, mas já sinto falta de vocês... Não sei o que me espera... Como foi com a senhora quando se casou com o papai?

– Ah Melissa, sabe que nem me recordo mais daquela noite... Foi longa aquela noite, disso eu me lembro...

– A senhora estava ansiosa assim como eu? - Curiosa

– Estava também... Acredite minha filha, por outros motivos...

– Quais motivos... – Mais curiosa ainda... Até lembrava a mim quando menina.

– Você sabe que eu e seu pai nos casamos e nem nos vimos antes de estar na Igreja... E naquela época era um pouco diferente de hoje...

– A senhora e o papai, quase dois desconhecidos em uma casa... E depois que se apaixonaram...

– Nos apaixonamos...

– Mãe... É fácil?

– O quê?

– Ser casada, é fácil? – Melissa fazia uma carinha de dúvida.

– É muitas coisas minha filha, definitivamente, fácil não é...

– A senhora e o pai juntos, parece ser tão fácil... Eu vejo a maneira como o papai olha para a senhora... Ele ainda tem um olhar tão apaixonado pela senhora e também vejo o mesmo olhar da senhora para ele...

– Eu amo muito seu pai, menina... Porém, não pense que seja fácil por isso... É claro que o amor é muito importante, só que nem sempre é o bastante...

– Eu sei, eu lembro que a senhora e o pai eram separados...

– Então, nem sempre o amor basta... Há tantas outras coisas Melissa, o amor é apenas a porta que atravessamos... Um casamento não é apenas uma cerimônia como a que acontecerá amanhã... É muito mais do que isso... É o dia a dia, é a amizade, o companheirismo, a compreensão, a maturidade que e vêm apenas com o tempo, a vontade de querer dividir a vida com aquela pessoa, confiança, respeito, desejo... E muitas outras coisas... É uma luta diária e que decidimos fazer junto aquela pessoa...

– A senhora e o papai fazem parecer tudo fácil...

– Eu e seu pai temos as nossas divergências, às vezes... E é natural que isso aconteça, somos casados, mas somos pessoas diferentes, nos amamos muito, porém pessoas distintas...

– Como assim?

– Antes de me casar com o seu pai... Eu trabalhava como voluntária na Biblioteca pública da Rua do Ouvidor... E queria continuar a trabalhar, sempre quis trabalhar e estudei para isso... Já era noiva de seu pai, porém ele estudava em Portugal... E não vou negar que quando mais chegava o dia do nosso casamento, tinha receio que com o matrimônio pudesse perder a pouca liberdade que tinha na época... E para piorar, seu pai chegou ao Brasil apenas um dia antes do nosso casamento e nem tivemos tempo de conversar... Casamos praticamente sem nos conhecermos direito, pois quando ficamos noivos, seu pai foi para Portugal em seguida e cada um seguiu com a sua vida... Eu não queria casar, esta era a realidade... E nos casamos e foi complicado no início... Só que seu pai é um homem muito especial e foi me mostrando que eu poderia sim, ter meus sonhos e lutar por eles... E ainda tinha o seu apoio e pude continuar a trabalhar... Seu pai me apresentou uma vida maravilhosa, mostrou-me que o casamento poderia ser bom...

– E então apareceu minha mãe Catarina... A culpa da separação, de vocês, foi dela?

– Sabe Melissa, agora que você é adulta... Nem sempre a vida segue o rumo que desejamos... E, ás vezes, a vida se torna difícil e acabamos tomando outro caminho, e foi o que aconteceu comigo e com o seu pai... E nos perdemos durante muitos anos...

– A culpa foi da minha outra mãe.

– Não vale mais a pena buscar culpados... Todos nós erramos, porém, tivemos a chance de consertar nossos erros... E de tudo o que aconteceu, a única inocente foi você minha filha, porque todos nós erramos... Eu errei, seu pai errou, e sua mãe Catarina também... Porém a vida nos trouxe você e, com certeza, é o maior de todos nos nossos acertos...

– Lamento por isso...

– Não há o que lamentar minha filha... Eu e seu pai aprendemos com os nossos erros, e estamos aprendendo a cada dia e vai ser assim a vida inteira... E acontecerá o mesmo com você e com o Maurício, vocês vão acertar, vão errar... E o que realmente importa é continuar tentando... Como disse antes, não vai ser fácil, ao contrário, talvez seja cada vez mais difícil, não quer dizer que seja impossível... É tentar ter o coração aberto, é seguir em frente, é lutar por vocês e pelos filhos que terão e será uma luta dos dois...

– Será que eu vou dá conta mãe?

– Claro que vai minha filha, vocês vão dá contas... A partir de amanhã não será você, serão vocês dois e juntos... Eu tive oportunidade de conversar bastante com o Maurício e ele é um bom rapaz... Gosta muito de você e isso já é um bom começo, você fala do olhar do seu pai, o seu noivo tem o mesmo olhar por você e isso deve ser sempre cultivado... É muito fácil se casar apaixonado, o difícil e manter isso durante os anos... É muito fácil se acomodar...

– Eu quero uma história como a de vocês...

– A sua história Melissa é você e o seu futuro marido que vão construir, cada um tem a sua... E vocês podem ter uma história bonita também... E caberá apenas aos dois construir isso...

– E como funciona com a senhora e o papai...

– Minha filha, eu e seu pai, nós dois gostamos muito um do outro... Gostamos muito de estar um com o outro...

– Como assim?

– Um casal... Um homem e uma mulher vão de descobrindo aos poucos...

– Como assim?

– Você e o Maurício vão se casar amanhã, se conhecem... Porém, vão se conhecer verdadeiramente na convivência do dia a dia... E isso não é feito de um momento para o outro, e feito um pouco a cada dia... Vão se descobrir aos poucos, verão onde há mais afinidades e onde tem menos... Vão brigar e farão as pazes e é assim mesmo...

– Mãe, tem uma coisa que ainda tenho vergonha de perguntar e é claro que não vou perguntar ao papai... Sabe mãe, eu confio muito no Maurício, mas eu tenho medo...

– Medo?

– Medo... – Receosa.

– Como assim medo?

– Mãe... Sei que será a minha primeira vez... Eu tenho medo e um pouco de curiosidade também... Eu... Não sei como me comportar... O que devo fazer para agradar o Maurício...

– Em primeiro lugar, não ache que seja uma obrigação... Converse com o seu marido... Se você não se sentir confortável, converse com ele... É natural que se sinta assim... Não tem que se preocupar em agradar minha filha... Você tem que se sentir bem e confortável e vai acontecer naturalmente...

– E se o Maurício não gostar...

– Minha querida, o Maurício vai gostar de estar com você e assim como você vai gostar de estar com ele... Aos poucos vocês vão se descobrindo...

– E a senhora com o meu pai? – Envergonhada.

– Foi aos poucos... Como já te disse antes, antes nos tornamos amigos, depois nos apaixonamos... E algum tempo depois... Eu quis estar com seu pai intimamente e aconteceu naturalmente e seu pai soube respeitar meu tempo... E um dia, pensei comigo... Eu já era casada e estava apaixonada pelo seu pai e vi que me sentia pronta para me entregar a ele... Então eu propus e seu pai aceitou de pronto.

– A senhora que propôs para o papai? A senhora que o procurou? – Assustada e curiosa com a minha audácia.

– Sim...

– Nossa... Estou surpresa mãe...

– Minha filha... Como eu disse, seu pai soube respeitar meu tempo... É claro que ele poderia querer e eu ainda não me sentir pronta... Porém seu pai soube me respeitar...

– E como é?

– É maravilhoso, quando se está junto à pessoa que se ama... Se entregar a alguém, entrar seu corpo a alguém é um momento muito especial. Talvez na primeira vez se sinta incomodada, afinal de contas, é a primeira vez... Pode ser incomodo... Entretanto depois... Se você começar a se sentir mais confortável, saberá que o corpo foi feito para isso... Com o tempo você vai aprender, saber amar desta forma... Estar intimamente com o homem que escolheu passar o resto da sua vida e amar esta pessoa... Com o tempo você vai aprender e ele também... Vocês vão se descobrir juntos... É a maneira mais íntima de estar com alguém... É demonstrar fisicamente seu amor por aquela pessoa... É natural, é bonito e não tem porque se sentir envergonhada... Você vai se descobrir e ao seu marido também... É um belo momento que deve ser vivenciado com muito amor e com muita paixão... Há respeito, pois amar é saber respeitar... Um homem e uma mulher em um quarto, tudo é permitido, desde que haja muito amor e respeito e ele vai saber respeitá-la... Você vai aprender a tocá-lo e ele a você... Apenas se entreguem... E se amam...

– Nossa... Eu nem sei o que pensar... Nunca imaginei que a senhora pudesse me falar isso...

– Sabe minha filha, há mulheres que não gostam muito, pois foram ensinadas a achar que está com o marido é sujo, é pecado... Não é não... Ao contrário, é um momento sublime, se há desejo, se há amor... Se não fizermos, nem os filhos nascem... – Rimos juntas. – É natural querida e aprenda a ter esta intimidade com o marido... Ele vai gostar muito e você também... A vida de vocês será muito mais rica se souberem se entender na intimidade do quarto de vocês... Lembre-se que é mais um elemento que vai enriquecer o convívio de vocês... É importante, mas não é primordial... Como te disse querida, um casamento é feito de muitas outras coisas e se quer ter um bom casamento... Saiba que sempre será uma conquista diária... Uma luta diária... E que não fará sozinha... Seja a melhor amiga do seu marido, a companheira, a confidente, a amante...

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– Sabe mãe... Ainda bem que a senhora veio conversar comigo...

– Esta é a sua última noite aqui, com a gente e já sinto sua falta minha filha... Melissa, amanhã você começa uma vida nova... Lembre-se que eu, seu pai e seus irmãos, estamos aqui, esta casa também é sua e que sempre terá as portas abertas para vocês... Esta etapa da sua vida termina aqui, uma nova vida começa para você e para o Maurício... Daqui a pouco você terá seus próprios filhos, meus netos... – Rimos, mas já estava com meus olhos marejados. – Eu me sinto muito orgulhosa de você minha filha... Tornou-se uma mulher tão linda, tão doce e amável... Você é o melhor presente que a vida nos deu... Minha filha linda, cresceu rápido...

– Eu vou sentir tanto a falta da senhora, de nossas conversas... E pensar que esta é a nossa última...

– Claro que não é a última... Teremos tantas outras... Agora será uma mulher casada e vai descobrir muitas coisas e vai querer saber de outras tantas e estarei aqui, sempre, para dá meu apoio, meu carinho, meu amor de mãe... Agora, apenas não será mais a nossa filhinha, a nossa abelhinha, será uma mulher... É claro que sempre nossa filhinha, mas agora uma mulher... – Melissa me olhou e nos abraçamos... Minha filha havia se tornado uma mulher e agora iria se casar...

Edgar atravessa a nave da igreja até ao altar, conduzindo Melissa que estava linda de noiva. Eu, como a mãe, vi minha filha atravessar a nave central com um belo sorriso nos lábios, ao contrário de mim, que tinha tantas dúvidas... Maurício era muito apaixonado pela nossa Melissa e fiz questão de conversar com ele sobre a nossa menina e o desejo que tínhamos de que fossem muito felizes. Maurício, me surpreendeu, disse que Melissa havia conversado com ele sobre o imenso amor que os pais tinham um pelo outro e que queria viver um amor assim e somente se casaria se fosse para ter algo parecido como o dos pais... E ele disse que não queria nada que não fosse assim, pois, via em mim e em Edgar o quanto nós nos amávamos, mesmo com o passar dos anos. Que éramos um exemplo para eles.

Edgar conduzia Melissa pela nave e assim que chegaram ao altar a entregou a Maurício. Beijou pela última vez a filha antes de se tornar a senhora Vieira Meireles. A cerimônia foi belíssima, a felicidade dos noivos contagiava a todos. Não conseguíamos segurar nossas lágrimas, vi Edgar com os olhos marejados, pensei comigo em que pensava naquele momento. Eu, como mãe, tinha feito o meu melhor, estava orgulhosa, estava feliz, apenas lamentava não ter mais Melissa todos os dias em nossa casa, tomar o café da manhã juntas como mãe e filha. Porém, minha menina começava uma nova história a de sua vida. Por um momento, não posso negar, lembrei-me de Catarina... Lamentei por não ter dito a chance de ter convivido mais com a filha, afinal de contas, era a verdadeira mãe da minha menina. Este pensamento pouco tempo durou em minha mente. Agora era o momento de minha filha. Quando o padre fez um belo discurso para em seguida fazer a pergunta...

– Maurício Meireles, aceita Melissa Vieira, como sua legítima esposa, para amá-la e respeitá-la, na saúde e na doença, na pobreza e na riqueza por toda sua vida.

Maurício lançou um belo olhar para Melissa e respondeu.

– Aceito.

– Melissa Vieira, aceita Maurício Meireles, como seu legítimo esposo, para amá-lo e respeitá-lo, na saúde e na doença, na pobreza e na riqueza por toda a sua vida.

Melissa, com o mesmo olhar apaixonado do seu noivo respondeu.

– Aceito. – Tranquila.

Neste momento, senti uma imensa emoção, não consegui conter minhas lágrimas e apenas chorei, assim como Edgar que estava muito emocionado... Os noivos trocaram alianças e se beijaram. Todos os convidados aplaudiram e os noivos saíram da Igreja. Ver minha filha tão segura de si encheu-me de orgulho. O que mais poderia desejar. A recepção foi nos jardins da antiga Mansão dos Assunção, agora Vieira, a bela residência de minha família, meus pais haviam se mudado para a fazenda e deixaram a casa para nós, nos mudamos poucos meses antes da recepção e nossa antiga casa, ficou para Melissa e o marido como um presente da nova vida que se iniciara para eles. Pouco antes de deixa a recepção acompanhada pelo agora marido, Melissa veio até mim.

– Mãe, queria muito agradecer à senhora. – Estava tão linda.

– Pelo quê minha filha?

– Por tudo mãe, por ter me aceito, por ter me amado, por me trazer até aqui. – Emocionada.

– Melissa, você está feliz?

– A senhora não imagina o quanto?

– Então, meu anjo, já me sinto recompensada. E lembre-se o quanto te amamos e que sempre estaremos aqui, somos seus pais e sempre seremos... Agora é uma mulher casada, mas isso não significa que deixou de ser nossa filha, ao contrário, sempre será nossa Abelhinha.

Melissa abraçou-me e depois ao pai e se foi para sua vida nova, Maurício fez o mesmo. Depois os noivos partiram para sua nova casa e ficamos ali, eu, Edgar, Beatriz que tinha agora doze anos e Bento que já estava com dez anos. Nossa primeira filha, agora era uma jovem senhora casada.

À noite, as crianças já haviam se recolhido, eu e Edgar estávamos em nosso quarto. Eu tentava ler um pouco, mas reconheço que meus pensamentos estavam em nossa filha mais velha.

– Posso saber em que minha querida esposa está pensando?

– Em Melissa... Nossa menina agora é uma mulher casada. Cresceu tão rápido Edgar... E agora está casada.

– Com esses anos passaram rápido Laura...

– É verdade. Nem acredito que hoje casamos nossa filha, nossa Abelhinha... Houve um momento em que olhei para você, na Igreja, e pensei... No que Edgar está pensando? Você estava tão emocionado.

– Pensava na nossa vida, em tudo que vivemos para chegar aqui. Na primeira vez que vi Melissa, enfim, em tudo...

– Houve um momento em que pensei nisso também. Também pensei em Catarina.

– Em Catarina? – Estranhou.

– Querendo ou não é mãe da Melissa. Qual mãe não quer vê a sua filha crescer, fazer suas próprias escolhas e até casar se for o desejo dela.

– Você é a mãe da Melissa. – Reinteirou.

– Também... E mesmo assim pensei nela... Por que perdeu a chance de ter tido uma filha maravilhosa... Não soube aproveitar a dádiva que é a maternidade. Enfim, não soube ser mãe, ao menos o que se imagina de uma mãe. E posso dizer que Melissa teve muita sorte em ter você com pai. A sorte dela foi que Catarina o escolheu com pai da filha, mesmo que a princípio os motivos dela foram escusos... Ela nos deu a Melissa... Não teve presente melhor que a vida nos poderia ter dado.

– E ela teve sorte de ter você como mãe. – Edgar sorriu para mim.

– Será que a nossa menina vai ser feliz?

– Claro que vai, disse ao Maurício se ele aprontar alguma, eu acabo com ele... – Edgar falou sério.

– Edgar!!! – Eu chamei a atenção dele.

– É a minha filha, ele tem a obrigação de fazê-la feliz... Eu não o mandei tirá-la de nossa casa. Mas brincadeira a parte, tenho certeza que Melissa será muito feliz por um motivo simples. – Seu semblante era tranquilo.

– Qual? – Perguntei.

– Ela viu o quanto os pais dela são felizes e o quanto nós nos amamos, nossa pequena princesa foi muito feliz aqui também. Laura, nós fomos bons pais. Ela sabe o quanto foi importante viver cercada deste amor...

– Será? Tomará...

– A senhora Vieira está me saindo uma mãe muito protetora. – Edgar brinca comigo.

Eu parei por um momento e pensei em toda a nossa trajetória juntos, pensei em tudo...

– Edgar, você é feliz?

Edgar me olhava com tanta ternura e amor... E eu o quis, do mesmo modo.

– Edgar... – Acariciei sua barba com alguns fios brancos... – Eu quero ser sua.

Edgar sorriu para mim, e me trouxe para junto de seu corpo e começou a me beijar, senti sua mão passando pelas minhas costas e senti quando as alças da camisola deslizaram pelos meus braços, sentia-o beijando meu pescoço, o colo, seus seios, sentia suas carícias e o cariciava também e assim continuamos até o sentir em mim novamente, nos beijamos, nos tocamos, nos amamos mais uma vez e assim adormecemos, felizes...

O Sol ainda não tinha raiado direito, e a claridade dos primeiros raios começavam a surgir no horizonte, Edgar dormia tranquilamente e eu me levantei e desci, fui até a cozinha e fiz uma xícara de chá para mim depois fui até a sala e abri uma das janelas e observei o dia clarear mansamente... Pensava no ciclo da vida e nos ciclos que a vida tem... Lembrei-me da minha filha mais velha que tinha fechado um ciclo de sua vida ontem e começara outro, agora com uma mulher casada... Lembrei-me quando aconteceu o mesmo comigo e com Edgar...

– Acordei e você não estava, aconteceu alguma coisa? Você está bem? – Edgar veio até mim...

– Bom dia, meu amor... Desculpa-me, eu acordei muito cedo e não consegui dormir mais... Apreciava o amanhecer... Foi será um lindo dia de Sol...

– Parece que sim... Pelo seu semblante, aconteceu alguma coisa mais? – Preocupado.

– Pensava na vida, Edgar... Já reparou que ela é um imenso ciclo... Ontem nossa filha fechou o ciclo dela nesta casa para começar outro...

– Eu sei... Pensava em algo parecido... Sente falta da Melissa... – Abraçava-me.

– Sempre sentirei falta da nossa filha... Edgar, nossa filha começa agora uma nova vida, um novo ciclo... Assim com este dia que nasce agora... A vida é cheia de ciclos... Um dia é um ciclo... E nenhum dia é igual ao outro... Já imaginou que daqui a pouco tempo podemos ser avós... Daqui alguns anos acontecerá o mesmo com Beatriz e o Bento...

– E o ciclo da vida meu amor...

– Eu sei... Sabe que lembrei da nossa cerimônia de casamento... Da recepção neste jardim...

– Do cheiro desagradável dos cisnes que seus pais deu de presente ao prefeito, naquela época... – Riamos da lembrança desagradável que o odor dos cisnes.

– Nem me lembrava mais disso... Minha mãe querendo bajular seus pais... – Rimos.

– Nossa. É como se fosse outra vida...

– De certa maneira era... Éramos tão jovens...

– E tão tolos também... – Olhou-me.

– E pensar que não queríamos nos casar... Ainda bem que nos desencontramos naquele dia antes do casamento...

– Ainda bem... Se não fosse aquele desencontro... Não estaríamos aqui agora...

– Por um momento nos perdemos durante muitos anos... – Lamentamos.

– Foi um ciclo... Triste, um ciclo que, felizmente, acabou...

– E mesmo assim ainda levou um bom tempo para nos encontrarmos definitivamente...

– Graças ao Antônio Ferreira... – Brinquei com ele.

– Eu ainda tenho ciúmes do Ferreira... – Disse, fingindo-se de sério.

– Edgar, graças ao Ferreira eu voltei para casa... Deveria ser mais grato ao seu pseudônimo... – Não consegui segurar o sorriso...

– E ainda deve aquele Engenheiro, o tal de Henrique... Aquela declaração que vez a senhora... O que redime ele foi ter me ajudado, se ele não tivesse salvado você daquele incêndio... Pensar novamente na vida sem você e sem nossos pequenos... Se não fosse o Medeiros... Sei que pode não parecer, sou muito grato a ele...

– Um perfeito cavalheiro...

– Está me provocando Laura. – Fingindo indignação.

– Claro que estou... Não se preocupe, ele e a Isabel, depois que se casaram vivem muito bem e com os filhos deles e nem se lembra mais de mim, e mesmo assim é um excelente amigo... O senhor não pode negar que ainda deve a Viúva apaixonada pelo senhor...

– Ela tinha o pior dos defeitos... Não era você...

– É tão bom ouvir isso... Sabe Edgar, tudo que passamos... Talvez tenha sido um grande ensinamento...

– Um ensinamento?

– Pensa comigo... Se eu tivesse aceitado aquela situação que você me propôs... Não estaríamos aqui, agora... Edgar, se eu tivesse ficado, e aceitado, certamente não sentiria o amor que sinto hoje... Não seriamos quem somos hoje... Talvez tudo isso tenha acontecido para valorizarmos o amor que temos um pelo outro...

– Para mim foi mais um grande castigo... Viver todos aqueles anos longe de você... Não ter notícias suas... Acordar e deitar naquela cama sem senti-la perto de mim... Laura, eu olho para trás e ainda não consigo imaginar como pude sobreviver àqueles tristes anos... Se não fosse pela Melissa... Foram anos tão sofridos... Doídos mesmo... Uma época que nem gosto de lembrar...

– Edgar, foi exatamente isso que nos fez crescer, amadurecer... Aqueles anos não foram fáceis para mim também... Viver longe de você e ainda carregar toda a dor da perda do nosso primeiro filho... Senti o aroma do alecrim quando ia lecionar... Senti a ausência do nosso bebê e a sua... Sei que a iniciativa de partir foi minha... Apenas precisava... E, talvez, por tudo isso, estamos aqui agora... Edgar, eu aprendi a amar você naqueles anos e nem me tinha dado conta... Eu continue a amar você por cada dia daqueles anos... E quando voltei, foi em você que pensei... Quando o vi naquele colégio com a Melissa, poderia ter ido embora... Não fiz... Por que, no fundo, queria está perto de você... Eu queria você e tinha medo de quer...

– Lembro-me que naquela época procurei tanto por você... Queria tanto saber notícias suas... Quando vi a Isabel, eu tinha certeza que se ela havia voltado era porque você havia voltado também... Eu precisava tanto saber... Quando a Melissa me disse o nome da professora dela... Eu quase enlouqueci e ao vê-la, ali, diante de mim... Depois de tantos anos... Tantos sentimentos... Sofrimento... Eu queria brigar com você... Eu também queria abraçar você porque tinha voltado... Era como se tivesse encontrado uma parte de mim... E mesmo que não tivesse voltado para mim... Eu já ficaria feliz por saber que estava por perto... Apenas por perto.

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– Naquele dia brigamos...

– Brigamos, e logo depois fui atrás de você... Mesmo confuso... Eu apenas queria jantar com você... Pelo menos era isso que eu queria me convencer... Apenas queria a ter perto de mim... Ver você novamente em nossa casa... Tê-la, ali, ao meu lado, mesmo que fosse por um momento apenas... Era você, Laura... Ter aquela sensação de plenitude que você me dava e ainda dá... Lembra que aquela noite choveu...

– E eu tive que dormir na nossa casa, em nosso antigo quarto... Como foi difícil deitar naquela cama, depois de tantos anos e sem você... Como foi difícil dormir naquela noite... E mesmo assim você a poucos metros de mim... E ainda havia um abismo imenso entre nós...

– Naquela noite eu mal dormi... Fiquei velando, no corredor, seu sono e apenas adormeci quando o dia era quase claro como agora, e quando acordei fiquei frustrado porque havia ido embora e não tomamos o café da manhã junto... Eu desejava tanto tomar o café junto a você e não em uma mesa vazia como foi durante anos... Era você ali Laura.

– Eu louca para ficar... Não podia, tinha que redescobri-lo, não apenas a você, a mim também... Entende o que sentia, havia passado tanto tempo e o amor que sentia continuava ali, e parecia cada vez maior e mais intenso... Eu me sentia tão pequena para um sentimento tão grande...

– Durante anos tentei me convencer que havia esquecido você... Não havia, ao contrário, quando mais tentava deixar para trás, mais presente em minha vida você estava... Eu também não entendia, apenas sentia e cada vez mais...

– E como se me recusasse a esquecer você... Eu me identifico em você... Se deixasse para trás todo aquele sentimento seria como me deixar para trás... Nunca conseguia me imaginar não amando você... Não seria eu... E eu havia voltado... Para ficar perto de você... Mesmo que não soubesse do meu regresso...

– E eu como um louco querendo saber notícias suas...

– E você me encontrou no colégio da Melissa... E brigamos...

– E depois nos disso ficamos em bons termos...

– Logo depois perdeu o emprego e nos beijamos depois de seis anos... E esperamos por tantos anos por aquele beijo...

– E você me pediu em namoro...

– É verdade, depois da confusão da fotografia... Serviu para trazer você um pouco mais perto de mim.

– Eu sempre estive perto da senhora... Mesmo quando me queria bem longe, para onde eu iria... Eu precisava apenas estar perto de você.

– Eu sei... Sempre soube... Mesmo quando brigávamos... Eram necessárias aquelas brigas... Colocamos todas as nossas dores para fora... Expomos nossas feridas e mágoas... Descobrimo-nos ali... Durante nossas brigas e nossas conversas...

– Mesmo assim eram tão doídas... Sofridas... – Olhava-me.

– Eram porque nossas almas estavam muito machucadas e para poder superar todas nossas mágoas e dores, era necessário pôr para fora... Por outro lado isso fazia com que amadurecêssemos... Edgar, também, não somos mais aqueles dois que se reencontram ali... Envelhecemos e estamos aqui hoje... Casamos nossa primeira filha... E pensar que a Melissa ainda tem tanto o que aprender...

– Em primeiro lugar, ainda somos jovens... – Edgar riu para mim. - Não mais aqueles, eu ainda me sinto renovado e quando estou com você sinto-me mais jovem ainda... E a senhora continua uma mulher belíssima. Quando a Melissa, ela teve ótimos pais, modesta parte, ela aprendeu muito conosco e agora vai aprender mais ainda com este ciclo que se inicia agora... Se a senhora quiser ainda podemos ter mais um filho... – Lançou-me um sorriso maroto.

– Pensarei no seu caso, como muito carinho... Filhos... Quando descobrir que estava grávida depois de tantos anos... Ter nossa filha nos braços, finalmente ter esta criança que esperamos tanto... Edgar se a felicidade existia antes, ali selou definitivamente... Já tínhamos a Melissa e quando nossa Beatriz nasceu... Eu nem sei dimensionar o que sentia... Era como se tirasse um peso do coração... Até hoje rezo pelo filho que perdemos... Penso nele todos os dias e sinto sua falta, se a vida tivesse deixado que ele nascesse...

– Ver, finalmente, você grávida... Poder acompanhar a sua gravidez, vê a sua barriga crescer e saber que era nosso bebê ali, se formando como deveria ter sido anos antes... Parou para pensar que aquela criança já seria adulta hoje, como a Melissa...

– Todos os dias... E ainda é tão presente... Sempre será uma lembrança, mas uma dor... Não como antes, as dores, com o tempo amenizam... Porém a lembrança... Este anjinho sempre estará conosco, Edgar...

– Por outro lado... A vida nos contemplou... Deus nos deu presente Melissa, Beatriz e Bento...

– É verdade, nossa maior felicidade... A vida nos tirou de um lado e nos deu de outro... Três filhos maravilhosos... Edgar, nós somos tão abençoados...

– Laura, não há um dia que eu não agradeça por você ter voltado para minha vida, pelos nossos filhos... Por nós dois... Pela vida que temos... Por estarmos aqui agora... Por saber que sempre estaremos juntos... Por amar você, por ser amado por você... Pelos netos que chegaram daqui a pouco... Eu quero envelhecer ao seu lado... Viver cada dia ao seu lado... Poder olhar este seu sorriso lindo... – Edgar olhou adiante, para o horizonte... – Parece que o dia hoje será muito bonito e fará um pouco de calor... Que tal levarmos a Beatriz e o Bento para tomar sorvete na Colonial... Acho que as crianças irão gostar... Que tal Senhora Vieira?

– Então você é feliz Edgar... – Ele me lançou seu mais belo sorriso e voltou a olhar para o horizonte.

O Sol já havia surgido diante de nós... Mais belo do que nunca e prometendo um lindo dia... Mais um ciclo se inicia... Daqui a pouco as crianças acordam... Ficamos ali... Em silêncio... Apenas contemplamos a linda imagem do amanhecer... E nossa própria história...

Fim...

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.