Ladrão de Corações

Capítulo 8 - Fofocas, Pretendentes, Ciúmes?


Hannah remexia o livro quase sem acreditar. Recebera ainda naquela manhã, trazida por um mensageiro. Entregue diretamente a sua criada pessoal e repassado a ela imediatamente. Vinha sem bilhete ou qualquer tipo de mensagem, porém, a garota sabia de quem era. Surpreendentemente, de sir Sebastian Evans.

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Era o segundo em três dias. Hannah praticamente devorava seu conteúdo. O primeiro fora excelente, ela esperava que o segundo também fosse. Havia uma quantidade maior de páginas, e logo ela descobriu porque, no índice indicava dois contos.

— Dois contos! – disse para si mesma, deitando na cama, encarando a capa marrom de letras prateadas.

Certamente que aquele levaria mais de dois dias, até porque havia o sarau na residência da família Couldrey naquela noite. Outra vez poesias, cantorias e recitais. Hannah não se sentia a vontade para ir, na verdade não havia motivos para ir. Sir Wood não estaria lá. Ela ficaria sozinha, sem ter com quem conversar. Seria tão melhor permanecer em casa lendo um daqueles contos. Mas seus pais não permitiriam. Então, iria, de qualquer jeito.

************

Sebastian observou o papel, concluíra a mensagem destinada a senhorita Larkin. Não era longa, nem poderia ser. Aquele pequeno bilhete deveria servir apenas para manter Hannah e sua família presa a Wood até que ele, Sebastian, conseguisse se comprometer com Betina.

Lentamente dobrou o papel, com certa firmeza pressionou o selo, fixando as folhas no lugar, e mantendo o sigilo do assunto contido naquela página. Guardou na gaveta, enviaria depois, quando tivesse a certeza de que estava na hora certa para enviar.

Aquela noite o sarau na residência dos Couldrey seria mais uma oportunidade para encontrar com a família Larkin e renovar seu interesse pela filha caçula deles. O barão não poderia deixar de notar o quanto ele se empenhava nessa tarefa, realizando visitas, enviando flores.

Girando a cadeira em direção a janela observou a rua, o sol já se punha, precisava começar o processo de organização. De repente, duas batidas na porta seguidas pela voz autoritária de sua mãe o despertaram. Ficando em pé a recebeu antes que tivesse ingressado no escritório.

— Sua casa é um verdadeiro museu Sebastian. – foi o cumprimento que recebeu da mãe antes mesmo que a marquesa tivesse entrado no aposento – Cheira a móveis e estofados velhos. Quando você fará uma reforma neste prédio e em tudo que há por aqui?

Se aproximando ele beijou a face feminina. A mãe poderia ser insuportável algumas vezes, mas ele definitivamente a amava.

— Eu gosto da minha casa mamãe... além do mais, passo pouquíssimo tempo aqui como a senhora bem sabe. Por isso, - olhou em volta sério – não vejo motivos para mudanças.

— Você é um solteirão que jamais atrairá uma boa esposa enquanto viver deste jeito. Quem vai gostar de viver em um lugar assim?

Ele contorceu o nariz como se isso não tivesse qualquer importância.

— Pois saiba que seu sonho de me ver casado não esta tão distante assim... – retrucou passando as mãos para as costas enquanto a mãe vistoriava a limpeza dos móveis do escritório. – E tão logo isso aconteça, pretendo mudar para um lugar mais amplo.

A marquesa encarou o filho com descrédito.

— James me disse que viu você na praça com a garota ruiva dos Larkin. Hannah... fiquei em dúvida se seu irmão estava enxergando com clareza. Ele passa tanto tempo sobre aqueles aparelhos científicos que é até possível que estivesse perdendo a visão.

Sebastian riu do comentário.

— James não está perdendo a visão mamãe, encontrei a senhorita Larkin por acaso no parque, conversamos por alguns minutos. – na verdade foram muitos minutos, muito mais do que seria conveniente ele via agora pois até seu irmão, tão distraído, percebera.

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A marquesa foi direto ao ponto:

— Você não estava cortejando a irmã dela?

Ele apertou os lábios. Não queria ser tão explicito sobre esse assunto com sua mãe. Seria totalmente desconfortável. Entretanto, quando se tratava de Celine Ashworth, meias palavras não serviam.

— Na verdade “estou” cortejando a irmã dela.

— Então, o que fazia com a outra? – porque todos achavam que não se pode falar com a irmã da pessoa que cortejamos? Paul vivia lhe importunando por causa disso – Vai acabar perdendo aquela que deseja se a irmã dela pensar que você está interessado nela.

— Não há esse perigo. – Hannah, pelo pouco que conhecia, não era o tipo de mulher que fantasia coisas onde não existem.

Era verdade que a garota gostava de contos góticos e livros românticos, como bem salientara durante a conversa no parque. Porém, não parecia trazer a ficção para a vida real. Não. Definitivamente Hannah se menosprezava. Ele podia sentir isso. Jamais imaginaria ser o foco de interesse dele.

A matriarca não pensava como ele.

— Como pode ter certeza? Aquela menina nunca teve atenção masculina. Agora você aparece solicito e...

— Quem lhe disse que fui solicito mamãe?

— Você sempre é Sebastian! Faz parte de sua personalidade, desde criança.

Ele não retrucou, estava cansando daquela conversa. A mulher aproveitou para continuar:

— Além disso, todos sabem que quando Sebastian, filho do marquês de Ashworth dá tanta atenção a uma dama, está querendo algo mais.

Celine estava definitivamente passando dos limites.

— Mamãe, não diga asneiras, Hannah está praticamente comprometida com Paul Wood, meu amigo. E ela sabe que meu interesse real é a irmã dela.

A marquesa contorceu os lábios sem acreditar que o filho acreditava no que dizia.

— Você é tão experiente com mulheres Sebastian! Mas parece que toda essa experiência de nada lhe serviu. Quando uma mulher coloca uma coisa na cabeça. É difícil de tirar. Mas, quando coloca no coração, aí você estará perdido.

O que ela queria dizer com aquilo? Que Hannah estava apaixonada por ele? Não! Ela jamais indicara isso. Ela estava caidinha por seu amigo. Ela o detestava. Ela não...

— Pare com isso mamãe! Você veio aqui apenas para me perturbar? Hannah esta apaixonada...

— Hannah? Você a trata pelo nome?

— A senhorita Larkin! – ele quase gritou e a marquesa estreitou os olhos como se o examinasse.

— Sebastian... tome cuidado. Se você quer a loira, evite muita intimidade com a ruiva, ou acabara sem nenhuma.

Carinhosamente, a mulher afagou o rosto bonito do filho. Aquele era seu menino favorito. Tão belo, tão carinhoso, tão solicito, tão gentil, tão... amigável e generoso com todos. Por que ele não parava com as bobagens, a vadiagem e se casava com uma boa moça? Era pedir demais querer seu filho mais amado casado e com filhos?

Depois daquela breve conversa confusa, sua mãe revisou a casa, conferiu a despensa, fez inúmeras perguntas ao mordomo e a cozinheira e só depois foi embora, deixando para trás um Sebastian perdido e confuso.

Será que Hannah o interpretaria mal? Mas, ela o buscara para entregar a carta a ser enviada a Paul e a carta indicava claramente o interesse dela por Wood. Balançando a cabeça negativamente ele tomou a direção da escada. Sua mãe o deixava louco com as maluquices dela. E com isso, ele se atrasara para o bendito sarau, acabaria não conseguindo encontrar Betina antes das apresentações começarem.

*************

No final de tudo, ele aportou na casa dos Couldrey antes do que esperava. Os Larkin haviam acabado de chegar. Betina, ansiosa, observava a porta detidamente a espera de seu pretendente. Praticamente toda a sociedade sabia que Sebastian Evans e Betina Larkin estavam praticamente comprometidos, só faltava mesmo Hannah se acomodar com alguém para que o noivado da caçula fosse finalmente anunciado.

Eles sentaram próximos, como vinha acontecendo nos últimos eventos. Mas, conversaram pouco, Sebastian ainda estava perdido, lembrando da conversa que tivera com a mãe. De vez em quando ele analisava Hannah em busca de algum sinal que lhe indicasse se a garota estava ou não interessada nele.

Mas, sua futura cunhada não se mostrava nem um pouco atenta ao que ele dizia ou fazia. Seus olhos distraidamente passeavam pelo ambiente como se não o viessem. Como se a dona deles estivesse distante dali. E lentamente Evans começou a relaxar.

O sarau teve inicio com as interpretações de Mozart ao piano. Depois, o recital de poesia e por último as interpretações musicais. E finalmente eles estiveram liberados para transitar, conversar e comer alguma coisa.

Sebastian tentou se manter o mais próximo que podia de Betina, mesmo que Hannah não demonstrasse qualquer interesse por ele, fato que de certa forma parecia perturbador, já que as mulheres sempre o consideravam atraentes, a família dela poderia ter uma outra impressão caso os visse próximos conversando. Tal como acontecera com a mãe dele.

Betina naquele momento falava alguma coisa referente as mudanças que pretendia fazer em seu quarto, na tonalidade das cortinas e das colchas quando ele viu Hannah sozinha do outro lado da sala. Ela parecia distraída com as mãos na frente, solitária e... insatisfeita? Não, triste era a palavra certa.

Uma idéia maluca passou por sua cabeça, talvez, pudesse convidar Betina e ir até lá, ninguém falaria mal dele, se o casal desse atenção para a irmã mais velha de sua pretendida. Mas, não foi preciso, alguém se aproximou, e não era uma mulher. Na verdade ele não conhecia aquele homem. Era moreno, e não tal alto. Os cabelos muito curtos e corpo atlético.

Hannah pareceu perdida quando o homem se aproximou, mas logo se mostrou mais receptiva. Eles sorriram suavemente um para o outro. Ele beijou-lhe a mão enluvada. Disse alguma coisa que fez a garota corar.

Aquilo estava mesmo acontecendo? Ele se perguntou. Hannah estava mesmo dando atenção a outro homem quando há poucos dias deixara em sua casa uma mensagem dirigida a Paul, onde dizia que adoraria se comunicar com ele? que sentiria sua falta nas reuniões, encontros, saraus ou qualquer atividade social?

Algo embrulhou em seu estômago. Aquele desconhecido definitivamente estava seduzindo sua futura cunhada e pretendente de um amigo.

— Sir Sebastian... – ouviu lhe chamarem, mas não conseguiu desviar o olhar – Sir Sebastian – a voz repetiu. E então ele lembrou que não estava sozinho e encarou uma desapontada Betina. – o senhor estava distraído. – ela reclamou fazendo um muxoxo com a boca.

— Desculpe... – ele falou se sentindo irritado – estava vendo sua irmã ali, conversando com aquele rapaz...

A jovem loira deu atenção ao que ele dizia.

— Ah! Sir Price, ele a visitou há alguns dias...

Os olhos azuis expressivos de Sebastian se fixaram no rosto de Betina. Como assim Hannah estava recebendo outras visitas que não fosse as de seu amigo?

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— pensei que sua irmã e meu amigo tivessem se enentedido. – ele retrucou visivelmente ofendido.

Betina se moveu sem dar atenção ao que acontecia do outro lado do salão.

— Hannah nunca teve pretendentes, e nesta temporada surgiram dois. Talvez esteja deslumbrada.

Deslumbrada! Sebastian repetiu mentalmente. Nada como ser assediada por dois homens para que uma garota... sem graça, passe a se considerar mais bonita do que realmente é. E deixe de lado um pretendente sério por outro qualquer. Hannah não era diferente das outras afinal.

Precisava dar um jeito nisso. Assim que voltasse para casa, reescreveria a carta. Seria mais incisivo em demonstrar os sentimentos de Paul. Depois, bastava ver como ela se comportaria. Se continuaria a manter correspondência ou confessaria que estava cedendo a corte de outro.

A baronesa surgiu repentinamente ao lado deles. Trazia um sorriso estático nos lábios. Logo se dirigindo à filha caçula:

— Você viu Betina? Viu sua irmã? – agitadamente a mulher movia o leque diante do rosto. – Parece que sir Price está realmente interessado nela. – e os olhos da baronesa se voltaram para Sebastian. Ele compreendeu o que diziam, sim, se Hannah se acomodasse com aquele tal sir Price, o caminho para o pedido de casamento estaria definitivamente aberto para ele.

Mas os Larkin sabiam quem era sir Price? Ou apenas esperavam que qualquer um carregasse sua filha mais velha para que a outra pudesse casar?

— A senhora conhece esse rapaz? – perguntou de repente.

— Oh sim! Ele é filho de um amigo muito próximo do irmão de Elton. – a baronesa respondeu sem olhar para o futuro genro. – A família dele vive na Irlanda...

Filho de um amigo do irmão do barão. Era isso. E a baronesa acreditava que conhecia bem o homem a ponto de entregar a filha a ele.

— Ele vem de família tradicional? – tornou a perguntar, e desta vez, a baronesa o encarou entre curiosa e desagradada pelo contingente de perguntas desnecessárias.

— Terceiro filho de um Duque.

Assim como Sebastian nunca seria o Marquês de Ashworth, provavelmente o tal Praice nunca seria Duque... seja lá do que fosse. Talvez o homem estivesse atrás do dote de Hannah.

— Meu amigo Wood é um conde. – retrucou se sentindo incomodado.

A baronesa pareceu relaxar. Sir Evans estava tomando as dores do amigo.

— Mas seu amigo não está aqui. E sir Praice está.

Aquela era sua deixa. Nada que dissesse faria qualquer diferença. A baronesa estava disposta a entregar a filha a qualquer um que se mostrasse levemente interessado nela. E, ele dirigiu os olhos para o casal. Apesar de não querer admitir, sir Praice parecia muito interessado em Hannah.