Lado A Lado - Novos Rumos

Quem matou Catarina Ribeiro


“Um brinde à minha mãe, que é capaz das coisas mais incríveis pela harmonia e a felicidade da família...”

Laura em Lado a Lado

Por Cíntia

Apesar de Edgar não se lembrar do fim da noite em que Catarina foi morta. Esse tempo não ficou perdido para sempre... Pelo menos, não pra quem acompanha essa história...

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Naquele dia, Edgar já entrou na casa cambaleante. E num estado mental fora do alcance da sua memória. Uma consciência inconsciente. Mas ainda guiado pela noção de que tinha que encerrar seus assuntos com Catarina. Precisava daquilo pra prosseguir com sua vida. Ele precisava falar tudo que estava entalado dentro dele.

Catarina ficou surpresa com a visita dele àquelas horas da noite...

Naquela tarde, ela tinha recebido a notícia por Umberto de que Filipe ganhara a guarda exclusiva e definitiva de Melissa e até já tinha ido embora com a menina.

Essa notícia fora um baque pra ela. Mas ela não queria demonstrar isso. Ninguém podia saber que ela estava abatida, não devia demonstrar fraqueza. E mantendo a pose, pediu que Umberto a deixasse sozinha ...

Ela realmente precisava de um tempo para pensar no que ia fazer... Estava zonza, no fundo do poço, mas não se daria por vencida. Não se daria por vencida enquanto ainda estivesse viva.

E a visita de Edgar, lhe trouxera uma sensação estranha, como se ela corresse contra o tempo, ainda mais devido à fúria que ele mostrava, ela nunca tinha o visto tão descontrolado:

– Está satisfeita???- ele chegou aos berros- A Melissa foi embora pra sempre... E você não a verá novamente... Era isso o que queria? Isso e acabar com a minha vida!

–Edgar, eu só queria proteger ... – Catarina protestou, mas Edgar não a deixou terminar.

– Proteger??? Proteger a si mesma. Isso sim... Catarina você é uma mulher desprezível... Tudo o que fez foi por você e apenas você! Envolveu sua própria filha nisso, nunca pensou nela, menos ainda em mim. Você usa as pessoas e não ama ninguém. Nunca me arrependi tanto de um dia em minha vida como do dia em que me envolvi com você. Disso só tive coisas ruins... E como pude pensar que gostava de você? Mas hoje vejo que era apenas desejo, e o bom de ser apenas desejo é que assim, ele é passageiro, bem diferente do que eu sinto por Laura, um amor de verdade e um desejo que nunca acaba... Já de você, só tenho nojo.

– Eu não quero saber nada sobre sua mulherzinha... Ou o que sente ... – ela se sentia ultrajada por seu envolvimento com Edgar ser desvalorizado de tal forma, como um nada, Edgar tocara direto em sua vaidade de mulher fatal, ainda mais que fora comparada a uma filhinha da nobreza, ela gostava de imaginar que seria a mulher inesquecível para todos os homens que a tiveram em seus braços.

– Meus sentimentos por Laura, a mulher da minha vida, realmente não é do seu interesse. Mas saiba que suas armações contra ela acabaram. Você não tem mais a Melissa pra jogar... E eu sei de tudo o que fez, de como manipulou todos, dos crimes que cometeu. A polícia já sabe também: o sumiço de Cecília, o incêndio, a Edição do Pasquim... Eu sei, Catarina, você é a responsável por tudo... E tenho provas. Você não ficará impune... Nunca mais chegue perto de Laura e da minha família!

– E se eu chegar? – Catarina ameaçou, as palavras dele a tiravam do sério.

Edgar foi tomado por um acesso de raiva. E chegou a pressionar Catarina em uma parede, estava prestes a socá-la. O seus músculos ficaram tão rígidos, que ele não cambaleava mais, e seu olhar enfurecido deu medo até mesma na inabalável Catarina:

– Não, não vale a pena – ele disse se controlando – Você não vale a pena! Não vou me sujar... Não adianta ameaçar... As suas ameaças já não surtirão mais efeito... Não tem jeito, você já perdeu, Catarina! – ele disse essa última frase de maneira bem pronunciada e alta, saiu cambaleando da casa, deixando uma Catarina atônita e sem palavras.

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Após a saída de Edgar, Catarina ainda muda, assustada, enfurecida foi até a cozinha, preparou um prato e resolveu cear. Pensava que o ato de comer, talvez aliviasse um pouco suas ideias, a fazendo pensar numa estratégia, e também tirasse a sensação ruim que começava a sentir em seu estômago.

Já Edgar saiu pela rua quase esbarrando em Caniço. Mas ele não deu atenção ao comparsa de Catarina e continuou sua caminhada de volta pra casa. Depois da sua explosão, mesmo bêbado, Edgar se sentia livre, satisfeito... Preparado pra mudar a sua vida e lutar por sua felicidade com Laura e seus filhos.

Já Caniço ficou com uma pulga atrás da orelha, tinha escutado parte dos gritos. Mas agora só ouvia o silêncio. Sabia que a situação estava ruim pra Catarina e se indagava se seria a melhor ocasião para procurá-la e cobrar mais uma vez o dinheiro que ela lhe devia.

Com a polícia em seu encalço, ele precisava muito desse dinheiro. Mas talvez Catarina estivesse muito nervosa pra ter uma conversa sobre isso...

Por Constância

Eu estava sentada na cadeira de uma sala imunda da delegacia. Imaginava quantas pessoas vulgares e criminosos mesquinhos tinham passado por lá. Mas ao menos nela conseguiria um pouco de privacidade e discrição. Também depois da “gorjeta” que dera a um policial era o mínimo que esperava. Mesmo assim era um ambiente detestável, mas o que eu não fazia pelo bem da minha família?

Trouxeram o meliante e o colocaram sentado e algemado a minha frente. Como esperava era um escurinho que vestia uns trapos imundos. Uma senhora da sociedade como eu teria medo daquela espécie. Mas eu não tinha e pedi que me deixassem sozinha com ele:

– Sebastião ... – comecei a falar ainda enojada pelo seu aspecto

– Caniço, me chamam de Caniço! – apesar de algemado, ele se mantinha e falava firme.

– Eu sei que te chamam assim. Mas só mesmo alguém como você para preferir ser chamado de Caniço a Sebastião.

– Sebastião, se a senhora prefere então... Só vamos parar de enrolação, me diga o que quer? – ele era direto e eu gostei daquilo, quanto menos tempo naquele lugar melhor.

– Quero que confesse que matou Catarina Ribeiro. – também fui direta, ele deu uma risada irónica e voltou a falar.

– Eu não matei a Catarina. Não vou confessar! Como já disse a polícia, fui até a casa dela naquela noite, mas não entrei... Ouvi uma briga, vi o Dr. Edgar Vieira sair de lá, e sabendo que situação estava preta, resolvi ir embora. Eu não matei ninguém... Mas o Dr. Edgar ... – ele falava com malícia

– Não me importa quem matou... Só quero que você confesse. Quero que diga que esfaqueou a cantora!

– Não sei que por que mentiria sobre algo que não fiz – ele rebateu

– Veja bem, Sebastião. O Dr. Edgar é meu genro. Ele e minha filha já passaram por situações difíceis. Mas agora estão se acertando... E essa investigação está conturbando a vida deles. Minha filha está grávida. E precisa ter um pouco de paz com a família, e logo.

– Uma pena pra sua filha, mas ...

– E pense também na sua situação... Você é pobre, negro, conhecido por seus crimes, enquanto meu genro é um advogado rico, branco, de renome, pai de família, conhecido por sua integridade. Em quem você acha que vão acreditar? Em você ou nele? A corda sempre arrebenta pro lado mais fraco, e uma prova disso é que você está preso e meu genro não. A sua condenação pela morte da cantora é inevitável, a confissão nem é necessária. Você estava lá, você mesmo confessou isso!

– Mas eu não matei ninguém! – ele protestou

– Isso não importa! – alterei um pouco a minha voz – Pra falar a verdade, quem matou a Catarina fez um bem pra humanidade! – abaixei o meu tom e comecei a falar com calma – Eu quero que isso acabe logo por minha filha, e para isso, você precisa confessar. No caso, tenho até uma proposta pra você!

– Que proposta? – ele parecia interessado

– Bem... Antes vamos pensar nas opções... Se você não confessar, vai acabar sendo condenado de qualquer jeito, e vai viver os melhores anos de sua vida na cadeia, por esse e outros crimes... Já se confessar... Tem a minha palavra que eu arrumarei um modo de tirá-lo da prisão. Armarei a sua fuga e te dou um bom dinheiro pra você sumir do Rio de Janeiro. O que acha?

– Não sei... Não tem volta se eu confessar, e se a senhora não cumprir com a palavra? Sem contar que eu estaria confessando algo que não fiz! – ele parecia em dúvida, além de bem desconfiado.

– Em minha palavra pode confiar... Mas a decisão cabe a você, Sebastião. Não perca essa oportunidade. Você pode me dar a resposta até o fim do dia. É só pedir ao guarda que te trouxe pra me enviar um bilhete com a palavra sim!

Me levantei e o deixei pensativo. Já tinha jogado a isca e esperava receber um bilhete dele em breve. Voltei pra casa e comecei a lembrar do que tinha acontecido nos últimos dias....

O dia que eu fui atrás de Laura pra falar da loucura de Edgar em relação à bastardinha. Minha filha acabou passando mal, o que me preocupou bastante.

Mas após pressionar o médico que a atendeu, descobri que ela estava grávida. O que era muito bom. Isso iria colocar a cabeça de Edgar no lugar. Era um novo filho a caminho, faria Laura e Edgar se acertarem definitivamente, e ainda sem a presença inconveniente da bastardinha, que pelo o que sabia estava prestes a ir embora como seu pai de verdade.

Eu até pensei em tomar alguma ação ao saber que minha filha e meu genro ainda não tinham se acertado, e cogitei procurá-lo. Mas depois repensei, talvez fosse melhor dar um tempo, e deixar que se acertassem sozinhos. Laura não gostava das minhas intromissões e se fizesse isso talvez piorasse a situação.

De qualquer forma, sabia que essa reconciliação era inevitável, os dois se amavam , tinham 2 filhos, que logo seriam 3. E se demorassem mais, eu ainda podia agir.

Certa noite, recebi com muita satisfação a notícia de que a cantoria desafinada tinha perdido a bastardinha, e que essa já partira pra Portugal.

Aproveitando que Alberto estava viajando... E também não querendo fazer uma visita à luz do dia pra ser ligada a uma pessoa com tamanha má-fama, resolvi ir a sua casa ainda naquela noite, mesmo já tendo passado do horário considerado conveniente pra visitas.

Queria fazer com que ela não incomodasse mais Laura e Edgar. Ela estava por baixo, mas ainda era muito perigosa. Eu não me importava com justiça e estava disposta a lhe pagar pra que sumisse no mundo. Financiá-la a ir atrás da filha e do ex-amante em Portugal. Já tinha deixado essa situação correr solta por anos... Não deixaria mais.

Catarina tinha sido uma pedra enorme no meu sapato. E eu também queria aproveitar aquele momento em que ela se encontrava no fundo do poço pra pisar nela definitivamente... Não podia perder essa oportunidade... Sentia um prazer imenso por dentro ao me imaginar fazendo isso...

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Imbuída desse espírito, bati na porta da cantora. E fui atendida por ela, que me olhou com uma expressão de descaso:

–Ahh... É você? Não devia ter interrompido minha ceia. Mas já que interrompi, me acompanhe... – ela falou sem cerimônia, e foi entrando pela casa. Acabou parando na sala de jantar, se sentou a mesa em frente a um prato que ainda tinha um pouco de comida – Então, já soube sobre Melissa e veio cantar vitória?

– Sim, soube... E realmente isso foi muito bom ... Até mesmo sua filha ... Você já perdeu... E considerando sua voz desafinada, creio que se foi o seu maior meio de sustento... Vamos ver como fará pra continuar tendo pratos de comida como esse... A menos que prefira cair na vida definitivamente.

– Eu ainda estou aqui, não estou tão derrotada como você pensa ...–ela parou de comer e me falou ofendida

– Será que não? Mas de qualquer forma, eu vou ser muito generosa. Estou disposta a lhe dar um pouco de dinheiro e pagar sua passagem pra Portugal para que você possa atazanar a vida do trouxa que teve a coragem de dormir com você e até fazer uma filha! Desde que, é claro, nunca mais coloque os pés no Brasil.

– Baronesa... Filipe não é tão trouxa como você pensa... Pelo menos não tão trouxa como o Edgar.... Talvez seja melhor ficar aqui – ela disse deixando transparecer toda a sua malícia

– Se você quiser ficar aqui, sem filha, sem dinheiro ... – comentei fazendo pouco caso dela

– Você e o Edgar acham que estou acabada, não é? Acham que me derrotaram... Mas estão enganados... Não vão se livrar de mim facilmente – ela se levantou da mesa e pela primeira vez parecia estar realmente com raiva – Eu não precisei da Melissa pra levar sua neta, não precisei dela pra botar fogo na escola da sua filha com ela dentro e nem pra lançar uma edição do Pasquim!

– Então você realmente fez tudo isso? – disse exacerbada com sua audácia, eu podia imaginar aqueles atos dela, mas não esperava que ela confessasse assim.

– E posso fazer mais... Ainda mais que não tenho nada a perder – ela continuava alterada

– Catarina, você não sabe com quem está mexendo – ameacei, não ia deixá-la mais agir contra minha filha e netos.

– Você acha que eu tenho medo de ameaças? Ainda mais de vocês... da alta sociedade... Vocês não são capazes de sujar as mãos como eu...

– Você acha mesmo que não sou capaz de sujar a mão pra acabar com uma biscate como você? – disse com raiva

– Aquela garotinha tão inocente... Tão loirinha e bonitinha... Aquele garotinho esperto ... E aquela professorinha tão boazinha... Todos são alvos fáceis em minhas mãos! –ela continuava eufórica em suas ameaças, e eu soube que ela nunca deixaria minha família em paz!

– Não mexa com Cecília, Laura ou Pedrinho! Vou te mostrar o quanto posso sujar as minhas mãos pra proteger minha família!– disse sendo tomada pela cólera, num impulso peguei uma faca que estava em cima da mesa, e a apunhalei.

Ela não gritou, mas me olhou com os olhos arregalados. Estava apavorada, levou suas mãos ao abdômen, e percebeu pelas mãos encharcadas que o sangue escorria em profusão. Ela caiu no chão, e acabou fechando os olhos pouco depois.

Eu também estava assustada, não tinha ido lá pra isso, mas ela havia me levado até as últimas consequências. Joguei a faca longe e percebi que havia uma mancha de sangue em minha luva.

Quase voltei pra examiná-la, mas pelo seu modo, e quantidade de sangue no chão, imaginei que já estava morta. Voltei pra casa e no meio caminho pensava no que tinha feito... Eu não devia tê-la matado... Mas até que o mundo ficaria melhor sem ela... E o mais importante de tudo, minha família ficaria mais segura.

Nos dias seguintes, estive atenta às investigações. Pagava pra obter informações confidenciais. E me assustei bastante quando descobri que encaravam Edgar como o principal suspeito da morte daquela mulher vulgar. Não era isso que queria. De maneira alguma, não queria que vissem minha filha como a mulher de um assassino e meus netos como filho de um.

Eu tinha que fazer alguma coisa, mas também não podia me entregar... Assim quando o comparsa de Catarina foi preso, tendo até mesmo confessado que fora procurá-la naquela noite, agarrei a chance de livrar os membros da minha família daquela tensão.

Eu estava certa que conseguiria. E a resposta de Sebastião não tardou muito a chegar, afirmando a minha impressão... No fim da tarde, recebi um bilhete com a palavra sim... E segundo meu informante, ele já estava confessando.

Ainda precisava armar a fuga dele, providenciar o dinheiro necessário pra tudo.... Mas antes de arranjar as coisas, tomei um pouco licor sorrindo. ... Tinha conseguido. Nós estávamos livres de Catarina Ribeiro definitivamente.