“-Eu não tô gostando nada de te ver assim. Eu também dava tudo pra tirar essa tristeza do seu (rosto) – Laura

– Mas te ver, falar com você já ajuda ...– Edgar

Lado a Lado

Por Laura

Eu voltei pra casa com cabeça fervendo. As palavras que Edgar tinha me dito ainda ressoavam em meus ouvidos e doíam em meu coração. Já tinha chorado muito pelo caminho e quando cheguei em casa me deparei com uma visita pouco agradável, minha mãe:

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– Mas que sandice é essa, filha? Eu achei que você e o Edgar tinham colocado a cabeça no lugar. Estavam se acertando... Mas agora escuto que não estão bem... Por causa de uma bastardinha filha de uma vagabunda ...Que nem filha dele é.

– Não sei o que a senhora escutou sobre a gente... Mas o Edgar tá sofrendo. Ele deve perder a Melissa! – justifiquei

– Ele devia dar graças a Deus de se livrar da bastarda que só criou confusão na vida dele! E você também!

– Vejo que a senhora não entende as pessoas mesmo... As coisas não funcionam assim... Os sentimentos não mudam de uma hora pra outra ... Edgar está arrasado. E é difícil vê-lo assim – falei irritada, começava a sentir uma tontura.

– Ele devia pensar que tem outros filhos. Filhos dele de verdade... E você... Laura, vai deixar as coisas assim? Vai deixá-lo continuar com essa loucura de lutar pela guarda da menina? Faça algo ... - ela gritou autoritária

– Eu só estou res..- estava completamente tonta, não consegui falar mais ou me manter erguida, minhas pernas fraquejavam, minha visão ficava turva...

Acordei em minha cama. Isabel e minha mãe me observavam:

– Você está bem, filha? – perguntou a Baronesa, ela parecia preocupada.

– Estou... O que aconteceu? - disse ainda confusa

– Você desmaiou, Laura – respondeu Isabel

– Filha, você está bem mesmo?

– Tô ... Eu só não comi direito hoje- justifiquei, apesar de imaginar outro motivo pro meu mal estar.

– De qualquer forma, o médico verá isso. Eu chamaria o seu pai... Mas ele parece ter adivinhado. Viajou justamente na época em que mais precisamos dele

– Médico? Não preciso de médico! -protestei

– Laura... Sua mãe tem razão, acho que não fará mal. Nós estávamos tão preocupados que Lauro já foi buscar o médico. Conseguimos evitar que as crianças vissem tudo, mas elas estão desconfiadas. É melhor precaver...

– Tá bom. Mãe, a senhora me deixaria a sós com Isabel? - pedi

– Vou ficar com meus netos. Quanto a nossa conversa de antes, espero que não deixe as coisas assim...– ela saiu um pouco contrariada

Mas eu já me sentia mais calma com sua ausência e Isabel falou:

– Você tá grávida, não tá, amiga?

– Estou – olhei bem pra ela – Tenho quase certeza.

– Então o médico vai ser bom pra confirmar!

– Isabel, não sei se quero ter uma confirmação agora. Não com as coisas tão incertas.

– Mas adiar não vai fazer sumir isso. Vai? O Edgar ainda não sabe, né?

– Nem desconfia... Parece que não me nota... Não se preocupa... E até chego a pensar se as noites que nós passamos juntos desde que Filipe apareceu não foram pra suprir as suas necessidades de homem...

– Laura... Não fala assim. O Edgar te ama! – Isabel se sentou na cama e segurou minha mão

– Eu sei... As vezes, percebo em uns detalhes... E nas noites também... Mas é que ele tá tão distante... – lágrimas começaram a cair dos meus olhos, e continuei falando entre soluços– Você não imagina o que ele disse há pouco... Duvidou das descobertas sobre aquela mulher... Está querendo ... Achou que eu ... Eu não quero ter outro filho com a situação assim... Até parece que o destino nunca me deixará ter filhos em situações felizes.

– Calma, amiga...Vai dar tudo certo... Você vai ver, vocês vão se acertar- ela me abraçou

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Nós ainda conversamos um pouco e ela me deixou sozinha com o médico quando esse chegou. Ele era gentil e falei dos meus sintomas. Depois que me examinou, ele confirmou a gravidez. Disse pra eu me alimentar bem, além de tentar me manter calma... Meu bebê precisava disso.

Após sua saída, eu pensava assombrada... Estava mesmo grávida... Não sabia o que fazer... Tinha brigado com o Edgar. Ele estava tão transtornado... Não imaginava como receberia a notícia. E como seria o nosso futuro.

Minha mãe voltou, e consegui fazê-la ir dizendo que tratava apenas de uma fraqueza, nem comentei sobre minha gravidez. Após sua partida, Isabel perguntou apreensiva:

– E então?

– Eu tô grávida.

– Parabéns, Laura- ela me abraçou animada – Sei que está com medo, mas essa notícia merece parabéns, não é?

– É claro. Eu vou ter um filho... E um filho é uma benção... Vou amá-lo muito – respondi

– Sim... É isso mesmo. – ela sorriu – E tudo vai dar certo... Quando você vai contar ao Edgar?

– Não sei... Realmente não sei

– Amiga, você tem que contar... Ele... – a interrompi

– Eu vou contar, só não sei quando. Não sei como será a reação dele... Tenho medo de ser ruim.

–Sei que ele está sofrendo. Mas Laura, Edgar é apaixonado pelos filhos... Vai gostar de saber que terá mais um.

– Será? Depois do que ele me disse hoje, tenho medo dele me acusar, achar que eu engravidei de propósito e que estou tentando substituir a Melissa. E se ele falar isso, Isabel. Não vou suportar.

A verdade é que realmente tinha muito no que pensar... E ainda tinha esse bebê dentro de mim que precisava de tranquilidade e boa alimentação. Resolvi não procurar Edgar por um tempo. Pedi que Isabel levasse as crianças pra ele ver. Pois não queria que se afastasse dos filhos. Mas achei melhor ficar em casa.

Com isso, também tinha um desejo não dito. Sabia que ele estava triste. Mas esperava que sentisse a minha falta... notasse a minha ausência. Já começava a me sentir desvalorizada, e gostaria que ele mostrasse que eu ainda era importante... Que ele me procurasse. Só que passaram uns dias, e ele não apareceu, não mandou recado ou telefonou.

Enquanto isso, pensava muito em tudo que acontecia. Algumas coisas me traziam muito sofrimento, como a minha situação com Edgar e seu abandono. Mas outras não eram tão ruins. Eu podia brincar bastante com os meus filhos... Ainda sentia um pouco de culpa por trazer outra criança num momento tão incerto. Mas já me habituava e apreciava a ideia que seria mãe novamente.

E também comecei a reparar mais a minha volta. Lauro, por exemplo, estava tendo um comportamento estranho. Na verdade, isso já vinha de antes. Às vezes, recebia uns bilhetes e tinha uns sumiços misteriosos. E suas explicações não eram muito boas. Se eu fosse Isabel já estaria com ciúmes. Mas também o conhecia, e não achava que estava se encontrando com outra mulher. Só que mesmo assim, sua conduta me intrigava.

Já em relação à Melissa, um dia, recebi um telefonema de Filipe. Ele me informou que ia partir com ela naquela tarde mesmo. Fiquei sabendo que Edgar estava ciente disso e que iria ao porto.

A minha situação e de Edgar era muito complicada. Mas eu imaginava o quanto aquilo seria doloroso pra ele e resolvi ir. Precisava ter uma noção do que acontecia. Precisava saber como ele estava.

Observei a despedida de longe. Edgar tentava se conter e parecer animado pra Melissa. Mas em seus olhos, via o quanto ele estava triste. E quando ela partiu, ele não tentou esconder mais. Em sua expressão, mesmo de longe, era evidente o quanto estava abalado.

Minha vontade era ir até ele. Consolá-lo, abraçá-lo. Mas ainda tinha muitos problemas entre a gente. E não sabia como a minha intromissão naquele momento tão íntimo e triste seria recebida. Assim, o deixei ir embora devastado.

Fiquei um tempo vagando pela cidade. Pensando em tudo. Mas continuava com muitas dúvidas em relação ao nosso futuro, sobre o que deveria fazer, quando contaria que esperava um filho a Edgar.

Só tinha uma certeza enquanto acariciava a minha barriga tentando entrar em contato com o meu bebê... Mesmo se as coisas estivessem bem ruins, eu não fugiria... Nunca mais fugiria. Edgar iria conviver com ele desde o início.

No dia seguinte, acordei cedo e fui pra minha escola. Isso seria bom pra desviar meu pensamento dos problemas. Lá eu sentia minhas realizações. Já estava quase tudo pronto e no início do ano letivo, eu iria inaugurar o meu colégio.

Quando o meu bebê nascesse, eu precisaria me afastar um pouco, e já pensava em quem poderia me ajudar nisso. O nome de Sandra veio a minha mente. Ela estava casada, e tinha uma filha. Mas como a menina já estava maiorzinha, talvez Sandra estivesse interessada em trabalhar.

Eu estava andando pela escola quando escutei um som. Depois do incêndio, tinha um pouco medo de ficar naquelas salas, mais ainda quando aconteciam barulhos repentinos, assim institivamente me encolhi. Mas me tranquilizei quando vi Edgar:

– Edgar? – estava surpresa

– Laura ... – seu olhar era intenso, apesar de triste – Eu preciso falar ... com você.

– Então fala... – eu tentava disfarçar, mas o aparecimento dele fizera o meu coração disparar, e me trouxera uma sensação boa.

– Eu contei a verdade pro juiz ... A Melissa foi embora...

– Eu sei. Sinto muito por isso.

– Minha vida tá um inferno... Ainda dói muito... Mas eu não posso continuar assim... Laura... Eu preciso de você... Preciso das crianças... E não vou conseguir sair dessa sem vocês... Vocês são tão importantes pra mim. Me desculpa, por agir tão mal nos últimos tempos ... Eu estava ... – ele falava tudo de modo intenso

– Será que ainda é possível, Edgar? Depois de tudo que aconteceu, talvez a gente não possa confiar mais no outro. Já fizemos tanto mal pro outro. O que você disse naquele dia...

– Foi uma loucura, meu amor. Uma loucura, eu sei que você não queria essa situação! – ele estava sentido e parecia sincero - Eu te amo, nunca vou deixar de te amar. Quero envelhecer com você... Tivemos situações ruins, mas também houve boas... bons momentos... Dois filhos lindos ... Dá outra chance pra gente... Eu ... – ele se aproximou, segurou minha mão, e olhou bem em meus olhos.

Ficamos nos olhando calados com os rostos próximos. Parecia que cada um tentava entender o que se passava dentro do outro. Depois de um tempo não resistimos, e nos beijamos. Um beijo calmo e longo... impregnado de vários sentimentos. Um beijo profundo de encontro à alma.

Só que durante o beijo, senti uma fraqueza e minhas pernas vacilaram... Edgar me apoiou e perguntou preocupado:

– Você tá bem?

– Sim.

– Tem certeza? Talvez um médico ... – ele parecia se importar de verdade, o meu Edgar estava voltando mesmo.

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– Estou ótima. Foi apenas a emoção mais intensa... – sorri pra ele – Me leva pra casa?

– A minha ou a sua?

– A nossa- falei e ele até sorriu de leve mostrando que tinha entendido.

Nós fomos pra nossa casa e passamos direto pro quarto. Em pouco tempo, nossas roupas estavam no chão. Edgar demonstrava o máximo de atenção comigo. Seu olhar e seu toque eram tão calorosos que a grande intensidade da sua vontade e seu amor parecia palpável pra mim. E esses sentimentos eram incontestáveis.

Apesar da tristeza, o amor e o desejo de Edgar por mim continuavam intocados... E como sempre abrasadores. Nos amamos intensamente, matando a nossa saudade e carência depois dos problemas e dos dias de distância, e pelo modo que agíamos, nem pareciam dias e sim anos de afastamento.

Após nos amarmos, ficamos nos braços do outro. E eu comecei a acariciar o rosto de Edgar, ainda percebia rugas de tristeza nele, mas notava que ele já estava completamente comigo. Queria tanto tirar aquela tristeza do seu rosto.

Nós ficamos um tempo trocando carinhos e conversando sobre os nossos planos pro futuro. A ideia de morarmos todos juntos voltava.

Descemos pra almoçar... Eu estava faminta. Mas em certo momento falei sobre o cheiro forte da comida:

– Meu amor, você está mesmo bem? – ele perguntou segurando a minha mão

– Estou... Você ainda não entendeu, né? – ri pra ele e percebi sua confusão, pensei que seria um momento bom pra contar – Não é nada que não passe dentro de alguns meses.

– Como? – ele ainda parecia confuso, mas depois percebi certo brilho em seu olhar – Você está...

– Grávida. Tô grávida, Edgar.

Ele olhou bem em meus olhos, por momentos aquela melancolia que ainda existia nele desapareceu por completo. Um brilho tomou seu lugar. Ele saiu da cadeira e me abraçou:

– É maravilhoso, meu amor...

– Que bom que você acha isso. Gostou mesmo da notícia?

– Claro. É o nosso filho, Laura.... Nosso filho que vou ver nascer e crescer... Dessa vez, vai ser diferente. Eu vou poder acompanhar... – ele parecia animado

– Não sabia se seria um bom momento – disse sincera, e deixei escapulir uma lágrima aliviada, ele me olhou compreensivo, parecia ter entendido a minha dúvida.

– É um ótimo momento... meu amor - ele começou a dar beijinhos em meu rosto, enxugou a lágrima e docemente beijou a minha boca - Saber que você vai ter um filho meu é maravilhoso em qualquer momento.

Depois ele se sentou na cadeira, segurou as minhas mãos:

– Você sabe há muito tempo?

– Confirmei mesmo há poucos dias... No dia em que discutimos. Mas eu já desconfiava há algum tempo.

– Podia ter falado comigo.

– Eu tentei falar, mas você estava tão.... eu não sabia como ...

– Tá certo, não vamos brigar por isso. O importante é que eu sei agora... E não vou largar de você até o nosso filho nascer- ele sorriu tocando em minha barriga e nos abraçamos

Depois do almoço, subimos pro quarto, tiramos os nossos sapatos. Edgar se deitou na cama, eu sentei ao seu lado, estava colocando sua cabeça no meu colo, mas ele me impediu:

– Eu é que devia dar meu colo pra você – comentou

– Mas você ainda tá precisando de um colo, meu amor – justifiquei vendo seu ar pensativo e tristonho.

– Tô... Mas você tá grávida, e eu prefiro te mimar agora– ele se sentou, me fez deitar, colocou minha cabeça em seu colo, e começou a acariciar a minha barriga – Quero tocar o nosso bebê.

Nós ficamos um tempo assim, às vezes calados, ou conversando. Só que num momento tive um estalo e me levantei apressada:

– Vou telefonar pra avisar que estou aqui e pedir pra trazerem as crianças.

– Eu estou com saudade dos nossos filhos, Laura. Mas gostaria de ficar mais um tempo assim só com você... Curtindo o nosso bebê, e aproveitando o seu carinho, seu consolo.

– Tá bom, mas vou telefonar para avisar e pedir pra cuidarem deles.

Eu fiz o telefonema e nós passamos o resto do dia, e a noite entre carícias, cochilos, conversas, e muitos momentos de amor.

No dia seguinte, nos levantamos cedo, tomamos o café da manhã e estávamos prestes a sair pra buscar as crianças quando bateram na porta. Era o delegado Praxedes que foi direto ao assunto:

– Dr. Edgar, eu preciso tomar o seu depoimento o mais rápido possível. Tenho urgência nisso e gostaria que você aparecesse na delegacia logo.

– Depoimento? –Edgar perguntou confuso

– Sim, em relação ao homicídio de Catarina Ribeiro.