INÊS — Eu não quero que você fique com ele, não quero que se aproxime e que tenha contato porque ele é um homem mal.– ela soluçou nos braços do filho.

EMILIANO — Eu te amo, mamãe, eu não vou te deixar. Eu te amo mais que tudo, chefa!– ele chorava com a mãe e Victoriano suspirou aliviado ao vê-lo dar aquela resposta tão calorosa. Foram alguns minutos abraçados os três em dizer nada, até que Emiliano segurou o rosto da mãe e lhe perguntou.– Mãe, eu sou fruto de um abuso. Meu pai abusou de você para que eu nascesse?

Inês sentiu o corpo todo responder, é o tipo de notícias que não se dá a um filho, que não se pode dizer para que ele não sofra. Ela sentiu que mentir naquele momento era a pior das escolhas. Mas não iria mentir porque estava no momento da verdade com o filho.

VITORIANO— Emiliano, algumas coisas não devem ser ditas. Não importa mais essas coisas, filho querido.– ele se aproximou e ficou mais perto dos dois.– O que importa é que temos você, você está aqui e queremos que seja feliz ao nosso lado.– tocou o rosto dele com amor.– Você não precisa de nada dele.

INÊS — Isso, meu amor, você não precisa de nada dele!– ela falou deitando sua cabeça no peito do filho com amor e sentindo que ele seria o mais correto dos homens sempre, diferente do pai.

EMILIANO — Mamãe, eu preciso saber porque não posso mais viver com nenhuma mentira!– ele tocou Inês e a apertou contra seu peito.– Eu quero que me diga porque eu mereço entender e saber como as coisas foram.

Inês se afastou do filho e sentiu-se mal, tudo pareceu girar. Victoriano percebeu que ela não se sentia bem quando colocou a mão na barriga e fechou os olhos. Foi até ela e fez com que ela se sentasse na cadeira. Emiliano também foi até a mãe e se abaixou se colocando entre as pernas dela com carinho, ajoelhado e dando atenção.

INÊS — Eu amo você, meu filho, você é a parte mais importante de minha vida!– ela proferiu sorrindo para ele com a expressão de alegria estampada nos olhos.– Eu não penso na forma como você foi feito, nem no pai que você tem!– ela tocou o rosto do filho e ele chorava.

Foram mais lágrimas e ela não precisou dizer mais nada, sim, Emiliano era fruto de um abuso, filho de um abusador, mas ele não era como seu pai. Inês tinha conseguido fazer o que era certo, criá-lo com todo amor do mundo e fazer dele um homem especial.

EMILIANO — Chefa, você precisa descansar, precisa comer alguma coisa e descansar.– ele beijou ela com carinho.– Por hoje já chega, eu não quero saber de mais nada, não quero ouvir mais nada sobre esse homem que fez tanto mal a você.– ele sentenciou e segurou nas mãos dela beijando em seguida.

INÊS — Meu filho, eu quero que fique longe dele, preciso que fique longe dele.– era um pedido suplicante e tanto ele quanto Victoriano perceberam o medo que ela ainda sentia de Loreto depois de todos aqueles anos.

VICTORIANO— Emiliano, você não precisa de um pai como ele, você sempre terá a mim!– ele sorriu batendo no ombro do jovem e sorrindo.

Foram mais alguns minutos e Emiliano saiu ainda aturdido e cheio de tensão. Não tinha dita a nenhum dos dois, mas aquilo não ficaria por isso mesmo, não, não ficaria. Ele teria o seu momento com aquele homem que tinha feito tanto mal a sua mãe. Chegaria em breve, talvez até, naquele mesmo dia.

Sendo assim, Emiliano, planejou o momento de acerto que teria com seu pai, distante de todos e consciente de que poderia não ser um momento muito agradável. Inês e Victoriano foram para o quarto e depois de beber um copo de água com açúcar, ela suspirou e o olhou.

INÊS — Victoriano... meu amor, eu preciso que me ouça...– ela pegou a mão dele, estava deitada e se sentia tonta ainda, era a tensão daquele momento com o filho.

VICTORIANO — Me diz, morenita, o que quer falar comigo?– ele segurou a mão dela com carinho e sorriu.– Foi uma manhã difícil, precisa descansar.

INÊS — Vá ali e pegue aqueles papeis.– ela apontou o criado mudo.– É o envelope que eu pegue ontem com Loreto.

Victoriano fez exatamente o que ela pediu e quando pegou o envelope e sentou na cama, ela sinalizou para que ele abrisse e lesse. Ele fez e foi ficando cada vez mais chocado quando lia. A cada página, Victória maldizia Loreto ou dizia bem baixinho algum impropério... Quando acabou ele olhou para Inês e se aproximou mais dela, ali, frágil, deitada.

VICTORIANO — Inês, foi por isso?– ele tocou o rosto dela completamente pálido e tenso.– Por isso foi até ele, foi falar com aquele maldito? O que ele te disse? Eu sou inocente, morenita!

INÊS — Eu sei que é.– ela se sentou na cama e olhou nos olhos dele.– Loreto queria que eu voltasse a viver com ele para que você não fosse acusado com esses documentos que estão aí.– ela suspirou.– Ele me disse que me dará todos eles, os originais e me deixará rasgar se voltar a viver com ele, eu e meu filho.

Victoriano buscou os olhos dela e sorriu, depois a abraçou com aquele amor que os dois sentiam um pelo outro e suspirou. Inês era mesmo uma maravilhosa mulher, ela estava diante daquele monstro somente por causa dele.

VICTORIANO — Oh, minha vida, como eu te amo. Você teria coragem e voltar, somente para me salvar?– ele a apertou contra ele, era sacrifício demais imaginar Inês sofrendo nos braços dele.

INÊS — Eu faria por você o mesmo que fari por mim.– tocou o rosto dele com carinho.– Mas eu não acredito em Loreto. Vivemos juntos e sei que ele não é capaz de ser amigo de ninguém e nem de cumprir suas palavras. É um maldito infeliz!– se apoiou no peito dele e acariciou com calma.– Por isso quero que procuremos um advogado para mostrar isso aí.

VICTORIANO — Vamos fazer isso, morenita. Que bom que você me contou, que não cedeu a chantagem desse maldito. Se tivesse ido embora, eu morreria, Inês.– ele a beijou com carinho nos lábios.

INÊS — Somos uma família completa, não vou a nenhum lugar sem você.– ela proferiu olhando para ele, olhos nos olhos.– Vamos fazer tudo juntos porque já passamos tempo demais separados. Não vou a lugar algum e muito menos ser maltratada por Loreto! Eu quero ficar com você, nos seus braços, é isso que eu quero.

VICTORIANO — Ah, morenita, como me alegra ouvir essas coisas de você. Eu também só quero estar nos seus braços e ser feliz com nosso bebê, com nosso filhinho ou filhinha.– tocou a barriga dela com carinho.

INÊS — Victoriano, preciso que me prometa que não vai ficar triste se for uma menina.– ela colocou a mão sobre a mão dele que estava em sua barriga e sorriu.– Se for uma menina, quero que seja o papai mais feliz do mundo e que seja tão bom para ela quanto foi para nossas três meninas...

Ela temia que ele sofresse e que pelo desespero de querer um varão, ficasse decepcionado. Ela não se importava com o sexo do bebês, apenas queria que ele viesse ao mundo com saúde. Olhou para ele aguardando sua resposta, estava sorrindo para ela.

VICTORIANO — Eu vou amar essa criança, eu já amo essa criança muito, Inês.– dava selinhos nela enquanto falava e acariciava a barriga dela.– Eu vou amar se for uma princesa e vou amar se for um príncipe, porque o mais importante é que será um filho meu e seu...

INÊS — Minha vida, que lindo! Eu te amo!– ela o beijou e em seguida o soltou correndo ao banheiro, o estômago revirado.

Victoriano foi socorrê-la, mas foi expulso do banheiro com ele declarando que não o queria ali vendo a derrota de estar daquele modo. Victoriano ficou no quarto sentindo que ele teria uma longa jornada em banheiro com ela. Sorriu feliz, apesar dela estar passando mal, aquele era o sinal da vida, sinal de que havia um filho deles pronto para chegar...

Depois de meia hora, Inês estava de volta, sorrindo e chamando o marido para comer algo com ela na cozinha porque estava com fome. Ele a acompanhou e conversaram mais tranquilos na cozinha.

LONGE DALI...

Emiliano estava parado a cavalo em frente a casa de seu pai. Olhou toda a fazenda e com noje dele e de tudo que a mãe contara, cuspiu no chão em repúdio. Desceu e amarrou seu cavalo na entrada. Abriu e foi até a casa.

Loreto ouviu o barulho e foi até a porta dando de cara com Emiliano.. Os olhos se cruzaram de modo frio e Emiliano olhou para Loreto com mais fúria do que jamais tinha olhado para alguém...

LORETO — Emiliano, que bom que veio!– sorriu abrindo os braços para ele num gesto de alegria profunda e foi a deixa para tomar aí o primeiro soco na cara que o colocou no chão quase em nocaute.

EMILIANO — O que você pensou? Que minha mãe era algum bicho, algum animal? Nem os animais a gente trata como você tratou minha mãe!– chutou Loreto que ejá estava machucado da noite anterior.

LORETO — O que contaram a você?– falou nervoso.– Eu sou seu pai, Emiliano, seu pai!

EMILIANO — Você não é meu pai! Você é um verme e pagar por tudo que fez a minha mãe e a mim...– olhou o pai jogado no chão.– Vamos ver se é tão corajoso assim com um homem como é com mulheres indefesas!