- Hermione, hoje quero analisar um aspecto central da sua estadia por aqui, tudo bem? – Lacey começou depois dos cumprimentos de praxe. A paciente assentiu com a cabeça, cautelosa. – É pequeno, mas acho que afeta bastante. Vamos falar sobre seu quarto.

- Meu... Quarto? – Hermione ergueu uma sobrancelha, repetindo lentamente as palavras de forma cética. Era algo tão insignificante. Se estavam mantendo-a ali, podiam pelo menos gastar seu tempo de forma útil, mas ali estava, prestes a debater sobre o quarto.

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- É sério! – A médica riu. – Olhe ao seu redor. É aqui onde você vai ficar esse tempo todo, e eu acredito profundamente que o exterior influencia o interior. Vou te fazer algumas perguntas, responda como desejar, certo?

- Tudo bem....

- Certo, vamos começar com sua centralização. Você acha que o espaço é suficiente para acomodar todos os seus familiares? – Lacey checou sua prancheta, preparando sua pena.

- Sim, ainda que vocês estejam me proibindo de recebê-los. – Hermione alfinetou. Era hora de receber respostas, ainda mais depois das informações que recebera de Harry.

- Uau... Bom, uma hora ou outra você iria notar. – A doutora suspirou, esfregando as têmporas. – Eu não sabia se você estava pronta para receber visitas, muito menos o tipo de reação psicológica que eles acarretariam em você, Hermione. Veja, por vezes, ligamos todo um período a uma pessoa ou um grupo, e temo que você ligue a Guerra aos que estiveram do seu lado.

- Então eles me entenderiam melhor do que ninguém. – Retrucou a jovem com firmeza, desestabilizando os argumentos da médica.

- Tudo bem. Determinaremos um horário de visitação, e faremos um teste. Se você está pronta, por mim tudo bem. – Lacey sorriu fracamente, e Hermione se surpreendeu com a facilidade com que chegaram em um acordo. – Certo, você acha que tem informações suficientes disponíveis sobre cuidados com a saúde, incluindo seu caso?

- Bom... – Hermione ponderou. – Acho que não. Seria bom ter uma visão completa do meu caso disponível.

- Entendo. Há sinais claros para sua orientação dentro das unidades do hospital?

- Definitivamente não! – A jovem respondeu muito depressa, lembrando das dificuldades da noite anterior. Logo percebeu sua indiscrição, assim como Lacey, mas tentou logo corrigir seu erro. – Quero dizer, não. Um mapa seria útil.

Depois de muitas perguntas sobre ventilação, saneamento, iluminação, cores e outros aspectos do alojamento, a sessão acabou. Hermione tentou ver pelo lado positivo. Lacey estava cuidando até mesmo dos mínimos detalhes de sua estadia. Porém, se estavam personalizando o quarto, isso podia significar que seu tempo ali estava longe de acabar, e isso simplesmente estava fora de questão.

- Doutora Minnington? – Hermione chamou antes que a moça saísse do quarto. – Posso fazer um pedido?

- Claro, Hermione. – Lacey parecia aberta, convidativa.

- O confinamento é horrível. Eu gostaria de poder sair do quarto, ter horários de lazer ou algo do tipo, comer no refeitório com os outros... Entende? Não acho que meu quarto seja grave o suficiente para ficar aqui trancafiada. Não sou um perigo para os outros.

- Eu estive considerando isso, mas quero que veja o obstáculo que eu vejo. – Lacey sentou-se na cadeira novamente. – Hermione, você foi uma peça central da Guerra Bruxa. E aqui, temos gente de todo o tipo, e você não conhece todos. Então vai atrair olhares, nem sempre bons, e quero saber se você está pronta para enfrentá-los.

- Eu convivi com eles a minha vida toda. – Hermione sorriu junto com a doutora, sabendo que tinha conseguido mais uma concessão.

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- Então é melhor eu começar a trabalhar em uma grade horária para você. Amanhã já podemos colocar em prática nosso plano, incluindo as visitas. Alguém que eu precise notificar em especial? – Lacey indagou, levantando-se.

- Os Weasley.

- E os seus pais? – A loira franziu o cenho, e Hermione percebeu que a doutora não sabia tanto assim.

- Eles não sabem quem eu sou, no momento. – Hermione abaixou a cabeça, sem conseguir sustentar o olhar que recebia. – Doutora, você sabe quem está cuidando de Luna Lovegood?

- Mudança de assunto, não? – Lacey sorriu com compaixão, tomando uma rápida anotação na sua prancheta já lotada. – Se eu não me engano, é Robert Malphite. Por quê?

- Você não ouve? – A jovem perguntou, escandalizada. A única hipótese era que a médica usava algum tipo de tampão nos ouvidos para dormir. – Ela grita todas as noites. O que estão fazendo com ela?

- Hermione, é complicado. Às vezes, as coisas pioram antes de melhorarem. Assim é o tratamento para inúmeras doenças. – Ela tentou explicar, desconfortável, mas sabia que Hermione não acreditou em nada do que dizia. – Olhe, eu não gosto muito do Malphite. Mas pelo que ele anda dizendo, essa garota é o “pote de ouro” que ele vinha esperando para ganhar reconhecimento. Segundo ele, Lovegood tem tantos problemas que se ele conseguir normalizá-la, virará uma lenda.

- Isso é desumano! Estão tratando Luna como um prêmio, um objeto! Ela é incomum, mas quem não é? Lacey, você tem que fazer alguma coisa! – Hermione se levantou, exasperada com as informações que recebia.

- Hermione, chega. Você não tem o direito de me culpar por algo que eu não fiz, e está fora do meu alcance intervir. Eu verei o que posso fazer, mas é isso. – Lacey subitamente ficou firme, colocando um limite na liberdade que a paciente estava começando a tomar. Ela já tinha recebido reclamações por se aproximar de quem não devia, e temia que acontecesse novamente. – Por mais que eu queira que me veja como uma amiga, Hermione, eu sou sua médica em primeiro lugar.

- Eu posso sair do quarto hoje? – Hermione perguntou antes que ela fosse embora, com o clima ainda tenso. Não queria necessariamente desviar a atenção do conflito, simplesmente precisava da informação.

- Somente até às oito da noite.

Era o suficiente.

Fred, no entanto, mesmo que quisesse, não conseguiria sair do quarto, ao menos não sozinho. Ele, George e seu médico, doutor Higgins, tentaram andar durante a manhã, mas a tontura era grande demais para o garoto conseguir se concentrar em andar reto.

- Ei, não se preocupe. Tentaremos de novo amanhã. – O médico já velho sorriu calorosamente. – É assim com o corpo. Temos que ouvi-lo, se não ele nunca irá nos ouvir. Vamos com calma.

- Se é o que diz, vovô... – Fred brincou, formulando uma frase simples, mas completa. Isso o deixou mais feliz do que nunca, e era um enorme sinal de progresso.

- Certo, agora deixe-me ver esse machucado. – Walter Higgins riu, alcançando a cabeça do jovem e desenrolando as bandagens, com uma expressão de crescente confusão e angústia em seu rosto enrugado.

- O que foi, vovô? – George perguntou, aflito. Os gêmeos já tinham apelidado carinhosamente o médico designado para Fred. – Tem algo errado?

- Fred, você se lembra quem te deu o Esquelesce? – Higgins perguntou, coçando a barba.

- Não... – O paciente murmurou em resposta, confuso. – O que houve?

- Houve algum erro na dosagem. O osso cresceu demais. Merlin.... – O homem tentou manter a compostura, mas sua preocupação transparecia. Ele não podia deixar de gostar dos garotos, e sentia-se mal por ter deixado um erro desses passar. Sabia que não tinha sido ele, mas ainda assim....

- E... E agora? – Fred indagou. Sabia que não podia ser bom, mas ao mesmo tempo, sentia que estava melhorando aos poucos, apesar do calombo estranho na lateral da cabeça.

- Não é nada grave pelo que vejo, mas nunca vi um caso assim. Eu... Eu vou ver o que posso fazer, rapazes. Sinto muito. – O peso da culpa pareceu fisicamente recair sobre os ombros e cabeça do médico, que abaixou-os ao sair pela porta.

- Bom, o que nos resta é confiar no velho. – George deu de ombros, com um riso fraco. – Mas quer dizer que Fredoca andou recebendo visitas?

- Você não conta. – Fred sorriu, correndo os dedos por sua pequena montanha na cabeça.

- Bom, não fui eu quem te encheu de toalhinhas... – O irmão sorriu marotamente, como quem sabe de tudo. – Acho que sei por que a enfermeira confundiu suas doses...

- Quem dera. Foi Hermione. – Ele respondeu de forma simples. – Bom.

- Ah, é? Quem diria... – George riu um tanto alto demais, mas logo se desculpou quando viu a sobrancelha franzida do irmão. Agora ele conseguia ouvir conversas normais sem tanta dor, mas o zumbido não o tinha deixado ainda. – Que saudades de quando eu podia usar minha orelha para conseguir garotas...

- Trocaria de lugar com você a qualquer hora. – Fred murmurou.

- Temos que deixar você em forma logo, então. – George ponderou, colocando um dedo no queixo dramaticamente. – Ou bem pior, você decide. Os dois funcionam.

- Quero andar.

- Tá aí uma meta atingível.

Hermione andou pelos corredores, tentando se ambientar no hospital o máximo possível. Foi até o balcão do seu andar, e conseguiu pergaminhos novos e um mapa do hospital. Anotou tudo o que sabia sobre o médico de Luna para não esquecer de contar a Harry de noite. Colocou os nomes dos pacientes nos quartos em que estavam, ainda que duvidasse muito que fosse esquecer qualquer número. Nisso, foi-se sua tarde, e finalmente passou um dia sem estar completamente entediada.

- Ficar ocupada... Isso! – Hermione murmurou consigo mesma enquanto ouviu as luzes sendo apagadas em todo o hospital para a hora de dormir. Tinha percebido como afastar as memórias. Se ela se mantivesse acordada, não lembraria dos cadáveres no Grande Salão e espalhados pelos corredores de Hogwarts. Não lembraria da sensação de perigo constante, de ser caçada. Não lembraria, a não ser que olhasse para a cicatriz escrita em seu pulso, dos terrores da Mansão Malfoy. O passado vinha em flashes. Curtos, rápidos, mas o suficiente para fazê-la estremecer. Querendo ou não, os gritos de Luna sempre ativavam suas piores memórias.

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Deitada na cama, Hermione esperou calmamente por alguns minutos até que sentisse que todos estavam dormindo. Decidiu ir para Luna primeiro, já que seus gritos estavam especialmente altos naquela noite, e planejava cumprir sua promessa até o fim de seu período naquele lugar.

- Luna? – Sussurrou, fechando a porta atrás de si. A garota ainda não tinha tomado banho, o que era bem notável, e nem mudado de roupa.

- Hermione? Achou uma saída? – Luna levantou-se correndo, agarrando as mãos de Hermione com euforia e desespero, ofegante.

- Não, mas achei algumas informações sobre seu médico. – Hermione informou rapidamente, puxando suas anotações do bolso do seu cardigã. – Ele se chama Robert Malphite, e acha que, com o seu caso, ganhará fama e reconhecimento. – Leu, sem saber como dizer de maneira gentil que a cura da esquisitice de Luna seria a chave do sucesso do médico.

- Preciso sair daqui. – Luna murmurou. Subitamente, seu rosto se iluminou com uma chama de esperança. – Hermione, os Dáutilos mostram o caminho para quem precisa. Eu não consigo vê-los nesse estado, mas você pode.

- Luna, eu já estou trabalhando em um plano... – A garota coçou seus cabelos armados, não querendo ser rude ao dizer que não acreditava nesse tipo de coisa.

- Você tem que tentar, Hermione. Meu pai dizia que para vê-los, é só acender uma vela e chamar por eles. – Ela sussurrou, como se temesse que algum funcionário fosse ouvir seu plano.

- Certo... Vou tentar. – Hermione disse, não necessariamente de forma verdadeira, mas de forma que a confortasse. – Mas antes você tem que tomar banho.

- Você sabe que a água de hospitais carrega as doenças dos pacientes, não? – Retrucou a garota loira como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

- Isso é completamente absurdo. A água daqui não é contaminada, e água que usamos vai para o esgoto.

Essas discussões acabavam acontecendo quase involuntariamente quando colocava-se o extremo do racional de frente com o extremo do imaginativo. No entanto, Luna acabou cedendo aos pedidos de Hermione e finalmente tomou banho, mesmo que tivesse saído do chuveiro conferindo cada pedaço de seu corpo.

Fred deitava em sua cama, contando pela milésima vez os quadrados do teto e do chão enquanto aguardava o sono chegar. Em vez do sono, foi Hermione quem entrou, silenciosamente.

- Hermione? – Ele sussurrou, surpreso. Fred gostava de como as visitas de Hermione pareciam proibidas, secretas. O fazia sentir de volta à Hogwarts, pregando peças com seu irmão e fugindo de Filch. Ele adorava a sensação de quebrar algumas regras.

- Oi, Fred. – A garota respondeu com um sorriso. – Como você está?

- Não sei dizer... – Fred suspirou com sinceridade. – Sinto que melhorei, mas o médico... Aconteceu algo.

- Você definitivamente está falando melhor. Mas o que houve?

- Esquelesce demais.

Hermione virou a cabeça para tentar ver o machucado, e Fred apenas colocou-o à mostra. Realmente, havia um calombo grande e duro por baixo das bandagens.

- Eles já sabem o que vão fazer? – Ela indagou, interessada.

- Não, acho. Eu até queria dar um mapa pro vovô, de tão perdido. – Fred brincou, fazendo-a rir. Ele gostava da risada dela, principalmente quando ele mesmo era a causa. Na verdade, Fred gostava muito de risos em geral, entretanto, o de Hermione sempre era verdadeiro, alegre. – Mas consigo andar, mais ou menos.

- Quer tentar? – Hermione ofereceu, já de prontidão para ajudá-lo a levantar. Fred não estava tão seguro, afinal, se caísse, era pesado demais para a garota mirrada segurá-lo. De qualquer forma, o médico disse que andar logo seria fácil, e a tontura passaria rápido. Já Hermione queria ajudá-lo com todo o coração.

- Certo... – Ele segurou as mãos pequenas de Hermione e se pôs de pé. Fred bamboleou nos pés, tonto com a mudança súbita de posição. Apoiado no ombro dela, ele deu alguns passos inseguros, mas sem nenhuma queda. Hermione fez um movimento com as mãos e sussurrou algumas palavras, apontando para os pés de Fred. – O que você fez?

- Um feitiço. – Hermione sorriu. – É bem simples, ainda que pouco conhecido. Impede você de cair.

Fred sorriu, e soltou dos ombros de Hermione. Ele andou, conseguindo dar uma volta lenta e levemente cambaleante pelo quarto. Mas sem cair, nem mesmo uma vez. Quando voltou para comemorar com a garota, tropeçou e, ao tentar se apoiar em Hermione, levou os dois ao chão.

- Não tinha feitiço nenhum, tinha? – Fred riu, apoiado com uma mão de cada lado da cabeça de Hermione para que seu peso não a esmagasse.

- Funcionou, não funcionou? – Ela sussurrou em resposta, sorridente.

- Se o que você queria era eu em cima de você, diria que sim. – Retrucou o ruivo, com um leve tom de malícia em seu olhar risonho, o qual a garota sustentou com firmeza. Ficaram assim pelo que pareceram incontáveis minutos, iluminados pela luz da lua que vinha da janela.

- Daqui a pouco você vai cair em cima de mim. – Hermione quebrou a bolha que os envolvia quando notou os braços de Fred fraquejarem, mesmo com toda a força que costumavam ter. Os músculos estavam lá, mas não prontos para serem usados.

- Você gostaria disso? – Sorriu Fred, com uma piscadela, enquanto levantava com certa dificuldade.

- Você tem respostas para tudo, não tem?

- Só para você.