PDV - Freddie

Finalmente a noite em que eu irei encontrar a Molly chegou. E terá de ser um grandioso "encontro"!

Até o momento tudo ocorria normalmente. Reservei duas horas, antes de sair de casa, para me preparando psicologicamente e formalmente para essa noite.

Eu pensei que não fosse conseguir me aprontar a tempo, então fiz essa maluquice.

– Cadê a minha escova de cabelo! - guinchei para o espelho.

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Tomei um susto quando vi o Gibby (reflexo) sair de baixo da cama.

– Procurando por isso? - perguntou Gibby me entregando a escova.

– Valeu, Gibbeh! - Aceitei o objeto e quase dei um abraço no meu amigo. Minha felicidade poderia ter vida própria. - Ainda bem que você está aqui. Vou precisar da ajudar para driblar a minha mãe?

– Driblar... Okay!

O Gibby ficou sentado na minha cama, enquanto eu terminava de me arrumar.

– É estranho! - Começou ele. Eu realmente não estava interessado em saber, mesmo assim, perguntei 'qual era o motivo dessa vez'. - Achei um recado escrito pela Sam de baixo da sua cama... Você nem leu, né?

– Não faz sentido ler isso agora, Gibby. Esse papel deve ter mais de dois anos e nós não estamos namorando.

Ele soltou um ar de felicidade.

– Posso ficar com ela?

– Com a Sam? - perguntei, mesmo não escondendo um sorriso.

– Não! Com a carta...

Qual o problema desse cara?

Estaria ele colecionando os meus recados amorosos? Acho que não... Também não sei o motivo dele querer a carta que a Sam "supostamente" escreveu - ou roubou de um outro casal e mudou a letra.

– Tudo bem, Gibs - Voltei aos preparativos. E logo notei algo de errado ao tentar pegar as minhas novas roupas. - Cadê!?

Estava bom de mais pra ser verdade. Alguém roubou as minhas roupas casuais para encontro. Já sei até quem pode ser...

Naquela noite a minha mãe preparava o jantar em frente a TV. Ela aparentava estar bem entretida em assistir um programa de culinária. Estabeleci um plano para saber se ela realmente catou as minhas roupas novas.

Primeiro tentei deixá-la ocupada.

– Você vai sair com o seu amigo doente de novo? - Ela diminuiu o volume do aparelho eletrônico. E supostamente estava se referindo ao Gibson.

Olhei para ela, um frustrado, enquanto ele checava a casa.

– O Gibby não é doente. Ele é só... meio retardado?

Ele percebeu a ofensa e deu uma pausa na procura.

– Não minta pra mim! Você vai sair mesmo com aquela garota nova, não é!?

– Mãe! - Ela insistiu na discussão. Mas eu estava sem tempo para isso. - Esconder as minhas roupas não vai me impedir de ir ao encontro!

– Eu não autorizei a sua saída! Não vai ter o encontro!- gritou ela. - Freddie, você nem se quer conhece ela. Pode ser só um gordo careca tentando lhe enganar...

– Ei! - protestou Gibby.

– Sem ofensas! - Ela revirou os olhos, sem desviá-los de mim. Fiz um sinal para que o Gibby nos deixasse à sós. - A decisão continua a mesma... É: não!

– Que droga!

Observei o relógio. O meu tempo estava sendo sugado e até o momento, eu não achei as minhas vestes.

Porém, havia um único local pelo qual não procurei ainda...

A minha mãe pode não saber, mas nos últimos anos descobri um esconderijo secreto dentro do nosso apartamento para os meus objetos pessoas - possivelmente perigosos e ameaçadores -, logo corri para a área descrita e acabei achando uma sacola com as roupas.

– Vamos ver quem vai decidir essa! - sacudi a sacola na frente dela.

Depois me tranquei no meu quarto e levei poucos minutos para ficar pronto. Mas aí veio um sentimento de culpa...

Tudo começou quando dei os últimos ajustes, e fiz uma das minhas expressões pensativa sobre o ocorrido na sala. Talvez eu tenha sido um pouco rebelde de mais com a minha mãe. Odeio ter que passar por essas situações, mas ela não me deixa fazer nada!

– Estou pronto... - Agora entendo o Bob Esponja.

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Tudo arrumado, fui em direção à saída.

– Freddward Benson! - gritou ela, furiosa. - É a sua última chance... Não vou permitir que vá a esse encontro!

Ela se jogou na frente da porta.

– Você pode ser sequestrado, assassinado, traficado para um outro país...

– Mãe! - gritei, dando um basta em sua lista maluca de acontecimentos. Ela sempre conseguia derrubar a minha autoestima em poucos segundos e de me fazer sentir uma criança novamente. - Vai dar tudo certo, okay!? Eu marquei num local seguro... no Vitamina do Hora. O T-Bo estará lá me vigiando.

Ela soluçou após me dar um longo abraço, quase desmanchou o meu penteado, que demorei para concluir.

Pensei que ela fosse protestar um pouco mais. Mas não fez, ela correu para pegar uma bolsa que estava em cima da mesa.

– De qualquer forma leva essa arma... - Ela me entregou uma pistola de fogo carregada. Não fiz ideia de onde ela retirou aquilo. - E... esse meu celular! - Ela também retirou do bolso um telefone antigo (algo de 1990 ou menos). Sem necessidade! Eu tenho o meu próprio Pear Phone. - Toma cuidado, filho!

– Pode deixar!

(***)

Fiquei numa mesa reservada. A movimentação no Vitamina da Hora era bem baixa às noites de Sexta. Percebi o cansaço e as expressões de tédio das pessoas aos meu redor.

Aproveitei para verificar a caixa de mensagens, porém não havia nada de novo.

– Será que ela realmente vem? - pergunto a mim mesmo.

Quase todo mundo estava indo embora com os segundos do meu relógio de pulso.

– Ei, Freddie! - chamou T-Bo com uma comida estranha no espeto. - Vai uma Asinha?

Por ironia, um dos braços do "Costela" estava engessado, enquanto o outro normal se esforçava ao máximo para servir os clientes. Tudo isso graças a barraqueira da Puckett e as suas cadeiras agressivas e voadoras.

– Não, valeu, T-Bo... - Olhei várias vezes para o Pear Phone esperando uma mensagem qualquer. - Ei, por que não está descansando em casa? Você tem dois dias de licença, esqueceu?

– E ter que ficar com Sra. Benson!? Não, estou bem aqui.

Ele se afastou. Fiquei ainda mais frustrado pela demora da Molly. Talvez ela não venha mais.

Preparei-me para levantar da cadeira, quando uma garota morena, nem tão alta, de olhos castanhos, com uma camiseta amarela e calça jeans entrou no estabelecimento.

Ela foi diretamente para o caixa, pra falar com o Costela. E pela aparência não parecia ser de Seattle. Certo, essa última conclusão foi estranha.

– Logo ali!- apontou o T-Bo para a minha mesa.

Só poderia ser ela. Apesar da foto do perfil não ter me ajudado muito na identificação. De qualquer forma ela estava vindo na minha direção, sorridente.

– Francisco? - perguntou ela, meio duvidosa e sorridente.

Francisco?

O meu sorriso foi por água abaixo.

– Não...

– É brincadeira! - Ela deu uma gargalhada. - Você é o Fredward Benson, certo?

– Molly?

Ela concordou com a cabeça. A surpresa foi tanta que esqueci, por alguns minutos, o verdadeiro motivo de estar lá.

– Bem... - Ela ficou de pé, estranhando a minha reação. - Depois de um ano de conversas online não mereço um cumprimento? Abraço?

– Claro! - Levantei, sorridente para abraçá-la.

Sentamos. E por fim, colocamos o nosso papo em dia, enquanto o espaço a nossa volta se esvaziava de vez.

Nossas conversas poderiam ser eternas.

Estava tudo tranquilo, até uma "bomba" loira entrar na loja e poder estragar tudo. Essa bomba se chamava "Sam", e não pude evitar os olhares.

–... Você ouviu? - perguntou Molly pra mim.

– Como? - Não consegui prestar atenção nos diálogos.

Droga, a Sam estava vindo para a nossa mesa.

– Quer alguma coisa? - perguntou Molly, preocupada, para a Sam.

Ela apenas me observava, confusa.

– Sam... - Comecei, nervoso. Não havia mais nenhuma maneira de fugir daquela situação. Contei a verdade. - Essa é a Molly...

– Prazer - disseram as duas, em meio de um aperto de mãos. Sam puxou uma cadeira para fazer um questão: - Desde quando vocês se conhecessem?

Não tive coragem de falar nenhuma palavra.

– Pouco tempo - respondeu ela. - E vocês?

– Muito... Muito tempo. - Ela olhou mais uma vez para mim, esperando uma explicação. Depois de um tempo virou para o meu par da noite. - Foi legal conhecer você, Molly.

– Foi legal conhecê-la também!

A Sam se levantou.

– O que veio fazer aqui? - perguntei.

– Ué... Vim pegar as minhas Vitaminas!

Ela deu as costas e saiu da lanchonete, sem pegar o que tanto queria. Muito estranho...

Tentei retomar as nossas conversas, mas a Molly estava muito preocupada em saber da Sam:

– O que deu nela?

– Sei lá...

– Hmmm... Não seria melhor você ir atrás dela? Tipo, ela ficou bem chateada quando nos viu juntos. Já é bem tarde... Tenho medo que ela fique chorando pelos cantos ou..

Chorar? Ela realmente não conhecia a Sam.

– Não... - Interrompi. - Ela vai ficar bem.

Depois desse episódio dramático, continuamos o nosso papo, dessa vez contei um pouco mais da minha história e ela contou a dela. E assim pude conhecê-la melhor.

No final do encontro, o T-Bo e os outros funcionários tiveram de fechar a loja.

Foi muito legal em quanto durou. Mesmo eu querendo falar um pouco mais com a Molly.

– É... Eu acho melhor ir agora - falou ela, enquanto trocávamos o nosso segundo abraço.

– Espera! - Olhei bem nos olhos da Molly e desviei o olhar para saber se mais alguém estava presenciando o momento.

– O que foi? - perguntou ela, sorridente.

Eu precisava dizer que estava realmente "apaixonado por ela" e teria que ser naquela noite - ainda não sei quando iremos nos encontrar novamente.

– Molly - Sorri, mesmo nervoso. - Eu... Eu... estou... - A palavra "apaixonado" não saia! - Estou gostando de você!

Ela sorriu e deu um tapinha no meu ombro.

– Ah, eu também estou gostando de você!

– Está!? - Ela confirmou.

Mesmo assim eu tinha as minhas dúvidas. Já que há poucos dias, ela me mandou uma mensagem dizendo: "Você está sendo um grande amigo para mim!". Odeio ser iludido

– Mas, tipo, gostando como um amigo? - perguntei, curioso com a resposta.

– Mais...

– Como grandes amigos?

– Bem mais...

Meu grau de ilusão estava aumentando.

– Melhores amigos?

– Qual é, Benson?!

– Tá... - Meu último teste para saber se a Molly realmente sentia o mesmo que eu: - Super ultra melhores e grandiosos amigos da galáxia? Eu deu uma gargalhada.

– Dez vezes mais que isso! - disse ela, séria. Pra mim isso foi um grande alívio. - Mas... Vamos devagar com isso, certo!?

– Certo!

Já é um começo...