Keep Holding On

La Bamba


Para subir aos céus precisa-se

De uma longa escada

(La Bamba – Los Lobos)

Era estranho. Eu sentia o tempo todo que algo estava faltando, era como se tivesse um aviso constante no meu cérebro, tentando me fazer lembrar.

E embora eu negasse, eu sabia o que era. Caçar.

Fazia poucos meses que eu tinha abandonado a caçada por coisas sobrenaturais. Eu tinha decido fazer isso porque sabia que não era uma vida saudável e agora tinha algo que fazia minha vida valer a pena. E fazia tempo desde que eu tinha pensando em parar pela primeira vez.

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E eu estava bem assim. Estava aprendendo a fazer coisas comuns e fingir que não sabia sobre nada do que realmente acontecia no mundo. Fingir que era comum.

Mas era inquietante a sensação de saber que está acontecendo algo grande e se treinar para não fazer nada. Nem olhar o jornal mais eu podia, porque sabia que podia encontraria um caso e não queria arriscar.

Essa sensação estava me deixando doida, ainda mais agora que tinha brigado com John e não tinha nada para me distrair.

Eu queria algo que me fizesse sentir viva de novo. Queria algo que me fizesse eu me sentir eu de novo. Eu não sabia mais quem eu era. Uma caçadora ou uma jovem comum?

Não. Eu era tudo menos comum e no fundo sabia disso. Era horrível ter que ficar negando isso. Eu sabia que para John me amar eu não podia ser a caçadora que eu sempre fui, eu sabia que teria que ser melhor que isso. E eu não podia perder John. Era melhor abandonar o que eu fazia. Mas então eu não sabia mais quem eu era. Porque eu não era nada fora uma caçadora.

Eu não podia negar mais. Eu precisava caçar. Precisava sentir todas as emoções que estava acostumada, precisava de algo que eu conhecia.

Eu podia parar um dia, mas não agora. Não ainda. Não fingiria ser outra pessoa para mim mesma. Eu seria outra pessoa. E sabia que isso não aconteceria agora.

Decidi-me. Eu caçaria agora e depois pensaria sobre isso. Deixaria os arrependimentos para amanhã. Lidaria com a culpa amanhã como a pessoa fraca que eu era.

– Tim? – liguei para ele antes que eu me arrependesse do que estava fazendo. Eu precisava disso, precisava fazer algo errado uma vez.

– Mary! – falou surpreso. Não posso culpá-lo.

Eu quase não estou falando com ele agora. Senti culpa por causa disso, ele nunca tinha feito nada de errado além de ser um caçador. Na verdade, ele sempre esteve lá para mim quando precisei. Ele é o meu melhor amigo e essa não é uma tarefa fácil.

– Eu preciso caçar – falei ansiosamente.

Porque eu iria abandonar a caçada. Juro. Mas não seria do jeito que eu pensava. Eu não conseguiria me afastar completamente do nada.

– Tem certeza? – ele perguntou, preocupado.

– Tenho.

Um passo de cada vez e eu poderia esquecer tudo isso.

– Então, vamos.

Ele ainda estava preocupado, eu sabia, mas ele me conhecia bem o suficiente para saber que não adiantaria nada discutir comigo. Eu não mudaria de ideia.

Combinei de me encontrar com ele na casa dele e então partiríamos para o caso mais recente que ele tinha encontrado.

Arrumei minhas coisas, mal olhando o que fazia, já estava tão acostumada que nem precisava pensar sobre isso.

Já estava com a bolsa no meu ombro e com a chave de casa na mão quando John me ligou.

Senti a raiva e alegria na mesma intensidade. Eu queria resolver as coisas com ele, queria mais que tudo, mas não cederia.

– John? – perguntei surpresa.

– Olá, querida. Eu sinto muito – falou e eu imediatamente relaxei, sorrindo um pouco – Eu fui um idiota.

– Foi mesmo – não neguei e fiquei em silêncio. Não pediria desculpas.

– O que está fazendo? – ele perguntou hesitante.

– Nada.

Senti culpa por estar mentindo. Estava longe de ser a pessoa honesta que ele merecia. Ele merecia muito mais do que eu. Ele merecia alguém que merecesse ir para o céu e eu estava tão longe disso. Tinha tantos vícios e tantas manias. E sabia que deveria ser um pouco louca, porque, afinal, todos os caçadores eram um pouco.

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Um dia, com sorte, eu seria uma pessoa melhor. Porque eu estava perdida e sabia que precisaria fazer algo para recompensar por tudo de errado que eu fiz. Eu sabia que era um longo caminho até o céu, mas estava planejando começar a andar.

– Você ainda está irritada – apontou chateado.

Claro que não. Minha raiva tinha desaparecido assim que ele tinha dito que sentia muito. Mas agora eu precisava caçar, tinha pedido a Tim e eu tinha ido longe demais, não poderia me segurar mais. E a única maneira de John não desconfiar nada era se ele acreditasse que eu ainda estava irritada.

– Estou. Vou esfriar minha cabeça – menti.

John ficou em silêncio do outro lado e eu sabia que ele estava irritado, mas que não iria me pressionar com medo que piorasse as coisas.

Ficou em silêncio. Ele parecia estar decidindo o que podia dizer que não fosse me irritar.

– Volte para mim – pediu, por fim.

– Sempre voltarei – prometi, sem hesitar.

Se estivesse no meu alcançasse, eu sempre voltaria. Ele era a única coisa que eu tinha e ele era a pessoa mais especial da minha vida inteira, eu faria qualquer coisa por ele (e para uma caçadora, essas palavras tinham um preço enorme).

Se não estivesse... era porque eu morrera (e não era uma hipótese tão distante assim). E não teria mais nada que eu pudesse fazer.

John suspirou aliviado. Ele agora sabia que eu não iria deixá-lo, mesmo, teoricamente, estando com raiva dele. Como se isso fosse possível.

– Estarei esperando – prometeu.

Essas palavras causaram alegria e preocupação em mim. Estava feliz porque ele estaria lá quando voltasse (e eu sabia que precisaria de alguém para acalmar meu coração quando eu acabasse meu trabalho) e que ele sentiria minha falta.

Contudo, também preocupada, porque assim não podia demorar muito. Não poderia manter uma falsa raiva por muitos dias.

Amaldiçoando-me, eu desliguei. Eu tinha que parar de caçar e eu iria fazê-lo. Só mais alguns casos e eu seria uma pessoa normal. Eu iria melhorar.