Vi aquele pedaço de ser humano patético desmaiado no chão e não acreditei em como ele foi tolo de cair nessa, peguei a gola da roupa dele e o arrastei para fora das folhas altas o deixando ali perto da entrada e visível para todos.

Voltei para dentro do palácio e me encontrei com Laura que vinha correndo para a porta de saída.

— Da próxima vez é melhor ficar de olho nele - eu disse para Laura com olhar ameaçador. - Não quero saber de nenhum moleque me perseguindo.

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— O que fez com ele? - Laura gritou comigo como se eu o tivesse matado.

— Nada, ele só está desacordado - eu disse ainda com o olhar ameaçador e ela correu passando direto por mim e fazendo questão de trombar em meu ombro, como se fosse uma grande ameaça. Revirei os olhos e ri, que infantilidade. Virei em direção à porta e a vi correndo desesperadamente para salvar Mario, seu "grande homem". - Coloque juízo na cabeça dele, se ele vier me seguir de novo, não me responsabilizo pela morte dele - eu não resisti, eu precisava ameaçar mais e ver a cara de apavoramento dela.

Terminei de falar e voltei a caminhar para dentro do palácio. Após dois passos dei de cara com um homem de cabelos castanhos e bem alto, ele lembrava muito a minha mãe, no olhar, a boca, o nariz, era tão bonito quanto ela e devo dizer que o cabelo dele era maior que o dela, o que me fez imaginar minha mãe de cabelos longos. Ele estava vestido com uma roupa pesada em tons de azul e verde esmeralda parecidas com o do vovô Tulio. Era uma túnica grandiosa, que mostrava que ele tinha poder ali. Ele provavelmente devia ser o meu tio.

— É isso mesmo que acabei de presenciar? Está ameaçando a minha filha? - ele me disse com tom de ameaça, mas falava baixo e com muita altivez, se aproximando de mim e me olhando nos olhos com bastante severidade.

— Sim - estiquei o pescoço. Eu não me abaixaria pra ele. - Ela começou a inventar histórias de que eu ia roubar o Mário dela e começou a me ameaçar, como se eu realmente tivesse medo dela. Mas a verdade é que eu não ligo pro Mario, ele é um garotinho rico que não sabe nada sobre pirataria e eu quero o mar e nada mais do que isso. Então antes de me ameaçar ou tirar conclusões erradas, ela que cuide de manter o homem dela bem longe de mim, assim como você que é o responsável de colocar juízo na cabeça dela. Não quero ter que ficar me responsabilizando por um rapaz mimado e ficar ouvindo desaforos de uma garotinha mimada.

— Você é bem agressiva, igual o pirata escrachado e sem modos do seu pai.

— Só porque ele é um pirata não quer dizer que ele seja um ogro. Muitas vezes somos até melhores do que vocês riquinhos. Aliás, aposto que nem chegou a conhecer ele...

— O garoto Simbad? Claro que o conheci, ele não parava de observar Marina quando chegamos ao porto de Siracusa, achei até que ele ia nos roubar. E acabou roubando mesmo...

— Ele não roubou nada. Ele só se uniu ao que já pertencia ao mar - estávamos falando da minha mãe.

— Tem razão. Sua mãe sempre gostou de aventuras e de explorar o mar. Você tem o sangue desses dois imundos em suas veias, isso explica sua agressividade.

Ele estava realmente testando a minha paciência.

— O que você quer afinal de contas? Fica humilhando a meus pais e a mim, com que propósito? Somos da mesma família - infelizmente, pensei.

— Infelizmente - ele disse em voz alta. - Sua mãe decidiu estragar a linhagem de nossa família. Ela fez bem em não voltar aqui, nem mesmo para apresentar você ao reino ou ao meu pai. Não faria falta alguma de qualquer forma. A vida continua sem vocês.

— Você é patético. Fico feliz de não crescer ao seu lado e sim livre em alto mar - eu o encarava nervosa.

— Também fico feliz que tenha o mesmo desejo de sua mãe, de ir embora.

Passei direto por ele, sem encostar, eu estava muito nervosa, que homem babaca. E depois os "sem modos" somos nós. Ainda bem que não o encontraria nunca mais na minha vida. Ainda bem que não vivo nesse mundo estúpido de realezas e casamentos planejados, eu sou livre, um espírito livre, muito maior do que qualquer coroa ou título pode oferecer.

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Quando voltei para o meu quarto, completamente feliz por partir, descobri que não poderíamos partir naquela tarde, pois o Embaixador tinha que ser reabastecido. Mais uma noite, só mais uma noite e eu estaria livre para sempre daquele lugar...

Como eu queria ter descansado aquela noite, mas como sempre, eu não estava conseguindo dormir. Quando acordei percebi que tinha trazido outra rachadura ao local, droga, controle-se Kaos. Não sei o que estava acontecendo comigo. Agora até em sonhos eu estava emanando o meu poder do caos e isso me preocupava um pouco. Eu não conseguia nem refletir direito, já que estava sem conseguir dormir.

Decidi dar uma caminhada pelo palácio, já estava enjoada de ficar naquele quarto. Passei por vários corredores e vi um faixo de luz saindo de uma porta, fui me aproximando, pois provavelmente havia alguém ali naquela sala. Andei até o local e vi meu avô naquela sala cheia de sofás e almofadas confortáveis de várias cores. Haviam vermelhas em tom vinho, verdes, azuis, laranjas, todas que lembravam cores de pedras preciosas e eram bem grandes, cabiam umas duas ou três pessoas e meu avô estava sentado em uma azul e ele usava uma roupa verde esmeralda mais leve, devia ser uma camisola real.

— Parece que alguém está com problemas para dormir - ele disse olhando pra mim com um sorrisinho forçado.

— Parece que não sou a única - eu disse tentando trazer uma distração, pois ele também estava acordado. Entrei e me aproximei dele, sentando em uma almofada laranja de frente pra ele. - O que faz acordado?

— Estou pensando sobre a sua partida. Por um lado eu fico muito triste de ver minha netinha ir embora e saber que ela pode nunca mais voltar, que não a verei nunca mais ou porque ela não quis voltar, ou porque está morta, como a minha filha e não terá nenhuma chance de voltar. Mas por outro lado eu fico feliz de te ver sorrir novamente, de ver seus olhos brilharem, de ver essa calma interior. O mar é o seu lar, não aqui, fixa em um palácio gigantesco e eu não posso e não quero mudar isso. Sua mãe queria o mar, ela amava o mar mais do que tudo e seu pai foi apenas a carta final para que ela se entregasse completamente. Eu lembro do seu pai, um garoto que ficou abobado quando conheceu minha pequena Marina, mas que nem teve coragem de se aproximar dela ou conhecê-la, ele sabia que não passava de um garoto órfão nas ruas amigo de um garoto rico e aí ele partiu para o mar, pois sabia que ela ia se casar com Proteu, o seu melhor amigo. Seu pai era um homem de respeito, Kaos, ele sabia a hora certa de ficar e de partir. Mas como lutar com o destino, não é mesmo? Nem mesmo Proteu quis lutar contra isso.

Mudei para a almofada que ele estava para sentar ao lado dele, era legal ouvir ele falar dos meus pais de modo tão carinhoso.

— E você, minha pequena Kaos, o que te deixa acordada? Está ansiosa para partir? Ir para as suas emocionantes aventuras?

— Não. Digo, estou ansiosa para partir, claro. Mas não é esse o motivo de estar acordada. É por causa da caverna, vi e ouvi coisas terríveis lá dentro.

— Gostaria de me contar?

— Acho melhor não.

— Pode me contar, quem sabe isso faz com que você fique mais tranquila?

Olhei pra ele, o olhar dele era tão reconfortante. Era claramente visível o quanto ele se importava comigo e então meu coração se acalmou e eu senti que podia contar a ele.

— Eu vi a mamãe - a partir daí eu não consegui olhar para os olhos dele, se olhasse eu perderia a coragem de continuar contando -, ela estava... amarrada pelos braços e pernas em um sistema de tortura - comecei a entrar em desespero lembrando da cena. Tentei controlar minha respiração mas não conseguia, era como se visse tudo ali outra vez. - Ela sangrava muito e começou a gritar pra mim, implorando pra salvá-la, ela gritava, chamava meu nome - comecei a cravar minhas unhas em meu braço lembrando dos gritos dela. - E então... Então eu... - comecei a chorar - eu simplesmente disse que ela não era a minha mãe. E ela insistiu que era e que estava sofrendo e que precisava muito de ajuda. Era só uma ilusão, mas ainda doía muito ver e ouvi-la e ainda ter que rejeitá-la! Eu perdi a mamãe quando tinha apenas quatro anos. Eu só tinha quatro anos quando o papai me deu a notícia de que ela não voltaria da aventura - eu comecei a chorar muito e abracei meus joelhos. - Eu queria tanto a mamãe pra mim, que ela cuidasse de mim, que me ensinasse tantas coisas. Fui criada por uma mulher numa cidade chamada Port Royal e ficava sempre imaginando a mamãe cuidando de mim, como seria se fosse a mamãe? Eu só quero tirar essa imagem da minha cabeça, eu não aguento vê-la sofrendo dessa forma na minha mente repetidas vezes! Quero a imagem dela feliz, sorrindo pra mim, do último beijo que ela me deu na testa antes de partir para a última aventura e dizendo que me ama. Não quero a imagem dela me implorando para salvá-la. Não quero lembrar do brilho e de quão quente era o sangue dela, da cabeça dela explodindo em meio às garras do dragão - comecei a ouvir os gritos e tentei tampar meus ouvidos. - Eu não aguento mais vê-la assim! Eu não quero! Queria minha mãe, a minha mãe sorridente, carinhosa, a minha mãe que eu tive até meus quatro anos de idade.

Então senti alguém me envolver nos braços, era meu avô. Ele me acolheu, deitei minha cabeça em seu peito e comecei a chorar mais. Ele me envolveu como se eu fosse uma criança e eu chorei como uma, não consegui nem ver como ele estava, se estava chorando ou não. Aquele abraço era especial, ele me pegou pelos braços como se eu fosse um bebê e eu gostei muito disso. Há muitos anos eu não soube o que era mais esse carinho, pois eu não deixava Constance cuidar de mim dessa forma, por maior que fosse a saudade dos meus pais. Agarrei a blusa do meu avô com força, não sei explicar o motivo, mas aquele momento me fez querer chorar ainda mais. Talvez seja o fato de que ele deu a vida à minha mãe e de certa forma ele era um pai para mim também. Era assim que você me envolvia quando eu ficava triste, mamãe? Era assim que cuidava de mim? Queria que você me pegasse no colo. Mamãe, me desculpe mamãe...

Não lembro quanto tempo passou e nem quando exatamente eu caí no sono, mas sei que acordei ainda nos braços de meu avô e pela primeira vez eu tive uma noite de sono sem pesadelos. Acordei meio sem graça e me sentei ao lado dele.

— Desculpe, acabei te deixando desconfortável.

— De forma alguma, querida. Espero que tenha conseguido dormir - ele fez carinho em meus cabelos.

— Eu consegui sim - sorri pra ele, fui totalmente sincera naquele momento. Eu o abracei forte. - Obrigada, vovô.

— Não há de quê, minha querida neta - ele retribuiu meu abraço com força.

Ficamos abraçados por um longo tempo, principalmente porque não sabíamos se viveríamos esse momento de novo. Sentirei muitas saudades, assim como minha mãe deve ter sentido.

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Por fim, depois dessa longa e emocionante despedida, arrumei minhas coisas e estava mais do que pronta para zarpar. Mas antes eu senti que precisava ver o meu avô mais uma vez. Fui correndo até ele e nos encontramos no corredor antes de chegar no grande salão que dava para a saída.

— Vovô, eu quero que fique com isso - entreguei a ele o caderno de anotações náuticas da minha mãe.

— Esse é o livro de sua mãe, pode levar querida.

— Sabe vovô, eu realmente queria levá-lo comigo, mas acho que ele ficará mais seguro ao seu lado. Por favor, fique com ele.

Ele pegou, um pouco receoso, ainda me olhando com uma mistura de tristeza, carinho e alegria em seus olhos.

— Eu terminei ele - eu disse antes que eu chorasse de novo.

— O quê? - ele perguntou sem entender a minha frase.

— O livro. Mamãe começou as anotações sobre Asay e eu finalizei pra ela - eu sorri, orgulhosa de mim. - Ou seja, nesse livro você tem uma grande parte da mamãe e um pouco de mim. Continuei a aventura por ela e gostaria que você ficasse sempre com o livro, como uma recordação minha também. Até mesmo quando você se for, eu gostaria que o livro partisse com você - eu disse olhando-o nos olhos. Além da lembrança, eu também queria que as informações sobre o dragão sumissem. - Acredito que você seja o único aqui que nos ama genuinamente.

— Guardarei comigo para sempre - ele disse abraçando o livro e contendo suas lágrimas.

Nos abraçamos mais uma vez e eu tive que conter as minhas lágrimas também. Fiz algo estranho, algo que só fazia com meus pais, dei um beijo no rosto do meu avô e, sem olhar para ele novamente, saí correndo em direção ao porto para embarcar no Embaixador.

Dessa vez não houve nenhuma comitiva, de nenhuma pessoa.

À bordo do Embaixador, enquanto todos os marujos arrumavam para partir, eu fiquei observando a Tárcia, o lugar onde minha mãe nasceu, sentirei saudades, mas não voltarei tão cedo, pois minha verdadeira paixão é o mar. E sei o que estão pensando, que só falei da parte da minha mãe para meu avô e não tudo o que realmente aconteceu lá, mas na verdade eu não queria falar sobre Jack, Elizabeth ou o tal Killian, são assuntos extremamente delicados para mim, eu ainda não sei lidar muito bem com essas informações, pois sempre tive dificuldade em amar outra coisa a não ser meus pais e o mar.

— Marujos! Verificar se não há nenhum sujeito indesejado! - gritei para a tripulação finalmente dando ordens.

Jack se aproximou de mim rindo, ele sabia de quem eu estava falando.

— Preparada para se despedir? - Jack me perguntou pegando em minha cintura e ficando bem próximo de mim.

— Mais do que preparada - eu disse sorrindo e o beijei. Tínhamos uma longa aventura pela frente, pois além de achar o Pérola, Jack havia encontrado a fonte da juventude, imagine só, assim eu realmente me tornaria uma deusa. Eu estava completamente empolgada - Atenção marujos! Zarpar! - gritei.

— E qual é o nosso destino? - Jack perguntou me olhando nos olhos com um sorriso.

— Encontrar o Pérola Negra - sorrimos um para o outro e o beijei intensamente.

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A aventura de Kaos continua e em breve será colocado aqui o link da próxima aventura.

Kaos - A Ascensão do Caos

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.