Just a girl

Um novo amigo


Narrado por Alícia:

Fechei os meus olhos, e senti lágrimas rolarem pelo meu rosto. Sinto alguém me pegar no colo e me tirar da frente do carro, o qual passou em alta velocidade. Abrindo meus olhos, me vi ainda no colo desse garoto, o qual nunca tinha visto antes.
- Você esta bem? - Ele me perguntou ainda me segurando nos braços.
- Pode me soltar agora. - Falei.
Ele deu um sorriso tímido e me colocou no chão.
- Ai! - Reclamei de dor, quando meu pé encostou no chão, e ele me fez se apoiar nele.
- Acho que você torceu o tornozelo quando caiu. - Ele disse me pegando novamente no braço.
- Eu não preciso de ajuda!
- Não é o que me parece... Deixa que eu te levo pra casa.
- Quem é você? - Perguntei.
- Me chamo Lysandre. - Ele sorriu - E você?
- Alícia.
- Pode me falar onde é sua casa, Alícia?
- Eu não quero ir pra lá.
- Por que não?
- Não interessa.
- Eu salvei sua vida, não precisa ser fria comigo.
- Foda-se.
- Você é bem difícil - Ele disse rindo começando a andar.
- Onde esta me levando? - Perguntei.
- Calma, eu só tenho 16 anos, não sou nenhum sequestrador não, ok?
- Ok.
- Já que não quer ir pra casa, vou te levar até a praia e... Por que não tira a blusa de frio, esta muito quente hoje.
- Não.
- Você se corta?
- Por que esta perguntando isso?
- Bem... - Ele abaixou um pouco a cabeça. - Chegamos.
Ele me colocou sentada na areia e ele se sentou ao meu lado.
- Você ainda não me respondeu.
- Desculpa. Eu tive uma irmã que se cortava. - Ele abaixou a cabeça - E ela sempre era fria com todos, usava blusa de mangas para esconder os cortes mesmo em dias quentes como hoje. Você me lembra um pouco ela. - Ele me fitou.
- Quantos anos ela tem?
- Ela faria 17 anos hoje, mas não. Ela morreu ontem. - Ele disse abaixando a cabeça e pude perceber que seus olhos ficaram vermelhos.
- Desculpa ter fazer lembrar disso. - Falei abaixando a cabeça também.
- Você não tem culpa.
Ficamos em silêncio por alguns minutos, mas Lysandre resolve quebra-lo.
- Você se corta, né?
- Bem... sim. - Respondi.
Ele pegou meu braço e levantou a manga, vendo os as cicatrizes e alguns cortes ainda não cicatrizados.
- O sol já esta se pondo. - Ele disse abaixando minha manga e olhando pro céu. - Melhor eu te lavar pra casa.
Lysandre se abaixou e me pegou no colo. O indiquei o caminho de onde eu morava, e quando chegamos ele me colocou no chão, me fazendo apoiar nele. Peguei minha chave e abri a porta, e para minha sorte parecia não haver ninguém em casa.
- Acho que não tem ninguém. - Falei.
- Eu te levo até seu quarto. - Ele disse me levantando.
- Não precis...
- Precisa, sim. Não quero que suba com o pé doendo. - Ele disse e eu corei.
- O-Ok.
Ele fechou a porta da frente e me levou até meu quarto, me colocando em cima da minha cama. Tirou meu tênis, logo em seguida.
- É aqui que dói? - Ele disse apertando de leve.
- Ai!
- Desculpe.
- Tudo bem.
- Ter certeza que não quebrou?
- Sim, só torci um pouco, amanhã vai estar melhor falei.
- Ok.
- Posso te fazer uma pergunta?
- Claro.
- Bem... Por que você me salvou? - Perguntei e ele fitou meu rosto.
- Como eu te disse, minha irmã morreu ontem. Ela se cortava e sempre estava deprimida com tudo e com todos. Ontem ela se suicidou cortando os pulsos. - Percebi que seus olhos se encheram de lágrimas, o que me fez sentir mal por ter perguntando. - Hoje, vendo que você ia ser atropelada, alguma coisa me disse que eu deveria te ajudar.
- ...
- Alícia, você se parece muito com ela. - Ele disse.
Ele pegou uma faixa na minha gaveta e enrolou no meu tornozelo e no meu pé.
- Obrigada - Falei e ele sorriu.
- Bem, eu vou indo.
- Espera! Vamos nos encontrar novamente? - Perguntei.
- Claro! - Ele sorriu - Aqui o meu número, pode ligar quando quiser. - Ele disse e me deu um papel.
- Ok. - Falei e automaticamente sorri. O que ouve comigo? Eu não era assim antes.
Lysandre foi embora. Me levantei com um pouco de dificuldade, e fui até o banheiro segurando nas paredes, para que meu pé não tocasse no chão. Tomei banho e voltei pro quarto. Fitei as feridas no meu braço, e me lembrei do que Lysandre tinha dito sobre sua irmã. Eu pretentendia me suicidar igual ela, mas vendo a dor que isso causou nele... Será que alguém sentiria minha falta, assim como ele sente da irmã? Bem, eu não sei. Acho que os únicos que realmente se importaram comigo foram meus pais, mas infelizmente eles não estão mais aqui.
- Se divertiu hoje? - Sem que eu esperasse, Anny apareceu na porta do meu quarto e deu um sorriso irônico.
Eu apenas não disse nada e fiquei a encarando.
- O Gabriel é realmente um fofo, né? Quem diria, que além de lindo e fofo beijava tão bem, né Alícia? - Ela deu um sorriso irônico e eu senti a raiva percorrer por todo o meu corpo. Eu não posso demonstrar reação.
- Ok, pode sair do meu quarto agora, já sei o quanto se divertiu hoje. - Falei.
- Deus, ela sabe falar, que lindo. - Ela disse com voz de criança enquanto ria - Eu sei que você esta com raiva meu amor. Não adianta esconder.
- Vai embora!
- Eu já estava indo mesmo, mas quero que saiba de uma coisa: o Gabriel é meu! - Ela sorriu e foi embora.
Antes que eu posso pensar em algo, alguém aparece na porta do meu quarto.
- Alícia, se arruma. - Era minha tia.
- Ok, mas onde vamos?
- Vou me casar com Ryan nesse fim de semana, e hoje é a prova do vestido. Você é Anny vão comigo, se quiserem podem ir dar uma volta no shopping e encolherem o vestido de vocês pra cerimonia e pra festa.
- Tia, vou ter mesmo que ficar junto da Anny?
- Não, se quiser pode levar uma amiga pra te ajudar.
- Ok.
- Vai rápido, saímos em 10 minutos. - Ela disse e saiu.
Coloquei a mão no bolso e tirei o papel com o número de Lysandre. Pensei em ligar pra ele, mas não sei se ele vai querer me fazer companhia.
Ligação on:
- Alô?
- Er... Oi Lysandre.
- Oi Alícia, tudo bem?
- Sim e... eu liguei porque... a esquece.
- Agora que começou me fala.
- Ok, minha tia vai se casar no fim de semana e ela ta me arrastando pra ir no shopping escolher um vestido pra mim usar na cerimonia, eu odeio vestido, mas isso não importa agora... Então, eu...
- Eu vou com você.
- Como sabia que eu ia perguntar isso? - Perguntei meio surpresa.
- Haha, deu pra perceber que você queria isso. Que horas?
- Daqui a uns 10 minutos.
- Ok, até daqui a pouco.
- Obrigada.
- Pelo o que?
- Sei lá, apenas senti que devia te agradecer.
- Você é minha amiga, Alícia. Não precisa agradecer.
- Amiga? Nos conhecemos hoje!
- Eu sei, mas isso não importa, certo? - Percebi que ele riu.
- Ok.
Ligação OFF.
Me levantei e fui até o meu guarda roupas. Coloquei uma calça jeans, uma blusa de mangas compridas branca e calcei meu all-star. Desci e minha tia e Anny já esperavam lá em baixo.
- Tia, eu chamei um amigo pra vir comigo, tudo bem?
- Sim, qual o nome dele?
- Lysandre.
- Ah, ok.
Saímos e Lysandre havia acabado de chegar. Ele sorriu pra mim, e cumprimentou Anny e minha tia. Fomos todos para o shopping e minha tia foi provar o vestido. Anny foi dar um volta no shopping, e eu e Lysandre ficamos sozinhos.
- Desculpa te fazer vir até aqui.
- Não tem problema. Eu não tinha nada pra fazer mesmo. - Ele sorriu de lado.
- Bem, agora tenho que provar o vestido.
- Você disse no telefone que não gosta de vestido.
- E não gosto mesmo, odeio usar vestido, mas é uma ocasião "especial". - Falei revirando os olhos e ele riu.
- Vai como você se sente bem. Se não gosta de usar vestido, então coloca uma calça jeans, uma blusa e uma sapatilha.
- Bem que eu queria, mas se eu for com outra roupa ela me mata.
- Vem, vamos achar um vestido legal pra você ir. - Ele disse me puxando pela mão.
- Seu pé ainda dói? - Ele perguntou.
- Não muito, depois que tomei banho a dor passou um pouco. - Ele sorriu.
Entramos em um loja apenas de vestidos. Todos eram lindos, confesso.
- Não importa o qual eu escolha, a Anny vai me humilhar com o vestido dela. - Falei olhando pro chão.
Lysandre, me fez ficar de frente pra ele e acariciou meu rosto.
- Alícia, você é linda. Nunca diga isso. Você pode odiar vestidos, mas você ficará linda com qualquer um que provar. - Ele disse e eu sorri.
Aquelas palavras, mexerem comigo.Ninguém nunca havia me dito aquilo antes, e essas palavras me deram esperança de continuar.
- Obrigada.
- Sempre que precisar, estaria aqui. - Ele disse rindo.
- São todos lindos, mas eu acho que não vou me sentir bem dentro de um deles. Parecem justos demais. - Falei olhando em volta.
- Ok, vem, vou te mostrar uma loja em que minha irmã sempre ia. - Ele disse me puxando pela mão.
O segui em entramos em uma loja muito linda, haviam vários tipos de roupas. Saias, vestidos, blusas...
- Gostei daqui, e olha que é difícil eu gostar de algo. - Eu disse e ele riu.
- Ali ficam os vestidos. - Ele disse apontando.
- Todos são lindos! - Falei os olhando e ele sorriu.
- Você é igualzinha a ela, Alícia. Ela adorava vir aqui. - Ele disse e eu sorri.
Peguei um dos vestidos e fui até o provador. Eu estou com medo de ele não ficar tão bem em mim. Sabe, eu não tenho o corpo "perfeito", não sou muito gorda e nem sou tão magra. Posso ter Bulimia, mas não sou esquelética, sou magra na medida, digamos "ideal". Coloquei o vestido e me olhei no espelho.
- Nem perece eu. - Falei me olhando no espelho enquanto sorria.
Saí do provador e olhei para Lysandre meio envergonhada, afinal, era a primeira vez que eu usava um vestido.
Ele me olhou e sorriu.
- Esta linda.
- Obrigada, mas... e isso? - Falei mostrando meus pulsos pra ele, onde estavam os cortes.
Ele colocou a mão por cima dos meus cortes.
- Coloca algumas pulseiras pra esconder. - Ele disse - Mas, Alícia, me promete uma coisa?
- O que?
- Eu sei que te conheci a algumas horas atrás, mas, para de se cortar?
- Me cortar, é a única forma de aliviar a minha dor, eu não posso prometer isso.
Ele ficou em silêncio me fitando por alguns minutos.
- Minha irmã morreu por causa a automultilação e eu não quero que você tenha o mesmo destino.
- Mas, eu vou ter. - Falei.
- Como assim?
- Esquece. - Falei. Eu ia voltar ao provador, mas Lysandre me puxou pelo braço, e me fez ficar muito próxima dele.
- Agora que começou, termina.
- Ok. Eu pretendo me suicidar no dia do meu aniversário de 18 anos, ta bom pra você?
- Já pensou a falta que você vai fazer para as pessoas.
- Lysandre... ninguém nunca se importou comigo mesmo. - Falei e ele ficou calado, apenas fitando meu rosto - Eu vou me trocar.
Voltei ao provador, e limpei uma lágrima que insistiu em cair. Me troquei e saí do provador com o vestido na mão.
Paguei o vestido e saímos da loja.
- Tem alguma loja de sapatos que a sua irmã ia? - Perguntei a Lysandre.
- Tem sim, é logo ali na frente.
Fomos em direção a loja, que não ficava muito longe.
- Alícia, eu sei que você acha que não sentirão sua falta, mas, pensa um pouco. Deve a ver ao menos uma pessoa que se importa de verdade com você.
- Não, não tem.
- Sua tia?
- Ela mal liga pra mim.
- Sua irmã?
- Que irmã? A Anny é o demonio fantasiado de gente, me odeia mais que tudo e ela não é minha irmã, é filha do noivo da minha tia.
- Ah, você não tem amigos?
- Não, bem, eu não sei.
- Como assim?
- Acho que era pra ser apenas amizade, mas... - Olhei pro chão.
- Do que você ta falando?
- De um garoto que conheci a semanas atrás.
- Deixa eu adivinhar, você se apaixonou por ele?
- Não sei. Se fosse a semanas atrás ia ser muito difícil você se aproximar de mim.
- Como assim?
- Eu odeio as pessoas. Era grossa, mal educada, fechada, não é fácil eu confiar em alguém... e depois de conhece ele, sei lá, meu jeito mudou...
- Alícia, você conheceu o amor.
- O que? Não! Eu não amo ele.
- Quando ele esta por perto, o que você sente? Não precisa me dizer, apenas pense.
Fiquei em silêncio por alguns minutos e um flash-back de todos os momentos que tivemos juntos vinheram a minha mente. Desde que o conheci na praia, até a festa da piscina. Parei de andar e fechei meus olhos, os apertei e algumas lágrimas rolaram pelo meu rosto. Senti Lysandre me abraçar.
- Por que esta chorando?
- Eu... eu...
- Shiu! Não precisa me dizer agora - Ele disse e eu o abracei mais forte.
Fiquei alguns minutos assim, mas depois me distanciei dele e limpei minhas lágrimas com a mão.
- Bem, vamos comprar o sapato, certo? - Falei e ele sorriu.
- Vem. - Ele pegou na minha mão e me puxou até a loja.
Olhei em volta, e haviam vários sapatos, mas nada me impressionava.
- Quer saber? Prefiro ir a uma loja que só tenha tênis.
- Vamos, Alícia, não seja teimosa, você vai encontrar um salto que goste.
- Ok, ok. - Falei revirando os olhos e ele riu.
Provei vários sapatos altos, eu não sabia andar direito com eles, mas até o casamento eu aprendo. Assim que finalmente escolhi um, paguei e eu e Lysandre fomos até a loja em que minha tia estava provando o vestido.
Chegamos lá, e ela estava girando em frente ao espelho com um vestido realmente lindo para a cerimônia.
- Alícia! É perfeito, não é? - Ela me perguntou enquanto sorria.
- É realmente muito lindo. - Respondi.
- Não vejo a hora de entrar com ele na igreja! - Ela dizia se olhando no espelho, balançando o vestido de um lado para o outro.
Lysandre apenas me olhou e riu ao ver a reação da Dona Carmen com o vestido. Depois de uma hora, ela pagou tudo e saiu da loja sorridente. Anny apareceu logo em seguida, cheia de sacolas na mão. Voltamos pra casa. Lysandre foi embora, e eu fui pro meu quarto. Tirei o vestido e o sapato que havia comprado e guardei eles no meu guarda-roupas. Eram 00:00 e amanhã eu tinha aula. Tomei um banho rápido e me deitei, e logo adormecendo.

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