Rose

Sabe aqueles momentos que não parecem reais? Que é tudo tão ironicamente horrível que a única coisa que você deseja é acordar logo e poder dizer “foi só mais um pesadelo?”

É exatamente como está sendo minha noite.

Tudo o que eu mais quero fazer é ir atrás de Angel. Quero dizer, ela é minha melhor amiga. Não sei se eu deveria estar magoada com ela por esconder por todos esses anos que a mãe dela estava em um lugar bem mais distante que a Austrália, mas tudo o que eu consigo sentir é preocupação. De qualquer forma, conheço Angel bem de mais para saber que ela precisa de alguns segundos sozinha antes de aceitar algum apoio. E eu ainda tenho alguns assuntos para resolver.

Minha mãe aparece na porta da sala nada satisfeita com o que ouviu e meu pai a segue provavelmente tentando esconder o medo, porque se tem alguém que sabe botar o terror lá em casa é a mamãe.

James já havia saído muito antes para tentar encontrar Angie, e Draco – graças aos deuses - não suportaria mais um segundo na nossa presença. Sendo assim, na sala estamos apenas eu a exata pessoa com quem eu precisava resolver algo.

- Rose... – Albus tenta dizer algo. Algo inútil, porque tudo o que ele diz é assim.

Eu o encaro com raiva, é a única coisa que eu consigo sentir agora.

- Não me diga que vai pedir desculpas agora, Albus. – Eu digo sem ironia, mas de um modo frio.

A feição no rosto dele mostra que está arrependido. Bom, é um pouco tarde pra isso.

- Bem eu...

- Bem nada! Bem, Albus, é exatamente o contrário! – Eu digo quase gritando – Eu aceitei quando você contou pra vovó que eu havia comido o peru da ceia. Aceitei quando você contou pra Nina que eu falei que não tinha gostado do novo corte de cabelo dela. Aceitei quando você contou pra Alex sobre a aposta! Mas você me entregou pro meu pai!

- Eu não tive intenção. – Ele diz em voz baixa.

- Eu sei. Eu sei porque você nunca tem intenção. Mas quer saber de uma coisa, primo? Isso – Faço um gesto exagerado com as mãos - Foi culpa sua! Sua e da sua falta de intenção!

- Não fui eu quem começou com tudo isso, Rose! Você que está nessa aposta, você que está mentindo, você!– Ele responde. – Me desculpe por tentar te ajudar!

Ficamos em silêncio. Só agora percebo que já devo estar chorando ha um bom tempo. Eu abro a boca mais uma vez:

- Apenas não...

- Tente te ajudar de novo? – Albus completa. – Claro.

Eu concordo.

Não passa muito tempo quando Slughorn chama o resto de seus alunos para voltarem para Hogwarts. Ao que parece ao menos boa parte dos convidados conseguiram curtir a noite.

Inveja é foda.

Chegamos na escola. Corro até o salão comunal da grifinória e encontro as garotas que dividem o dormitório comigo dormindo no sofá. Isso, senhoras e senhores, é o que chamo de Efeito Angel.

Encontro minha amiga deitada em sua cama, olhando pra cima enquanto joga para o alto um pomo de ouro.

- Hey. – Eu digo fechando a porta atrás de mim.

- Noite dificil, ruiva? – Ela pergunta ainda sem olhar pra mim.

- Um pouco...

Eu me aproximo da cama dela. Ela se senta e finalmente me encara. Posso dizer com certo orgulho que sou uma das poucas pessoas que tem permissão para ver Angel chorar. Não gosto nenhum pouco disso, mas apenas significa que ela me da a chance de ajudá-la.

- Sua mãe... – Eu começo.

- Olha só Rose, eu não espero que você entenda, mas não é nada com você. É só que eu não suporto a cara de pena das pessoas pra mim quando ouvem sobre o que aconteceu com ela, e a primeira vez que perguntaram na escola pra mim e pro meu irmão sobre ela falamos sobre a Austrália. Desde então, continuamos com a história e... – Angel finalmente faz uma pausa e dá um suspiro. – E... sei lá. É isso.

- Não se preocupe – Eu digo – Eu não tenho dó de você desde quando você jogou aquele meu trabalho de astronomia de vinte páginas no lago negro.

Ela ri.

- Você ficou mesmo louca aquele dia. – Ela comenta.

- Uhum – Eu concordo rindo. Nossa risada não dura muito.

- E... seus pais? – Ela pergunta.

- Provavelmente discutindo agora. – Eu suspiro.

- Por isso você estava chorando? – Angel aponta para meu rosto.

Eu nego com a cabeça e murmuro o nome de Albus. Acho que ela entende tudo imediatamente, porque assente com a cabeça e não pergunta mais nada. Angel se deita de novo e eu faço o mesmo na minha cama. Nenhuma de nós parece ter coragem de tocar no assunto da quase transferência dela e de Scorpius. Sabemos que Draco não vai tirá-los daqui, mas só de pensar que essa ideia passou pela cabeça dele...

- Sabe o que eu acho, ruiva? – Angel diz.

- Não, eu nunca entendo sua cabeça Angel – Eu digo já de olhos fechados.

- Eu acho que família é a bosta mais complicada do mundo. – Ela conclui – Topa fugir comigo? Eu e você, Holmes e Watson se aventurando pela Inglaterra longe desses loucos?

- É uma proposta irrecusável – Eu digo.

Silêncio de novo. Ainda tento dormir quando ouço Angel me chamar.

- Rose?

- Sim?

- Ainda é uma péssima hora pra eu zoar sobre o fato de você e meu irmão se agarrando em um quarto escuro na festa? – Ela pergunta.

- Sim, Angel, péssima hora.

- Okay então. – Ela diz – Boa noite, Ruiva.

- Boa noite, Angie.

...

Domingo em Hogwarts. Se esse dia da semana já consegue ser horrível sem que nada aconteça, imagina aqueles que você acorda tarde de mais para o café da manhã? Cara, eu estou faminta!

Ando por Hogwarts sozinha. Não consigo pensar em ninguém que eu queira ver agora para ter uma conversa agradável comigo. Alex daria um sermão, Nina surtaria demais, Angel e eu já conversamos o suficiente na noite passada e a vagal ainda está dormindo. Safira talvez não queira me ouvir porque ainda está magoada com a história do Dustin...

- Rose? – Ouço uma voz me chamar. Olho para trás e vejo James Potter correr em minha direção.

- Eai, James. – Digo.

- Oi...

Sei bem porque ele está aqui. Por mais que todas essas coisas horríveis estejam acontecendo, tem algo que me faz manter o pé no chão com a ideia de James e Angel juntos: Eles precisam um do outro.

É bem obvio que ele está meio perdido, porque todas as outras garotas com quem ele se “relacionou” foram apenas pessoas a mais na lista. Não é o caso dessa vez.

- Pode perguntar... – Eu digo. James meio que sorri, meio que suspira e meio que faz cara de desespero.

Ele tem que decidir suas prioridades.

- O que está acontecendo comigo Rose? – Ele pergunta com tanto desespero que sinceramente não sei se choro de dó ou se rio da cara dele.

Melhor nenhuma das opções.

- James... – Eu suspiro – Acho que você finalmente cresceu.

Ele arregala os olhos para minha resposta. Eu não esperava uma reação muito diferente.

- Com isso quero dizer que você encontrou alguém que gosta de verdade – Digo. Ele parece se acalmar um pouco – Você ficou preocupado com a Angel?

- A noite toda – Ele confessa.

- Então procura ela, idiota! – Eu digo batendo na cabeça dele – Ela está esperando por você.

- Ela está?! – Ele exclama.

- Então... eu não deveria dizer isso. Mas está. – Eu concluo. Angel vai me matar por estragar tudo o que ela contruiu, mas acho que ela mesma já quer que isso acabe. – Então seja um bom Weasley e procure ela!

- Mas Rose... eu sou Potter.

- É, mas nós bem sabemos que a pessoa de atitude na sua casa é sua mãe, não seu pai – Eu digo e ele concorda. – Procure ela, okay?

E com isso ele vai em direção à torre da grifinória. Minha curiosidade de saber o que vai acontecer quanto ele chegar lá é sufocante, mas minha presença lá vai cortar todo o clima. É...

Continuo pensando na lista de nomes com quem poderia conversar quando vejo um tufo de cabelos negros saltitando por Hogwarts. Alice! Acho que é dela mesmo que eu preciso.

Me aproximo dela, mas sou tapada de mais para não me certificar se ela está sozinha. E não está.

Ao lado dela encontro um Albus meio cabisbaixo. Ao que parece eu não fui a primeira a pensar que uma Longbottom é uma otima amiga para desabafar.

- Mas o que que é? – Ela pergunta com a voz aguda de reprovação para Albus. Só então ela me vê. – Fala com ela agora, criança...

- Alice... – Albus murmura.

- O que!? – Ela continua no mesmo tom. Tento sair de lá antes que as coisas comecem a ficar mais constrangedoras, mas Alice já me puxa pelo braço. – Vocês dois vão conversar agora, teos! Vamo lá!

Eu encaro Albus. Sei que não deveria conseguir fazer isso, mas na última noite eu... Bom, Albus é meu primo, mas acima disso sempre foi meu melhor amigo. Olhar pra ele é o mínimo que posso fazer agora.

- Rose eu... desculpa. – Albus diz – Eu falei umas merdas pra você ontem sobre a aposta que eu não deveria, principalmente depois daquela bagunça e, cara, aquilo foi mesmo minha culpa. Foi mal.

Eu não me contenho. Quando percebo já estou abraçando meu primo. A verdade? Eu e Albus nunca ficamos brigados por mais que algumas horas, apenas não conseguimos.

- Você realmente me ajudou com toda essa aposta, não é mesmo? – Eu digo ainda abraçando ele – Estava tudo facil de mais pra mim. O que você andou falando pra doninha?

Albus ri. Pode parecer engraçado, mas o assunto é serio. Até esse momento eu não havia entendido como eu me dei tão bem com Scorpius em questão de dias, sendo que antes não podíamos ficar à uma distância de cinco metros sem discutir. Rose, sua hipogrifa estúpida, como você não notou Albus todo esse tempo?

- Nhom, que bonetenho vocês dois. – Alice comenta. Estava demorando mesmo...

- Ah! – Albus tira algo do bolso – Eu imaginei que você fosse perder o café hoje...

Ele me entrega um biscoito. Cara, é um biscoito! É a coisa mais bonita que alguém pode fazer por mim em um domingo de manhã! Nessas horas eu agradeço por eu e Al nos conhecermos tão bem.

- Eu te amo, cara! – Pego o biscoito com a maior felicidade, enquanto Alice ri da cena.

- Você conversou com a Angie? – Al me pergunta. Faço que sim com a cabeça.

- Falou com o Scorpius? – Eu pergunto depois de engolir.

Albus arregala os olhos e fecha a boca.

- Então... – Ele começa – Eu e o Zabini meio que abortamos a missão no momento que o Scorp deixou o Zabini com um olho roxo.

Hum... que legal.

- Não ta dando muito pra conversar com ele.

Maravilha.

- Acho que você deveria tentar.

Perfeito e... o que?!

- Al, por que você acha que eu... – Eu pergunto

- Porque ele vai querer te escutar. – Albus responde – Todo meu trabalho te auxiliando com o Malfoy atrás das cortinas valeu alguma coisa.

- Mas...

- Mas nada, criança! – Alice se coloca entre eu e Al e começa seus gestos exagerados com as mãos. – O seu namoredo ta lá esperando você, crida, para de enrolar!

E mais uma vez, Alice Longbottom dá um tapa na cara de todo mundo que não quer ter atitude.

- Eu não posso entrar no salão da sonserina! – Eu digo antes de ir - Além disso, eu não tenho a capa para me esconder!

- A gente te ajuda, tea, mas vamos logo! – Alice diz e corremos juntos até as masmorras.

Albus vai na minha frente para a porta se abrir, e Alice atrás para fazer barraco com qualquer um que pergunte o que está acontecendo. É um belo trio.

Eu finalmente alcanço o salão comunal e eles me deixam sozinha. Vou até os quartos masculinos e deduzo que o que está com a porta fechada é o que contêm um loiro dentro. Minha mão já contorce minha pulseira dos Cannons.

Vamos lá, Rose... você não é Grifinória atoa, penso comigo mesma e abro a porta.

- Albus, eu já disse que eu não... ah. Weasley.

- Malfoy.

Scorpius está sentado em sua cama. Ele não olha diretamente pra mim, mas não esconde o rosto. Ao que parece, o loiro teve uma longa noite chorando, e é estranho estar aqui porque nunca imaginei que o veria assim. Sinto meu coração ser devorado, esmagado, triturado, derretido e devorado de novo.

- Você quer entrar? – Ele pergunta, mas soa mais como se estivesse implorando para que eu entrasse.

- Não – Digo – Quero que você saia um pouco.

...

Andamos em silêncio por um bom tempo, ignorando todos os olhares sobre nós. Nos afastamos ao máximo possível de alunos desocupados, o que essa escola tem pra dar e vender. Quando me dou conta, já estamos na frente da floresta proibída.

Trocamos olhares rápidos e entramos. Acontece que esse lugar cheio de árvores monstruosas, criaturas medonhas e estritamente proibído se tornou comum para nós. Malfoy segura minha mão e nos dirigimos até nossa clareira.

- Me desculpe por ontem. – Ele diz se sentando no chão. Faço o mesmo.

- A culpa não foi sua – Eu digo.

- Eu sei. – Ele responde – Mas foi do meu pai, e eu não acho que ele vá se desculpar tão cedo. Desculpe.

- Então foi do meu pai também... – Eu suspiro.

- É. Quero dizer, esses Weasley são difíceis de controlar! – Scorpius diz com um pequeno sorriso em sua boca. Eu arqueio as sombrancelhas.

- Bom – Eu digo – Ao menos nós não temos classe nenhuma para manter e podemos falar o que bem entendemos!

- Está vendo? Incontroláveis.

Nos encaramos e começamos a rir. Esse tipo de situação deve ter graça apenas para nós dois, mas fico feliz por isso.

- Sobre a minha mãe... – Ele diz.

- Não precisa falar sobre isso se não quiser.

- Eu quero – Ele continua decidido. - Eu meio que preciso. A Angie já deve ter te contado toda a história, mas é só que... eu sinto a falta dela. Meu pai é um cara legal, apesar de não parecer pra você, mas ele... ele não é mãe, entende? Por isso eu defendo tanto a Angel. Imagine você e o Hugo vivendo só com seu pai.

- Já tive esse pesadelo antes – Digo olhando pro nada – Todos morremos de fome no final.

Consigo tirar um sorriso de Scorpius.

- É bom falar com você, Weasley – Ele diz ainda sorrindo, e então foi minha vez de sorrir – Porque nunca nos demos bem antes?

- Se você quer saber, é a única pergunta que não sai da minha cabeça na última semana. – Eu respondo – Eu acho que não percebi direito quando tudo isso começou.

- É...

- Não, é serio! – Eu falo balançando Malfoy e o trazendo de volta a realidade, ele parecia um pouco longe – Quer dizer, podemos falar um pouco sobre o que temos aqui? É meio...

- Estranho? – Ele tenta.

- Completamente – Eu concordo.

Ele me encara com seus olhos, que ainda não sei sei ao certo se são azuis ou cinzas. Isso me deixava intrigada na época que discutíamos, mostrava bem como eu nunca entenderia ele e sua mente calculista.

- A minha parte – Scorpius começa a contar chegando perto o suficiente para brincar as pontas do meu cabelo – Começou quando eu precisava impressionar outra garota.

- Oi?

- É – Scorpius ri – Aquela garota que veio da França, chegou na mesma época que aquele cara que deu treta com o James. Então... pare de me olhar assim, Weasley, eu não acabei! Enfim, já fazia um tempo que você andava estranha comigo. Não respondia mais à ofensas, não procurava briga toda hora... estranha.

“E já fazia um tempo que Albus falava bem de você. Estranho também. Mas eu comecei a pensar que talvez se eu me aproximasse de você, já que você estava mais de boa, a garota nova poderia notar que eu me dou bem com as garotas e fosse me procurar. Além disso, você ainda me odiava, se eu fisesse isso com qualquer outra garota ela poderia querer algo comigo e estragar meu plano. Foi aí que eu encontrei sua pulseira e disse para você ir buscá-la.”

- E então... – Eu digo para que ele continue.

- E então, Rose Weasley, foi aí que você estragou todo o meu plano simples e perfeito transformando ele em algo quase impossível que é ir atrás de você. Tem ideia de quanto ruivas são difíceis?

- Nós tentamos – Eu digo jogando meu cabelo pra trás e sorrindo.

- Sua vez de contar, Weasley – Scorpius diz rindo. – Porque ficou legal comigo do nada?

Sinto algo travar em minha garganta. Hum... eu chamaria isso de culpa, Rose.

- É insignificante – Digo com certeza em cada palavra que escolho. Não passou disso. Uma insignificância. – Mas talvez eu te conte uma próxima vez...

- Difícil e incontrolável – Scorpius diz

- Cala a boca! – Eu rio enquanto pego minha bolsa – Enfim, acho que não vamos voltar pra escola tão cedo. O que quer fazer?

Ele pensa por alguns segundos. Logo depois tira a varinha das vestes, a levanta e murmura um feitiço. Eu abro a boca para perguntar o que ele está fazendo, mas ouço as árvores se mecherem e vejo um objeto atravessá-las até se encontrar na mão de Scorpius.

- Não. – Eu digo

- Ah, vamos ruiva – Scorpius diz segurando a vassoura e se aproximando de mim – Um gênio do quadribol tem medo da melhor parte?

- Eu não tenho medo! Eu só... é que... eu... Tá. Eu tenho medo. Mas não é você que vai me fazer mudar de opinião e não, NÃO SCORPIUS, NÃO!

Tarde de mais. Quando abro os olhos de novo – quando foi que os fechei? – já estamos voando sobre a floresta. Não é uma altura nada perigosa pra quem voa com frequência, mas um passo mais perto da morte pra mim. E isso não é drama.

- MALFOY, NOS COLOQUE NO CHÃO AGORA! – Eu berro.

E o desgraçado ri. Eu ainda vou encontrar onde as pessoas acham graça nos desesperos da minha vida, francamente.

- Não, Weasley. – Ele diz com a voz calma. – Apenas tente relaxar.

Tento fazer isso. Percebo o vento batendo em meu rosto e meus pés balançando no ar. Malfoy está sentado de frente pra mim, segurando meus braços. Lindo isso, se não estivesse tremendo até a alma.

- Certo... – Eu digo em voz baixa – Mas nem pense em me soltar.

- Não vou – Scorpius diz. Ele solta apenas uma das mãos para fechar meus olhos. E eu continuo nessa. Vento... pés... tentando não morrer.

- Já podemos descer? – Eu pergunto quase implorando

- Por que você não tenta, Weasley? – Ouço Malfoy perguntar.

Problema 1: A voz dele vem de longe.

Problema 2: Não sinto mais ele me segurar.

Problema 3: Eu, tapada, abro os olhos e vejo que estou voando sozinha com um loiro me observando do chão.

A novidade? Não sei voar! A única coisa que sei fazer bem é cair... e isso talvez venha a calhar.

- Rose, se você parar de berrar talvez... Rose? Rose, o que você está fazendo?

Ainda tremendo eu viro a vassoura em direção ao Malfoy. Deixo que ela continue seu caminho e me jogo a centímetros do chão. Para ser mais específica, em cima do Scorpius, que murmura um xingamento. Tentamos nos levantar enquato eu estapeio ele o máximo que consigo. A cara dele é de dor, mas ri de tudo isso.

- Eu te odeio tanto, Malfoy! – Eu grito com todo o ódio que consigo sentir.

- Sem problemas – Ele diz com aquele sorriso irônico que me faz ficar com mais raiva – Não é como se fossemos melhores amigos.

Faço menção de bater em Scorpius de novo, mas no último segundo – como já é de se esperar – eu mudo de ideia e o beijo. E é então que eu percebo que é isso que me prende à ele. Toda nossa história de ódio fez com que eu conhecesse ele bem demais para aprender a conviver, mas nunca o suficiente para ainda ser surpreendida. A questão é que a maioria das garotas esperam um cara que vai beijá-las como um namorado, mas amá-las como um melhor amigo. Eu acabo de descobrir da pior maneira possível que definitivamente não sou como a maioria das garotas.

Eu quero ao meu pior inimigo. E não vejo mais nenhum problema nisso.