Julgamento

Descartada e Inútil


Minutos depois de Mabruke ter-lhe deixado sozinha, ela resolveu explorar a casa silenciosamente, para não incomodar ninguém. Ela saiu de seu quarto e, no mesmo andar, foi até duas portas grandes, de maneira e vidro, e entrou em uma biblioteca colossal. Alicia simplesmente amava livros. Ela sorriu e saltitou para dentro da biblioteca olhando maravilhada ao redor.
Haviam pelo menos oito longas estantes distribuídas pela biblioteca. Alicia foi até a ponta esquerda do biblioteca para observar os livros. Ela andou devagar ao lado da estante, seu dedos roçando na lombada dos livros, sentindo a aspereza de suas capas e seu vestido arrastando-se pelo tapete escuro.
Ela notou que eles estavam organizados em ordem alfabética. Chegou ao fim da estante e, do outro lado havia uma longa mesa de ébano com luminárias distribuídas por sua extensão. Haviam varias gavetas apoiadas na parede do fundo.
Curiosa, Alicia foi até a gaveta mais próxima e tentou abrir. Quando puxou, a gaveta emperrou. Ela franziu o cenho e puxou com mais força.
Ela abaixou-se e analisou a gaveta. Havia uma fechadura ornamentada, escura. Ela suspirou e levantou-se.
Ela voltou até uma das estantes e pegou um livro qualquer, indo até a mesa e puxando uma cadeira. Ela sentou-se e abriu a primeira página. "O Homem Invisível", ela leu. Ela sorriu.
Alicia adorava obras sobre ficção científica, como Júlio Verne, e já ouvirá falar sobre esse livro nesse gênero.
Ela começou a ler, e logo entrou em um mundo que só existia entre as palavras, entre as palavras das palavras.
E então aconteceu novamente. Sua visão ficou turva e ela já não estava mais olhando para o livro. Suas unhas cravaram nervosamente na madeira, mas de nada adiantou. Sua mão fugiu de seu controle e alcançou uma caneta ao lado da luminária próxima. Sentiu sua mão pressioná-la no livro.
Ela viu um homem, estatura mediana pelo que ela notou da distância de sua visão do chão. Quando ele estendeu o braço, viu que sua pele era escura, mas não tão escura quanto a de Mabruke nem tão clara como a dela. Em seu braço, haviam desenhos estranhos, pretos, espalhados por todo seu braço.
O homem estava escondido nos arbustos, observando um casarão. Ao seu redor, o vento soprava as árvores e o sol brilhava, mas por algum motivo a atmosfera ao seu redor era sombria.
Ele abaixou-se e esgueirou-se por ente as árvores, aproximando-se da casa. Abruptamente, ele agachou-se atrás das folhas de uma planta e observou. No casarão, uma porta se abriu e um homem moreno, de óculos, deixou a casa. Ele virou-se quando uma mulher de coque e cabelos escuros saiu segundando um casaco e uma bengala. Ela sorriu para ele e disse-lhe algo que Alicia não pode escutar. O homem de óculos respondeu-lhe, sério, e virou-se para vestir seu casaco. Ela estendeu-lhe a bengala e ele desceu os degraus, indo até uma carruagem esperando na estrada. Ele entrou e o cocheiro agitou as rédeas para que os cavalos andassem.
Na porta, a mulher acenou e depois entrou novamente.
O homem saiu dos arbustos e correu até a lateral da casa. Agachou-se e correu até os fundos do casarão, o tempo todo olhando para trás.
Brevemente, Alicia vislumbrou seu reflexo em uma janela. Ele tinha cabelos longos, escuros, amarrados em sua nuca. Seus olhos igualmente escuros. Ela nunca havia visto um homem com os mesmos traços dele, era algo completamente inédito.
Ele foi até os fundos e notou, no chão, uma pequena janela para o porão. Ele deitou-se e olhou pela pequena janela. Havia um corpo coberto por um lençol branco. Pelas curvas dos seios, ele notou ser um corpo feminino. Ele pestanejou, fazendo menção de entrar pela pequena janela.
Mas então, passos ecoaram, acusando a descida de alguém até o porão.
Ele foi para trás, mas não muito longe, o suficiente para poder escutar o que aconteceria.
– Ajude-me com esta, Lucian. - uma mulher falou.
– Sim, Senhora. - Lucian respondeu.
Ele ouviu um farfalhar de tecidos, provavelmente o lençol sendo retirado.
– Qual delas é essa, Sra. Moreton? - Lucian perguntou, com a voz demonstrando que ele carregava algo pesado.
– Não me lembro e não me importo. - ela respondeu rispidamente.
– Achei que você gostasse da companhia delas. - Lucian derrubou o corpo em alguma estrutura de metal.
O homem inclinou-se para espiar pela janela. Ele viu o corpo, uma mulher de cabelos loiros, caído dentro de o que parecia ser um baú de metal grande. Ele se escondeu quando Lucian foi até o baú.
A mulher identificada por Sra. Moreton riu.
– Gostar? Eu apenas aturo todas essas inúteis, essas meras cobaias. Em breve todas estarão mortas ou servindo ao Propósito, então, de fato, não importa. - ele ouviu os passos da mulher subindo as escadas - Termine de descartar essa e prepare um chá, sim? -Moreton gritou.
Alicia inspirou uma grande lufada de ar, assustada. Suas mãos tremiam, e ela olhou horrorizada para as páginas arrancadas espalhadas pela mesa, todas com desenhos. Ela notou que ainda tremia, segurando a caneta, e largou-a sobre a mesa, arregalando os olhos. Ela levantou-se e juntou os vários desenhos espalhados, com corpos de mulheres espalhados, desenhos em braços, casarões e carruagens, e pensou no que fazer com eles. Mostrá-los à Srta. Smartchild... Lexi? Livrar-se deles?
Ela colocou todos entre os tecidos de suas vestes e começou a andar, as mãos ainda tremendo é os olhos ainda arregalados em horror, em direção à porta. Quando chegou à porta, escutou um grito. Mas não um grito comum. Era como se milhares de vozes se juntassem em um coro, cantando a melodia do diabo. Os pelos de seu braço e nuca se arrepiaram e ela correu até o corrimão da escada, olhando para baixo. Ela viu o Sr. Cooper escancarar as portas do escritório e entrar. O escritório estava escuro. Ela desceu a escada até o segundo andar, correndo. Ela ouviu o Sr. Cooper gritar algo e um homem jovem, quase da sua idade, correu escritório a fora, descendo as escadas. Ela desceu atrás dele.
– O que aconteceu?! - ela perguntou.
Ele chegou ao primeiro andar e olhou pra ela, mas ignorou-a é foi em direção à cozinha.
– Ei! - ela se apressou para alcançá-lo - Quem é você? Está tudo bem com Lexi? - ela puxou o ombro do jovem.
– EU PRECISO ACHAR O MORDOMO! - ele gritou para ela.
Ela observou de longe enquanto ele entrava na cozinha. Ela lembrou-se de ter visto Mabruke pela janela de seu quarto, no jardim.
– Ele está no jardim. - ela respondeu, apontando para a porta dos fundos. Ele olhou para ela é correu até a porta indicada. Ela observou ele passar para os fundos, chamar por Mabruke e entrar correndo novamente na casa. Ela gritou quando os dois passaram correndo por ela:
– O QUE ACONTECEU COM ELA?! - do alto da escada, o jovem moreno virou-se.
– Ela não está bem. Fique ai em baixo.
Ela assentiu, os olhos transparecendo sua angústia.
Ela foi até a sala de estar, sentou-se e aguardou.
Alguns minutos depois, ela ouviu passos apressados descendo a escada. Era Mabruke.
– Precisam de ajuda? Há algo que eu possa fazer? - ela seguiu-o até a cozinha.
Mabruke abriu um armário apressadamente e retirou uma série de frascos de lá, escolhendo um é olhando para ela.
– Espere aqui em baixo, Srta. Alexander. Estamos cuidando de Lexi. - ele passou por ela novamente.
Ela suspirou, sentindo-se inútil pela primeira vez na vida. Na casa dos Penhalow ela foi explorada, mas pelo menos nunca sentiu-se inútil.
Ela estava sentada, esfregando suas mãos para aplacar a ansiedade, quando mais passos desceram a escada. Ela correu até o salão principal e viu o jovem moreno vestindo seu casaco e dirigindo-se à porta.
– Onde você vai? Lexi está melhor? - ela foi até a porta com ele.
Ele tirou-a de seu caminho, com raiva queimando no olhar, e passou pela porta.
Ela protestou, mas era pequena demais para fazê-lo parar.
Ela foi até a porta e observou-o sumir na esquina. Ela olhou para trás, na escada, e pensou que enquanto estivesse ali, não poderia fazer nada.
Então ela tomou a decisão de seguir o jovem.
Ela saiu pela porta, fechando-a atrás de si e apressando-se atrás dele, desaparecendo na esquina mais próxima.

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