Jogos Do Amor

Aquele com o fogo


– O que você quer?

– Vim visitar minha namorada – Davi dava voltas em mim e suas mãos me acariciavam por todo o corpo – ela não me liga, não vai me ver e tem sido uma péssima namorada, alias. O triste foi ter que usar o nome do Bruno para entrar.

– Você não é meu namorado! O que fez com ela? – afastei a mão dele – vai embora antes que eu chame a policia – peguei o celular e fui até Elena, mas Davi me puxou pelos cabelos e bateu minha cabeça com força na parede.

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– Você decidiu se divertir um pouco com aquele coitado do Bruno, eu não liguei. Mas agora vamos ficar juntos para sempre, só eu e você.

Tentei responder, mas minha cabeça doía muito. Fiz um esforço para me sentar e me apoiei na parede enquanto assistia Davi trancando a porta e jogando a chave pela janela.

– Você... é louco – disse com dificuldade – o que você vai fazer?

Davi me ignorou e deu uma risada, foi até a porta e tirou de uma mala um galão de gasolina. Ele começou despejando na mesa, depois no sofá e logo toda a sala estava com gasolina espalhada. Fiz o maior esforço que pude para me levantar e andei até Davi, que estava com uma caixa de fósforo na mão.

– Davi, para e me escuta, ok? – respirei ao sentir minha cabeça latejar – não precisa disso, eu vou com você para onde quiser. Só me deixa tirar Elena daqui, esta bem?

– Como vou saber se é verdade?

Por mais que cada músculo do meu corpo não quisesse fazer aquilo, eu me inclinei e dei um beijo mais apaixonado que pude, ou parecido com isso. Quando me afastei vi ele abaixando a caixa de fósforo e aceitei isso como uma permissão de tirar Elena dali. Apoiei ela em meu ombro e a arrastei até a metade da sala, quando uma batida na porta me assustou.

– Cat, sou eu. Bruno.

Merda! Vi o olhar nervoso em Davi e, em um momento de desespero, gritei por socorro.

Davi pegou de cima da mesa uma faca e fincou em minha barriga antes de me jogar para um canto da sala. Nesse ponto Bruno batia sem parar na porta, as vezes ouvia o que jurava serem chutes. Com muito esforço, tirei a faca da minha barriga a tempo de olhar para frente e ver o fósforo aceso na mão de Davi e em seguida a mesa tomada pelas chamas.

– Vai embora seu merda – gritou Davi – decidimos que vamos morrer juntos, ela me ama e não a você.

– Bruno, me ajuda – gritei o mais alto que pude.

– Cala a boca sua vadia - as palavras de Davi foram quase cobertas pelo barulho da porta sendo arrombada.

Bruno parou na porta e olhou o lugar. As paredes em chamas, Elena desmaiada, eu em cima de uma pequena poça de sangue e Davi avançando nele. Bruno conseguiu desviar algumas vezes e depois socou as costelas e o rosto de Davi, que o fez ficar um pouco tonto, em seguida deu uma joelhada em seu estomago, derrubando-o.

– Cat, vem vou te tirar daqui – disse Bruno colocando os braços em volta de mim.

– Não... Cuidado!

Davi estava de pé novamente e, apesar da postura meio torta, correu em direção ao Bruno, que não conseguiu se desviar dessa vez e um de seus braços tocou as chamas. No momento de distração, Davi derrubou Bruno do meu lado e saiu dali de perto, tentando recuperar o fôlego, o que alias estava difícil. A cada tentativa de respirar meu peito doía, a tosse começou a sair seca e junto trazia uma dor aguda. Durante um ataque de tosse Bruno olhou para mim e seu olhar era cheio de preocupação. Eu estava prestes a sussurrar um pedido de desculpas quando lembrei da faca que Davi tinha me acertado e que eu tinha colocado de lado. Olhei para Davi, que ainda estava tonto, e passei a faca para Bruno.

O alarme de incêndio tocou e logo os bombeiros estariam ali.

Bruno se levantou e Davi se virou para ele. Com um grito seco, Davi correu com os braços abertos e se jogou em cima de Bruno tentando derrubá-lo, mas ele travou as pernas e ficou a faca nas costelas de Davi, lhe deu um soco e o jogou perto do sofá em chamas, depois de recuperar o fôlego, veio até mim.

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– Vamos, tenho que te tirar daqui – disse Bruno.

– Não – empurrei sua mão – tinha Elena primeiro.

– Não vou te deixar morrer – Bruno tinha começado a tossir também.

– Ela não tem culpa de nada disso, nem você. Por favor, não deixa ela morrer – minha voz falhava graças a minha garganta seca, mas eu tentava manter a melhor voz possível.

– Cat – a voz dele se perdeu no ar e eu vi seus olhos se enchendo de lagrima – eu vou voltar, eu prometo. Eu te amo!

– Eu te amo – disse beijando sua mão.

Bruno foi até Elena e a pegou no colo, vi o quão difícil foi para ele fazer aquilo com um dos braços queimados. Ele saiu de lá devagar, tomando cuidado para não derrubá-la, mas ainda sim tentando ser rápido a tempo de cumprir sua promessa. E eu sabia que ele iria, só não sabia se conseguiria cumpri-la a tempo.

Por causa do alarme de incêndio, os elevadores foram desligados e ele teria que ir de escada. Talvez a colocasse no andar de baixo, talvez a deixasse no meio do caminho entre os andares. Não sei.

Não conseguia mais tossir e, quando acontecia, a dor era insuportável. Meu peito se mexia devagar, mas a sensação era que meus pulmões estivessem sempre cheios. O corte na minha barriga doía, mas nada comparado a dor na minha cabeça.

Olhei para Davi, a respiração dele estava lenta e as chamas estavam quase encostando nele.

– Você conseguiu o que queria – sussurrei para ele.

A última coisa que vi foi o corpo de Davi sendo engolido pelo fogo.