Jogos- A Minha Batalha Começa

Sofá azul,solitário,caído e ele afogado


–Eu...eu...- as palavras estavam confusas como se não existisse nenhuma conexão entre elas. - Estou muito feliz de estar de volta, em casa, e muito obrigado por aqueles que... - ele realmente não sabia o que dizer, não tinha o que dizer para o consolo das pessoas que tinham perdido Flo e não tinha o que agradecer. Era apenas aquilo. Ele tinha voltado como um soldado volta de uma guerra, a diferença era que ele não tinha lutado por ninguém além de sua vida.

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Adam se sentiu cansado, extremamente cansado como se carregasse o mundo em suas costas magras e cobertas pelas roubas chiques. Sua visão se focava e desfocava como se tentasse inutilmente se ajustar e o seu coração parecia chumbo em seu peito.

–Obrigado. - Adam falou, virou para as escadas e caminhou em direção aos pacificadores. Ele sentia como se tivesse que arrastar correntes envoltas em seus pés.

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A casa era toda branca e possuía uma grande e majestosa porta dourada. Adam girou seus dedos finos pela maçaneta banhada de prata e entrou na casa. Ela tinha cheiro de nova, obviamente. Nenhum móvel a mais precisava ser comprado. O quarto das gêmeas era separado e se encontrava do jeito que elas desejavam. O cômodo ocupado por seu irmão tinha pinturas nas paredes e a do pai possuía apenas uma mesa branca com uma pilha de livros e uma cama de casal solitária. O encontro da família foi ótimo, todos sentaram na sala de estar que tinha uma lareira e várias poltronas azuis e começaram a conversar. As crianças relataram sobre a escola do tempo em que Adam estava fora e seu pai fazia a mesma história em relação ao trabalho. Eles conversaram algum tempo quando todos tiveram que sair para trabalhar ou ir a escola, todos menos Adam.

Ele ficou deitado, contado as horas mortas do relógio branco que estava sobre a lareira para visitar os Finnigad. Ele queria ver a irmã menor de Flo, Melin, porque queria se desculpar e queria o perdão da garotinha.

Um menino estendido em um sofá azul, apenas querendo morrer, mas sem coragem para isso. Covarde por tudo o que tinha feito á Florence, por ter ficado com Annie, por ter machucado ela, por ter quase a matado e a torturado e por ter-la desmoronado. Ele foi o primeiro homem que tinha conseguido deixar Florence Finnigad, a Protetora, se sentir fraca.

O garoto poderia ter se afogado em pensamentos que ninguém notaria. O relógio fez um barulho. "Hora de ir" ele pensou.

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Ele pegou duas coisas necessárias. O desenho de Damen e seu sobretudo. Lá fora nevava, curiosamente como fazia na arena. Arena e túmulo. Chame como quiser. Ele passou pela casa de Piscki que era de um vermelho perturbado e estranho no cenário polar da região, passou por a casa do presidente e sua família e depois disso começou a passar pelas vilas aonde todos o olhavam com botões dourados mas não ousavam o tocar, pois todos tinham presenciado as mortes que ele provocara na Arena.Ninguém ousava tocá-lo porque quem uma vez carregou a morte sempre irá carregar.

Ele bateu com os nós dos dedos na porta magra dos Finnigad esperou. A escola e o trabalho eram perto da casa deles, mas a aldeia dos vitoriosos era um pouco mais distante e sua família iria demorar para chegar em casa, além de que nenhum deles iria dar sua falta, pensariam que ele estaria passeando pela cidade e afogando suas saudades.

Um garotinho de cabelos negros abriu a porta, seus olhos eram verdes como um lago, muito diferente dos olhos castanhos pântano de Florence.

–Oi. - ele falou. Seu nome era Gabriel.

–Oi. - Adam respondeu. Um homem chegou pelas costas do garotinho magro de oito anos e o pegou no colo, era fácil pegar uma pessoa tão magrela como aquele menino.

–Olá, Sr. Zeander, deseja alguma coisa?

A voz do pai de Flo parecia rouca e distante, estava rouca do choro carregado por eles. Os olhos castanhos do homem estudavam Adam como se ele fosse um completo estranho, e assim ele ficou ali, parado na porta, com a neve caindo pelos ombros cobertos pelo sobre tudo e com uma mão tomando frio e a outra tocando o seco papel e a tinta que Damen tinha usado.

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–Eu gostaria de falar com ...- ele fez uma breve pausa, como se tivesse que pensar em que nome escolher entre os 4 Finnigad. Ele queria pedir para falar com Florence, mas a voz dela não se encontrava mais naquela casa, as marquinhas de seus dedos não se colocavam sobre as folhas de cada livro empilhado cuidadosamente ao lado de sua cama-sofá e seu corpo não era mais visto olhando as estrelas, sentada na velha cadeira, nas noites seguidas em que Adam tinha sumido e seu sono não pegava. Adam iria procurar em cada canto do casebre se soubesse que ela não estaria morta. Ele tinha necessidade de encontrá-la. - Quero falar com Melin.

Ao ouvir seu nome, a garota de rosto redondo e rosado e tufos loiros retos esparramados pelos ombros, apareceu na porta.

–O que quer? - Ela respondeu, com apenas 12 anos ela tinha um olhar de mulher tão parecido com o da irmã. Sra. Finnigad apareceu na porta com seus olhos incrivelmente circulares e verdes, mas cansados.

–Deixe ele entrar, nunca vi nenhum Finnigad nessa família deixar um convidado na porta pegando neve. - sua voz soou rouca e arrastada. Olheiras marcavam abaixo o verde de seu olhar.

O garoto entrou e Sr.Finnigad sentou e o encarou.

–Chá? - Sra. Finnigad pronunciou.

Ela o entregou uma xícara toda pintada e esquisita e ele a segurou.

- Solte-a. Era de Flo.

Melin tirou a xícara da mão de Adam e a posicionou cuidadosamente sobre a pilha de livros ao lado da cama de Flo.

-Melin! - Sua mãe falou tão alto que a menina estremeceu.

Melin continuou o que estava fazendo e deu uma xícara verde para Adam.

Todos ficaram ali, ao redor do garoto sentido na cadeira, esperando que ele pedisse desculpas ou qualquer coisa do tipo, mas ele não o fez. Seus lábios bebericavam o líquido com gosto de terra e uma mistura de menta. Ele relativamente gostava de chá, mas não aqueles com gosto de terra.

Eles acabaram o chá, Sra. Finnigad recolheu tudo e Adam conferiu seus bolsos.

-Olha, eu tenho um presente para vocês. Esse é um dos rabiscos de Damen, o estilista de Flo. Ele desenhava ela e...bom, eu pensei que vocês gostariam disso.

Os dedos finos de Adam correram pelo papel e o estendeu para Melin, era como uma bandeira branca declarando a paz. A garota estendeu suas garrinhas para o desenho e o pegou, desfez todas as dobras e observou os olhos castanhos pântanos da nova cadáver tão parecidos com o dela. Suas unhas rasparam pela tinta que completava o cabelo moreno da garota e as roupas. Seus olhos estavam chorando. Aquela era uma das fotos em que Flo se apresentava com a roupa normal de seu distrito e com os cabelos rebeldes e soltos. Seu sorriso limpava seu rosto e tirava as sujeiras que tinham em sua testa feitas da terra. Ela continuou a chorar, aquela imagem era tão viva, tão... tão a própria Florence que era difícil lembrar que ela estava morta. O desenho passou na mão de cada familiar, que debulhavam em lágrimas. A última foi Sra. Finnigad.

Quando a mulher tocos o papel com sua pele fina, todos pararam de chorar e a olharam. Todos esperavam alguma coisa daqueles olhos verdes cansados. Ele ficou minutos que se carregavam como horas, para a foto da garota, e depois disso, com as lágrimas caindo e as costas curvadas, ela caminhou até Adam e o abraçou.

Primeiro ele não se mexeu, sem entender o que estava acontecendo, seus braços ficaram soltos ao lado do corpo como se ele não tivesse controle sobre nenhum dos dois, depois, ele retribuiu.

"Não foi culpa sua." As palavras saíam picotadas e chorosas, sua alma estava morta. Adam sentia como se não tivesse matado mentalmente apenas Florence Finnigad, mas também, todos os que faziam parte da vida da garota.

Ali todos estavam mortos.

Adam caminhava devagar pela neve. Ela estava mais intensa. Os Finnigad tinham oferecido que ele tivesse passado a noite em seu casebre, mas ele não tinha aceitado. Ele não agüentava mais as pessoas, qualquer pessoa. Ele só queria ficar sozinho. Sempre foi assim. Quando Florence pedia sua ajuda, ele dava atenção a a garota, mas não a merecida. Ele pousou abaixo de uma árvore e ficou ali encarando a neve cair e as luzes das cabanas se apagarem. Ele se sentia morto, mas aquilo não parecia ser o suficiente para ver Flo novamente, mas aí ele ouviu ela, só ouviu, como uma velha lembrança.

“Eu queria que você seguisse em frente.”

Ele sabia que seria extremamente egoísta e nunca gostaria de ver Flo com outro garoto, mesmo estando morto. A questão era que ele não queria achar outra pessoa. Ninguém podia ocupar o espaço dela, e ninguém iria.

Ele sempre precisou dela mais do que ela precisava dele. Acho que Florence poderia se sair melhor se ele não existisse, mas ele existiu.