Jogo de Espiões

CAPITULO 36 - A REVOLUÇÃO HÚNGARA parte 2


Seguimos pelo corredor escuro ladeado por dois prédios de mais ou menos sete andares cada até chegarmos ao final dele, um muro de concreto bloqueava a nossa passagem. Senti a mão de Naruto apertar a minha mais forte, olhei para o lado e vi que seu casaco mostrava nitidamente uma mancha de sangue, fiquei aflita e meu coração acelerou ainda mais, isso me levou a ter falta de ar e conseqüente tontura; tínhamos que encontrar um lugar para nos refugiar.

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- Sakura, se você subir nas minhas costas você pode pular para o outro lado - disse Naruto ainda com o olhar fixo no muro.

Minhas pupilas se dilataram de surpresa, rapidamente lhe repliquei rispidamente.

- Eu não vou sozinha!

Naruto desviou seu olhar para a minha direção, seus olhos oceânicos mostravam ternura e sua mão aliviou a pressão sobre a minha.

- Eu vou dar a volta - ele me disse sorrindo.

Eu contraí o rosto, a expressão bem séria.

- Vai voltar para a praça?

- Não tem outro jeito! - seu sorriso ficou meio lateral.

Eu balancei a cabeça em sinal de reprovação. Eu sei que não deveria preocupar-me com ele depois de tudo o que havia acontecido, mas eu estava excessivamente preocupada e desesperada com a mínima possibilidade de nos separarmos, mesmo que momentaneamente. Ainda com minha mão atada à mão de Naruto eu percorri com o olhar todo o beco em busca de outra saída; na praça os tiros e os gritos se tornavam mais altos e freqüentes.

Num canto escuro do muro encontrei uma pequena porta entreaberta, puxei Naruto para que nós pudéssemos nos aproximar.

- Sakura, o que foi?

- Acho que podemos nos refugiar ali - eu disse apontando para a pequena porta.

Naruto seguiu-me segurando firme minha mão. Talvez eu não fosse a única com medo de nos afastarmos.

Usando minha mão livre eu empurrei mais a porta que se abriu com um rugido.

- Será que não tem ninguém aí? - perguntou-me Naruto às minhas costas.

Eu olhei todo o interior do ambiente que estava envolto em penumbra, a visibilidade era quase nula. A luz que vinha do poste em frente ao prédio atravessava a pequena janela de vidro adjacente à porta e propiciava um pouco de visibilidade interna.

Logo percebi que aquele lugar que mais parecia um porão era na verdade uma casa. Eu comecei a adentrar ao lugar, havia um desnivelamento de uns 10 centímetros da rua, por isso havia dois degraus na entrada.

- Será que pertence a alguém que está no protesto? - perguntou-me Naruto.

- Não - respondi enquanto olhava todo o ambiente - Essa casa foi invadida e seus moradores levados daqui.

- Como pode saber isso? - questionou-me Naruto curioso.

O vidro da janela estava bem empoeirado, e isso diminuía ainda mais a visibilidade interna do ambiente, porém mesmo na penumbra eu fui capaz de ver e reconhecer algumas coisas.

- Veja as marcas de balas nas paredes - apontei-lhe as marcas de balas na parede; a luz que vinha da porta iluminava o chão - E ali na frente há uma pequena poça de sangue seco.

- Eles mataram as pessoas que viviam aqui? - perguntou-me Naruto com tristeza na voz.

- Provavelmente - conclui com pesar.

Naruto enrugou o rosto numa clara expressão de dor, e sua mão soltou a minha.

Eu dei um passo à frente e senti pisar em algo que fez barulho. Olhei para o chão e vi uma chave dourada a meus pés, abaixei-me para recolhê-la. Corri em direção a porta e a tranquei.

- Vamos ficar aqui essa noite.

Não me agradava ter que passar a noite na companhia de Naruto, mesmo em vista dos recentes acontecimentos, eu ainda de alguma forma estava magoada com ele. Assim que fechei a porta o ambiente se tornou mais escuro. Virei-me para ele.

- Eu vou tratar seu ferimento, mas é melhor irmos mais para o interior da casa.

Eu avancei pela casa e passei por um corredor escuro, senti um calafrio percorrer-me a espinha ao pensar que eu poderia encontrar alguma pessoa morta em um dos cômodos, porém eu tentava me acalmar pensando que não havia cheiro de cadáver no ar.

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No fundo da casa ficava o quarto sem janelas. A energia elétrica devia ter sido cortada, porque a luz não acendeu quando toquei o interruptor.

- Fique aí Naruto, eu vou tentar encontrar algo que nos forneça um pouco de luz.

Eu tateei as paredes para poder me andar pelo quarto, em meio à escuridão eu tentei encontrar uma vela ou um lampião. Senti quando a parede fez a primeira curva e meus pés tocaram um móvel. Abaixei-me e consegui tatear um lampião, a seu lado havia uma caixa de fósforos; usando-os acendi o lampião e quarto logo se iluminou.

Era um quarto bem simples, possuía apenas uma cama de casal e um criado mudo com o lampião. A cama ainda tinha os lençóis abarrotados e a colcha estava caída no chão.

Naruto caminhou até a cama e sentou-se. Sua expressão era de continua dor.

Cautelosa eu me aproximei dele e toquei seu ombro ferido.

- Deixe-me ver.

Naruto me lançou um olhar de ternura, e tirou seu casaco e sua camisa branca.

Eu analisei o local atingido pela bala e percebi que o ferimento não era profundo, senti um imenso alivio em meu peito. Abri delicadamente a ferida para visualizar a bala, não havia uma bala, ao que me pareceu à bala havia se fragmentando durante o disparo e foi um estilhaço da bala que atingiu o ombro de Naruto. Pela lateral do olho o vi contraindo o rosto numa expressão de dor, eu ri.

- Espero não chore - zombei.

Naruto agarrou minha cintura e encostou sua cabeça em meu abdômen.

- Você vai cuidar de mim? -perguntou-me fazendo graça.

As palavras de Naruto fizeram minhas pernas tremerem. Eu dei um passo para trás e Naruto me soltou.

- O que aconteceu não muda o passado - eu disse séria

Eu peguei o lampião e saí do quarto, eu estava furiosa por Naruto estar ali e mais ainda por ele ter se colocado a minha frente como se fosse um herói.

- Sakura aonde você vai?

- Vou procurar alguma coisa para poder tirar esse fragmento de bala, não está muito profundo.

Comecei a procurar pela casa alguma coisa com a qual eu pudesse tirar a bala alojada no ombro de Naruto. Passei pela sala e escutei o grito das pessoas do lado de fora e o som ensurdecedor do disparo de canhões; os soviéticos estavam massacrando os manifestantes sem piedade, pela manhã haveria muitos corpos espalhados por Budapeste.

Ergui o lampião e vi uma porta que conduzia a um lugar que parecia ser a cozinha, me dirigi até o lugar e vi que ali era mesmo a cozinha. Deixei o lampião sobre a mesa e comecei a vasculhar os armários.

Voltei ao quarto trazendo nas mãos um pano com gelo, uma faca e uma garrafa de vodka.

Naruto me olhou surpresa.

- O que vai fazer com essas coisas?

- Vou tratar seu ferimento.

Minhas palavras eram duras e sérias, não transpareciam nenhum sentimento de afeto ou carinho. Eu não podia deixar o Naruto saber que eu fiquei comovida por sua atitude heróica.

Coloquei o lampião sobre o criado mudo e a seu lado a faca e a garrafa de vodka.

- Você sabe fazer essas coisas? - perguntou Naruto incrédulo.

- Eu tive treinamento de enfermagem - respondi num tom sério - Agora basta agüentar um pouco.

Sem esperar que ele me retrucasse eu coloquei o gelo sobre o ferimento, e Naruto gritou de dor. Eu precisava fazer com que a circulação de sangue diminuísse em volta do ferimento para que assim não houvesse mais sangramento. Ainda pressionando a o pano com gelo com uma das mãos, estiquei a outra e peguei a garrafa de vodka, retirei o pano com gelo por um breve momento e joguei um pouco de vodka sofre o ferimento, Naruto gemeu de dor ao sentir a ardência provocada pelo álcool da vodka.

- Para que precisa fazer isso? - ele resmungou.

- A vodka serve como anti-bactericida. Agora eu vou tirar o fragmento.

Deixei a garrafa de vodka no criado mudo e peguei a faca. Pressionei mais um pouco o gelo sobre o ferimento, e usei a ponta da faca para retirar o fragmento que logo saiu quando o puxei; Naruto gemeu assim que o fragmento saiu.

Sorri ao ver que havia conseguido tirar o pequeno objeto. Deixei mais um pouco o gelo sobre o ferimento para aliviar a dor. Eu coloquei o fragmento de bala na palma da mão e mostrei-o a Naruto.

- Você é incrível - elogiou-me Naruto.

- Por que a CIA te mandou aqui? - fui direta ao ponto.

Eu não queria tocar nesse assunto, mas não pude evitar. Naruto endireitou a coluna.

- A CIA não me mandou aqui - respondeu ele de pronto.

- Então está numa missão suicida? - questionei-o irônica.

Naruto ficou surpreso com minhas palavras.

- Sakura, eu vim te buscar - Naruto não sorriu ao me dizer isso, ao contrário seu rosto estava bem sério.

Senti meu coração disparar, odiei-me por deixar Naruto ser capaz de fazer meu corpo reagir com mínimas palavras.

- E como você me encontrou? A CIA...

Naruto me interrompeu.

- Sasuke me disse que você havia perguntado como era Hungria em russo, e como você havia dito que queria prender o Nagato pela morte dos seus pais...

- Você deduziu que eu tivesse vindo para aqui - algo me passou pela cabeça naquela hora - E se você estivesse errado, e se eu não estivesse aqui?

Naruto estava confuso com meu repentino questionamento.

- Sakura você veio para a Hungria.

Minha voz assumiu um tom de urgência.

- E se eu não estivesse aqui - gritei, minha voz tornou-se mais amena depois - Você veio para a Hungria arriscando sua vida sem sequer saber que eu estava aqui!

Parecia-me idiotice demais seguir alguém para um lugar em guerra sem ter certeza que essa pessoa está mesmo lá.

Naruto levantou-se da cama, e enquanto eu ajeitava meu cabelo para trás da orelha num claro movimento de nervosismo, ele me abraçou.

- Sakura, eu não podia te deixar aqui sozinha.

Eu senti minhas pernas amolecerem, e as lágrimas escaparam de meus olhos.

- Você não deveria estar aqui Naruto... Não devia ter se colocado a minha frente. Foi estúpido o que fez - comecei a ralhar com ele por seu ato imprudente, seus braços me apertavam cada vez mais contra seu corpo - Esse seu ato de heroísmo podia ter lhe custado a vida, sabia?

Naruto não me disse nada, apenas continuou me abraçando. Eu continuei falando com a voz chorosa.

- Para que está aqui? Pretende me reconquistar? - eu já estava entregue ao seu abraço que me mantinha em pé - A missão terminou Naruto, o microfilme foi destruído...

- Me perdoe Sakura. Eu queria ter lhe contado a verdade.

Tudo o que havia dito até aquele momento parecia não ter valor para Naruto, tudo o que ele quis foi me pedir desculpa. Eu coloquei minhas mãos espalmadas em seu peito numa tentativa de afastá-lo de mim, porém nessa hora meus olhos se encontraram com seus olhos oceânicos.

- Não, eu... Eu não... Eu não posso perdoá-lo pelo o que fez.

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Naruto encostou seu nariz no meu.

- Eu fiquei com medo de ter perder, se eu te contasse que eu estava trabalhando para a CIA você me odiaria.

Eu o empurrei um pouco para se afastar, mas as mãos de Naruto permaneceram em minha cintura.

- Sim, eu o odiaria por ter mentido, mas não o odiaria tanto como agora.

Os olhos oceânicos de Naruto se dilataram num sinal de surpresa. Senti suas mãos cederem à pressão em minha cintura.

Naruto havia me enganado e nada mudaria isso, assim como nada mudaria o fato dele ter me protegido. Ao ver seu ombro direito eu pensei que talvez suas declarações que me amava não fossem tão mentirosas; afinal por que ele salvaria a minha vida se não se importasse comigo? Por que ele estaria ali me abraçando se não sentisse nada por mim?

Eu ergui minha cabeça e vi os olhos de Naruto olhando fixamente para meu rosto, em silêncio ele me dizia novamente que estava ali porque me amava, e de alguma forma estranha eu escutei suas palavras que não foram pronunciadas. Eu desviei meu olhar para seu ombro ferido.

- Seu ombro direito ficou na frente do lado esquerdo do meu peito. Você percebeu isso naquela hora...

Eu recostei minha cabeça no espaço entre seu ombro e seu pescoço, minhas bochechas roçaram sua pele quente. Naruto ficou surpreso com minha atitude, e pressionou mais forte suas mãos em minha cintura. Eu continuei falando.

- Se você não tivesse se posto na minha frente, aquela bala teria atingido o meu coração...

Senti seus braços envolverem meu tronco num abraço forte.

- Eu não quero te perder - sussurrou próximo ao meu ouvido.

Eu levantei minha cabeça. Nossos lábios se procuraram, e o momento finalizou em um doce beijo apaixonado; a mão quente de Naruto em meu pescoço sustentava minha cabeça e amparava minhas lágrimas.

Novamente eu me rendia aos meus sentimentos por Naruto, eu não sabia se era certo fazê-lo, mas eu não me importei em deixar meus sentimentos se sobrepujarem a minha razão. Eu havia perdido tudo, não queria perder o Naruto também.

Um forte estrondo interrompeu nosso beijo, era um disparo de canhão de um dos tanques, o exército vermelho se aproximava.

- Temos que sair daqui.

- Não, aqui estamos seguros - eu toquei o ombro de Naruto - Além do mais você está ferido.

Naruto soltou minha cintura e foi até seu casaco. Do bolso lateral ele retirou um revolver.

- O que pretende fazer com isso? - perguntei assustada

Naruto sorriu para mim.

- Sakura, não se preocupe. Eu não vou enfrentar os soldados soviéticos.

Conhecendo Naruto como eu o conhecia não me surpreendia se ele tivesse tal pretensão.

- Vamos ficar aqui essa noite - me disse Naruto se aproximando de mim.

Escutamos o passo de pessoas apressadas correndo pela rua, rapidamente fui até o lampião e o apaguei.

Escutamos quando a voz grave e severa de um homem gritou algo, não entendíamos o que ele dizia. Em seguida ouvi a voz chorosa de uma mulher e um homem gritou algo num tom de desespero. Pelo pouco que ouvi deduzi que os soldados haviam encurralado no beco um casal.

Naruto apertou o revolver em sua mão e deu um passo à frente, instintivamente eu me agarrei em seu braço. Senti os músculos de Naruto se contraírem assim como sua hesitação em sair na rua para salvar o casal, mas eu não permiti que ele se movimentasse.

- Naruto, não! - sussurrei para ele.

Naruto não desviou seu olhar da porta do quarto, e eu fiquei apavorada com a possibilidade dele se revelar frente aos guardas. Eu segurei ainda mais forte em seu braço, minhas unhas se cravaram em sua carne.

- Naruto... - voltei a chamar por seu nome.

Um disparo e o grito da mulher ecoaram pelo beco sequencialmente, Naruto deu um passo a frente, eu joguei meu corpo na sua frente e coloquei minhas mãos em seu peito.

- Quer ser morto também? - sussurrei de forma severa.

Novamente um disparo, e dessa vez não houve grito somente a risada dos soldados. Meu corpo estremeceu e eu perdi a razão, Naruto passou seu braço por volta para minha cintura mantendo meu corpo em pé.

- Eu estou aqui - sussurrou ele em meu ouvido.

Com todas as minhas forças eu me agarrei ao pescoço de Naruto e chorei em silêncio.

Mesmo nunca tendo conhecido aquele casal que fora morto e nem tampouco visto seus rostos, o fantasma deles perseguiu-me em sonho durante muitos anos, e ainda hoje quando fecho meus olhos e penso neles e os posso escutar gritando... Eu jamais seria capaz de entender a guerra.

Ouvi o passo dos soldados se afastarem, Naruto colocou o revolver em cima do criado mudo e agora com a outra mão livre envolveu-me num abraço apertado. Delicadamente, ele tombou meu corpo para trás fazendo-me deitar na cama.

Eu havia nascido crescido no meio da Segunda Guerra Mundial, mas por morar nos Estados Unidos, a guerra para mim ficara longe demais. O único ataque que os Estados Unidos sofreu em seu território foi o ataque japonês a Pearl Harbor, e ainda assim Pearl Harbor ficava no Hawaii, longe demais para que eu pudesse sentir o medo de estar em meio a linha de ataque. No entanto, naquela noite eu pude experimentar os horrores da guerra.

Pessoas estavam sendo mortas na porta da casa onde nos abrigávamos. A presença de Naruto, deitado ao meu lado com seus protetores braços me envolvendo, me mantiveram viva e não permitiram que eu desabasse ante ao meu desespero por não poder fazer nada.

Enquanto estávamos ali deitados ouvimos o correr das pessoas no beco, e em seguida escutávamos disparos feitos por fuzis, revolveres e metralhadoras. Em muitos momentos eu senti Naruto afrouxar seu abraço disposto a ajudar as pessoas, e era quando isso acontecia que eu o apertava ainda mais forte. Talvez fosse egoísmo da minha parte, mas eu não podia admitir a idéia de perdê-lo, pelo menos não naquela noite... Eu não podia deixá-lo morrer sem ouvir uma centena de vezes mais que ele me amava.