— Deixa eu ver se eu entendi. – Charles começou a numerar nos dedos. – Primeiro você bebeu um drink de Dionísio...

— Sim. – confirmei com a cabeça.

— Depois se perdeu no Olimpo...

— Exatamente.

— E acordou no jardim, sozinha? – parecia meio surreal quando ele falava, mas torci para que fosse convincente.

— É, mais ou menos isso. – será que ele acreditaria naquela mentira? Bem, pelo menos era melhor do que dizer “Desculpe, não voltei para casa pois estava meio drogada. Ah, falando nisso, o Deus das corridas tirou minha virgindade. Legal, né?”

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Está sentindo alguma coisa, alguma dor...?

— Só estou com fome. Tem pizza aí? – fui em direção a geladeira.

— Pizza às 9h da manhã? – riu. – Onde estão os seus hábitos saudáveis?

— No lixo. – fiquei quase deprimida ao ver nada além de água. Iria apelar para a infantilidade. – Eu quero comer agora!

— Seu pedido é uma ordem, Vossa Majestade!

Como não havia muitas opções, meu café-da-manhã foi cereal. Com meus poderes de cura (sim, é muito bom ser uma filha de Apolo), consegui acabar com minha dor-de-cabeça. Mas ainda tinha algo me irritando, cutucando meu inconsciente.

Charles estava agindo como se nada tivesse acontecido. Tá, ele até podia ser tímido, mas isso era irritante! Era grosseria, e eu iria explodir se não falasse nada. E Afrodite disse que ele gostava de mim... Que modo doce de demonstrar (sinta o sarcasmo).

— Mas... Eu não entendi uma coisa. Você estava com um vestido... Ahn... Bem interessante ontem à noite. – pausa para ficar corado. Fofo, mas repetitivo. – E eu nunca te vi com essas roupas. O que aconteceu?

— Ahn... Hm... – vamos lá Emma, inventa uma desculpa! Rápido! – Eu me encontrei com Afrodite, e ela disse que meu vestido estava muito sujo, então me deu essa roupa.

Ele consentiu com a cabeça. Parece que Emma Brown não perdeu o tino para atuação, afinal. Voltei para o meu sótão, pensando em vestir uma camisa mais quentinha, e tomei um susto ao ver uma mulher loira sentada na minha cama.

Ah não, ela não...

— Querida! Finalmente você chegou! – tirou os óculos escuros. – Nós PRECISAMOS conversar.

— Não esperava vê-la tão cedo. – tentei disfarçar o meu susto.

— Ah, mas tem um motivo muito especial para eu ter aparecido, não é? – deu um sorrisinho malicioso. – E aí, como foi a sua primeira vez? Gostou?

— Você deve saber mais do que eu. Não lembro da noite passada.

— É verdade, me esqueci. – seu rosto murchou um pouco, mas logo se iluminou novamente. – Isso não é problema! Eu posso te contar!

— Nunca pensei que diria isso... – falei, me sentando ao seu lado. – Eu quero saber de todos os detalhes. Cada um deles.

E ela me contou. TUDO. Disse que Hermes havia sido um perfeito cavalheiro, e que eu tinha realmente chegado ao ápice (“Sabe como isso é raro? Você conseguiu isso na primeira vez!”). Minhas bochechas coraram a maior parte do tempo.

— Eu queria lembrar disso. – choraminguei. – Será que não tem uma poção, uma mágica... Nada?

— Não. – pareceu pensar por um momento. – Ah, espera aí! Talvez o meu marido tenha gravado as cenas para a TV Hefesto!

— O quê?! Para a TV Hefesto?! Mas isso quer dizer que todos viram isso?! – o pânico ficou claro em minha voz. Droga!

— Não, nada disso. Foi uma gravação em OFF, acho que você pode chamar assim. Só ele tem acesso às imagens, e duvido que meu querido esposo aquelas imagens para todo o Olimpo.

— Mas ele fez isso com você e Ares. – lembrei, tentando me controlar.

— É diferente! E foi há muito tempo atrás, já é passado! – jogou o longo cabelo para o lado e se levantou. – Vou ver o que posso fazer por você, querida. Agora, tenho que ir. Até logo!

E desapareceu numa nuvem de perfume francês.

.

Naquela noite, recebi uma encomenda da Deusa do amor. Dei sorte; não foi Hermes que fez a entrega. O pacote simplesmente apareceu no meio do meu sótão. Veio o CD e um DVD portátil. Agora era a hora da verdade.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Será que eu deveria ver aquilo?

Não pensei mais; de forma ríspida, joguei a caixa de lado e me deitei na cama. Eu não precisava daquilo para confundir mais meu coração. E naquele momento, mais do que nunca, eu percebi que teria que fazer uma escolha; o garoto de olhos bicolores ou o Deus insaciável?

.

— Vamos lá, seu preguiçoso. Dia de treinamento.

— Mas está frio lá fora! Já viu a neve? – Charles fez uma careta.

— Se continuarmos desse jeito, só vamos acabar esse treinamento daqui à uma década! Agora levanta desse sofá! – dei um tapa em seu braço.

— E o que arma vamos usar hoje? – sorri maliciosamente. Ah, se ele soubesse...

— Arco e flecha. Você é bom de mira? – eu sabia que não, mas era engraçado perguntar.

— Espera aí... Mas Apolo não é o Deus disso também? – o medo era perceptível na sua voz. Rá!

— É, por aí. Deixe de preguiça e venha comigo.

Tá, eu não ia falar isso pra ele, mas estava realmente congelante. Ainda bem que minhas luvas são grossas. Arrumei as placas com os alvos e dei um arco para ele. Pensei em deixar que conseguisse sozinho, mas e se acabasse acertando a cabeça de alguém?

— Os dois olhos abertos, viu? Ah, e abra as pernas... Assim. Isso. Agora, atire.

Nunca tive um aluno tão desastrado quanto ele. Não que eu tivesse muitos, mas era frustrante! Não chegou nem perto de acertar. Na verdade, posso jurar que vi uma flecha passar raspando em mim. Isso ia ser mais difícil do que pensei.

— Você está fazendo tudo errado! – gritei. – Vou te mostrar como se faz.

Peguei minha própria arma (dourada, feita especialmente para mim, uma graça!) e fui para o seu lado. Sem nenhuma dificuldade, acertei com precisão. Dez metros de distância não era nada para mim. Afinal, eu era uma filha de Apolo bem treinada (e linda, mas isso não vem ao caso).

— Sua vez. Mas... Deixa eu te ajudar.

Cheguei mais perto e ajeitei a sua posição. Levantei seus braços e arrumei seus dedos. Mas, de repente, percebi o quão próximos estávamos. Dava até para ouvir sua respiração. Senti um aperto no coração.

— Mantenha os olhos bem abertos, Charles. – murmurei na sua orelha. Sensual demais?

Por incrível que pareça, e graças aos Deuses, ele acertou bem no meio do alvo. Suspirei, aliviada. O garoto não era um caso perdido, afinal. Um sorriso involuntário apareceu no meu rosto, e não me dei ao trabalho de desfazer.

— Bom trabalho. – falei, finalmente saindo de perto dele. – Continuamos amanhã.

Fui saindo em direção a casa (eu já estava sentindo minhas mãos congelarem), mas uma mão me segurou. Charles tinha uma expressão indecifrável no rosto. E na velocidade de um raio, sem tropeçar (!), pegou meu rosto entre as mãos. Não falou nada, apenas grudou meus lábios aos seus.