No dia seguinte, de manhã bem cedo, fomos até o aeroporto. Ficamos jogando conversa fora até que o vôo foi anunciado. Levantamos das cadeiras e pouco tempo depois já estávamos no avião.

Brendon sentou do meu lado e Jon sentou ao lado de Spencer. Resolvi tentar dormir, mas não consegui.


– Ei, por que você está chorando?

– Eu não estou chorando

– Está sim. O que houve, Ry?

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– Nada

– Ninguém chora por nada. Me fale

– Eu não quero falar, Brendon. Me deixa dormir

– Ok...


Não sei o que aconteceu depois, porque dormi a viagem inteira. Acordei com Spencer me cutucando.


– Ryan, nós chegamos

– Não quero levantar

– Vamos logo


Spencer me puxou e saímos do avião. Brendon ligou para sua mãe, para que ela fosse nos buscar.

Já estávamos no carro. Eu estava encolhido num canto, de olhos fechados.


– Você está quieto, Ryan. Está tudo bem? – Grace perguntou

– Está, obrigado.

– Como foi a viagem?

– Não sei, eu dormi o caminho todo

– E ainda está com sono?

– Não, mas é bom fechar os olhos de vez em quando

– Concordo. Pronto, meninos, chegamos

– Legal


Retirei minhas malas e fui andando até minha casa. Me ofereceram ajuda, mas eu neguei.

No meio do caminho, tombei com um homem.


– Me desculpe

– Não tem problema


Eu estava bastante desconcentrado. Estava em um mundo distante. Minha visão estava embaçada.

Cheguei em casa e encontrei minha mãe, sentada em uma cadeira, encostada à mesa. Ela viu-me e levantou correndo para me abraçar.


– Ryan!

– Oi, mãe

– Como você está?

– Estou bem, e você?

– Bem, também. Você está com fome? Quer comer alguma coisa?

– Não, obrigado, eu vou para o meu quarto, colocar tudo no lugar. Qualquer coisa me chame

– Ok


Desci para o meu quarto e me deitei na cama. Encontrei nela um quadro que meu pai havia mandado fazer, com uma foto da banda escrito “Muito sucesso na vida. De seu pai”. Ele provavelmente queria fazer uma surpresa, mas morreu antes de poder mostrá-lo. Creio que minha mãe sabia, então pegou o quadro e colocou-o sobre minha cama. Restava-me a letra dele, pelo menos.

Encostei minha cabeça no quadro e senti meu telefone tocar. Era Spencer, e pela gritaria, provavelmente estava com Brendon e Jon.


– Oi, Spencer

– Hey! Eu estou aqui com o Jon e o Brendon e quero saber se você está afim de sair com nós

– Eu prefiro ficar por casa, Spencer, obrigado.


Desliguei o telefone e voltei a deitar minha cabeça no quadro. Um tempo depois, alguém resolveu incomodar, tocando a campainha. Alguém girou a maçaneta da minha porta e mostrou seu rosto.


– Pete?

– Oi, Ry

– O que você está fazendo aqui? – Perguntei, sentando na cama para dar espaço para Pete

– Vim fazer uma visita – Ele sorriu – Soube que o show foi ontem. Como foi?

– Foi legal, obrigado

– Você não parece muito animado. Aconteceu alguma coisa?

– Nada, é só um quadro que eu achei com a assinatura do meu pai

– Ah, Ryan, você não pode ficar triste por isso de novo

– Você quer que eu fique feliz?

– Não, eu só quero que você tente esquecer. Ninguém gosta de ver você assim, Ry. É devastador. Você quer fazer o quê?

– Eu não quero fazer nada.

– Ah, Ryan, vamos, vai ser divertido. Eu e você. O que acha?

– Ok... Onde?

– Hm, eu não sei. Vamos caminhar e ver o que encontramos.

– Está bem

– Não vai se arrumar?

– Eu não, dane-se o que as pessoas pensam de mim. Se elas pensarem que eu sou um mendigo, eu não estou nem aí

– Ok – Pete riu – Vamos, então

– Vamos


Saímos andando para qualquer lugar.


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– Tem alguém nos perseguindo – Sussurrei para Pete

– São fãs. Vamos acelerar o passo – Pete disse, virando os olhos para o lado para tentar enxergar alguma coisa.

Caminhamos mais rápido, quase correndo, mas os fãs também. Pete e eu sussurramos e decidimos que não era má ideia atendê-los, desde que eles não nos atacassem.

Tiramos fotos, demos autógrafos e até conversamos um pouco com os fãs. Eles agradeceram e foram embora.


– Eles são legais

– Quando não tentam te atacar e arrancar suas roupas

– Já aconteceu com você? – Perguntei, rindo

– Já. Acredite, não foi legal. É por isso que você tem que tomar cuidado. Desde aquele dia eu tento fugir dos fãs. Eu não confio mais em nenhum. Vai saber o que se passa naquelas cabecinhas minúsculas.


Eu ri.


– É...

– Hey, Pete, onde estamos indo exatamente?

– Vamos ali no parque.

– Legal


Entramos em um caminho com pedrinhas e flores que dava até o parque. Sentamos em um banco.


– Ei, vamos ali comprar um café?

– Vamos


Fomos à lanchonete e compramos dois copos médios de café. Depois, voltamos para o banco, onde batia sol. Ficamos conversando sobre algumas coisas, principalmente sobre os fãs e a banda.

Me deitei no banco, ao lado de Pete.


– Está com sono?

– Um pouco, e eu dormi a viagem inteira

– Então você está com bastante sono mesmo. Quer ir para casa?

– Não, eu já dormi demais. Estou bem, sério.

– Então ta. Como estão os outros?

– Estão bem. Ah, é, eu ia esquecendo de contar que arrumamos outro baixista

– Que rápido! Quem?

– Jon Walker

– Que ótimo, Ry! Ele é bom?

– Ainda não o escutamos

– Hm, ele é legal?

– Sim. Dude, aconteceu uma coisa muito estranha entre ele e o Spencer

– Que coisa?

– Eu e o Brendon saímos do quarto do hotel quando eles começaram uma guerra de travesseiros, e quando voltamos, o Spencer estava em cima do Jon

– Que estranho.

– Foi o que eu disse

– Pode ter sido só um acidente

– Hm, não sei não. Enfim, acho que já devemos ir

– É, vamos então.

Caminhamos durante pouco tempo. Ficamos conversando e rindo o tempo todo.


– Quer entrar? – Convidei

– Não, Ry, obrigado, eu já vou indo.

– Ok

– Amanhã eu te ligo

– Está bem, tchau.

– Tchau, e fique bem

– Você também.

– Quem era? – Minha mãe perguntou

– Pete

– Estava legal com ele?

– Sim, obrigado. Eu vou para o meu quarto.


Desci e fiquei pensando comigo mesmo: como Pete conseguia melhorar tudo? Era incrível como ele me fazia rir. Ele era um ótimo amigo.

Fiquei escutando música e depois toquei um pouco. Deitei e acabei adormecendo.

No dia seguinte, fui acordado por alguém que me cutucava. Abri os olhos e vi Jon em minha frente. Atrás dele estavam Spencer e Brendon, gritando e rindo. Jon virou-se para eles e disse que eu havia acordado, então Brendon jogou uma almofada na minha cara.


– Droga, Brendon.


Ele riu.


– Que palhaçada é essa?

– Só estávamos fazendo uma festinha para esperar você acordar

– Quem deixou vocês entrarem?

– Sua mãe

– Levanta, Ross

– Me deixem aqui, droga

– Hey, que quadro é esse?

– Larga isso, Spencer

– Não – Ele corria e ria

– Você vai quebrar, Spencer, pare com isso

– Eu quero ver

– Não é nada. Me dê o quadro

– Qual é o problema?

– O problema é que eu não quero que aconteça nada com ele. Agora me dá

– Nossa, Ryan, ta bom – Spencer me entregou o quadro

– O que faremos hoje?

– Nada

– Vamos sair, Ryan, curtir um pouco

– Aonde os bastardos querem ir?

– Tanto faz, vamos dar uma volta pela praça, sei lá.

– Eu vou me arrumar e já subo

– Ok


Coloquei a primeira roupa que encontrei no armário e a vesti. Pouco tempo depois, eu, Jon, Spencer e Brendon estávamos na rua, caminhando.

Brendon, Spencer e Jon tagarelavam e riam sobre alguma coisa que eu não consegui escutar.


– Tudo bem, Ryan? – Brendon perguntou, parecendo preocupado.


Senti minha visão embaçar, e de repente, tudo ficou preto.

Acordei em um lugar estranho. Olhei em volta e só vi Brendon, Jon, Spencer e uma mulher vestida de branco em minha frente.


– Oi

– O que eu estou fazendo aqui?

– Você desmaiou.

– Aposto que não comeu nada ontem. Que droga, Ryan, quantas vezes eu vou ter que falar para você se alimentar direito?

– Foi só um desmaio, Brendon

– Só um desmaio? Você fala como se fosse super normal uma pessoa cair no meio da rua e parar em um hospital. Se você não se cuidar, quem vai cuidar de você?

– Relaxa

– Relaxar? Você está tirando uma com a minha cara? Imagina se você desmaiasse enquanto estivesse atravessando a rua e um carro passasse por cima de você?

– Mas isso não aconteceu

– Mas podia ter acontecido

– Mas não aconteceu

– Mas podia

– Mas não...

– Oi – Fomos interrompidos por uma voz doce

– Pete? Você contou a ele, Brendon?

– Você achou mesmo que eu iria ficar calado?

– Você deveria ter ficado calado

– Não mesmo.

– Como você está?

– Ele está mal

– Eu estou bem, é o Brendon que fica fazendo drama

– Drama? Pete, ele não ingeriu absolutamente nada ontem. Nem água e nem comida.

– Ryan, o que você acha que vai ganhar fazendo isso? Você vai ficar fraco se continuar assim. Seus ossos vão ficar fracos e você vai se quebrar todinho


Pete sorriu e comecei a rir.


– Você sempre sabe como me fazer rir

– Mas isso não é brincadeira, Ryan. Eu vou começar a ir todos os dias na sua casa para ver se você está de alimentando direitinho.

– Você está liberado – A enfermeira falou


Saímos do quartinho do hospital e fomos para a rua novamente.


– Vamos para a casa do Ryan agora – Pete disse

– É, agora teremos que ficar monitorando ele.


Chegamos na minha casa e minha mãe perguntou se estava tudo bem. Eu respondi que sim, para evitar qualquer preocupação. Fomos até a cozinha e Pete preparou um sanduíche para mim, enquanto eu e os outros ficamos sentados nas cadeiras encostadas à mesa.


– Vou dar na sua boquinha, porque você não tem forças para pegar nada.

– Me dá o sanduíche logo, Pete, eu não sou tão fraco assim

– Pela quantidade que você come, devia ser.


Girei os olhos.


– Agora abra a boquinha, o aviãozinho essa passando. Zummm, zuum, zuum – Pete manobrava o sanduíche com a mão


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Afastei minha cabeça do sanduíche e comecei a rir.


– Me dê esse sanduíche logo, Pete

– Não, não, não, abra logo sua boca, Ryan.

– Ok...


Pete estendeu sua mão com o sanduíche e eu dei uma mordida nele.


– Está gostoso?

– Está

– Que bom. Eu já volto, alguém por favor dê comida na boca do Ryan.

– Eu dou – Brendon se ofereceu – Morde aí, Ryan


Comecei a rir.


– O que foi?

– Nada, eu só maliciei isso

– Que mente poluída, Ross

– Culpa sua

– Minha?

– Isso mesmo

– O que eu fiz?

– Tudo.

– Voltei – Pete disse, encostando sua mão em meu ombro


Eu sentia coisas estranhas quando Pete estava por perto. Eu pensava em várias possibilidades do que poderia ser. Não, não pode ser aquela possibilidade. Eu estava gostando de Pete? Não, não poderia ser verdade. Eu não queria que fosse verdade. E como tão rápido? Eu havia dado um tempo com Brendon há poucos dias.


– Legal

– Continua alimentando o Ryan aí, Brendon, porque eu não vou poder vir aqui todos os dias para fazer isso.

– Pode deixar

– Eu acho que já vou indo, vou deixar vocês.

– Você sabe que não incomoda

– Eu sei, mas eu preciso ir – Pete riu

– Ok, eu abro a porta

– Não. Você fica aí sentando comendo, eu sei onde fica a saída.

– Ok, então, até um dia desses

– Até. E vocês fiquem bem, quero assistir a um ensaio algum dia desses

– Ok, tchau.

– Brendon, deixa que eu como sozinho

– Não mesmo, você ouviu o que o Pete disse.

– Ok...

– Como está sua mãe?

– Ela me disse que está bem. Espero que seja verdade, e acho que é. Creio eu que foi mais difícil para mim superar do que para ela.

– Desculpe, Ryan, eu não devia ter tocado no assunto – Ele falou, ao perceber que eu estava engolindo o choro.

– Não, sem problemas. De verdade. Eu tenho que aceitar isso de uma vez.

– Eu sei, mas desculpe mesmo assim. Ei, Jon, não fique aí excluído

– Eu não sei o que falar

– Fala qualquer merda, cara, é o que nós sempre fazemos.


Nós rimos.


– Eu não sei mesmo o que falar

– Fale como foi trabalhar com o The Academy Is...

– Não foi bem um trabalhar, trabalhar mesmo, sabe?

– Sei

– Mas os caras são legais, e as viagens também foram. Eu sempre gostei de viajar, na verdade. E com eles fica melhor ainda.

– Legal. Agora você, Brendon, está muito calado, também

– Eu também não tenho o que falar

– Você é o Brendon, sempre tem alguma coisa para falar.

– Não desta vez. Na verdade, o que eu tenho para falar é: coma logo esse sanduíche, Ryan, você precisa. Não tente me enrolar, ok? Porque você não vai conseguir.

– É, Ryan, eu concordo com o Brendon.

– Ok, nossa, gente, que estresse de vocês

– Estresse nada, só queremos cuidar de você. Agora enfie esse sanduíche goela abaixo.