Isso não é nada vitoriano!

Episódio 04 - Perdida pelos corredores


Isso não é nada vitoriano!

Por Vontade do Abismo

Episódio 04

Perdida pelos corredores

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Amanda chegou em frente à mesa do quarteto e jogou seus longos cabelos loiros para trás, exibindo um ar esnobe antes de estreitar o seu olhar em direção as garotas.

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— Eu quero falar com vocês.

Anna e Lana entreolharam-se surpresas.

— Pode falar — avisou Anna.

— É o seguinte, novatas — A loira suspirou enquanto revirava os olhos —, neste colégio existem regras entre os alunos, vocês duas não podem simplesmente chegar e fazer o que quiser.

— Imagino se uma dessas regras é ficar encarando novos alunos a cada dois minutos... — murmurou Anna em um tom audível.

— Você não pode ir direto ao assunto? Não pretendemos desperdiçar todo o nosso intervalo com você — disse Lana, para depois sorver o Mupy pelo canudinho.

— Eu quero que saibam que o Cássio é meu, fiquem longe dele e poderão ter um ambiente de estudos saudável — ameaçou.

— Hmm... Mas ele parecia tão feliz em nos ver, não é mesmo, Lana-chan?

— Ohh, sim, ele até disse algo, o que foi mesmo?

— “Carne nova”.

— Isso! Parece que ele está enjoado das garotas antigas deste colégio, não é mesmo, Anna-chan?

— Calem a boca, vocês duas! — gritou a patricinha, cerrando os seus punhos em uma tentativa de conter-se, ou começaria a falar aos berros. — É bom vocês me obedecerem, eu tenho muita influência neste colégio, estou aqui há anos e vocês duas são apenas meras novatas.

Lana deu uma risada com o nariz e bateu a caixinha de Mupy na mesa, Anna olhou para a amiga e as duas soltaram uma leve risada, incrédulas com a personalidade presunçosa de Amanda. Era pior que a Ambre!

— Nós não temos medo de você — avisou Lana.

— Você não pode decidir com quem iremos conversar aqui, isso é ridículo — finalizou Anna, cruzando os seus braços.

O olhar da loira estava carregado de frustração e ódio. Ela estava acostumada com todos a obedecendo no colégio e não havia conseguido impor medo em duas alunas novas.

— Vocês foram avisadas.

Ela olhou-as por mais alguns instantes, antes de se dirigir, com passos pesados, à saída do refeitório.

— Garota maluca... — comentou Andy, exibindo um semblante assustado.

— Não vale a bolsa de marca que carrega — Alex disse seriamente, fazendo os demais rirem com aquele comentário.

— Como se o Cássio a notasse, vocês viram o modo como ele a trata? — Lana lembrou-se dos momentos na diretoria. — Parece nem pereber que ela existe.

— Agora nós sabemos o porquê — concluiu Anna.

O refeitório estava esvaziando devido ao horário, pois alguns alunos preferiam comprar um lanche na cantina e ir diretamente para o campus, para sentarem-se em algum dos bancos esteticamente posicionados pelo local. O colégio era enorme, portanto, os colegiais raramente ficavam concentrados em apenas um lugar.

O quarteto estava terminando de saborear seus lanches, ainda debochando da atitude de Amanda.

— Um brinde à mim, Amanda-sama, a rainha deste colégio! — exclamou Lana em um tom de gozação, levantando sua caixinha de Mupy e brindando com os demais.

— Cássio-senpai, por favor, me note! — disse Anna no mesmo tom, entrando na brincadeira. Porém, a garota estremeceu ao sentir uma mão tocar em seu ombro, quando enxergou a pessoa responsável por aquele toque, começou perguntar-se o porquê dela ter pisado fora de casa neste dia.

— Notada com sucesso — disse o ruivo com divertimento, exibindo o seu sorriso de canto jubiloso.

~~

Faltava quinze minutos para o encerramento das atividades naquele prédio, desta vez Lana e Anna assistiam aula na mesma classe, ou tentavam, pois seus olhos estavam pesados, afinal, não dormiram na noite passada.

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— Acorda, Anna-chan... — Lana sussurrou, bocejando logo em seguida enquanto cutucava a amiga que encontrava-se sentada na carteira ao lado.

— Não vejo a hora de ir embora — Ela bocejou —, faltam quantos minutos, Lana-chan?

— Apenas alguns minutos — sussurrou —, mas ainda temos a detenção, se esqueceu?

— Droga! — Ela acabou dizendo alto demais, atraindo a atenção do professor que lançou-lhe um olhar de advertência, ela esperou ele virar-se para o quadro negro e então voltou a conversar com Lana, sussurando baixinho: — Terei que encarar o Cássio, depois de tudo o que aconteceu hoje...

— Ele está tão na sua, Anna-chan — disse, rindo baixinho.

— Claro que não, ele deve estar rindo de mim com os amigos a essa hora!

— É lógico que não, Anna-chan — Ela sorriu animada —, com certeza ele está pensando na próxima desculpa que vai arrumar para poder ficar perto de você.

A conversa foi interrompida pelo sinal, que indicava o encerramento das aulas, fazendo os adolescentes se dispersarem pelo enorme campus de Sweet Sakura. Os alunos novos estavam muito animados, finalmente conheceriam os tão estimados clubes do colégio. Algo que as garotas não iriam fazer até a semana que vem, por causa da detenção. Perderiam a semana em que todos os clubes recebem calorosamente os alunos novos, explicando-lhes sobre as atividades alí realizadas.

Assim que chegaram em frente à porta da sala de detenção, Lana se deu conta de que havia esquecido seu celular na sala de aula e pediu para que Anna esperasse-a retornar com o aparelho.

Ela se dirigiu as pressas ao terceiro andar encontrando a sala com certa dificuldade. Por sorte, o aparelho ainda estava sob a mesa em que havia sentado. Após apanhá-lo, a garota desprovida de senso de direção encontrou-se perdida, os corredores eram muitos e todos bem semelhantes, ela sentia-se presa em um labirinto.

A colegial tentou traçar o caminho de volta para as escadas mas pareceu entrar em um corredor ainda mais afastado, com salas que não pareciam ser usadas pelo colégio. Ao notar isto ela começou a se dirigir para um outro corredor mas uma voz chamou a sua atenção.

Waiting for you

C’mon, I’m angry

C’mon, I’m sick

(Esperando por você

Venha logo, estou irritado

Venha logo, estou doente)

Parecia alguém tocando uma melodia calma em um violão enquanto cantava. Lana resolveu seguir o som que estava emanando de uma sala mais afastada, provavelmente ao fim do corredor. Ela foi até lá e percebeu que a porta estava entreaberta, sua curiosidade falou mais alto e a garota de longos cabelos pretos resolveu espiar quem era o dono daquela bela voz.

Ao olhar pelo vão da porta, pôde enxergar um rapaz sentado em uma mesa, de costas para a porta, com um violão preto em seu colo. A sala estava escura devido as cortinas totalmente fechadas mas a garota conseguiu perceber as mechas cinzas no cabelo do garoto, que continuava a cantar aquela música.

Stay with me tonight

I’m tired of being all alone

And this solitary moment

Makes me want to come back home

And I’m tired of being all... alone

(Fique comigo esta noite

Eu estou cansado de permanecer tão sozinho

E este momento solitário

Só me faz querer voltar para casa

E eu estou cansado de permanecer tão... sozinho)

“Só pode ser o Liliano...” — pensou ela, reconhecendo-o pelo cabelo e pela doce voz que só o rapaz possuia.

A voz do garoto era extremamente calma e aconchegante, além de realmente bela. O veterano realmente tinha talento para o canto.

Ele interrompeu a música para anotar algo em um pequeno caderno, o que indicava que estava compondo. Lana resolveu então sair daquele lugar antes que fosse percebida, não queria atrapalhar aquele momento.

Porém, ao dar meia volta, acabou encostando levemente na porta de madeira, o que foi o suficiente para fazer o material ranger alto, ecoando por aquela sala vazia.

— Tem alguém aí? — indagou o rapaz, sem nem ao menos virar o rosto em direção a entrada da sala, estava ocupado dando atenção ao seu bloco de notas.

— Err... Desculpe-me... — pediu envergonhada. — Eu não estava espiando você ou algo assim, eu estava procurando a saída do prédio e acabei me perdendo — explicou.

— Entendo.

O garoto agora estava concentrado em afinar o seu instrumento, tocando algumas notas aleatórias para ver o resultado.

— É uma boa música, foi você quem escreveu? — indagou com curiosidade.

O moreno com mechas cinzas em seus cabelos finalmente virou-se para fitar aquela intrusa, deixando seu violão de lado, sua atenção que até então era voltada ao instrumento foi desviada àquela garota de longos cabelos pretos.

— E ainda assim você disse que não estava espiando — disse o veterano, arqueando suas sobrancelhas.

— Mas eu não estava! Eu não pude evitar escutar, apenas isso... — Ela pode sentir suas bochechas ruborizarem, de certo modo estava espiando, mas não havia chegado alí com este propósito.

O garoto à sua frente apenas sorriu gentilmente.

— Estou brincando.

— Ufa...

— Obrigado pelo elogio — agradeceu ele. — Você é a primeira pessoa a ouvir esta música, talvez a única, pois penso que esse tipo de música não seja do agrado da banda.

— Não pretende mostrar a ninguém? — indagou entristecida, pensando em seguida: — “Mas é uma música tão bonita...”

— Bom, eu escrevo algumas canções apenas para meu bel-prazer — explicou, pois percebeu o notável interesse da garota por aquela música.

— Que sorte a minha ter tido a chance de escutar então. — Ela sorriu. — Então... Você é do clube de música, né? É o vocalista da banda do clube?

— Sim — respondeu ele a mais uma pergunta daquele interrogatório —, também sou o vice-presidente.

— Entendi...

— Qual é o seu nome?

Agora seria a sua vez de fazer as perguntas.

— Lana.

— O que faz nesta parte distante do prédio, Lana? Não sabe que é perigoso estar em um lugar tão afastado? — alertou-a, no mesmo tom calmo que utilizava habitualmente. — Estas salas não são usadas pelo colégio, como você já deve ter notado.

— Perigoso? — indagou sem entender o aviso, o que poderia acontecer de perigoso naquele colégio? Tirando Amanda resolver cumprir suas ameaças, é claro. — Como assim?

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— Algum rapaz desprovido de escrúpulos como Drake ou até mesmo Cássio, poderiam tentar agarrar-te.

— Você não me parece um rapaz desprovido de escrúpulos.

— As aparências podem facilmente enganar as pessoas, Lana — alertou. — Não confie em todos tão facilmente.

— Ah... Err... — A garota ficou surpresa, sem entender direito o que ele quis dizer com aquilo, porém decidiu mudar de assunto. — Eu não conheço esse Drake, porém se Cássio for um garoto ruivo, eu esbarrei com ele algumas vezes hoje de manhã, ou melhor, minha melhor amiga esbarrou, literalmente...

— Ele é meu amigo — revelou. — No entanto, eu não posso negar que Cássio não possui escrúpulos para com algumas coisas, ele não respeita as regras deste colégio.

— Eu pude perceber...

— Bom, ele está no clube de música também, é o guitarrista da banda. E falando nisso — O jovem levantou-se da mesa e começou a guardar seu violão em uma bolsa própria para o armanezamento do instrumento, colocando-o nas costas em seguida —, já deve estar no horário de início às atividades do clube, eu não posso estar ausente.

— Boa sorte com as atividades — desejou. — Eu tenho detenção...

— Logo no primeiro dia? — inquiriu, lembrando-se de como a diretora poderia ser severa, até mesmo com os novatos. — Vamos, eu te acompanho, Lana. Aliás, o meu nome é Liliano.

— Ah, eu já sabia...

— Como você sabia? — Ele arqueou as sobrancelhas, surpreso. — Você é uma... stalker?

Antes que Lana pudesse abrir a boca para negar, o som do interfone invadiu os ouvidos de ambos os estudantes.

Alunos de Sweet Sakura! Por favor, compareçam até o prédio C para a iniciação as atividades dos clubes.

— Vamos — disse o garoto, segurando o pulso da novata e arrastando-a pelos corredores.

Ela supreendeu-se com aquela atitude inusitada, no entanto, tratou de tentar acompanhar os longos passos de Liliano, com certa dificuldade.

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Anna estava cansada de tanto esperar sua amiga em frente à sala de detenção. No momento em que resolveu ir atrás dela, a professora responsável pela detenção, se aproximou e pediu para que a colegial entrasse na sala, seguida de Amanda e Letícia, que cochichavam alguma coisa, provavelmente a seu respeito.

Os gêmeos chegaram alguns instantes depois e sentaram-se perto da garota, indagando a ausência de Lana.

— Parece que temos dois alunos atrasados, não é mesmo? — disse a professora, após ajeitar seus óculos.

De acordo com o crachá da moça de cabelos tingidos de vermelho escuro, seu nome era Agatha. Ela não parecia ser brava como a diretora Margareth, pelo contrário, falava em um tom acolhedor com os alunos.

— Lana já... — Anna tossiu. — Lanabella já deve estar chegando, ela provavelmente se perdeu nos corredores do terceiro andar — explicou.

Amanda e Letícia soltaram um riso de deboche ao escutar aquilo.

— Ouviu isso, Amanda? Se perdeu — murmurou Letícia, rindo baixinho com a amiga até que receberam um olhar desaprovador da professora.

— Entendo, então iremos apenas aguardá-la — ditou. — Quanto a Cássio, penso que ele pretende cabular seus compromissos, mesmo eu tendo visto-o agora pouco no pátio e o alertado sobre isto... Bom, ele ainda deve estar lá. Qual é o seu nome, senhorita? — indagou, olhando para Anna.

— Annalisa.

— Senhorita Annalisa, poderia chamá-lo, por gentileza? — pediu. — Ele não deve estar longe, é um garoto ruivo.

Antes que Anna pudesse abrir a boca para responder àquele pedido, Amanda subtamente levantou-se de seu lugar.

— Deixa que eu vou, professora Agatha! – exclamou.

— Se a senhorita Annalisa não estiver de acordo em ir, pode sim, senhorita Amanda.

— Não vejo problema nenhum em ir, professora — disse Anna, olhando de soslaio para Amanda que lhe exibia um olhar carregado de fúria.

— Boa sorte trazendo-o para cá — desejou a professora Agatha. — A senhorita irá precisar.

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