Irmãos, Apenas Irmãos...

Capítulo 10 - Até parece que você se importa!!...


O corpo de Bernardo estava quase colado no meu. E o reflexo do seu cabelo bagunçado passava por cima de mim. Eu era baixinha e Bernardo era alto, isso me irritava. E por muito que eu me esticasse nunca alcançaria a medida dele. Bernardo se chegou ainda mais para mim, usei uma desculpa e me a afastei dele correndo para a geladeira, vi desapontamento em seus olhos.

_A Kate foi passar uns dias com a irmã, parece que a mãe está mal. – Bernardo me olhou, mais o desapontamento que via em seus olhos passou para um olhar diferente que transmitia agrado naquilo que acabou de ouvir. – ela disse que ligava durante a semana para ver como as coisas estavam e se a gente precisasse de alguma coisa que chamássemos o Senhor Evaristo. – completei minha frase remexendo num pacote de suco de laranja.

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_Ok! Se precisar de mim estou no meu quarto, é só gritar!

Vi ele correr pelas escadas a cima e uma porta bater com força. Fiquei olhando o copo que tinha na mão até ingerir aquele liquido cor de laranja que se mexia quando me movimentava.

Olhei para o relógio pendurado na parede branca da cozinha, já era tarde. Olhei a janela, a noite estava chegando. Fui até a sala e fiquei vendo televisão por um tempo. Passava “ Amor sem fronteira” já tinha visto aquele filme, porem era a única coisa interessante que dava na televisão. Quando o filme acabou fui andando até meu quarto. Bernardo ainda estava acordado. Se via ainda na fissura da porta luz. Também se ouvia barulho. Teclas de um computador batendo e uma musica de fundo.

Entrei no meu quarto e procurei no armário minha roupa de dormir. Vesti e me joguei na cama. O sono veio rápido.


Me deixa pelo amor de Deus, Não faça isso. Não, pare!! Porque está fazendo isso?? Esse não é você! Pare por favor. Eu não faço mais nada. Me deixa! Aaaahhhhhhhhhh.

Estava transpirando, meu corpo estava suado e minhas mãos escorregadias. Meu coração estava a mil e minha respiração estava descompassada. Meu cabelo estava todo bagunçado, joguei toda a roupa que me ainda cobria as pernas, posei minha cabeça para trás, enfiei meus dedos pelo cabelo da testa e o prendi com a mão segurando com força. Uma lágrima insistiu em escorrer por meu rosto. Ouvi passos e uma voz vinda do corredor, bateram na porta:

_Leonor, você está bem? – a voz de Bernardo se fez ouvir no silêncio da noite. Não dei bola e respirei fundo. – Está tudo bem, Leonor? – Bernardo voltou a perguntar. Notava em sua voz que estava preocupado, aflito e apreensivo.

_Me erra garoto. Me deixa em paz. – mal disse isso Bernardo entra no quarto. Virei o olhar para a janela de forma a esconder a minha cara inchada e meus olhos vermelhos das inúmeras gotas salgadas que agora escorriam por meus olhos. O que você quer? Não ouviu que eu quero estar sozinha? – Acho que Bernardo já tinha percebido que eu estava chorando, minha voz estava fraca e enquanto falei tive a necessidade de fungar.

_Ouvi seu grito no meu quarto e pensei que… - falei o impedindo de continuar.

_E desde quando você se preocupa comigo? Vá embora Bernardo. Me deixa estar um pouco sozinha. – falei fria e dura agora virando meu rosto para ele.

_Hei Leonor, você tá chorando? – acho que a sua preocupação aumentou, quando o encarei.

_Vá embora Bernardo! – gritei ainda mais alto. Ele não obedeceu, se mantendo ali como uma estátua.

_Não vou não. Em três semanas já deu para conhecer você e eu sei que você nunca choraria em minha frente. Só se for algo muito sério. – ele se aproximou e se sentou ao meu lado.

Limpei meu rosto e voltei a encarar-lo.

_Acho que já mandei você sair!

_Eu não vou sair daqui enquanto você não me falar o que aconteceu. Foi um sonho mau?

_O pior é que foi mesmo realidade… - falei baixinho quase que sussurrando.

_O que você disse? – acho que mesmo murmurando Bernardo conseguiu entender as palavra que saíram de minha boca.

_Não te interessa agora vai embora! – sem eu controlar uma lágrima percorreu meu rosto, desenhando uma linha perfeita em torno de meu nariz. Senti a mão quente de Bernardo tocar em meu rosto e limpar os vestígios deixados pela aquela lágrima. Fechei meus olhos e senti sua mão passar por meu rosto e deslizar até meus lábios.

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_Quando eu precisei você esteve lá para secar minhas lágrimas, porque não me deixa secar as tuas também? - Ele me falou baixinho, pondo uma mecha de meu longo cabelo atrás de minha orelha.

_Saudade de minha mãe! – falei tentando convence-lo.

_E… por acaso sua mãe faz você gritar durante a noite e acordar toda exaltada?

_Hei garoto, você é insuportável. – disse irritada mas ao mesmo tempo com vontade de rir.

_Eu sei. Mas vai me contar o que está passando com você?

_Até parece que se importa?

_ E me importo! Você acha que se eu não me importasse estaria aqui secando suas lágrimas, ou teria vindo correndo com o coração nas mãos assim que ouvi seu grito? – ele falou sincero.

_Tinha 15 anos, estava vindo de uma festa de anos. Já era tarde e não havia ninguém nas ruas. Tinha virado na esquina e percorria uma ruela fina e longa quando um carro começou abrandando e me seguiu por um bom tempo. Primeiro segurei a onda e continuei meu caminho, fazendo de conta que não tinha notado a sua perseguição. Quando pude e tentando não parecer que estava fugindo asselarei o passo. Um homem saiu de dentro do carro, me seguindo agora a pé enquanto outro continuou dirigindo seguindo os passos da gente. Ele se foi aproximando de mim cada vez mais, foi quando comecei a correr. Mas foi impossível conseguir fugir. Eles me agarraram á força apesar de todas as tentativas que fiz para me soltar das mãos deles. Me encostaram na parede e me beijaram, me fartei de gritar, de chamar, de chorar. Era impossível sair dali. O que me esperava eu já sabia. Me bateram e me insultaram. Vi sangue escorrer por meu braço. Me jogaram no chão e fizeram de mim bolinha de futebol, me chutando e me cuspindo. Me sentia uma inútil, não sentia minhas pernas e meu corpo começou a dar sinais de fraqueza. Foi quando comecei a ficar fora de mim, comecei a perder a consciência. Durante o decorrer de tudo, qualquer pensamento, qualquer ação que podesse ser tomada, não foi. O meu consciente já não tinha capacidade para raciocinar. Eu vi a minha vida a acabar ali. Eu me mentalizei que ia morrer no momento em que eu não consigo me mexer, em que não consigo correr, em que não consigo pensar. E quando eu perceciono as coisas que estão á minha volta e me apercebo que não ia conseguir escapar é quando tudo muda e eles conseguem o que querem. E houve uma altura em que não aguentei mais e me cansei de lutar e tive a consciência de que acabou ali… - fiz uma pausa e respirei fundo. Bernardo estava atento e surpreendido com a minha história. – Me deixaram na ruela escura e deserta. Eu estava tão fraca que a única certeza que eu tinha era que ia morrer. E a verdade é que tudo o que eles me fizeram não doeu, o que doeu foi aquilo que me passou pela cabeça, naquele momento. Várias perguntas pairavam por minha mente. Como é que eu vou olhar para a minha mãe? Como eu vou olhar para meu pai? Como é que eu vou olhar para as pessoas que amo? Será que algumas vez mais eu vou ver o sol? Será que eu vou sentir mais? O que é que vai acontecer? O que é que vem depois? E foi quando eu comecei a tentar arranjar uma forma de sair dali e quando percebi que não ia ser capaz é que me veio a calma por um lado, a tranquilidade e por outro lado uma tristeza profunda e uma saudade imediata de tudo aquilo que não vou viver, de tudo aquilo que no futuro podía fazer. Eu me imaginava uma pessoa já morta, que não conseguia gritar e que não sobreviveria, uma mera estuprada caída numa rua qualquer.

Acabei de falar e desviei meu olhar para o teto para esconder um lágrima que não tardava em sair de meu rosto, quando Bernardo…