Jungkook P.O.V

Deixo as luzes desligadas, apenas a penumbra desse dia nublado ilumina meu quarto. Essas luzes fortes irritam meus olhos já sensíveis de tanto chorar. As minhas coisas brutalmente arrumadas numa mala qualquer desabam sobre um canto. Desde que vim para casa, pouca coisa mudou. Tudo está arrumando do jeitinho que mamãe sempre faz, exceto as roupas de cama reviradas pela minha angústia.

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Ela ficou muito preocupada ao me ver chegar. A dor ao me ver estava estampada no meu rosto. Eu sei que sou um peso para todos à minha volta, meu estado medíocre só me lembra disso.

Apesar de todas as suas perguntas, só disse para não fazer mais perguntas e não reponder nenhum telefonema, e-mail ou o que mais o pessoal da empresa inventar. O que eu diria para ela? Que a minha (quase) namorada do nada se mudou para o Brasil com a nova namorada dela? Ela iria perguntar se eu estou usando drogas! Por só me concentrei na Big Hit e suas tentativas de me forçar a voltar para lá. Dessa vez, a minha decisão já foi feita: não volto mais.

Eu não faço isso pela Stella. Faço isso por mim. Stella foi só a primeira de tantas outras pessoas as quais o meu trabalho afastou. Não é isso que eu quero para minha vida.

Preso em meus próprios pensamentos, a voz da minha mãe me faz voltar à realidade, a esse quarto obscuro e sufocante.

— Jungkook! Uma colega sua da escola veio te visitar! Ela trouxe os deveres que você perdeu durante esses dias!

Colega da escola? Eu não sou particularmente próximo de ninguém. Ou seja, só pode ser...

— Ela disse que o nome dela é Hae Won!

Ah, droga! O pessoal da Big Hit já está começando a vir! E por que raios a minha mãe abriu?! Eu só quero ficar sozinho!

As vozes abaixam, então sou obrigado a abrir uma fresta da porta para poder continuar ouvindo. Destranco-a com cuidado para não fazer barulho e grudo o ouvindo (e o olho) no um centímetro que se abriu.

Lá está ela. Hae Won, ainda com o uniforme amarelo da escola. Na sua mão, uma sacola de papel cheia de cadernos e livros. Por mais que ela sorria o tempo todo cumprimentanto minha mãe, sei que não passa daquele sorrivo executivo de quem tem que obrigatoriamente ser educado. Mesmo que nós estejamos na mesma turma desde que ela entrou para a empresa, ela nunca trocou uma palavra comigo nem com a Stella. Hae Won só está aqui para passar mensagens dos superiores.

Melhor eu largar esses pensamentos bestas e me concentrar mais na conversa delas para eu saber com o que vou ter que lidar.

— Estou muito preocupada com o meu filho. Ontem ele chegou de repente chorando, se trancou no quarto e não responde deste então. Já tentei, mas não consigo conversar com ele de jeito nenhum, quem irá fazê-lo sair do quarto. Tive até medo de ele ter tentado suicídio, foram horas e horas de silêncio vindo daquela porta. Por favor! Me ajude! Ele não come, nem bebe! – Ela implora, com lágrimas quase brotando de seus olhos. – Por favor! Dói demais para uma mãe ver seu filho assim! Me ajude, por favor!

Desculpa, mãe. Eu sei que sou um filho horrível, medíocre. Não queria fazê-la ficar em situação tão contrangedora na frente de um desconhecido... Por que eu tenho que ser assim? Só consigo magoar todo mundo! Eu... eu não consigo repirar sem machucar quem amo. Eu quero desaparecer, mas minha morte só traria inutilmente mais dor. Que merda! Por que eu tenho que ser assim?! Por que tudo é complicado?! Queria nunca ter nascido!

— Tudo bem, ahjumma. Vou fazer o que puder, mas não sou tão próxima assim do seu filho.

— Não importa. Você é uma boa moça que veio aqui trazer o material dele. Por favor, só ajude esa mãe desesperada. Vou até sair para comprar algumas coisas. Não acho que o Jungkook vá falar alguma coisa se eu estiver por perto.

— Vou fazer meu máximo.

— Então já vou. Já sou uma mãe ruim o suficiente por não conseguir ajudar o meu filho nesse estado, não quero atrapalhar mais. – Então ela grita para mim, supondo que não escuto nada. – Jungkook! Estou indo fazer umas comprinhas! Vou trazer seu sorvete favorito! Enquanto isso, converse com sua colega! Ela é bem simpática!

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Desculpa, mãe.

Enquanto elas se despedem, tranco novamente a porta. Não quero vê-la. Não quero ver Hae Won.

Assim que ouço a porta da frente se fechando, passos seguem nessa direção e uma bolsa de papel é largada no chão com um estrondo.

— Jungkook? – Ela bate com delicadeza na porta.

Não respondo.

— Jungkook! – Seu tom se eleva um pouco.

Fico ainda mais quieto do que estava antes. Até mesmo o barulho da minha respiração eu controlo, mas parece que as batidas assustadoas do meu corção irão me denunciar.

— JUNGKOOK! – Ela esmurra a porta.

Por mais impossível que pareça, tenho medo de que a porta esfarele sob seus punhos.

— Não vai responder? Que seja! Eu sei que está aí. Você deve estar curioso do porque eu estar assim. Infelizmente para o seu ego, a empresa não me mandou para passar nenhum recado. É só que as suas faltas no colégio fizeram tanto alarde que a Big Hit não queria essa história se espalhasse. Várias garotas se ofereceram, mas foi por isso que eu vim.

“Então só vá embora!” penso, mas ela não ouve.

— Só que, quer saber? Vou falar tudo o que eu engoli esses meses, moleque metido. Você conseguiu me deixar com muita raiva dessa vez.

Sua voz é muito ríspida, quase corta a porta de madeira de tão afiada que é.

— Um chilique desses por dois dias? Desistir do seu “sonho” por causa de um auto-piedade? Sabe o quanto você me irrita? Tem toneladas de gente lá fora com muito mais talento que você! Sua técnica vocal tem muito a melhorar, sua dança é indiferente perto de outros do grupo, suas músicas são no mínimo medíocres! Maknae de ouro, que piada! Como você tem a coragem de agir desse jeito tendo tudo em suas mãos.

Ela continua cada vez mais alto, seus insusltros penetrando cada vez mais fundo na minha pele.

— Você sabe o que é se esforçar para algo? Alguma vez não teve dinheiro suficiente para a escola que você queria ir? Alguma vez já teve, por necessidade, não por arrogância, que pagar suas próprias contas com o suor do seu rosto? Ir cedo para a escola, trabalhar de tarde e fazer todos os deveres de madrugada? Esse é o meu sonho! Eu estou desistindo das festas, dos cinemas, dos shows, da minha adolescência pelo o que eu acredito, pelo meu sonho de ser compositora! É muito, muito difícil, mas vale a pena! Vai valer! Mas pessoas como você, que nascem com um tom minimamente bom, treinam duas horas por dia e estão lá no topo me irritam.Você só teve sorte! Teve todas as opurtunidades no seu colo! E ainda ousa reclamar?! Deixar tudo por um pé na bunda? Foi tão fácil para você conseguir e por isso que desiste tão facilmente?!

— E QUEM VOCÊ PENSA QUE É PARA FALAR ASSIM COMIGO?! – Abro a porta no impulso sem nem perceber. – Eu tenho milhares de fãs em todos os lugares do mundo! Sou o mais famoso dentro grupo! E você é quem?! Quem lembra o seu nome?

Olhando em seus olhos, percebo as lágrimas que ela não deixou tranpassar para a sua voz.

— Engraçado... – Esse sorriso de lado me tira a paciência. Como que consegui ter pena dessa criatura mesmo que por um segundo? - Você só lembra desses seus fãs em momentos como esses... E quando você fez as malas? Lembrou deles, por acaso?

— Eu só sei que sou um merda, mas você é ainda pior.

— Pior em quê? O que me faz diferente de você? Que desculpa você tem para finjir que não existo todos esses meses? É porque eu sou pobre? Porque eu trabalho na empresa? Porque eu não tenho fama? Você acha que sou inferior por isso? Eu sou o mesmo que você, um ser humano! Não é porque varro o chão que você tem o direito de me tratar assim, nem os seus colegas de equipe! O que você teria de melhor que todos nós? O que faria a sua tristeza mais profunda que o que já nós passamos? Você está tentando destruir o sonho de seis garotos que construíram sua fama cada gota de suor, cada noite de sono perdida.

— Quieta!

— Mas, não... Não, não, não... É claro que eu não estou pedindo para voltar. Você é só um garotinho fútil que esqueceu de crescer. O grupo não precisa de você, eles são muito mais que seu ego. Então desista! Vá embora! Destrua seu futuro, se prenda nesse quarto. Olhe a cada dia da sua vida esse rosto magro, esses olhos inchados, essa boca seca. Ponha um espelho no seu quarto só para isso. E então lembre de tudo o que você poderia ser e o que não foi. Viva com o peso de uma decisão precipitada e frívola nas costas até a sua morte. Talvez assim você perceba o que jogou fora. Porém, quando perceber, não volte. Nós não precisaremos mais de você.

“CALA A BOCA! EU NÃO QUERO, EU NÃO VOU DESISTIR! E NADA DISSO VAI ACONTECER!” Alguma vozinha grita das profundezas da minha mente.

Não, não... Foi só impressão.

Não se deixe levar por essas palavras. Vou ser feliz com as pessoas que gosto, como a minha mãe, o meu pai, o Jimin, o Taehyung... Não, não... Eles não estariam mais por perto. Mas quem precisa deles?

Eu.

Que coisa besta! Eu tenho outros grandes amigos, tipo... tipo...

Ninguém.

Mas eu posso fazer novos!

Só que vale a pena larga-los por essas ilusões?

O que eu estou pensando? Não tem mais como voltar atrás!

Fitando-me nos olhos, com lágrimas em seus olhos e um sorriso em sua boca, ela finaliza:

— Eu te odeio.

Mesmo que a sua voz tenha soado calma, ela perfura mais que uma faca. Consigo perceber toda raiva, repulsa, desgosto pela minha pessoa. Tudo o que também sinto, mas que me enfurece ouvir de outra pessoa.

Ela sai sem nem mesmo se despdir, pisando forte, batendo forte as portas, me deixando a fitar o vento. Não demora muito para as lágrimas voltarem aos meus olhos, aquelas que secaram depois de tantas horas chorando.

Pego a sacola e tranco a porta antes da minha mãe voltar. Ela não precisa me ver com esse rosto magro, esses olhos inchados, essa boca seca. Já basta eu mesmo ter que conviver comigo.

O pedaço de papel que não tive coragem de deixar para trás com número de celular da garotinha da Tailândia corta meu corção com seus dolorosos, porém inofensivos, cortes de papel.

Desculpa, Hae won, porém tem alguém que me odeia mais que você.

Esse alguém sou eu.