Capítulo 14

O colchão de Renesmee que já a conhecia muito pareceu conhecê-la ainda mais nesses últimos dias, ela quase não saia dele, e quando saía era porque estava cansada das reclamações de Rose. As lágrimas também, pareceram virar suas melhores amigas, pelo menos elas estavam lá com ela, sempre, quentes e molhadas, mesmo após dois dias elas ainda desciam com o mesmo vigor por seu rosto branco, que agora estava ainda mais pálida.

Jacob não saía de seus pensamentos por nem um segundo, isso só a feria mais por dentro, cavando mais fundo o buraco, nem quando dormia tinha algum descanso.

Na realidade ela pensava no que ele havia feito a ela, ninguém tinha ferido-a tão profundamente. Nos sonhos ela lembrava de sua primeira noite com ele e como havia se entregado tão fácil de corpo e alma para ele. Mas como ela poderia imaginar que isso iria acomtecer? De qualquer jeito ela não conseguia deixar de se sentir uma tola por tem confiado tanto em alguém assim.

O sentimento predominante era a mágoa, ela já deveria imaginar, um Imprinting não deve ser suficiente para manter uma relação estável, afinal, Jacob só estava com ela por alguma mandinga louca do destino, não era como se fosse a escolha dele de fato, ela sempre pensou isso desde que se apaixonou perdidamente e só desejava que Jacob a amasse da mesma forma, no final viu que não era isso o que acontecia.

Ele tinha usado-a, assim como ele havia usado Melissa e apenas Deus sabia quantas outras mais.

Os sonhos vinham castigá-la. Ela ainda poderia sentir o cheiro dele nela, correndo como o sangue suas veias e se ela fechasse os olhos sem nem mesmo o mínimo de esforço ainda poderia experimentar da fraca sensação que era ter o corpo quente e reconfortante de Jacob em cima do seu.

Formou o corpo em uma bola, tentando tapar o vazio que sentia de dentro de si. Ela queria voltar a se sentir como ela a mesma, voltar a sentir as coisas com intensidade e amar as mesmas coisas que sempre amou a vida inteira, voltar a sentir alguma coisa, qualquer coisa, porque nada era pior do que a sensação de se sentir oca, o vazio de se sentir usada.

O celular tocou, pela décima segunda vez só naquele dia, que ainda estava pela manhã, ela havia contado, apesar de não atender a nenhuma das ligações. Olhou para o display mais confirmar aquilo que já sabia, era Jacob, ele havia desistido de tentar o telefone de casa a um dia.

Dentro dela sentiu crescer uma sensação de felicidade insana, percorrendo cada nervo. Insana porque ela ainda se importava se o cara que havia traído-a e dilacerado-a ainda ligava pra ela, ainda pensava nela.

Talvez fosse carência, talvez fosse obsessão, talvez fosse dor ou talvez qualquer coisa doentil que só crescia dentro dela, mas só ela sabia que bem fazia ver o nome de Jacob no seu celular, sentir alguma coisa, alguma sensação tomar conta de seu corpo.

Lutou contra a vontade de atendê-lo e o colocou na cabeceira, se acostumando a melodia que não parava de tocar, ela gostava disso. O deixou tocar e vibrar o tempo que fosse necessário, ela não iria atender. Apesar de tudo ainda possuía seu orgulho, pelo menos isso.

Jacob em casa estava louco. Desde o incidente havia tentado falar com Renesmee de todas as maneiras possíveis, nada. Até ir na casa dela e enfrentar Edward e Rosalie - que estavam feroses - ele havia feito, de novo não havia dado em nada. E agora ela não atendia aos telefonemas, as ligações, ou ao menos aparecia na janela do quarto.

Ele esperava que ela estivesse bem, pelo menos isso. Ele não estava mas com isso ele poderia sobreviver, o contrário não, não aguentaria e nem se perdoaria nunca se sua garota estivesse sofrendo.

Ele ouviu os passos e Melissa entrou em seu quarto sem cerimônias, Jacob estava começando a odiar aquilo. Era irônico como Renesmee fugia dele assim como ele fugia de Mell, não conseguiu por muito tempo.

Ela rapidamente deitou-se a seu lado na cama, Jacob estava cansado, o telefone que não saía mais de suas mãos ao seu lado.

Levantou-se da cama com um suspiro deixando Melissa chocada e sozinha na mesma. Andou até a sala e sentou-se no sofá, sem nem olhar para seu rosto, querendo algum descanso.

- O que está acontecendo?

A voz vinha de trás dele.

- Eu que te pergunto Melissa, o que você pensou que iria acontecer afinal? - Soltou o som pela boca cansado.

- Eu entendo que você esteja triste mas já deu né Jacob? Ela não vale isso tudo.

- Você não entende. - Ele disse contrariado, balançando a cabeça em negativa. - Como você poderia também não é?

- Eu só acho que você está desperdiçando tempo e sofrimento por algo que não vale a pena Jacob. Ela é uma sanguessuga, ela nunca vai te fazer feliz, não como eu faço.

- Então por que será que agora estou me sentindo um verme por tudo que fiz a ela?

- Peso na consciência provavelmente, isso vai passar Jake, eu ajudo você com isso.

Sua boca foi até a sua nuca, quente e decidida enquanto seu braços caíam dos ombros de Jacob até o seu peitoral, alisando-o, tentando prendê-lo ali.

Jacob foi mais rápido, levantou do sofá assim que sentiu o contado. Ele balançou a cabeça, o estômago embrulhou, agora ficar perto de Melissa o deixava com mais nojo de si mesmo, era um martírio.

- Não. - Ele disse convicto.

Melissa levantou, saindo de trás do sofá e andando em direção a ele com o mesmo rebolado de sempre. Jacob estendeu o braço, empedindo-a de dar mais um passo sequer.

- Eu estou me sentindo assim porque eu a amo e sei que não há como ser feliz longe dela. - Seus olhos brilhavam quando ele falava, de devoção. - Por favor Melissa vai embora, em consideração ao seu primo.

- Você está me dispensando?

Seu rosto se transformou, sua expressão ficou dura e assassina e os seus olhos brilharam mais pela água presente neles, de raiva.

- Pela milésima vez, sim. E dessa vez é definitivo.

Seus braços se entrelaçaram na frente do peito e ela olhou para Jacob com puro ódio, caminhou até a porta, voltando-se para Jacob apenas para dizer:

- Você vai se arrepender disso Jacob Black.

Bateu o pé firme e com convicção. Jacob sabia que Melissa morreria de raiva mas depois passaria, pelo menos sempre passava.

Sentou-se de novo no sofá e voltou a sua sina, tentar falar com Renesmee.

Em casa Renesmee ainda possuía o corpo deitado na cama, a sensação de letargia tomou conta de si assim que o celular insistente parou de tocar, essa era a hora favorita dela no dia inteiro, Jacob tentando desesperadamente falar consigo. Era como se, de alguma forma, ela tivesse certeza de que ele ainda tinha sentimentos por ela.

Decidiu se levantar e comer alguma coisa, daqui a pouco Rosalie provavelmente estaria gritando com ela novamente por não estar se alimentando e como deveria nos últimos dias e ela novamente ignoraria Rosalie que reclamaria ainda mais, ela não queria aquilo.

Seus pés sentiram a sensação do piso gelado contra seus pés, era estranho, Renesmee estava acustumada com o quente das cobertas e da cama e antes do quente dele. Balançou a cabeça tentando arrancar as lembraças de lá, estava cansada de lembrar de Jacob a cada ato que realizava.

Assim que colocou o corpo para fora do quarto pode ouvir a conversa que acontecia no andar debaixo, a família inteira reunida falava sobre alguma coisa.

Tomou o devido cuidado para que não fizesse barulhos, queria escutar o que acontecia, queria parar de parecer tão alheia como estava agora.

- Não podemos pedir para ela uma coisa dessas. - Dizia Rosalie, a voz afetada de aflição.

- E por que não? Provavelmente vai ser melhor para ela ficar um tempo longe, colocar a cabeça no lugar e se ela quiser voltar depois, nós voltaremos. - Emmett disse.

- Não podemos colocar a sua vontade de ir a França na frente do bem de Renesmee, Emmett. - Repreendeu Esme.

- Mas eu não estou fazendo isso. - Emmett disse transtornado. - Quer dizer, é óbvio que eu quero ir a França mas quero o bem dela acima de tudo e eu realmente acho que ela vai ficar melhor com um tempo para pensar. O que ela acha sobre isso Edward?

- Ela não pensou um só minuto em ir embora de Forks. - Disse.

- Viu! - Exclamou a voz de sinos de Alice.

- Nesse estado de entorpecência ela não pode continuar. - Foi a vez de Jasper. - Não acho que a França vá fazer mal a ela.

- Só não concordo em tirarmos dela a escolha, não somos nós quem devemos resolver isso. - Disse Rosalie.

- Rose está certa. - Foi a vez de Carlisle se pronunciar. - Nós podemos conversar com a Nessie mas será ela a decidir o que faremos.

Pelo silêncio Renesmee pode constatar que todos haviam concordado com Carlisle, então foi a hora dela começar a colocar tudo na balança.

Em primeiro lugar havia vindo para Forks para conhecer seu avô, antes que ele morresse, ainda doía lembrar de Charlie, havia sido um pedido de sua mãe antes de morrer.

Depois havia continuado por um único e exclusivo motivo: Jacob Black. Mas quando esse motivo havia te traído e virado as costas para você o mais racional a se fazer seria se afastar e evitar que acontecesse novamente. Renesmee sabia que deveria, cortar tudo que ainda a ligava naquele lugar, cortar a ligação mística que tinha com Jacob, que no final não havia mudado muita coisa. Mas só de pensar nessas posibilidades sentia seu corpo mergulhar num sentimento de vazio ainda maior que do que já se encontrava.

Ela já deveria ter considerado a opção de sair de Forks, qualquer pessoa consideraria, mas ela não. Talvez fosse o lugar, talvez fosse o clima frio que ela gostava, talvez fosse o cheiro de floresta que preenchia em toda a cidade, era um cheiro que não existia parecido em nenhum outro lugar, talvez fossem os amigos, os primeiros amigos que ela havia conseguido verdadeiramente em toda a sua vida. Em La Push ela não precisava mentir, aparentar ser uma coisa que ela não era, ela se sentia aceita, ela se sentia bem lá como em nenhum outro lugar e em algum lugar dentro dela ainda havia uma esperança, uma certeza louca de que tudo iria se acertar.

Junto com o sorriso que cresceu em seu rosto ao lembrar de todas as coisas boas de Forks sentiu o pesar crescer também, ninguém admitiria e nem nunca jogaria na cara dela mas tomar cuidado ao sair e todas essas coisas para ninguém da cidade vê-los era cansativo, até mesmo para vampiros. Ela estava fazendo a família se sacrificar por ela, mesmo sem nenhum deles ter nunca reclamado. Carlisle tinha que trabalhar longe e praticamente viajar todos os dias para tal fetíl e o resto da família não fazia nada nesse instante e ela sabia que o motivo era ela, não era justo com eles.

Se sentiu egoísta, apesar de não obrigar ninguém a permanecer ali a família continuava unida e no final eram eles que estavam ao seu lado, dando suporte. Mesmo balanceando tudo isso ainda tinha um fator chave, que ainda mudava tudo aquilo, era Jacob, ela não conseguia se desapegar e apesar de serem apenas dois dias ela sentia que não poderia viver sem ele, era como se fosse viver sem uma parte dela mesma e ela sabia, com toda a certeza que tinha no mundo que se Jacob precisasse ela estaria lá.

Talvez esse fosse o grande problema, o amor doentil, que talvez, nunca devesse ter acontecido, ela teria que enterrar tudo, deixar tudo para trás e ela queria se forçar a acreditar que um dia conseguiria tal feito.

Sabia que Edward já sabia que ela estava ali e que havia ouvido tudo o que ela havia pensado. Provavelmente Jasper também sabia que ela estava ali, talvez até toda a família mas ninguém havia falado nada.

Ela caminhou firme, a certeza que crescia dentro dela tornava o seu pisar forte. Desceu as escadas e olhou para todos de sua família.

Decidiu com convicção o que faria, não iria se arrepender e não iria olhar para trás.

- Nós vamos para Paris. - Ela disse.