Voldemort tinha escutado a profecia.

Dianella nunca viu o seu pai tão aterrorizado em todos aqueles anos. Ele confidenciou somente a ela o que tinha escutado, temendo que seus seguidores o abandonassem de novo.

Ele marcou Harry Potter como igual.

O garoto tinha um poder que ele desconhecia.

Toda a profecia era bem ambígua, mas em que mundo que Harry Potter poderia vencê-lo? Ele tinha seis horcruxes, seis pedaços de alma fragmentados e bem escondidos.

Sim, ele confiou todos os segredos a ela, pois sabia que ela não o trairia.

Não aquele que a tirou daquele orfanato.

Aquele que não a tratou como se fosse uma aberração.

Ele lhe deu uma varinha.

Mostrou que o mundo era deles e que ela poderia se vingar de cada um que lhe fez mal, assim como ele o fez com a sua família trouxa. E ela se vingou.

Ele expurgou esse passado de si e adquiriu um novo nome.

Bellatrix tinha sugerido alguns nomes para que ela fizesse o mesmo, como Delphine, mas uma parte dela não queria fazer isso. Queria manter aquele nome apenas para lembrar-se de tudo o que passou, em vez de fugir de seu passado.

E foi assim que começou toda a história dos universos paralelos.

O Lorde das Trevas estava procurando por algum universo em que ele tivesse vencido Harry Potter, ou em algum universo em que a batalha entre eles já havia acontecido para saber quem venceria e como. Para entender que tipo de poder aquele garoto de 15 anos poderia ter para derrotá-lo.

Dianella na maior parte do tempo o ajudava, na outra parte ela aprendia a controlar o obscurus que vivia dentro de si. Ela não queria livrar-se daquilo, era o que a tornava diferente, especial. Por isso, só aprendia o básico de canalização da magia, pois temia que se aprendesse demais o obscurus desapareceria e ela se tornaria uma bruxa como qualquer outra.

Então, uma noite, o portal ficou instável.

E foi assim que Dianella foi parar em outro universo junto com outras quatro garotas.

Foi difícil conseguir a confiança do Voldemort daquele universo, isso já era de se esperar, mas as suas memórias não a permitiam enganar. Viu como o bruxo ficou extasiado com a perspectiva de outros universos.

Talvez ela fosse a chave para que os Lordes das Trevas de todos aqueles universos se encontrassem e derrotassem os meninos que sobreviveram?

Amber pensou que teve um sonho muito estranho naquela noite.

Mas, quando acordou em um quarto diferente do dormitório feminino da escola, percebeu que era tudo verdade.

Ela estava em um universo paralelo.

Sentia saudades de casa. Tudo seria tão melhor se Sarah estivesse com ela. Geralmente eram as duas enfrentando o mundo, como sempre tinha sido, mesmo que elas não cometessem loucuras como as que Harry cometia em Hogwarts.

— Amber? Está acordada?

Sirius tinha dado a sugestão que duas dividissem quarto, mas no final elas decidiram ficar as quatro no mesmo quarto, pelo menos ocupavam menos espaço.

— Estou — sussurrou de volta, olhando para a beliche ao lado.

— Eu já entendi que a outra Astoria é diferente de mim, mas... — ela hesitou — O que aconteceu com ela no meu universo? Já que eu não sou ela.

— Dumbledore não disse nada sobre o Harry ter uma irmã aqui — comentou Amber.

— Bom, a irmã dele nasceu natimorta nesse universo — Jilian intrometeu-se na conversa, assustando-as — Desculpem-me.

— Talvez seja a mesma coisa com a Astoria do seu universo. Talvez ela tenha morrido — ela deu de ombros.

— Ele me deu o nome da filha morta dele? — perguntou a morena.

Jilian sabia o que a estava incomodando.

Tinha entrado em um estado de crise existencial, em que não sabia se o seu pai realmente a amava, já que sempre teve uma péssima relação com suas outras parentes.

Se a amava, a amava como ela era?

Ou só porque ela foi a substituição da sua filha morta?

Ele fingia que ela era aquela Astoria, que eram a mesma pessoa?

— Por que cada uma de nós tem um nome diferente? — Scarlet entrou na conversa.

Estavam todas acordadas.

— Porque Lily e James Potter decidiram em cada universo dar um nome diferente — Amber disse, sem querer complicar as dúvidas de cada uma delas.

Todo aquele assunto era muito complexo.

— Pense assim, se você for concebida uma hora depois do que em outro universo, você já é uma pessoa diferente — continuou — Tipo, todas nós somos diferentes em genes. Se fosse assim, seríamos todas ruivas de olhos verdes.

— Ou morenas de olhos verdes — retrucou Astoria.

— Por que os meus olhos são azuis? — perguntou Scarlet.

— Vai ver você é metamorfomaga — implicou Jilian.

— Isso seria um sonho — suspirou a Greengrass.

Ainda estavam pensando sobre que tipo de habilidade especial ela poderia ter, porque era óbvio que ela teria uma.

— A vovó tinha olhos azuis — comentou Amber.

De todas ali, ela parecia a que sabia mais sobre os seus pais, até mais do que Jilian.

— Será que em algum universo longe daqui eles estão vivos? — perguntou Scarlet.

Preferia não pensar nesse assunto.

Jogou o seu edredom para o lado, sentando-se e jogando as suas pernas para fora da cama.

— Talvez você seja vidente? — ela sugeriu a Astoria.

— Eu sonhava durante a noite coisas que aconteciam no dia seguinte — ela respondeu —, mas isso não acontece desde que eu era criança.

— Eu a declaro vidente! — Scarlet exclamou, apontando o dedo para ela — Caso encerrado! Onde você vai?

Amber pôs o casaco.

Os adultos tinham prometido que iriam conseguir algumas roupas emprestadas para elas, mas tiveram que dormir com seus uniformes outra vez.

Como sentiam falta de suas coisas...

— Ver se tem alguma novidade — ela deu de ombros.

A casa estava silenciosa e escura, dando a sensação de abandono.

Ela encontrou o caminho para a cozinha, que ficava abaixo de algumas escadas, o que era bem estranho. Era quase uma cozinha-porão. Supunha que os Black não costumavam fazer suas refeições ali embaixo tendo uma sala de jantar no andar de cima, mas era o que a Ordem fazia.

— Essas mestiças imundas...

Assustou-se com o resmungo de um elfo narigudo e mal humorado, que caminhava pela cozinha segurando alguns quadros e joias em suas mãos.

— Kreacher! — Sirius apareceu na porta — Não adianta tentar esconder...

Ele parou ao notá-la ali.

Não parecia preparado para lidar com alguma das garotas tão cedo.

— Bom dia — Amber disse, tentando agir naturalmente.

— Dia — ele murmurou, desviando os olhos dela.

Observou silenciosamente Sirius entrar na cozinha e caminhar para onde estavam os armários.

— Está com fome? — ele perguntou.

Ela pensou que muito provavelmente Scarlet estaria, parece a mais esfomeada delas.

— Não, nós só acordamos e eu pensei que talvez tivesse alguma novidade que não soubéssemos — ela respondeu.

— Dumbledore só chega mais tarde, mas acho difícil que tenham encontrado a garota — Sirius disse.

Pensou que talvez deveria voltar para o quarto quando Astoria apareceu.

— Perdi alguma coisa? — Amber perguntou a ela.

— Não estou acostumada com interações tão humanas — ela retrucou, dando um sorriso forçado.

— Você se acostuma. A minha melhor amiga, Sarah, tem tanta sensibilidade e filtro quanto a Scarlet.

— Ela parece uma versão feminina de Rony Weasley. Assustador.

Ela fingiu um estremecimento, fazendo a outra dar uma leve risada.

— Como você vai lidar quando voltar ao seu universo? — Amber puxou o assunto.

— Eu sei lá — Astoria respondeu — Nem sei se Dumbledore vai tipo apagar as nossas memórias.

— Por que ele faria isso?

— Não acha que o conhecimento de outros universos nas mãos de Você-Sabe-Quem seria um perigo?

Ela tinha um ponto.

Jilian parecia a única que não se preocupava em dizer o nome do bruxo.

— Como será que ela é? — perguntou Amber — A outra.

— Bom, ela é uma obscurial, você pode ter uma ideia a partir daí.

Notou que Sirius estava mexendo nos armários talvez apenas para evitá-las.

— Eu sinto que nós poderíamos ajudar — ela murmurou para a outra.

— Só se a Jilian puder fazer legilimência à distância — retrucou Astoria — Ou a Scarlet puder pensar "Ei, eu quero aparatar exatamente onde a outra garota que nem sabemos o nome está".

— Talvez elas possam — deu de ombros.

O assunto não continuou.

Escutaram passos descendo as escadas e como sabiam que eram as únicas na casa, eram Scarlet e Jilian.

— Vocês nos abandonaram na melhor parte da conversa — reclamou Scarlet.

Astoria limpou a garganta e então indicou Sirius com a cabeça.

Seja lá o que ela fosse falar, era considerado constrangedor pela sonserina.

— Kreacher.

O elfo aparatou na cozinha, resmungando como estava mais cedo.

— Faça algo para comermos — Sirius indicou a ele e as garotas.

— Minha mãe sempre quis ter um elfo doméstico — Scarlet comentou —, mas só temos um ghoul no sótão.

— Acreditem, esse elfo vocês não iam querer.

Jilian olhou um pouco repreensora para ele pelo modo como tratava Kreacher, mas Amber podia entender. Aquele elfo era uma lembrança da infância que passou. Toda aquela casa era uma lembrança daquilo.

— Dumbledore te mantém preso aqui? — ela perguntou a ele.

— Eu não sei no universo de vocês, mas aqui eu sou um prisioneiro foragido — Sirius respondeu em um tom amargo.

— Ah, você é — Scarlet comentou como se não fosse nada.

— Mas talvez isso mude em outro universo — Amber acrescentou rapidamente, tentando animá-lo —, ou daqui a alguns anos mesmo. Somos todas de 1995.

— Será que todos os universos seguem a mesma linha temporal? — perguntou Astoria, interessada no assunto.

— Acho que temos uma futura inominável aqui — provocou Scarlet.

— Por favor, não mexa com os universos — pediu Jilian — Já somos a prova de que isso não dá certo.

— Será que foi a outra garota?

Kreacher chegou com o café de manhã, que todos comeram em silêncio.

— Seja o que ela tenha vindo fazer aqui, não pode ser coisa boa — concluiu Amber.

Elas não tinham muito o que fazer enquanto esperavam por instruções de Dumbledore. Estavam tão presas àquela casa quanto Sirius, embora não fossem ser arrastadas para Azkaban assim que pisassem fora de casa.

Jilian decidiu contar tudo o que sabia sobre James e Lily para Astoria e Scarlet, que eram as leigas do assunto, com o apoio de Amber.

— Bom, a minha madrinha não foi Marlene — ela apontou essa diferença em seu universo — Foi Alice.

— É que a minha... Bom, a nossa mãe considerou que Sirius e Marlene eram irresponsáveis, e Remus e Alice eram responsáveis. Então em vez de fazer Sirius e Marlene serem padrinhos do Harry, ela fez a Marlene ser minha madrinha e Alice a dele — explicou Amber — Caso alguma coisa acontecesse a um deles.

— Se parar para pensar, foi uma decisão bem racional — opinou Astoria.

— Sim, a ideia do fiel do segredo também era racional — comentou Jilian, amarga — Se tivessem escolhido outra pessoa que não fosse Pettigrew.

— Parece então que Dumbledore gosta de se intrometer na nossa vida — Scarlet mudou de assunto, indicando a Amber e a ela — Ele me pôs no orfanato, quis que eu voltasse...

— Talvez ele tenha algo a ver com meu pai dizer que eu não deveria contar a verdade a Harry porque ele poderia se assustar e tal — Jilian refletiu.

— Se seguir essa linha de raciocínio, a carta que me acompanhou não era da minha mãe, era de Dumbledore — concluiu Astoria — Talvez ele tenha escolhido o meu pai porque a Astoria morreu... Qual será o meu nome de verdade?

As outras a olharam sem saber o que responder.

— Algum nome de flor talvez? — sugeriu Amber.

— Eu não tenho nome de flor — Jilian pronunciou-se.

— Talvez tenham me chamado de Scarlet por causa do meu cabelo. Sabe, ruiva, escarlate.

— Ou algum nome de família — Amber voltou a sugerir — Harry foi uma homenagem a Henry Potter, o nosso bisavô.

— Até porque Fleamont Potter, o menino que sobreviveu, não seria um nome muito moderno — brincou Astoria.

— Os únicos nomes femininos que eu me lembro da família são Dorea e Iolanthe — disse Jilian, pensativa — Isso se não considerarmos do lado materno da família, que não sabemos.

Amber sabia que o nome da avó materna tinha sido Amaryllis, como a flor. Por isso imaginava que era uma tradição familiar, já que sua mãe, sua tia e sua avó tinham nomes florais.

— Talvez eles não quisessem pôr uma homenagem — Scarlet deu de ombros.

— Se fosse uma homenagem, talvez fosse Joan — ela disse — Era o segundo nome da nossa mãe. Lily Joan Evans.

— Ou quem sabe algum nome com "H" pra combinar com Harry — disse Astoria — Alguns pais têm essa mania com gêmeos.

Era um bom palpite.

— Holly e Heather são nomes de flores — comentou Jilian.

— São nomes modernos e bonitos — concordou Scarlet — Caso encerrado.

Astoria gostava.

Holly Potter.

Heather Potter.

— Vai mudar de nome? — Amber perguntou a ela — Ou procurar saber sobre isso?

— Eu deveria conversar com meu pai primeiro — respondeu — Não me sinto confortável usando o nome de uma pessoa que não sou eu.

Elas não conseguiriam entendê-la nem se quisessem.

— Do que estavam falando mais cedo quando eu saí?

Astoria quis socar Amber por trazer aquele assunto à tona.

— Sobre garotos — respondeu Scarlet — Ou garotas, eu não tenho problema em relação a isso.

— E aí? — ela não pareceu incomodada com o assunto.

— Bom, a Jilian gosta do Cedric Diggory.

Astoria franziu o cenho.

— Ele não tinha morrido? — ela perguntou.

Jilian sentou-se na sua cama, parecendo assustada.

— Como assim morrido?

Scarlet e Astoria contaram a ela sobre como Cedric tinha morrido em seus universos.

— O falso Moody desativou todas as armadilhas para que Harry conseguisse a taça — explicou Jilian — Quando ele viu que Cedric tinha chegado antes no corredor, ele deu um jeito nele também. Então não, eles não pegaram a taça juntos e ele não morreu.

Pelo menos alguma coisa boa tinha acontecido.

— E você, Scarlet? — Amber virou-se para ela.

— Eu gosto da pessoa errada — Scarlet respondeu.

— Nem me fale — Astoria resmungou.

Ela não precisava falar em voz alta. Todo mundo sabia que ela gostava do Malfoy.

— Vocês gostam da mesma pessoa? — perguntou Jilian, confusa.

— Não — respondeu Scarlet — Eu sei que eu sou adotada, mas a gente vive na mesma casa. Isso é... errado. A mamãe nunca aceitaria isso.

Putz.

— E você, Amber? — Astoria direcionou o assunto.

— Só um garoto que conheci na Copa Mundial de Quadribol — ela deu de ombros.

— Você esteve na Bulgária versus Irlanda? — Scarlet impressionou-se — Mas não teve medo de encontrar com o Harry?

— Não, eu fui na Inglaterra versus Transilvânia — ela fez uma careta — Trezentos e noventa a dez. Aquele jogo foi um massacre.

— Chegar na semifinal pra perder para a Transilvânia, realmente — concordou Jilian.

Escutaram som de conversas e passos no andar de baixo.

— Acho que Dumbledore chegou — disse Amber.