Innerland

A Medrosa


– Vamos Karii! Você não tá com medo, tá? Deixa de ser medrosa, não tem nada lá!

– Se não tem nada lá, porque VOCÊS não vão??

– Porque você que foi a sorteada!

Sempre fui medrosa. Aquela que tem medo de qualquer coisinha. E todos adoram implicar comigo por causa disso! Isso é tão irritante... Por que não me deixam ser medrosa em paz?

Estudo e moro neste colégio interno chamado Snow Tree Academy. Por quê? Bom... Meus pais morreram faz uns 3 anos, quando eu tinha quinze anos. Um colégio muito grande e antigo, mas muito bonito também. Não tenho muito o que reclamar... Ele tem um pátio enorme, cheio de árvores e bancos sob as mesmas, onde gosto de escrever. O prédio do colégio é lindo, lembra-me um pouco Hogwarts, só que menor – e sem magia, infelizmente. As aulas são difíceis, mas nada impossíveis. Só não gosto de uma coisa: as regras. Tem regras de mais!! É horário para acordar, horário para dormir, não pode ficar no pátio depois das quatro da tarde – não sei nem porque, se o dia ainda está bem claro! -, tem horário para tomar banho, não pode ficar conversando com as colegas de quarto depois das dez horas da noite, não pode ser pega conversando sozinha com um garoto – ter outros tipos de contato então, nem se fala... E outra regra estranha que deixam todos aqui intrigados, é a regra de não poder, de maneira alguma, ir até o sexto andar da torre norte. Tipo... nunca! O que será que eles tem lá que ninguém pode ver? Será que é assombrado? Ninguém sabe, ninguém nunca foi até lá.

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Foi então que, em uma noite, eu e minhas colegas de quarto decidimos que íamos descobrir. Íamos sortear uma de nós cinco para ir até lá ver. Me arrependi amargamente... Pois fui eu a sorteada. Não posso reclamar muito, porque eu fui uma das que mais incentivou essa ideia. É que não passou pela minha cabeça que eu seria sorteada... Afinal, eu até que tinha sorte nestas coisas. Mas não foi dessa vez. Ótimo.

O problema é que, além de eu ser muito medrosa, elas decidiram que era para eu ir depois do toque de recolher... Ou seja, já era noite. Isso porque era mais difícil eu ser pega por algum professor, ou até por algum outro aluno. E eu não gostei nada da ideia... Eu estava até confiante antes de sair do quarto, mas quando cheguei ao pé das escadas que iam até o sexto andar... Congelei. Não consegui seguir a diante. E minhas colegas estavam muito bravas comigo por isso.

– Karii! – Falaram elas, com indignação. – Você foi uma das que mais “pilhou” a ideia, e agora quer dar pra trás?

– É que eu não sabia que eu seria a escolhida... – murmurei.

– Ahh claro! Muito espertinha você. Se não fosse com vocês, tudo estaria ótimo não é? Trate de subir essas escadas e cumprir com o que falou!!

Todas estavam muito zangadas. Certeza que estariam gritando agora... Se não estivéssemos fazendo algo escondido sem que ninguém pudesse saber, claro. Respirei fundo. Olhei para o alto das escadas e engoli em seco. Hesitei por um momento e, quando ia colocar meu pé no primeiro degrau... Ouvi um som estranho vindo lá de cima. Na verdade, não consegui saber o que era, mas era assustador... Era como se alguma coisa estivesse lá em cima. Então minha imaginação criou tantas hipóteses horríveis, que só consegui dar meia volta e sair correndo de lá. Nem dei ouvidos às minhas colegas que gritavam – dentro do possível para não acordar ninguém – para eu voltar. Entrei no meu quarto e fui direto pra baixo dos cobertores. Minhas colegas entraram no quarto logo após, resmungando baixo umas com as outras antes de deixar e dormir, sem dirigir uma palavra a mim. Chorei em silêncio até dormir. Não por medo... Mas por vergonha. Vergonha e frustração de mim mesma, por não ter conseguido fazer o que eu deveria fazer. Vergonha por ter decepcionado minhas amigas.

No outro dia, elas mal falaram comigo. Foram bem frias na verdade. Ao passar do dia, percebi que várias pessoas olhavam pra mim e riam baixinho, comentando algo com as outras. Me senti angustiada... Me perguntando o porquê daquilo. Mas mal deu tempo de pensar muito, que vieram duas garotas, de outra turma, zombando de mim.

– Olha Daisy! É aquela garota medrosa! – falou a garota em alto e bom tom, fazendo questão que eu ouvisse.

– Ah, aquela que furou com as amigas e não foi ver o que tinha no sexto andar?

– Sim! Ela se fez de corajosa e depois quase fez xixi nas calças!

As duas saíram rindo. Rindo da minha cara. Me senti tão humilhada... Como elas sabiam disso? Como sabiam que era pra mim ter ido no sexto andar? Foi aí que me dei conta que, se as outras pessoas sabiam, minhas colegas de quarto que falaram para todos!

Fui até elas logo depois deste ocorrido, para saber se era verdade. Encontrei com elas no Refeitório, na hora do almoço. Fui direta:

– Meninas... Tem muita gente rindo de mim hoje, e eu sei bem o porquê. Se todos sabem o que aconteceu ontem, é porque alguém espalhou essa história. Foram vocês...? – Perguntei torcendo para que elas negassem.

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– Olha Karii... – Começou Zoey – Todos já sabiam que a gente ia sortear alguém para ir até o sexto andar. Todos estavam ansiosos para saber o que tem lá, então contei que uma de nós iria até lá.

– Então hoje eles vieram perguntar como foi. Tínhamos que contar o que aconteceu, não é? E acabamos contando que você ficou com medo e não foi... Todos ficaram muito frustrados com você. – Completou Mary.

Zoey e Mary eram gêmeas. As duas eram loiras de cabelos ondulados, porém Mary tinha cabelo curto e Zoey deixava o cabelo comprido, para ninguém confundi-las. Elas odiavam serem confundidas. A pele delas, como de todos daquela região, era branca como papel. Seus olhos eram cor de mel. Zoey às vezes podia ser muito mandona e pavio curto. Mary concordava em quase tudo o que sua irmã falava e fazia. Era mais quieta que Zoey, mas se sentia confiante na presença da irmã. Por isso não me surpreendi muito com a resposta delas.

Mas vocês falaram algo que era pra ficar só entre a gente! Agora todos estão zombando de mim sem parar!! – Alterei minha voz um pouco, tentando segurar o choro.

Rika estava quieta, como sempre. Não comentou nada, só ficou desviando os olhos de mim, nervosa. Ela era a mais tímida e quieta. Com cabelo curtinho e escuro, tinha uma franja que quase cobria seu rosto, onde havia um óculos até que grandes para seu rosto minúsculo. Ela era meiga e fofa, mas não tinha muita voz ativa. Por isso não fiquei tão chateada com ela. Quem me deixou realmente chateada foi Emma. Ela era minha melhor amiga dentre as quatro. E por isso foi a que mais me machucou.

– Para de ser chorona Karii! Você deu pra trás no nosso acordo. Quebrou uma promessa, agora aguente as consequências! – Falou Emma, num tom frustrado e irritado.

Para mim essa foi a gota. Quando percebi que não ia mais aguentar prender o choro, saí correndo para o pátio, o mais longe que consegui. Sentia-me envergonhada, mas também traída pelas minhas amigas. Mas não as culpava, eu havia realmente sido uma covarde. Uma covarde que decepcionou as amigas e a todos. Estava me sentindo tão inútil... Que decidi fazer algo para mudar isso. Não importa o que acontecesse, essa noite eu iria subir até o sexto andar!

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.