Capítulo 9

Uma estrada a percorrer.

Fulco começava a ficar profundamente irritado.

Era início de manhã na margem do rio Omo, e o coronel encontrava-se acomodado numa tenda que lhe fora especialmente preparada pelos membros da tribo. Uma outra, não muito distante, também havia sido erguida para exibir imponentemente a todos os presentes que o militar italiano trouxera ao chefe da povoação, sendo vigiados por alguns de seus melhores guerreiros. O tratamento dado pelos nativos aos visitantes era cordial, e estes, no geral, vinham sendo muito bem tratados... Existia apenas um pequeno problema.

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Estavam ali já há dois dias e, apesar do rico tributo oferecido pelo comandante da expedição, nem o líder da tribo ou qualquer outro etíope ali presente consentia em revelar algo a respeito de relíquias sagradas, artefatos místicos, despojos santos... Os restos mortais do rei D. Sebastião. Fulco, porém, tinha certeza de que sabiam a respeito. Ele era um homem experiente, e conseguia perceber isso nos olhos deles. Eram como os prisioneiros que costumava interrogar durante a Grande Guerra, os quais, apesar de jurarem não saber nada a respeito dos movimentos de seus compatriotas e as fraquezas de suas posições, na verdade insistiam, mesmo tendo sido reduzidos a frangalhos humanos, em não trair sob hipótese alguma suas amadas nações de origem.

Sim, eles sabiam. Sabiam de tudo. E tudo aquilo era um jogo. Por sorte, todavia, o coronel fascista conhecia muito bem as regras.

Ele estivera observando atentamente os nativos desde que chegara ali, e notara, com certa freqüência, as visitas de um indivíduo em especial à tenda do chefe. Era negro como todos ali, porém parecia ser originário de outro local. Suas vestes, modos e, principalmente, o medalhão que usava, faziam Fulco crer que se tratava de alguma espécie de sacerdote cristão, proveniente de uma possível comunidade remota nas montanhas próximas, talvez um mosteiro isolado e perdido no tempo. Mas, por algum motivo, o militar acreditava que era por influência justamente daquele misterioso homem que a tribo relutava em conceder-lhe as respostas pelas quais viera.

E ele tinha de obter essas respostas. O tempo corria rápido.

Ainda assim, algo tranqüilizava o coronel: um outro comboio de tropas italianas, menor que o primeiro, estava a caminho dali e chegaria dentro em breve. Talvez os etíopes cedessem perante uma quantidade ainda maior de soldados e armamentos. Se não se pode subjugar alguém por argumentos ou por presentes, deve-se sempre usar a força, pensava Fulco. Mesmo não sendo seu método favorito.

O sol raiara há pouco tempo quando os três aventureiros despertaram em suas barracas. Indy levantou-se com certa facilidade, sentindo-se melhor do que na noite anterior. Recobrara gradativamente as forças durante os dois dias precedentes e, graças aos cuidados de Luzia e Maputo, era capaz de continuar seguindo viagem, apesar da febre ainda recorrente. Dada a disposição do arqueólogo no momento, porém, isso era apenas um mero detalhe.

O norte-americano deu alguns passos pelo solo da ravina em que haviam acampado, soltando um demorado bocejo. Exercitava os braços quando viu a linda Luzia também deixar sua barraca. A portuguesa sorriu ao constatar que o amigo estava bem, e caminhou até uma árvore próxima, apanhando uma fruta para comer. Maputo foi o último a acordar, porém, entre os três, parecia o mais preparado para já continuar a jornada. Apanhou suas coisas, bebeu um gole d´água do cantil, usando o líquido também para lavar o rosto, quando ficou imóvel de repente. Sua cabeça então se voltou para várias direções, olhos bem abertos. Jones e Luzia o observavam intrigados, enquanto ele corria ao redor das barracas, inspecionava os arredores, levava uma das mãos à testa para tentar enxergar ao longe, na tentativa desesperada de distinguir no horizonte o que procurava... E então, agitado, revelou aos outros dois o que ainda não haviam percebido:

–Alguém roubou nossos camelos!

–Como é que é? – Indy parecia incrédulo.

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Mas era verdade. Os animais não se encontravam em parte alguma. Alguém realmente viera durante a noite, desamarrara-os e os levara embora sorrateiramente. Agora o trio estava ali, desamparado, sem meio de transporte algum para cobrir o resto da distância até seu destino. E os camelos já deviam estar sendo vendidos a um preço abusivo em um dos mercados da região...

–Droga! – irritou-se o professor, chutando o chão e assim levantando um pouco de poeira.

–Será que quem os levou não pode ainda estar por perto? – indagou Luzia, que dificilmente perdia as esperanças.

–Não custa verificar... – murmurou o africano.

Ele voltou até seus pertences e pegou um binóculo. Usando-o, vistoriou toda a área ao redor da ravina, pedindo a Deus que reconhecesse ao longe a silhueta de alguém puxando os camelos roubados... Ao virar-se numa direção em particular, não foi isso o que viu, mas algo que também poderia lhes salvar o dia. Sorriu de modo confiante e, abaixando as lentes, informou aos companheiros de viagem:

–Há uma estrada perto daqui. Asfaltada, usada pelos italianos.

–Não é a melhor opção para continuarmos longe da vista deles, no entanto podemos conseguir algum outro meio de locomoção... – afirmou Indy.

–Nós já passamos por tanto... – riu a moça. – Não vejo razão para não tentarmos!

–Ela tem razão, e de qualquer maneira, nós podemos nos defender! – dizendo isso, Maputo sacou seu revólver. – Vamos até lá!

Indiana endireitou o chapéu e pôs-se a segui-los. Não precisava mesmo ser tão pessimista. Era apenas uma estrada a percorrer, e seria provável até que ela levasse justamente para a região que almejavam atingir. Poderiam até conseguir uma carona amistosa. Que havia a temer?

O comboio auxiliar que Fulco requisitara avançava relativamente veloz pela rodovia. Era composto por um jipe que seguia à frente, acompanhado de dois caminhões, outro jipe, mais um caminhão e um terceiro jipe por último. Enquanto os veículos menores traziam os militares de maior patente, os maiores estavam abarrotados de soldados-rasos em suas carretas. Devia haver ali, no mínimo, cerca de cinqüenta combatentes.

A comitiva estava pronta para parar, pois se aproximava de um posto avançado pouco adiante, onde seria reabastecida e seus ocupantes poderiam descansar rapidamente antes de prosseguirem. O calor era intenso, ondas trêmulas de ar sendo avistadas sobre o asfalto como protótipos de miragem. Mesmo assim, os militares encontravam-se sempre prontos para reagir a qualquer ameaça com a qual viessem a cruzar...

O posto avançado era composto de uma pequena guarita e um modesto galpão adjacente, diante do qual existiam algumas improvisadas bombas de combustível que, manejadas pelos soldados, começaram a encher novamente os tanques quase vazios dos veículos do comboio. Alguns dos viajantes deixaram os jipes e caminhões para beber água, repousar durante alguns minutos sob a sombra das árvores próximas e cumprimentar um ou outro conhecido que operava naquele local.

Atrás de uma grande pedra a cerca de dez metros da estrada, Indy, Luzia e Maputo observavam o movimento dos italianos. Eram muitos, como logo notaram, e nenhum dos carros fora deixado totalmente desocupado. Uma série de perguntas latejavam na mente do arqueólogo naquele momento: para onde aqueles homens iam? Por quanto tempo ficariam ali? Deveriam esperar que fossem embora e então aguardar uma outra oportunidade de adquirirem transporte, ou roubar um daqueles veículos ali mesmo?

Um agravante à situação logo surgiu: uma patrulha composta por três soldados se aproximava do esconderijo, e não levaria muito tempo até que os descobrissem. Teriam de tomar medidas drásticas, e por isso Jones logo começou a agir, deixando o abrigo e correndo o mais rápido possível rumo à pista, abaixado. Ele, afinal, já estava acostumado a esse tipo de procedimento.

A portuguesa e o etíope seguiram-no. Indy, ainda sem ser visto, contornou discretamente o jipe estacionado no centro da comitiva, que contava com apenas um sargento fascista ao volante, devorando distraidamente uma maçã. Agachado atrás do veículo, o norte-americano saltou silenciosamente para os assentos traseiros, caindo sentado bem atrás do inimigo. O intruso ergueu lentamente os braços, esperou o momento certo... E agarrou a nuca do soldado com uma das mãos, batendo com força sua testa no volante. O motorista caiu desmaiado sobre os dois assentos da frente sem nem saber o que o atingira.

Ao sinal de Jones, Luzia e Maputo também subiram no jipe, acomodando-se na parte de trás. O primeiro empurrou o sargento inconsciente para fora do carro e então deu partida, girando a chave que já estava na ignição. Foi quando ouviram gritos: haviam sido descobertos por pelo menos uma dúzia de italianos!

–Rápido, Indy, rápido, rápido! – exclamou Pessoa, olhando aturdida ao redor.

Os combatentes vinham correndo na direção do jipe, parecendo mais dispostos a uma luta corpo-a-corpo do que simplesmente apontar suas armas para liquidar o pequeno grupo. Suando, Indy começou a manobrar para sair arrancando com o veículo, o problema era que o espaço entre os caminhões era pequeno demais! Fazendo os pneus cantarem, tentou dar ré e acabou colidindo com a cabine de trás, o vidro dos faróis quebrados se espalhando pelo asfalto. O jipe sacolejou, ao mesmo tempo em que dois soldados tentavam invadi-lo, pistolas nas mãos. Luzia repeliu o primeiro com um soco e um chute que fizeram com que caísse de costas sobre a estrada. O outro levou dois tiros do Colt de Maputo, disparando para cima enquanto desabava morto com o dedo pressionando o gatilho de sua arma.

Jones tentou novamente sair com o veículo, batendo agora com o farol dianteiro direito na traseira do caminhão da frente. Deu de novo uma leve ré, enquanto eram alvejados por balas de metralhadoras. Não foram atingidos porque se abaixaram a tempo, mas mais inimigos se aproximavam. Indy girou o volante... E finalmente conseguiu contornar a carreta diante do jipe, guiando-o agora sem obstáculos pela pista!

Maledetto, maledetto!

Pisou fundo no acelerador, os berros dos italianos se intensificando. Logo atrás, os outros dois jipes do comboio colocavam-se imediatamente em perseguição, e os caminhões, rapidamente reocupados por seus motoristas, também voltavam vagarosamente a se mover. Alguns outros combatentes corriam pela via. Os tiros continuavam, longas rajadas desferidas contra o trio.

–Abaixem-se! – ordenou o arqueólogo.

Assim fizeram, e os projéteis estouraram os vidros frontais do carro, alguns cacos ferindo as mãos de Indy. Mesmo com a dor, não podia sequer pensar em soltar o volante. Tentava desesperadamente aumentar a velocidade do jipe, mas já estava no máximo. Teriam agora de despistar aqueles desgraçados antes que eles os colocassem para fora da estrada!

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Voltando-se para trás, Maputo efetuou três disparos seguidos com o revólver, derrubando um dos atiradores no jipe perseguidor mais próximo. Nisso, Jones percebeu, sobre o assento ao lado daquele em que estava, uma pistola Colt que provavelmente pertencia ao soldado que nocauteara para se apoderar do veículo. Apanhando-a, ele estendeu-a para trás com o braço esquerdo, dizendo a uma perturbada Luzia:

–Lembra quando lhe disse que acabaria aprendendo a usar uma arma? Bem, chegou a hora!

Cheia de hesitação, mão quase trêmula, a portuguesa segurou o cabo da arma e puxou-a, passando alguns instantes examinando-a atentamente antes que mais uma seqüência de balas a lembrasse da urgência do momento. Então se virou, posicionando-se na traseira ao lado de Maputo. Fechando um dos olhos, começou a fazer mira...

Ela pressionou o gatilho duas vezes, temendo pelo fim do sonho de seu pai, temendo por sua vida, temendo por Indy...

E o motorista do outro jipe próximo foi atingido em cheio, o carro perdendo o controle e acabando por derrapar para fora da rodovia, seus ocupantes voando para o solo assim que ele tombou. Luzia abaixou a arma, assustada, coração disparado, e viu-se subitamente sendo observada com perplexidade por Maputo e Indiana, este último tendo testemunhado tudo pelo espelho retrovisor.

–Vai me dizer que realmente nunca tinha feito isso antes? – exclamou Jones.

–Meus primos de Évora também me ensinaram a manejar um estilingue! – respondeu a jovem, encabulada e surpresa. – No fundo, não é muito diferente!

Restava ainda um jipe, e mais atrás os caminhões se aproximavam. Era o último trecho asfaltado da estrada, pois logo à frente ela tornava-se um trajeto de terra repleto de curvas e subidas, esgueirando-se por uma série de montanhas e desfiladeiros. O trio abaixou-se mais uma vez para escapar dos tiros, Luzia e Maputo revidando ao mesmo tempo: as quatro balas atravessaram os vidros e se cravaram nos dois italianos nos assentos frontais, o jipe desgovernado acelerando em zigue-zague pela pista... Até as rodas traseiras saírem do chão, fazendo-o capotar, pegar fogo e explodir pouco depois num tremendo estrondo.

Indy continuou acelerando, tomando agora maior cuidado devido às curvas fechadas. O jipe já estava em grande vantagem em relação aos caminhões; os aventureiros provavelmente não precisavam se preocupar com eles. Começavam a se aliviar, felizes por ainda estarem vivos. Maputo, sentando-se ofegante, fora pego de raspão por uma bala no braço direito e, auxiliado por Luzia, já cobria o ferimento com um curativo. Jones suava muito, devia estar com febre. Porém isso não importava.

–É, valeu mesmo a pena tentar! – murmurou.

Percorreram mais uma centena de metros, julgando-se agora seguros... Não percebendo o pequeno desvio que a estrada possuía num determinado ponto... E os dois jipes guiados por fascistas que saíram dele, entrando no encalço dos sofridos viajantes. Estes só notaram os novos oponentes quando os tiros recomeçaram, insistentes e ferozes, reiniciando a luta para escapar das balas.

Haviam cantado vitória cedo demais.

Luzia e Maputo reassumiram seus postos de defesa na traseira do carro. As constantes curvas da estrada prejudicavam a mira, e os soldados agora também eram mais experientes. O etíope acertou um deles, do jipe da frente, aniquilando-o. Mas um de seus colegas apanhou algo que estava oculto num caixote de madeira, algo pesado... Uma bazuca, que foi apontada na direção do veículo dirigido por Indiana!

–Essa não! – preocupou-se o guia africano.

O professor jogou o jipe para a esquerda o máximo que conseguiu, quase despencando no precipício que se iniciava ao lado do caminho... E assim conseguiu escapar por pouco do projétil explosivo, que passou zunindo pelo veículo, seus ocupantes mordendo os lábios de tanta apreensão... E o foguete acabou por acertar um paredão rochoso logo à frente.

O resultado, porém, também não foi nada propício aos fugitivos: o forte impacto do míssil abalou parte da estrutura da montanha, que começou a tremer. Todos se seguraram em seus jipes, enquanto uma grande fatia de pedra se desprendia do muro natural, fragmentando-se, em meio a uma nuvem de poeira, em pedaços menores... Que começaram a despencar na direção da estrada!

Foi uma verdadeira chuva de rochas, que se espatifavam por todos os lados. Parecia que a montanha inteira ia se esfarelar. Indy manobrava desesperadamente para desviar-se delas, quando uma caiu bem em cima do jipe em que estava o soldado com a bazuca, como se o desfiladeiro se vingasse pessoalmente da agressão sofrida. A carcaça esmagada do veículo explodiu em chamas, o carro que vinha logo atrás conseguindo contornar o acidente, voltando a disparar na direção do arqueólogo e seus companheiros. Eles teriam de se livrar definitivamente daquela ameaça.

–Cuidado, Indy! – gritou Luzia, atenta a tudo que ocorria.

Jones assimilou a tempo o aviso, fazendo o jipe se esquivar de uma outra pedra em queda livre. O etíope e a portuguesa continuavam a disparar, abaixando-se quando o atordoado inimigo tentava responder. Eles já estavam deixando a área de instabilidade, as rochas parando de despencar, porém a via continuava perigosa. Era preciso diminuir a velocidade em vários pontos, o que favorecia a aproximação dos perseguidores.

O alto som dos motores, ar seco, as balas atingindo as latarias de ambos os jipes. Numa curva fechada, o veículo de Indy chegou a quase se precipitar no abismo, inclinando-se quase totalmente para o lado... Os suprimentos que Maputo carregava consigo voando desfiladeiro abaixo. Pelo menos não havia sido nenhum dos ocupantes...

A situação chegara ao limite, requeria uma ação rápida e decisiva. Ganharam uma reta, Jones podendo tirar sua atenção do volante ao menos por alguns instantes. Ele sacou seu revólver e, apoiado no assento, voltou-se para trás, Luzia ficando desesperada ao perceber que ninguém estava dirigindo o jipe! Os italianos dispararam de novo, Indiana franziu as sobrancelhas, mirou com cuidado... E apertou o gatilho.

Acertou o soldado ao lado do motorista, o cadáver caindo sobre as pernas deste último, que acabou perdendo o controle da direção. O volante girou loucamente, o veículo derrapando, logo não havendo mais solo sob as rodas... O vôo do carro rumo ao fundo do penhasco pareceu durar um milênio, os combatentes nele berrando até colidirem de frente com um paredão, tudo se consumando numa bola de fogo.

Indy já voltara ao comando do jipe e agora o guiava por um acentuado declive. Mais à frente, numa planície bem abaixo das montanhas, podia-se enxergar uma série de tendas à margem de um rio. Um povoado. O norte-americano teve medo de deixar que o alívio o invadisse, pois não era difícil que aparecessem mais fascistas, mas agora parecia claro que eles estavam muito próximos de seu objetivo, e não haveria demais contratempos até chegarem lá.

–Podem respirar agora! – falou Jones, sorrindo.

A dupla na traseira quase desmaiou. Haviam encarado a morte frente a frente no mínimo vinte vezes depois de terem roubado aquele veículo. E ainda por cima tinham perdido suas provisões. Existiria algo pior os aguardando? Não queriam nem pensar a respeito...

O sol estava alto, era quase hora de almoçar.

Fulco ainda se encontrava em sua tenda, abanando-se com seu quepe. Algumas mulheres da tribo haviam trazido há pouco uma jarra de água e algumas frutas frescas para que o coronel italiano se refrescasse. Prestes a se servir, viu um dos soldados de sua embaixada entrar correndo no recinto, vermelho e quase sem ar. Ezio já estava se acostumando a receber mensageiros assim, que geralmente lhe traziam notícias ruins. Levando uma das mãos ao queixo, preparou-se para ouvir.

–Senhor... – oscilou o rapaz, bastante afobado.

–Fale, soldato! – as pupilas de Fulco pareciam querer devorar o recém-chegado.

–Acabamos de receber uma transmissão de rádio... O comboio auxiliar encontrou problemas na estrada, houve várias baixas... Parece que os responsáveis pela escaramuça roubaram um jipe e estão a caminho daqui!

Os olhos do superior deixaram de encarar o comandado, fixando-se em algum vago ponto qualquer à sua frente, enquanto bufava e dizia, quase num sussurro:

–Jones!

Não, não era um contratempo, tampouco uma ameaça. Era a oportunidade pela qual o coronel vinha aguardando. Talvez as coisas transcorressem de uma maneira diferente com a chegada do arqueólogo norte-americano à povoação. Ele poderia ser tratado de uma maneira distinta... Era possível inclusive que ele acabasse obtendo dos nativos a revelação que até agora Fulco, junto com suas tropas, não conseguira obter!

–Quais são suas ordens, senhor? – inquiriu o soldado.

–Reúnam todos rapidamente, temos pouco tempo... Se seguirem o meu plano, esta missão logo estará concluída!

–Sim senhor!

Enquanto o outro militar saía, o coronel ergueu-se da cadeira em que estava sentado, face triunfante. Chegara o momento de executar o movimento decisivo daquela campanha, e nenhum erro poderia ser cometido. Nenhum erro.

Glossário – Capítulo 9:

Nenhum termo a ser explicado neste capítulo.

Continua...