BIANCA

Sol é uma coisa divina, o calor transmitido para aquecer nossos corpos durante o inverno e no verão para fazer que gastemos dinheiro com ar condicionado, ventilador, geladeira em potência máxima. Ou seja, é aquele caso de amor e ódio ao mesmo tempo. E nesse exato momento, meus sentimentos por ele pendiam mais para o lado do ódio, principalmente pelo fato que sua claridade irritante estava indo bem na minha cara, interrompendo meu lindo sonho com o Brad Pitt ainda por cima!

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Bufo crispando os olhos e me remexo na cama tentando achar uma posição agradável onde a maldita claridade não iria me atingir. Em minha busca encontro algo deveras estranho, ou melhor um aroma nada familiar vindo dos travesseiros e isso já é o suficiente para que meu coração se acelere apavorado pensando no que eu havia feito na noite anterior.

De olhos fechados, faço uma lista mental para tentar reorganizar minhas memórias (bem falhas):

1. Casamento da minha irmã com o capeta em forma de cunhado (na verdade o Pedro era adorável, mas o apelido pegou)

2. Chegada de João (e que chegada hein)

3. Clima meio estranho entre nós.

4. Festa.

5. Vodka, muuita vodka. Ou será que foi tequila?

De fato, eu me embebedo muito nas festas, mas ontem o porre foi grande e com motivos. Afinal não é todo dia que você reencontra seu irmão postiço cujo o qual você deu um pé na bunda anos atrás pelo fato que ainda gostava do outro ex - ei eu só tive dois ex ok, dois que considero relacionamentos. Mas sabe o que foi mais bizarro? É que eu realmente cheguei a gostar do João, apesar de todas implicâncias e beijos roubados, tanto que, não nego senti falta dele, apesar de não demonstrar .

Mas vamos voltar ao fato de que estou deitada numa cama, agora noto que é bem mais confortável que a minha - será que posso perguntar onde posso comprar uma igual? - e bem com esse cheiro masculino, certamente alguma coisa rolou ontem á noite. Ok, eu preciso juntar os restos de minha dignidade e sair daqui logo.

Ignoro a porcaria dor de cabeça natural de ressaca e tento arranjar forças de levantar da maravilhosa cama. Sinto um arrepio gelado ao ouvir o barulho da porta de abrir e passos de alguém adentrando no quarto, ai caramba, o que eu faço? O aroma de colônia masculina preenche o ar, nossa que cheiro bom, acho que não vai fazer mal eu dar uma olhada na pessoa certo?

Abro uma pequena fresta suficiente para enxergar costas nuas molhadas e uma toalha enrolada na cintura. Pelo menos minha versão bêbada manteve o bom gosto e soube escolher um com uma bunda que como diria João anos atrás "mel dels", ok foco Bianca, isso não é hora de pensar no ex que na verdade nem ex é. Hesitante abro totalmente os olhos e seguro um grito sentindo meu corpo congelar ao reconhecer a pessoa, mesmo que estivesse de costas, seu perfil não enganava.

Era ele! Paizinho do céu, de tantos homens no mundo, de tantas possibilidades, em minha frente estava João Spinelli.

Estou tão atordoada que mal noto que ele havia se virado dando-me a confirmação de quem era.

— Bianca? Merda! Não sabia que você iria acordar agora, não do estado que estava. – sua voz rouca ecoou no quarto quebrando meu estado estático de ficar apenas encarando ele - o corpo no caso - e ergo-me encostando a coluna na cabeceira da cama com o rosto corado de vergonha.

— Eu... Acordei agora pouco. - murmuro constrangida sem saber o que deveria fazer, afinal ele estava semi nu ali na minha frente e eu bem, provavelmente grandes chances de estar com a cara borrada de maquiagem - que cena deprimente.

Não sei quanto tempo ficamos naquele silêncio espectral, ambos completamente perdidos até que ele quebra o silêncio falando que ia colocar uma roupa e que voltava logo, não antes de concluir com um bem sem graça "Sinta-se em casa, Bianca".

Solto o ar que estava prendendo e respiro fundo tentando acalmar as batidas aceleradas vindo do meu peito. Levanto da cama um tanto zonza e me apoio no criado mudo ao lado fazendo uma careta por causa da dor de cabeça infernal que se manifestava cada vez mais incômoda. E junto com isso, uma lembrança passa rapidamente, mas o suficiente para que minha pessoa se sinta ainda mais envergonhada.

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Eu havia beijado o João e fui rejeitada.

Palmas pra rainha do mico, palmas para, eu mesma, Bianca Duarte. Inspiro e expiro tentando me acalmar, logo notando a aspirina ao lado de uma garrafa de água. Isso foi muito gentil da parte dele. Tomo todo o líquido junto com o remédio sentindo aquele alívio na alma e encaro meu reflexo no espelho que havia no guarda roupa.

Minha aparência estava deplorável. Cabelos desgrenhados de modo que até uma vassoura seria mais atraente do que eu, olhos borrados de maquiagem - como previ- e a cara mais pálida possível. Essa sou eu. E provavelmente estou tendo delírios porque segundo o reflexo, atrás de mim recostada na parede tinha uma menina. Ou melhor, uma mini menina.

Crispo os olhos me aproximando mais do espelho e viro-me assombrada com o fato que realmente havia uma criança ali. Reprimo o grito e caminho na direção dela em passos leves só para testar minha sanidade. Aquilo era um delírio muito louco só pode.

— Quem... é... você? - ouço a voz dela claramente com dificuldade em pronunciar as palavras e o sotaque era totalmente diferente. Seus olhos, verdes idênticos á uma certa pessoa, me encaram com curiosidade e me pego analisando a criança.

Ela tinha cabelos ruivos puxados por um tom claro de loiro, sardas salpicadas em torno do rosto com mais presença na bochecha e no nariz, nariz reto e uma covinha no queixo. Agacho-me ficando ao seu tamanho e vejo a mesma apertar o urso que carregava segurando com mais força. A menina vestia um pijama amarelho com estampas de patinhos, o que a deixava ainda mais adorável.

— Sou a Bianca e você pequena? - sorrio encantada e ela retribui mostrando seus poucos dentinhos brancos de leite.

— Lydia. - estranho sua pronúncia, sem dúvidas ela não era brasileira, chuto que talvez tenha sido criada nos Estados Unidos, mas isso não era a questão.

A dúvida é: o que uma criança estava fazendo no apartamento do João - espero que seja dele. Ai meu senhor, será que ele sequestrou ela? Ou pode ser que esteja cuidando da filha de alguém -eu sei, impossível, alguém deixando o João Spinelli cuidar de uma criança? Um pensamento meio estranho passou pela minha cabeça, mas de imediato deixo de lado e encaro a pequena em minha frente.

— Bem, é um nome lindo, digno da princesinha em minha frente. - tento focar na menina em minha frente que soltou uma risada erguendo a mão um tanto hesitante.

Ergo a sobrancelha curiosa logo sentindo sua mãozinha quente em minha bochecha tocando de leve e noto sua expressão deslumbrada. Era um toque tão suave que não pude deixar de apreciar esse carinho vindo da criança desconhecida mais encantadora de todas.

— Você é real. – e antes que eu pudesse piscar seus braços pequenos me envolvem em um abraço.

Atordoada e totalmente sem jeito aceito o abraço sentindo uma estranha sensação de carinho imediato pela mini ruiva. Ela assim que se afasta mal me dá tempo de respirar e já puxa minha mão me levando até a sala.

Eu sei que não deveria, mas não consigo evitar a carranca que se instalou em meu rosto ao ver ela conversando com João. Até parecia uma praga, assim como a irmã, tinha a mania de ser inconveniente desde que nasceu. Ah, Elisa Nóbrega, vulgo, irmã da Vickiranha. Ela era tão assustadoramente parecida com a irmã que você poderia pensar que eram gêmeas. Tanto na aparência quanto na personalidade intragável.

Daddy! - interrompe Lydia correndo até João que a ergueu no ar abrindo aquele sorriso bobo alegre. E então, todas minhas dúvidas foram respondidas com apenas uma única palavra.

Não consigo conter a expressão atônita que se instala em meu rosto. E então, minha boca se abre em um perfeito ‘o’, digno de quadrinhos. Pai. A palavra parecia gritar incessantemente em cada canto de meu cérebro, como se meus neurônios não estivessem preparados para processar uma informação dessas. Mesmo com aqueles três pares de olhos me encarando como se estivesse tendo um ataque, não consegui voltar ao normal tão rápido.

JOÃO É PAI.

PAI.

A menina parecia ter quase três anos, o que me deixa ainda mais irritada, era um longo tempo. Eu havia descobrido apenas hoje. Qual é o problema da minha família? Como puderam me esconder isso? Sim, eu tinha me afastado devido as brigas, mas isso... Não. Ok, eu preciso me acalmar, não Bianca você não pode pegar o celular e começar a berrar aqui.

— Então pelo visto, você não sabia. - pisco o olho tentando fazer uma expressão neutra na cara enquanto aqueles olhos me encaravam. Impossível, sendo que eu estava mais chocada que nunca.

Franzo a testa analisando novamente Lydia e ao mesmo tempo olho para João, me sentindo um pouco burra por não ter notado a semelhança nos olhos, os verdes mais intensos de todos. Eu já tinha até certeza de quem era a mãe da menina, e se não me engano, se chamava de Alicia. Sem dúvidas, ela lembrava aquela garota ruiva que esbanjava uma beleza maravilhosa – minha autoestima deu uma ótima balançada - agarrada ao João em uma foto postada na rede social mais popular do Brasil, Facebook.

— Minha cara denuncia tudo né? - sorrio sem graça me relembrando da tarde de três anos atrás onde eu e Jade num momento nostalgia total resolvemos stalkear a galera nas redes sociais. Bom, em minha defesa, era uma tarde chuvosa e estávamos entendiadas, então, foi inevitável.

— Não se preocupe, já estou acostumado com esses olhares. – João riu logo pedindo licença rapidamente indo em direção á Elisa, que apenas me encarava com a maior cara de desdém de todas. Reviro os olhos sem evitar relembrar dos tempos que a garota conseguiu ser uma presença desagradável, quase superando sua irmã, cuja, milagrosamente nunca mais vi desde o término da banda Ribalta.

Elisa no caso, infelizmente não faz pouco tempo que me livrei. Elisa, vulgo Vickiranha cópia, lamentavelmente, também era a ex do meu ex, Rafael. Eu sei! Certeza que fui amaldiçoada para ter que aturar não só uma, mas duas pragas.

— Bianca, hum? Quanto tempo. - cumprimentou-me cordial forçando um sorriso enquanto esperava João retornar do quarto para fazer o pagamento dela.

— Dois anos. – ok não era pouco tempo, mas mesmo assim, tempo passa muito rápido que parecia apenas meses desde que eu havia a visto.

Ambas não encondemos o incômodo uma com a outra, se bem que seria impossível um clima razoável devido ao que ela fez. Ah, eu detestava até lembrar disso. Desconfortável, me dirigi até o sofá, sentando com postura, afinal não era meu apartamento – e nunca seria, luxo e impessoal demais, mas lindo, confesso.

— Ei, desculpa a demora, acabei me atrapalhando na chegada e misturei os dinheiros. Pronto, e acrescentei uma gorjeta viu? Obrigado. - João chegou com a pequena em seu colo que abraçou animadamente Elisa, nitidamente apegada à chata de plantão.

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— Não se preocupe senhor Spinelli, tudo certo, qualquer coisa, pode me chamar, foi um prazer cuidar dessa princesa aqui. A gente se divertiu muito né, Lydia? - reprimo a vontade de revirar os olhos, estranhamente enciumada com a cena.

Fui pega no flagra pela pequena que me olhou com aqueles enormes olhos verdes e desceu do colo da babá indo em minha direção. Encaro João sem saber o que fazer, crianças não são bem, algo que, digamos que não interajo muito com crianças, há muito tempo, desde os tempo da Mari quando teve Joaquim. E olha que foi só uma visita. Vendo que o senhor Spinelli não compreendeu meu apelo silencioso de ajuda, indo em direção à porta junto com a babá dos infernos, restou apenas eu e Lydia na sala.

— Pode deixar, tenha um bom sábado! – escuto a voz dele um pouco mais distante e sinto meu nervosismo diminuir vendo que não ia ter nenhuma mancada minha sendo que João retornaria em breve e seria o responsável em responder quaisquer pergunta que sairiam da pequena boquinha da menina que apenas me encarava.

Minha postura ereta estava ficando cada vez mais desconfortável e tentando não me mover apenas encaro a menina ruiva que agora esticava os braços para cima em minha direção. Demoro um pouco para entender que ela queria que eu a pegasse no colo. Ok, definitivamente eu não sabia lidar com crianças.

So, você é a girlfriend do papai? - a vozinha meiga da menina em minha frente faz que todos meus desvaneios se dissipem, e arregalo os olhos, um tanto chocada.

— Não! - minha voz e de João se manifesta ao mesmo tempo e ambos se olhamos constrangidos. Lydia apenas expressou um carinha pensativa, e por um instante fiquei com medo do que a criança estava pensando.

Crianças, mesmo tendo pouco contato com elas, é quase uma certeza universal que elas têm um dom de fazer perguntas extremamente constrangedoras enquanto estão sendo apenas inocentes. Ela se remexeu em meu colo e prontamente a coloquei no chão vendo que obviamente, ela não estava confortável.

— Bianca é a irmã da Karina, se lembra dela né? A namorada do Pedroso? - o pai, nossa tão estranho pensar nisso, João aproximou-se de nós se agachando de modo que ficasse na mesma altura da mini ruiva.

— Aquela que me… Ch..Call me Ariel? - observo ela tentar pronunciar as palavras em português, em uma clara dificuldade, fazendo uma careta frustrada no fim rendendo-se à sua língua materna. Tão... Fofa! Não havia adjetivos para definir o quantidade de fofura que aquele mini ser humano exalava.

E então assimilando as palavras de Lydia, solto um suspiro tentando controlar as emoções que variavam de raiva à confusão. Até mesmo Karina sabia. Inclusive todo mundo parecia saber mas ninguém teve a mínima vontade de me informar dessa novidade surpreendente.

Reprimo a sensação de deslocamento que sempre me ocorria quando acontecia os jantares do mês, reunindo todos. Fazia apenas um ano que eu havia finalmente voltado a ter contato com todos, inclusive meu pai que foi o único que se manteve mais difícil de me receber de volta.

— Ela mesma meu amor! - não consigo conter um sorriso achando a cena bonitinha do João tentando explicar quem eu era. Só espero que a menina não pergunte o que eu estava fazendo aqui, por que nem eu sabia. Seria uma pergunta extremamente constrangedora e honestamente, eu não gostaria de imaginar quais desculpas estranhas que iriamos dar.

— Eu já vi uma.. Foto sua. - assentiu a ruivinha logo me olhando com um sorriso mostrando suas covinhas que se manifestaram nas bochechas.

— Viu?

Surpreendo-me reprimindo a vontade de abrir um sorriso, bem idiota por sinal. Foco em encarar a pequena que assentiu prontamente e logo saiu correndo em direção à uma porta, a qual suponho ser o quarto dela. Tento abrir um dialogo com o homem em minha frente que em menos de um minutos já havia saído da sala, deixando-me no sofá sem saber o que fazer.

— Lydia!

Ele não queria ficar sozinho comigo. Ok, eu preciso pedir desculpas sobre o incidente na noite passada, ou será que finjo que não lembro de nada? Franzo a testa pensando nos prós e contras. Devido a reação e o claro desconforto que João emanava só de estar em um mesmo lugar que eu, é bem possível que talvez eu deva fingir que nada aconteceu e ficar de boca calada.

Here!— pisco atordoada vendo a mini ruiva estender-me uma foto.

Levo apenas alguns segundos para identificar o casal que dançava na foto. Eu ainda lembrava daquele dia, do vestido apertado na cintura, do Duca terminando comigo, e é claro, da dança com João que me confidenciou seus planos de mudança antes de anunciar à todos. Encarei a foto que mostrava eu, em meus plenos dezenove anos, com a cabeça deitada no ombro de João que me segurava pela cintura. Apenas olhando, você poderia dizer que éramos um casal apaixonado.

Era um foto linda. Mas a realidade era bem diferente. Na realidade, eu era apenas uma garota quebrada e ele era o garoto que havia se apaixonado pela garota. Eram tempos diferentes.

Me sentindo um tanto sufocada, ergo-me subitamente e antes que eu pudesse pensar direito, minha visão se escurece tão rápido quanto eu perco a força de meu corpo. Os braços fortes e gentis de João me seguram de imediato, e nossa posição era quase exatamente igual à da foto que a pequena ruiva havia me mostrado.

— Bianca? Ei, o que houve? – ergo o rosto me deparando com aquele par de olhos verdes brilhantes e pouco a pouco sinto a nitidez de minha visão retornar. Envergonhada com a proximidade, não consigo achar a voz para explicar a situação.

Daddy is she ok?* – ouço a voz infantil genuinamente preocupada que sinto um leve aperto no coração. Eu tinha um leve problema de baixa pressão e o fato de levantar muito rápido apenas atenuava meu estado. **Papai, ela está bem?

— Eu estou bem, desculpa, foi só a baixa pressão, eu levantei muito rápido e acontece isso. – explico tentando disfarçar o quanto o fato de João estar extremamente próximo me afetava. A verdade é que a última vez que eu havia o visto, ele era apenas um garoto. E naquele momento ele parecia tudo menos o garoto desajeitado e magrelo que eu conheci.

A expressão confusa de Lydia faz com que eu solte uma risada. Ela era tão incrivelmente adorável que era impossível ficar séria. Agacho-me ficando quase na sua altura e tiro todas suas duvidas, tentando explicar da melhor maneira possível em sua língua materna. Eu não sabia se ela havia entendido tudo mas logo uma expressão elétrica se instalou em sua face e João deu risada, como se já estivesse esperando aquela reação.

Breakfast time!* – ela pulou eufórica e em seus passos desajeitados foi em direção à cozinha tendo um João correndo atrás.**Hora do café da manhã!

Ouço a voz da pequena ruiva chamando meu nome com um sotaque muito fofo e já recuperada, me junto à pequena zona que havia se instalado. A garotinha parece extremamente indignada e João apenas dava risada dela, tentando explicar alguma coisa.

— Bom, eu não tive tempo de fazer compras e Lydia está “morrendo de fome”, mesmo depois de comer duas tigelas de sucrilos, e você acabou de acordar, então, a única solução possível é almoçar em um restaurante e depois ir ao mercado. – João tentou me deixar par com a situação e sem o mínimo de sutileza, a pequena interrompeu o pai indo em minha direção.

— Vem ca gente. – implorou fazendo um biquinho.

Encaro João sem saber o que responder e ele assente dando os ombros. Minha barriga faz um barulho audível como se concordasse antes de eu mesma abrir a boca e apenas sinto as bochechas corarem de vergonha vendo os dois darem risada.

— Bem, eu preciso passar em casa e trocar de roupa, então a gente pode se encontrar no restaurante.

— Ok, você precisa de carona? – João assentiu ao mesmo tempo que Lydia soltava um resmungo baixo. Ela parecia desapontada com o fato que eu estava indo embora logo em seguida.

— Não, obrigada, já mandei uma mensagem para Jade. – menti na maior cara de pau quando na verdade eu nem sabia onde estava meu celular. João pareceu não notar e apenas assentiu, voltando sua atenção para a criança que queria trocar de roupa o mais rápido possível.

Me despeço de Lydia, que me apertou em um abraço forte, como se tivesse medo que nunca mais fosse me ver. E com João, foi meio estranho, com dois beijinhos na bochecha e uma risada sem graça. Ele definitivamente estava desconfortável. Desço de elevador assimilando todas as informações novas e a cada minuto que eu pensava, mais surreal ficava.

Eu precisava de minha melhor amiga. E de um táxi.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.