Inalcançável

Distrações


Hinata estava sentindo-se mal na aula, enquanto Sakura tinha que lidar com toda aquela angústia. Por que de repente se importava com alguém com quem tinha trocado apenas algumas palavras? Talvez estivesse assim por Naruto e apenas por ele e sentiu-se egoísta. Alguém tinha morrido, como ela poderia pensar assim?

- Hinata, inventa uma desculpa e sai, preciso falar com você! – o loiro pediu no meio da aula. Ele tinha uma ideia que estava o incomodando desde que Itachi tinha morrido.

“Não posso sair agora, não dá pra esperar o intervalo?”, ela retrucou, no papel em cima da sua mesa. Com tudo o que estava acontecendo, Hinata já tinha perdido bastante a concentração nas aulas, não podia se dar ao luxo de perder ainda mais.

Naruto suspirou. Ele queria falar agora, ele queria acabar logo com tudo aquilo.

Então, a morena ouviu um barulho alto de coisas sendo derrubadas e olhou pra trás, junto com o resto da classe e o professor, que tinha parado de falar por causa da distração.

O calendário de eventos e todos os materiais de audiovisual do fundo da tela estavam no chão, ao lado de um Naruto que soltava um riso aberto que só Hinata teve o prazer de ver. Ela revirou os olhos e suspirou, querendo sorrir.

- Vou continuar atrapalhando a aula se você não vier comigo. – ele falou, simplesmente. Claramente estava se divertindo com a sua nova condição de poder tocar nas coisas sem ser visto e Hinata não podia deixar de achar sua diversão adorável. Ele certamente era infantil, mas qualquer coisa que o deixasse feliz em sua situação precária de morte já era alguma coisa.

Ela acenou com a cabeça e aproveitou toda a movimentação dos alunos que levantaram-se para colocar tudo no lugar. Perguntou discretamente para o professor se podia sair e ele deixou, afinal, ela era provavelmente a única aluna que estava prestando atenção em sua aula o tempo todo, era o mínimo que ele podia fazer.

Quando ambos já estavam em um lugar afastado onde ninguém poderia ouvi-los, Naruto disse, rapidamente:

- Itachi nunca morreria em um acidente de carro.

Hinata piscou algumas vezes.

- Sério, ele era o cara mais respeitável de todos. Sasuke um dia me disse que ele não quis tirar carta de motorista por algum motivo ético idiota que eu não prestei atenção! - Naruto explicou, gesticulando excessivamente com as mãos. – Você não acha que um cara desse nunca iria dirigir sem carta?

Ela acenou. Fazia sentido mesmo, mas onde ele queria chegar com tudo isso?

- Então, eu fiquei encucado e fui investigar. – continuou, agora claramente entusiasmado, mostrando-se orgulhoso de si mesmo. – E eu ouvi uma conversa da diretora com os professores. Ela ordenou que todos informassem os alunos que Itachi morreu em um acidente para que não houvesse especulação!

Os olhos claros de Hinata arregalaram-se, por que iriam omitir o verdadeiro motivo da morte de Itachi? “Para que não houvesse especulação” era um motivo no mínimo superficial e ela não conseguia acreditar que mentiram para todos assim tão deliberadamente.

- Mas... Por que? – pensou alto, esperando que ele tivesse ouvido mais.

- Eu não sei! Temos que descobrir! – Naruto exclamou, agitado.

A morena hesitou. Não entendeu porque Naruto queria tão de repente descobrir o verdadeiro motivo de Itachi, o que tinha acontecido com a sua determinação em saber porque estava naquela dimensão?

- Naruto... Eu não acho que... – ela começou a protestar. Não sabia como ajuda-lo e certamente não seria útil em uma investigação, nem conhecia aquelas pessoas.

- Por favor, Hinata! Só você consegue me ouvir e ver. – ele implorou e ela percebeu que aquilo não era algo que ele costumava fazer frequentemente. Ele realmente se importava com aquilo. – Sasuke iria querer saber porque o irmão morreu...

Então ela entendeu. Ele não estava fazendo aquilo por si mesmo, nem por Itachi, mas sim por Sasuke, porque sentia-se na obrigação de compensar o fato de não estar vivo ao lado do amigo naquele momento.

Hinata suspirou. Aqueles olhos azuis e cabelos loiros não eram nada comparados à bondade do coração e determinação daquele na sua frente. Era simplesmente inspirador como ele esquecia de si próprio e suas vontades tão facilmente para ajudar um amigo.

- Quer dizer... – ele corrigiu-se, encabulado. – Eu sinto que devo fazer isso, talvez essas seja a minha missão aqui, sei lá!

Recebeu um sorriso gentil de volta.

- Tudo bem. – ela respondeu. – Mas como? Sasuke vai querer saber porque eu sei de todas essas coisas e o motivo de querer ajudar tão de repente.

Naruto sorriu maliciosamente.

- Eu já pensei nisso. – disse, como se tivesse pensado em um plano maligno. Hinata sabia que não estava pronta para ouvir as próximas palavras. – Vamos contar a verdade! Sobre mim!

- O-o q-quê?! – a morena perguntou, incrédula. Aquilo nunca daria certo e provavelmente ia acabar sendo internada em um manicômio.

- Ele vai entender! É só você falar algumas coisas que só eu saberia! – Naruto continuou, como se aquilo resolvesse tudo. Ela continuou fitando-o com uma expressão de incredulidade. – Confia em mim.

Hinata começou a mexer em seus longos cabelos negros, sem saber o que dizer. Ela já tinha concordado em ajudar um fantasma a seguir o seu caminho, já tinha mentido por ele e feito coisas que nunca faria se não tivesse o conhecido, o que mais poderia acontecer se concordasse? Quer dizer, além de ser chamada de louca e ser internada.

Mas ela confiava nele. Se Naruto dizia que Sasuke ia entender, talvez ele tivesse razão, ele o conhecia melhor que ninguém. Suspirou e, sabendo que iria se arrepender depois, disse:

- Ok.

Naruto pulou, sorrindo exaltado.

- Jura?! – perguntou, ainda rindo e Hinata acenava que sim toda vez que ele repetia a pergunta.

Então, sem pensar muito e completamente sem indícios de sua intenção, ele abraçou-a.

A princípio, Hinata sentiu apenas um baque, depois, ao se dar conta do que tinha acontecido, congelou. Seu corpo já não respondia mais os comandos que o seu cérebro confuso dava. O que estava acontecendo?

Seu estômago começou a borbulhar e ela finalmente entendeu a expressão “borboletas no estômago”, era como se algo dentro dela estava elétrico e tentava retribuir fisicamente todo o encanto que estava sentindo psicologicamente.

Aquilo era patético, um abraço não devia fazer tudo isso com ela. Então, depois de achar que todas as sensações daquela experiência já tinham se esgotado, ela sentiu calor.

Em apenas alguns segundos, instantâneos demais, um calor humano tomou conta de seu corpo, devorando-a dos pés até a cabeça. O vermelho em sua face poderia facilmente ser resultado de todo aquele calor. Ela não entendia, como um morto podia exalar tamanha humanidade?

Rápido demais, Naruto afastou-se dela e murmurou, sem jeito:

- Desculpa, me empolguei!

Ele estava sorrindo como sempre, mas algo nele parecia mais real. Ela quase chegou a achar que estava na frente de um vivo e suspirou, frustrada porque aquilo nunca aconteceria. Ela não podia deixar-se levar por aquele momento, porque sabia que era uma ilusão, que nunca o teria novamente.

Naruto era inalcançável, ela tinha que se lembrar disso.

- T-tudo bem. – conseguiu gaguejar baixinho, assim que seu cérebro resolveu colaborar.

- Vamos! Temos que ir até a casa de Sasuke! – ele exclamou entusiasmado novamente, como se nada tivesse acontecido.

Ela olhou para os corredores vazios e pensou nas aulas que perderia se saísse da escola naquele momento, mas pela primeira vez, ela simplesmente não ligava. Queria ajudar o dono daquele abraço inesquecível.

Com isso em mente, saiu dos portões da escola sem se preocupar em olhar pra trás.

Quando chegaram na casa dos Uchiha, Hinata segurou uma exclamação. Do jeito que Naruto falou, não parecia que Sasuke morava em praticamente um castelo. Era uma casa absurdamente enorme, guardada por altos portões, câmeras e mais seguranças que já tinha visto na vida.

Vendo tudo aquilo, não se surpreendeu ao ver a imprensa na frente dos portões, informando o mundo de que a fortuna Uchiha não iria mais ser dividida entre os irmãos. Hinata finalmente entendeu do que Sakura estava falando mais cedo na aula sobre a família não deixar Sasuke sair de casa.

Ela sabia que os Uchiha eram importantes, mas não fazia ideia do quanto.

- Vamos, temos que entrar. – Naruto disse ao lado da bicicleta dela. – Você tem que inventar alguma desculpa.

- Nada que eu diga vai adiantar, nem Sakura conseguiu entrar. – Hinata respondeu e o loiro bufou.

Ele parecia irritado quando começou a rir do nada.

- Tive uma ideia. Distraia os seguranças e depois só segue o jogo. – sorriu, sem mais explicações.

Hinata quis perguntar o que ele ia fazer, mas ele já tinha sumido. Perguntava-se como funcionava esse negócio de sumir e aparecer, mas desconfiava que nem o próprio Naruto sabia.

- C-com licença? – ela pediu para os homens que estavam guardando a entrada e olhou para o porteiro. – Eu estou vindo visitar o Sr. Uchiha. Quer dizer... Sasuke Uchiha.

Pelo menos aquilo não era mentira. Mas os homens apenas riram.

- Quem é você, mais uma parasita da imprensa fingindo-se de namoradinha do Sasuke? – um deles perguntou, zombando da situação.

Hinata apressou-se em negar com a cabeça, mas eles já não estavam ligando.

- Eles deviam mandar gente mais convincente, olha o tamanho dos peitos dessa ai! Qual é a chance dela estar no colegial? – um outro comentou, fazendo os outros explodirem em risadas e Hinata corar violentamente.

O que Naruto estava fazendo?

- Eu... Eu não... – ela tentou, mas sua voz fraca não fazia efeito perto daqueles marmanjos. Sentiu vontade de chorar perante a sua impotência.

Então, um som de correntes começou a incomodá-los. Olharam em volta e não conseguiram identificar a origem, mas Hinata viu claramente, era Naruto batendo no ferro dos portões com um galho.

Depois, eles ficaram inquietos quando um vento forte bateu de frente apenas neles. Naruto ria alto enquanto abanava o caderno de Hinata em cima de uma árvore. Então, ele começou a jogar pedaços de papel em cima dos homens, que olharam para cima, apenas para encontrar um galho de árvore vazio.

A morena quis rir, mas sabia que isso iria estragar todo o clima assustador que Naruto estava tentando criar.

- Se... Se vocês não me deixarem entrar, eu.. Eu vou... – ela começou a murmurar, aproximando-se. Jogou os cabelos negros para cobrir parcialmente a sua face e andou de forma desigual.

Os seguranças arregalaram os olhos e afastavam-se, acreditando que era ela quem estava fazendo tudo aquilo. Mas barulhos estranhos, vento e papel não era suficiente.

Naruto jogou um suco de caixinha que encontrou na bolsa de Hinata em cima de si mesmo e imediatamente pareceu um fantasma ensanguentado. Claro que os homens só conseguiam ver o suco escorrendo no nada, enquanto Hinata deliciava-se com a cena do loiro molhado e melado de suco, rindo e tentando ao máximo não estragar tudo.

- Vou chamar os meus... Amigos do outro lado para abrirem a porta pra mim. – ela continuou, segurando suas risadas.

Enquanto alguns saíram correndo e gritando rezas de diversas religiões, Os seguranças que sobraram, claramente muito em choque para se mexerem, abriram o portão roboticamente, sem falarem mais nada. Depois desmaiaram e Hinata soltou as risadas que prendia com tanto afinco.

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